Medo. Jorge nunca sentiu tanto medo na vida quanto naquele sábado. Não era só um medo simples, daquele que sente quando vê uma aranha ou uma cobra, mas um pavor indescritível que assombrou sua alma e lhe causou dor física até.
Na noite anterior, sentado naquele tronco, ele quis falar uma coisa e foi compreendido de outra forma. De outra forma muito, muito pior. Quando descobriu o modo como suas palavras tinham sido interpretadas e as reações que elas tinham causado só pôde chorar. Chorar e pedir copiosamente a Deus para que aquilo se resolvesse, que ela entendesse que ouviu o que ele não havia dito.
Nunca sentiu tanto medo assim. Estavam na beira da praia e sentia que poderia chorar lágrimas suficientes para fazer o oceano transbordar. Aflição semelhante só lhe percorreu o interior no dia em que recebeu a notícia da morte de seu pai.
Foi inundado por uma imensa onda de desespero. Era como morrer. Óbvio, ele nunca tinha morrido antes para saber como é, mas a sensação foi de que sua vida estava prestes a lhe ser tomada à força.
Não foi capaz de conter as lágrimas e os soluços. E ao mesmo tempo se condenava por ter cometido um erro tão grande. Antes não tivesse aberto a boca. Antes tivesse fingido que não estava acontecendo nada.
Mas o estrago já tinha sido feito. O furacão já varria seu litoral como se Deus estivesse em fúria. E ali estava ele, indefeso diante dele mesmo, sem ser capaz de se defender. Tentava apenas explicar o terrível mal entendido, rogando para que ela entendesse.
Felizmente, Deus ainda está ao seu lado. Ela entendeu. Ela perdoou. O furacão passou. As ondas levam as lágrimas dos dois. Apesar do desastre escatológico, tudo está exatamente no mesmo lugar de antes. E respira aliviado, jurando para ela, para ele mesmo e para Deus, que nunca mais faz outra imbecilidade daquelas.
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