Antes de contar o causo principal desta história, é preciso que antes minhas digníssimas leitoras estejam a par de outros causos menores, mas que têm grande influência sobre o assunto em si.
Primeiro, deve-se saber que há uns bons anos atrás, todos os órgãos da Justiça do Estado do Rio de Janeiro estavam em greve. Os motivos disso eu não sei, mas também não vêm ao caso.
Depois, deve-se saber também que, na mesma época, correu uma história numa cidade do interior do Estado do Rio. Diziam que um fazendeiro havia raptado e queimado uma criança de mais ou menos cinco anos em rituais de macumba. Por isso, todos na região estavam revoltados e estarrecidos.
Cientes disso, podemos começar a contar a história de dois tabeliães e um amigo da dupla.
Por causa da greve da Justiça, os dois tabeliães resolveram dar um passeio de carro e chamaram o tal amigo. Saíram de carro sem destino, levando com eles o filho de um dos tabeliães, um moleque de aproximadamente cinco anos de idade.
Eles resolveram levar o garoto na viagem por que ele estava macambúzio e sorumbático pois tinha sofrido um acidente em casa e não estava podendo brincar com os amiguinhos. O acidente? Queimaduras nos braços.
Depois de várias horas de viagem, chegando na cidade de Natividade resolveram parar num restaurante para almoçar. O dono do restaurante, alerta por causa da história do fazendeiro, viu o garoto com os braços queimados e ligou para a polícia.
Minutos depois a mesa dos quatro foi cercada e eles foram interrogados. Depois de uns bons minutos explicando quem era o garoto, o que estavam fazendo, para onde iam e de onde vinham, os guardas se deram por satisfeitos e resolveram ir embora, acreditando que tudo não passava de um mal entendido. Tudo estaria resolvido se o detetive não tivesse feito uma pergunta ao garoto: "quer dizer que ele é teu pai?". E o garoto manda a pérola:
- Ih, é ruim, hein?!
Alvoroço no restaurante. Os policiais se enfezaram, a população queria linchar, e os três quase foram presos. O amigo dos tabeliães se exaltou e abriu a camisa, mostrando que já tinha operado o coração e que era um homem de bem (grande argumento!), mandando os policiais irem prender os verdadeiros bandidos ao invés de se preocupar com gente honesta.
Como o tabelião pai do garoto não tinha levado os documentos, pediu para o colega de profissão pegar os seus. Este, ao procurar na pasta, acabou descobrindo que seus documentos tinham ficado dentro do carro. Não o carro com o qual eles estavam viajando, mas sim o carro que tinha ficado em casa. Última salvação do trio, o amigo descobriu que também não tinha levado os documentos.
Na tentativa de se safar do imbróglio no qual haviam se metido, os tabeliães resolveram ligar para o fórum da sua cidade, para que alguém pudesse dar maiores explicações sobre suas identidades.
Alguém aí lembra que a Justiça estava em greve? Bem, se a Justiça estava de greve, não tinha ninguém no fórum. Se não tinha ninguém no fórum não havia como provar a identidade dos figuras. Sendo assim, o passo final era ir para o xadrez.
Já desesperados, ainda chocados com o moleque repetindo que "é ruim hein, ele não é meu pai", tentaram de tudo quanto é jeito se livrar da situação embaraçosa. Depois de muitas tentativas, conseguiram entrar em contato com um juiz conhecido deles, que finalmente convenceu os policiais de que realmente o moleque não tinha sido raptado e que tudo não passou de um engano federal.
Acreditem. Aconteceu.
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