Julinho da Adelaide

Dos anos 1960 até o começo dos anos 1980, os censores do governo militar perseguiam os artistas e barravam letras a torto e a direito. Praticamente toda a geração que fundou a empebê enfrentou problemas com isso. Pra driblar a censura, os músicos faziam malabarismos com as letras, mas nem sempre funcionava. 

Numa tentativa de se esconder da perseguição ao seu nome, Chico Buarque criou então duas personas, os irmãos Leonel Paiva e Julinho da Adelaide. Juntos, os irmãos compuseram Acorda, Amor, lançada no disco Sinal Fechado, de 1974. Julinho teve uma carreira mais prolífica, compondo outras duas músicas: Milagre Brasileiro e Jorge Maravilha (dos famosos versos "você não gosta de mim, mas sua filha gosta"). 

Mas não apenas isso. A persona de Julinho da Adelaide cresceu e ganhou publicidade. Em show, Chico Buarque chegou a contar um pouco da história do compositor, e entrou pros anais da empebê a entrevista que Julinho deu pro jornalista Mário Prata. Algum tempo depois, os censores perceberam que tinham sido enganados e passaram a exigir a documentação dos artistas junto das obras que eram entregues para análise. Morria ali o Julinho. 

Duas décadas depois, Julinho voltou à vida discretamente. Em 1997, os grupos MPB4 e Quarteto em Cy lançaram mais um disco conjunto, Bate-Boca, cujo repertório trazia composições de Chico Buarque e Tom Jobim. Chico canta em três faixas, mas em Biscate é creditado como Julinho da Adelaide.