Da Causa LGBT

Assim como não preciso ser árvore pra ser contra o desmatamento, assim como não preciso ser criança pra ser contra a pedofilia, assim como não preciso ser negro pra ser contra o racismo, não preciso ser gay pra ser contra a homofobia.

Mas mesmo sem esse raciocínio, tenho motivos para que a luta contra a homofobia também seja minha:  as muitas pessoas artistas e profissionais que admiro e que são gays.  Lulu Santos, Miguel Falabella, Liniker, Marco Nanini, Brandi Carlile, Beatrice Martin, Elton John. A lista é grande.  E impulsionado por essa admiração, acredito que todas essas pessoas tem o direito de serem respeitadas.  Negar seu direito e sua liberdade de serem quem são seria incoerente com a admiração que tenho por elas.  Portanto, essa luta também é minha, porque se fere a existência delas, serei resistência.

Mas mesmo sem esse raciocínio, tenho motivos para que a luta contra a homofobia também seja minha:  as muitas pessoas amigas que são gays.  No meu círculo de amizades, há uma outra grande lista de pessoas que amo que são gays.  Negar seu direito e sua liberdade de serem quem são seria incoerente com o amor que tenho por elas.  Que eu viva em uma sociedade que me permite casar legalmente e demonstrar carinho pela minha esposa em público, que nosso amor seja reconhecido e respeitado ao invés de demonizado, que eu e minha esposa tenhamos diversos resguardos legais... mas na qual meus amigos não tenham, pra mim é inaceitável.  Portanto, essa luta também é minha, porque se fere a existência daqueles quem eu amo, serei resistência.

Mas mesmo sem esse raciocínio, tenho motivos pra que a luta contra a homofobia também seja minha:  porque sofro com ela.  Meus gostos musicais, minha postura, minhas opiniões, as palavras que escolho usar, as coisas que escolho estudar, tudo já foi ou é motivo para que eu sofra búlin, sendo chamado de gay.  Isso em vários ambientes sociais (uma exceção, devo destacar, é a minha turma na UFF, esse é um dos motivos para amá-los tanto).  Incontáveis foram as vezes que ouvi besteira vindo de pessoas, inclusive muito próximas, questionando minha masculinidade.  Claro, muitas dessas besteiras foram ditas com o carinho de quem quer o meu bem, sem terem a mínima sensibilidade do quanto feriam.  Portanto, esta luta também é minha, porque se fere minha existência, serei resistência.

Projeto Limite

Ainda no primeiro ano do meu curso de cinema na UFF, durante as aulas do professor Tunico Amâncio tive contato com um cd-rom chamado Estudos Sobre Limite.

Limite é um filme que foi escrito e dirigido por um xará meu, o Mário Peixoto, no início da década de 1930.  Experimental, "filme-cabeça", foi um fiasco comercial e então esquecido.  Anos mais tarde, foi redescoberto, tornou-se cult e hoje é considerado pelos críticos um dos filmes mais importantes da cinematografia brasileira.

Já na década de 1990, o departamento de cinema da UFF, através do seu Laboratório de Investigação Audiovisual, realizou um projeto de análise do filme, que culminou na produção do cd-rom. O projeto foi capitaneado pelo professor Tunico e contou com o apoio do Arquivo Mário Peixoto.  O cd traz textos críticos, fotos, biografias das pessoas envolvidas, e uma minuciosa análise plano a plano do filme inteiro. Como cereja do bolo, é trilíngue:  pode ser navegado em português, inglês e francês.

Infelizmente, por conta da obsolescência tecnológica, o programa que está no cd-rom não roda nos sistemas mais modernos.  Aquele meu primeiro contato com o projeto, que comentei lá no início, foi numa tentativa de ajudar o professor Tunico a resgatar o conteúdo do cd e apresentá-lo a nossa turma.  Foi aí que descobri que ele só pode ser executado em computadores que estejam no máximo com o Windows XP.  Consegui fazê-lo rodar em máquinas mais novas apenas através de uma gambiarra das boas, usando um emulador e instalando um Windows 95 nele.

Até que agora em 2021 vou poder levar a ajuda um passo adiante.  Com o apoio do professor Fabián Núñes, consegui uma bolsa em um projeto de extensão, e vamos realizar um trabalho de arqueologia digital, recuperando todo o conteúdo do cd para transformá-lo em um site que vai reproduzir a estrutura do cd.  Dessa forma, vamos disponibilizar de forma ampla e irrestrita um conteúdo que até agora estava perdido e esquecido.

O site já existe, mas por enquanto só conta um pouco da história do projeto original.  A previsão de lançamento é novembro de 2021.