Há três anos tenho a alegria de assistir aos concertos da
OSB no
Theatro Municipal do Rio de Janeiro e na
Sala Cecília Meireles. A qualidade de seus músicos, convidados, repertório e surpresas sempre me fizeram sair dos concertos
extremamente satisfeito.
Mas o que aconteceu no último dia 09 de abril me deixou extremamente triste. Nunca imaginei ver uma cena como a que vi no Theatro Municipal. Pouco me importa de quem é a culpa e quem tem a razão: é triste e desanimador.
Desde que recebemos o programa deste ano e compramos os ingressos para a série
Topázio, estávamos ansiosos pelo primeiro concerto, que teria a participação da grande bailarina
Ana Botafogo, a ser apresentado neste sábado.
Descobri que havia alguma coisa errada com a OSB na quarta feira da semana passada, quando, xeretando o jornal do cara ao meu lado na barca, li uma nota dizendo que “
terra treme na OSB”, informando que a Ana Botafogo tinha cancelado sua participação.
Assim que cheguei ao trabalho fui procurar por mais notícias sobre o que poderia estar acontecendo, e só então me dei conta de que a coisa estava feia: ao que parecia, o maestro e diretor artístico Roberto Minczuk tinha obrigado os músicas a prestar novas provas de habilidade como forma de avaliação para continuarem como membros da Orquestra. Insatisfeitos, muitos músicos teriam se rebelado e então, depois de mais algumas discussões, demitidos.
Procurando um pouco mais, descobri que outros artistas convidados também tinham cancelado suas participações, não apenas a Ana Botafogo: Nelson Freire e Cristina Ortiz eram dois dos grandes nomes que deixariam de abrilhantar as apresentações. Preocupado com a situação (afinal, como uma orquestra pela metade pode se apresentar?), liguei para o Theatro Municipal e me confirmaram que o concerto ocorreria. Então, lá fomos nós.
Chegando à frente do Theatro, encontrei uma manifestação dos músicos demitidos. Distribuíam panfletos que contavam sua versão da história, dando o endereço de
páginas para divulgação de notícias sobre o imbróglio. Conversando com um dos músicos, cujo nome infelizmente me esqueci, descobri que o problema se arrasta há mais de três meses. Com ele, descobri que a orquestra que iria tocar era formada pelos músicos remanescentes e por parte da OSB Jovem.
Deixando toda a confusão do lado de fora, entramos. A orquestra entrou aplaudida e tomou seus lugares. Só que quando o Roberto Minczuk entrou as vaias de muitos vieram com força, misturadas com aplausos de outros. Ele fez sinais de agradecimento aos aplausos e virou-se para a orquestra, sinalizando para prepararem-se para tocar.
E então veio o pior: a maior parte da orquestra levantou e saiu do palco, deixando o maestro com apenas um punhado de músicos. Estes chegaram-se mais perto dele, mas com as vaias cada vez mais eufóricas, este retirou-se do palco, para não mais voltar. (
veja tudo aqui)
Foi então que os músicos voltaram e um deles começou a falar com a plateia, mas o som de seu microfone foi cortado. Ele ainda tentou falar alto o suficiente, mas o barulho do público não nos deixou ouvir o que ele dizia. Ao que nos parece, ele chegou a ler uma carta-manifesto, mas duvido que alguém além da primeira fila tenha conseguido escutar. (
leia aqui a carta). Depois disso, os músicos deixaram definitivamente o palco e os funcionários da casa pediram ao público para se retirar. Lá fora, mais protestos e gritaria.
Sinceramente, não sei quem tem a razão, nem sei qual é a história real por trás disso tudo. Me parece correto que o Roberto Minczuk queira aumentar o nível de qualidade da Orquestra, mas não dá pra saber se sua atitude foi certa ou não. É difícil saber quem tem a razão quando os dois lados contam versões diferentes da mesma história. (
leia aqui uma entrevista do Roberto para a Folha de São Paulo)
Futuros concertos já foram cancelados e tenho medo do rumo que a discussão pode tomar.
Só sei que foi triste, muito triste, decepcionante e frustrante. Uma cena impensável, lastimável. Perde o Roberto Minczuk, que tem sua carreira manchada por uma história como esta; perde a OSB, que pode perder apoio e patrocinadores; perdem os músicos, que podem ou ficar desempregados ou ficar em um emprego desestruturado e caótico; e perdemos nós espectadores, que deixamos de ouvir a maravilhosa música que a OSB tem nos proporcionado nos últimos anos.
Torço para que tudo acabe bem.
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ATUALIZAÇÃO: O blog Comissão de Músicos da OSB
publicou a carta que foi lida à plateia no Theatro Municipal.