Há pouco tempo acabei de ler o quarto livro da série Harry Potter. E lá vai o aviso: se você nunca leu e não quer ter as surpresas estragadas, saiba que o livro é muito bom e saia já daqui.
No geral, achei o livro mais fraco que o anterior, que com suas viagens no tempo me agradou demais. Ainda assim é um bom livro, e na parte final fica ótimo. Seus últimos capítulos jogam a história como um todo para um outro patamar. Saem as cenas infantis e engraçadinhas e entram cenas pesadas, com sangue nos olhos e ranger de dentes.
Toda a cena do renascimento de Voldemort é tudo o que eu não esperava ver tão cedo na série. A morte de Cedrico, a ferida cruel em Harry e a auto-mutilação de Rabicho foram uma das coisas mais pesadas que li ultimamente, no nível da cena de estupro coletivo de Ensaio Sobre a Cegueira. E tudo de surpresa, sem aviso.
Achei interessante também o fato de todas as pontas soltas deixadas para trás nos capítulos iniciais, durante a copa mundial de quadribol, foram devidamente amarradas no final, sem soluções mirabolantes.
Tudo isso trabalha para que você não veja a hora de começar a ler o próximo. Muito bom mesmo.
Depois de ler fui ver o filme, que também é bacana. Assim como os outros, deixa muita coisa de fora e muda outras aqui e ali, mas como são duas linguagens diferentes não dá pra cobrar que seja tudo igual. O mais surpreendente nele é como os atores cresceram desde o terceiro.
Conto: Os Dois Filhos de Deus
Certa vez, há muito, muito tempo atrás, Deus estava no céu, sentado em seu trono, e então chamou o seu filho mais velho para uma conversa séria.
- Sente-se aí, meu filho.
- Diga, meu pai.
- Você sabe que lá embaixo a coisa já não está andando muito bem, não é?
- Sim, senhor.
- E que já está quase na hora de as profecias se realizarem.
- Claro, pai.
- Então eu resolvi que você, como meu filho mais velho, deveria descer até lá para representar o papel de salvador da humanidade. Sabe como é, meu rapaz, desde que Eva e Adão beliscaram a maçã, o pecado tem crescido bastante por aquelas bandas, tudo obra do Lúcifer.
- E o que eu tenho que fazer como o salvador daquele povo?
- Bom, você vai passar por uns maus bocados, sabe? Primeiro de tudo, você vai nascer em uma família pobre, e pior ainda, será filho de mãe solteira. Tudo bem que vai ter um rapaz que vai assumir a paternidade, mas isso vai ser um assunto que vai gerar discussão durante pelo menos uns três mil anos.
- Ah, tudo bem, Adão e Eva aprontaram das suas há muito mais tempo e ainda estão na boca do povo.
- Mas não é só isso. Quando atingir uma certa idade, você terá que ensinar ao povo a minha verdadeira mensagem. Você levará para todos eles uma palavra de fé, esperança e redenção.
- E isso não é bom?
- A princípio parece que sim, porque as pessoas vão gostar de ouvir o que você terá para dizer, e vão gostar ainda mais das curas milagrosas que você será capaz de realizar. Mas, claro, alguns não vão ver com bons olhos os seus feitos.
- Quem são essas pessoas?
- Infelizmente serão pessoas poderosas, que vão te perseguir. Aliás, perseguir-te-ão desde o nascimento! Você vai escapar por pouco. E esta perseguição vai te trazer muito sofrimento.
- Eu não vou ter como fugir deles?
- Não, filho, não terá como fugir deles. Primeiro porque a sua grande missão não será ensinar, mas sim morrer pelos que pecam, para que eles alcancem a vida eterna. Você até tentará driblar os que desejarão te matar, mas um de seus maiores amigos irá te trair, entregando-te aos inimigos.
- Puxa, um grande amigo fará isso? Mas que Judas, hein?
- Pois é, filho. E depois que este amigo te entregar, seu sofrimento será incomparável. Você será açoitado, socado, chutado, arrastado e, por fim, crucificado.
- Que barra, hein? Tá com jeito de que eu vou sofrer mais do que o tal de Jó.
- Sim, doerá. E muito! Ou você acha que o peso dos pecados de todos os homens é leve de ser carregado? Mas não se preocupe muito com isso. Três dias depois de morrer crucificado você voltará à vida.
- Você tá dizendo que eu vou reencarnar?!
- Psss, filho, não fale essa palavra! Você não faz idéia de como ela pode gerar controvérsias entre eles lá de baixo! Basta dizer que você voltará à vida. E é aí que reside a sua verdadeira missão: só com o seu retorno à vida é que as pessoas crerão que você é meu filho, e que através de você podem chegar à salvação e à vida eterna.
- Ah, então tá bom pai. Se é pra sofrer um pouco mas para ajudar a todos eles...
- Todos eles não!! Todos eles não!!
- Como todos eles não?
- Muitos não crerão! Rios de tinta serão derramados sobre os papiros para contar a sua história, para contar a sua missão, e muitos darão testemunho de terem visto tudo o que você fizer e disser, mas ainda assim muitos deles não vão acreditar. Poderão passar dois mil anos, mas nem assim todos vão seguir as suas palavras. Muitos zombarão dos que crerem em você, e, horror dos horrores, zombarão de você! Eles vão esquecer de você e passarão a inventar outros deuses, e se curvarão diante deles!
- O senhor tá dizendo que apesar de eu me estropiar todo pra ajudá-los eles vão cagar e andar pra mim?
- Mal-falando, é isso aí.
- Ah, pai, peraí, sofrer eu até sofro, mas não agüento gente mal-agradecida.
- Mas, filho...
- Mas nada pai! Gente mal-agradecida não, eu tô fora. Pode riscar meu nome do papel de cordeiro de Deus. Vazei, ralei peito, fui.
Virou as costas e saiu. Só não bateu a porta que não havia nenhuma. Deus, sem muita opção, chamou o caçula.
- Jesus! Venha cá, meu filho...
- Sente-se aí, meu filho.
- Diga, meu pai.
- Você sabe que lá embaixo a coisa já não está andando muito bem, não é?
- Sim, senhor.
- E que já está quase na hora de as profecias se realizarem.
- Claro, pai.
- Então eu resolvi que você, como meu filho mais velho, deveria descer até lá para representar o papel de salvador da humanidade. Sabe como é, meu rapaz, desde que Eva e Adão beliscaram a maçã, o pecado tem crescido bastante por aquelas bandas, tudo obra do Lúcifer.
- E o que eu tenho que fazer como o salvador daquele povo?
- Bom, você vai passar por uns maus bocados, sabe? Primeiro de tudo, você vai nascer em uma família pobre, e pior ainda, será filho de mãe solteira. Tudo bem que vai ter um rapaz que vai assumir a paternidade, mas isso vai ser um assunto que vai gerar discussão durante pelo menos uns três mil anos.
- Ah, tudo bem, Adão e Eva aprontaram das suas há muito mais tempo e ainda estão na boca do povo.
- Mas não é só isso. Quando atingir uma certa idade, você terá que ensinar ao povo a minha verdadeira mensagem. Você levará para todos eles uma palavra de fé, esperança e redenção.
- E isso não é bom?
- A princípio parece que sim, porque as pessoas vão gostar de ouvir o que você terá para dizer, e vão gostar ainda mais das curas milagrosas que você será capaz de realizar. Mas, claro, alguns não vão ver com bons olhos os seus feitos.
- Quem são essas pessoas?
- Infelizmente serão pessoas poderosas, que vão te perseguir. Aliás, perseguir-te-ão desde o nascimento! Você vai escapar por pouco. E esta perseguição vai te trazer muito sofrimento.
- Eu não vou ter como fugir deles?
- Não, filho, não terá como fugir deles. Primeiro porque a sua grande missão não será ensinar, mas sim morrer pelos que pecam, para que eles alcancem a vida eterna. Você até tentará driblar os que desejarão te matar, mas um de seus maiores amigos irá te trair, entregando-te aos inimigos.
- Puxa, um grande amigo fará isso? Mas que Judas, hein?
- Pois é, filho. E depois que este amigo te entregar, seu sofrimento será incomparável. Você será açoitado, socado, chutado, arrastado e, por fim, crucificado.
- Que barra, hein? Tá com jeito de que eu vou sofrer mais do que o tal de Jó.
- Sim, doerá. E muito! Ou você acha que o peso dos pecados de todos os homens é leve de ser carregado? Mas não se preocupe muito com isso. Três dias depois de morrer crucificado você voltará à vida.
- Você tá dizendo que eu vou reencarnar?!
- Psss, filho, não fale essa palavra! Você não faz idéia de como ela pode gerar controvérsias entre eles lá de baixo! Basta dizer que você voltará à vida. E é aí que reside a sua verdadeira missão: só com o seu retorno à vida é que as pessoas crerão que você é meu filho, e que através de você podem chegar à salvação e à vida eterna.
- Ah, então tá bom pai. Se é pra sofrer um pouco mas para ajudar a todos eles...
- Todos eles não!! Todos eles não!!
- Como todos eles não?
- Muitos não crerão! Rios de tinta serão derramados sobre os papiros para contar a sua história, para contar a sua missão, e muitos darão testemunho de terem visto tudo o que você fizer e disser, mas ainda assim muitos deles não vão acreditar. Poderão passar dois mil anos, mas nem assim todos vão seguir as suas palavras. Muitos zombarão dos que crerem em você, e, horror dos horrores, zombarão de você! Eles vão esquecer de você e passarão a inventar outros deuses, e se curvarão diante deles!
- O senhor tá dizendo que apesar de eu me estropiar todo pra ajudá-los eles vão cagar e andar pra mim?
- Mal-falando, é isso aí.
- Ah, pai, peraí, sofrer eu até sofro, mas não agüento gente mal-agradecida.
- Mas, filho...
- Mas nada pai! Gente mal-agradecida não, eu tô fora. Pode riscar meu nome do papel de cordeiro de Deus. Vazei, ralei peito, fui.
Virou as costas e saiu. Só não bateu a porta que não havia nenhuma. Deus, sem muita opção, chamou o caçula.
- Jesus! Venha cá, meu filho...
Livro: Love is the Cure, por Elton John
Recentemente, acabei de ler Love is the Cure, primeiro livro escrito por Elton John, no qual ele narra sua trajetória na luta em defesa das pessoas com AIDS. É um excelente livro, disponível por enquanto apenas em inglês, sem previsão de chegar às prateleiras tupiniquins. Ele, para quem não sabe, trabalha na luta contra a AIDS há muitos anos, e volta e meia participa como palestrante em eventos sobre o assunto.
Desde que comecei a me interessar mais por sua música, lá pelos idos de 1999, eu sempre lia alguma coisa sobre a EJAF, a Fundação criada por ele para angariar e distribuir fundos, mas nunca tinha ido mais fundo na sua história. E o livro vai fundo, mostrando que o buraco é bem mais embaixo do que a gente pensa.
Além de contar a história da EJAF, o livro traz dezenas de relatos sobre como o preconceito e o estigma só jogam contra a erradicação da doença. Porque enquanto estas pessoas forem vistas como culpadas, e não como vítimas, a cura será inalcançável.
Elton John critica duramente várias lideranças governamentais, como um presidente africano que afirmou que a AIDS não era causada por um vírus e, portanto, não havia a necessidade de se usar remédios; e a igreja católica, que recomenda aos seus fieis que não usem camisinha.
Mas não é apenas de histórias tristes que é feito o livro. Love is the Cure tem também muitos exemplos de ações e empreendimentos que mudaram e estão mudando a vida de pessoas em todo o mundo, desde casas que acolhem travestis e usuários de drogas na África do Sul até a emocionante época em que o próprio Elton, antes de criar a EJAF, saía com amigos pelas ruas de Atlanta distribuindo quentinhas para aidéticos que não tinham forças ou coragem de sair de suas casas, largados à própria sorte.
Se de um lado Elton John escancara o quanto há de mal, de preconceito e de ignorância no mundo, do outro ele nos brinca com tocantes exemplos de bem, de compaixão e de amor ao próximo.
E a mensagem que permeia todo o livro, como o próprio título entrega, é que a cura para a AIDS é a compaixão. Elton deixa claro que não está sugerindo que os tratamentos sejam abandonados e que a AIDS vá sumir do mapa com base apenas em boas ações, mas sim que, enquanto as pessoas aidéticas forem estigmatizadas - principalmente suas vítimas que sofrem mais preconceito, os homens gays, os usuários de drogas injetáveis e os profissionais do sexo - de nada adiantarão todas as políticas de combate à AIDS.
Ele mostra que, embora não haja uma cura definitiva para a AIDS, é possível erradica-la do nosso meio simplesmente acolhendo e educando todos aqueles portadores dela ou aqueles mais vulneráveis a ela. Com uma forte dose de educação, as pessoas deixarão de transmitir o vírus da AIDS na velocidade com que é transmitido hoje; os portadores atuais vão, mais cedo ou mais tarde, morrer, como todos morremos, e o vírus deixará de se espalhar.
Mas enquanto houverem países onde a homossexualidade for crime, enquanto houverem líderes religiosos que condenam o uso da camisinha, enquanto houverem corporações que só visam o lucro máximo, mesmo que às custas da dor alheia, a cura da AIDS estará distante.
Desde que comecei a me interessar mais por sua música, lá pelos idos de 1999, eu sempre lia alguma coisa sobre a EJAF, a Fundação criada por ele para angariar e distribuir fundos, mas nunca tinha ido mais fundo na sua história. E o livro vai fundo, mostrando que o buraco é bem mais embaixo do que a gente pensa.
Além de contar a história da EJAF, o livro traz dezenas de relatos sobre como o preconceito e o estigma só jogam contra a erradicação da doença. Porque enquanto estas pessoas forem vistas como culpadas, e não como vítimas, a cura será inalcançável.
Elton John critica duramente várias lideranças governamentais, como um presidente africano que afirmou que a AIDS não era causada por um vírus e, portanto, não havia a necessidade de se usar remédios; e a igreja católica, que recomenda aos seus fieis que não usem camisinha.
Mas não é apenas de histórias tristes que é feito o livro. Love is the Cure tem também muitos exemplos de ações e empreendimentos que mudaram e estão mudando a vida de pessoas em todo o mundo, desde casas que acolhem travestis e usuários de drogas na África do Sul até a emocionante época em que o próprio Elton, antes de criar a EJAF, saía com amigos pelas ruas de Atlanta distribuindo quentinhas para aidéticos que não tinham forças ou coragem de sair de suas casas, largados à própria sorte.
Se de um lado Elton John escancara o quanto há de mal, de preconceito e de ignorância no mundo, do outro ele nos brinca com tocantes exemplos de bem, de compaixão e de amor ao próximo.
E a mensagem que permeia todo o livro, como o próprio título entrega, é que a cura para a AIDS é a compaixão. Elton deixa claro que não está sugerindo que os tratamentos sejam abandonados e que a AIDS vá sumir do mapa com base apenas em boas ações, mas sim que, enquanto as pessoas aidéticas forem estigmatizadas - principalmente suas vítimas que sofrem mais preconceito, os homens gays, os usuários de drogas injetáveis e os profissionais do sexo - de nada adiantarão todas as políticas de combate à AIDS.
Ele mostra que, embora não haja uma cura definitiva para a AIDS, é possível erradica-la do nosso meio simplesmente acolhendo e educando todos aqueles portadores dela ou aqueles mais vulneráveis a ela. Com uma forte dose de educação, as pessoas deixarão de transmitir o vírus da AIDS na velocidade com que é transmitido hoje; os portadores atuais vão, mais cedo ou mais tarde, morrer, como todos morremos, e o vírus deixará de se espalhar.
Mas enquanto houverem países onde a homossexualidade for crime, enquanto houverem líderes religiosos que condenam o uso da camisinha, enquanto houverem corporações que só visam o lucro máximo, mesmo que às custas da dor alheia, a cura da AIDS estará distante.
Conto: Frescura
- Que tal aquele poste ali?
- Hm... acho que não. Muito escondido.
- E aquele lá, então?
- Aquele na beira da calçada?
- Isso, ele mesmo.
- De jeito nenhum! Logo logo um carro acerta ele.
- Vamos tentar naquele muro ali, pronto.
- Nada disso, todo mundo encosta ali e fica tudo com marca de pé.
- Então nem pensar naquela grade, né?
- Deus me livre! Olha o que aquelas crianças estão aprontando ali.
- Tá bom, tá bom, vamos ver outra coisa. O que você acha daquele carro do outro lado da rua?
- Menos ainda. Aquele carro só anda em estrada de chão. Já imaginou a sujeirada?
- Eita, cacete! Numa bicicleta, então?
- Genial, vamos lá! Mas só se for uma de marcha.
Só quando ela concordou pôde começar a pintar. Enquanto pintava, só fazia reclamar dela.
- Hnf... tinta fresca.
- Hm... acho que não. Muito escondido.
- E aquele lá, então?
- Aquele na beira da calçada?
- Isso, ele mesmo.
- De jeito nenhum! Logo logo um carro acerta ele.
- Vamos tentar naquele muro ali, pronto.
- Nada disso, todo mundo encosta ali e fica tudo com marca de pé.
- Então nem pensar naquela grade, né?
- Deus me livre! Olha o que aquelas crianças estão aprontando ali.
- Tá bom, tá bom, vamos ver outra coisa. O que você acha daquele carro do outro lado da rua?
- Menos ainda. Aquele carro só anda em estrada de chão. Já imaginou a sujeirada?
- Eita, cacete! Numa bicicleta, então?
- Genial, vamos lá! Mas só se for uma de marcha.
Só quando ela concordou pôde começar a pintar. Enquanto pintava, só fazia reclamar dela.
- Hnf... tinta fresca.
Disco: Big Moon Ritual, do Chris Robinson Brotherhood
A primeira audição não revelou nada de espetacular, mas é bacana de se ouvir e merece algumas outras audições para poder prestar atenção em mais detalhes. Com o tempo você vai gostando cada vez mais e quando vê está ouvindo o disco todo dia.
Pelo brotherhood no nome da banda, você já vê que é uma coisa mais de camaradas, de gente que curte tocar junto.
O som da banda é um blues mais leve e solto, não tão triste, bem descontraído. Parece contraditório, mas dá pra dizer que é um blues alegre. As músicas têm belos solos de guitarra e a banda soa muito bem.
É o tipo de disco ótimo para colocar pra tocar enquanto você está sentado na varanda, no fim de tarde, conversando com um velho amigo.
Apesar de ter apenas sete faixas, o disco é longo: a menor delas em 7:07 de duração. A casa recomenda.
Ouça Reflections on a Broken Mirror.
Pelo brotherhood no nome da banda, você já vê que é uma coisa mais de camaradas, de gente que curte tocar junto.
O som da banda é um blues mais leve e solto, não tão triste, bem descontraído. Parece contraditório, mas dá pra dizer que é um blues alegre. As músicas têm belos solos de guitarra e a banda soa muito bem.
É o tipo de disco ótimo para colocar pra tocar enquanto você está sentado na varanda, no fim de tarde, conversando com um velho amigo.
Apesar de ter apenas sete faixas, o disco é longo: a menor delas em 7:07 de duração. A casa recomenda.
Ouça Reflections on a Broken Mirror.
Diálogos Inusitados
Fui fazer um curso e a secretária me atende na portaria.
- Seu nome?
- Mário.
- Mário?
- Isso.
[Confere a lista]
- Mairo?
- Não.
- Então como é?
- Mário.
- Não é Mairo Cavalcante?
- Não.
- É Mário?
- Isso.
- Iiih. Seu nome não tá na lista não.
- Seu nome?
- Mário.
- Mário?
- Isso.
[Confere a lista]
- Mairo?
- Não.
- Então como é?
- Mário.
- Não é Mairo Cavalcante?
- Não.
- É Mário?
- Isso.
- Iiih. Seu nome não tá na lista não.
Da Obrigação de Saber
Você conhece quem pensa assim. Talvez você pense assim: você fala que vai visitar Estocolmo nas férias e sua amiga diz que sempre teve vontade de visitar a França também. Você automaticamente pensa que é um absurdo ela não saber que Estocolmo é na Suécia, porque ela tinha que saber isso.
E isso em várias outras situações. É impossível que seu marido não saiba quem foi John Coltrane. É motivo de piada seu amigo de trabalho não saber quem é Bill Gates. Não é possível que sua irmã não saiba a capital do Pará. Só mesmo sendo analfabeta pra sua sócia não saber usar crase. Onde sua filha vive que não sabe qual é a moeda do Japão?
Até um tempo atrás eu pensava assim, mas estou começando a aprender: ninguém tem obrigação de saber nada.
Para as que levantaram a mão, prontas para dizer que não é bem assim, que uma aeromoça tem obrigação de saber a capital do Pará, não é disso que estou falando aqui! Claro que todo mundo tem obrigação de saber coisas, seja por imposição profissional ou por uma ou outra responsabilidade, mas o papo é outro, agora. Estou falando das coisas do dia a dia, de conhecimentos gerais (ou nem tão gerais assim).
Sim, é estranho que as pessoas não saibam de coisa que nós julgamos como claras ou da categoria até surdo já ouviu, mas isso não é motivo para julgá-las e taxá-las como burras, analfabetas ou alienadas. Claro que é esquisito alguém não saber qual é a capital da Itália, porque a gente sempre vê isso nos jornais, nos livros, nas músicas, nos filmes, mas ninguém é obrigado a saber disso.
Isso não quer dizer que a pessoa não estudou ou que ela seja alienada. Isso quer dizer apenas que saber que Roma é a capital da Itália não é tão importante pra ela quanto é pra você. E aí vem o pulo do gato para o raciocínio de que ninguém tem obrigação de saber nada: não é porque saber uma coisa é tão importante pra você que deve ser importante para outras pessoas.
Então relaxa, ok?
E isso em várias outras situações. É impossível que seu marido não saiba quem foi John Coltrane. É motivo de piada seu amigo de trabalho não saber quem é Bill Gates. Não é possível que sua irmã não saiba a capital do Pará. Só mesmo sendo analfabeta pra sua sócia não saber usar crase. Onde sua filha vive que não sabe qual é a moeda do Japão?
Até um tempo atrás eu pensava assim, mas estou começando a aprender: ninguém tem obrigação de saber nada.
Para as que levantaram a mão, prontas para dizer que não é bem assim, que uma aeromoça tem obrigação de saber a capital do Pará, não é disso que estou falando aqui! Claro que todo mundo tem obrigação de saber coisas, seja por imposição profissional ou por uma ou outra responsabilidade, mas o papo é outro, agora. Estou falando das coisas do dia a dia, de conhecimentos gerais (ou nem tão gerais assim).
Sim, é estranho que as pessoas não saibam de coisa que nós julgamos como claras ou da categoria até surdo já ouviu, mas isso não é motivo para julgá-las e taxá-las como burras, analfabetas ou alienadas. Claro que é esquisito alguém não saber qual é a capital da Itália, porque a gente sempre vê isso nos jornais, nos livros, nas músicas, nos filmes, mas ninguém é obrigado a saber disso.
Isso não quer dizer que a pessoa não estudou ou que ela seja alienada. Isso quer dizer apenas que saber que Roma é a capital da Itália não é tão importante pra ela quanto é pra você. E aí vem o pulo do gato para o raciocínio de que ninguém tem obrigação de saber nada: não é porque saber uma coisa é tão importante pra você que deve ser importante para outras pessoas.
Então relaxa, ok?
Conto: O Ruim de Ficar Velha
Ah, filha, posso te dizer uma coisa com toda a certeza: o pior de ficar velha, o pior de chegar aos 90 anos, não são os cabelos brancos.
Antes fosse.
As pessoas acham que o pior de ficar velha é que os ossos são mais frágeis, ou que o marido ficou broxa, ou que a visão não vai mais longe, ou que a surdez não te deixa mais ouvir um concerto de Chopin, ou que você não consegue mais andar de bicicleta no parque.
Isso é ruim, claro, mas não é o pior.
O pior, é lembrar que seus pais já morreram. Que três dos seus irmãos já morreram. Que seu marido já morreu. Que quase todos os que estudaram com você já morreram. Que todos os seus ídolos já morreram. Que a Sandra da padaria morreu. Que a Elizete costureira morreu. Que sua professora de violino já morreu.
É claro que pessoas novas e boas vêm, você é um exemplo disso, mas é diferente. É como diz a música de um cantor que já morreu faz tempo: a vida é difícil quando um dos seus amigos é um cemitério.
Antes fosse.
As pessoas acham que o pior de ficar velha é que os ossos são mais frágeis, ou que o marido ficou broxa, ou que a visão não vai mais longe, ou que a surdez não te deixa mais ouvir um concerto de Chopin, ou que você não consegue mais andar de bicicleta no parque.
Isso é ruim, claro, mas não é o pior.
O pior, é lembrar que seus pais já morreram. Que três dos seus irmãos já morreram. Que seu marido já morreu. Que quase todos os que estudaram com você já morreram. Que todos os seus ídolos já morreram. Que a Sandra da padaria morreu. Que a Elizete costureira morreu. Que sua professora de violino já morreu.
É claro que pessoas novas e boas vêm, você é um exemplo disso, mas é diferente. É como diz a música de um cantor que já morreu faz tempo: a vida é difícil quando um dos seus amigos é um cemitério.
Comentários Bíblicos I
Deus manda fazer um despacho?
Deus fala de escravos normalmente. É uma demonstração de conivência?
Eram os deuses astronautas?
Ele lhe disse: "Traze-me uma novilha de três anos, uma rola e um pombinho". Abrão arranjou-lhe todos esses animais, repartiu-os ao meio e pôs cada parte uma à frente da outra: não repartiu os pássaros. Aves de rapina atiraram-se sobre os cadáveres, mas Abrão as enxotou.
Gênesis 15:9-11
Deus fala de escravos normalmente. É uma demonstração de conivência?
"Serão circuncidados com oito dias todos os vossos varões de cada geração, assim como os escravos nascidos na casa ou adquiridos a preço de dinheiro de origem estrangeira, qualquer que seja, que não forem da tua descendência."
Gênesis 17:12
Eram os deuses astronautas?
Quando Deus terminou de falar com Abraão, elevou-se para longe dele.
Gênesis 17:22
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