Lembranças de um Tecladista Amador

Tenho três lembranças de infância ligadas ao meu relacionamento com os teclados. Sei qual é a mais recente delas, mas não sei dizer qual é a mais antiga das outras duas.

Uma das mais antigas é a de um pequeno teclado que uma prima me emprestou. Ele tinha as teclas bem menores que as de um teclado de verdade e trazia embutidas quatro músicas relativamente simples de serem executadas. Quando postas para tocar, pequenas luzes que haviam sobre cada uma das teclas se acendiam, indicando as notas.

Além disso, esse teclado tinha um modo de aprendizado, que usava como base as tais quatro músicas. Quando ativado, apenas as pequenas lâmpadas acendiam, cabendo ao aspirante a músico pressionar as teclas certas na hora certa. Pelo que me lembro, havia também um modo em que as lâmpadas só se apagavam quando a tecla correspondente fosse apertada e a música parava até você acertar a nota. Em pelo menos uma das músicas eu fiquei fera, tocando-a com perfeição. Só lamento nem mesmo lembrar da melodia.

A segunda memória é de quando eu estava na quarta série do primeiro grau, hoje quinto ano do ensino fundamental. Era época de estudar sobre folclore e um dos professores dividiu a turma em vários grupos, que deveriam fazer apresentações culturais. Meu grupo decidiu se apresentar cantando Asa Branca, sugestão de um dos integrantes*, já que ele sabia tocar a música no teclado. Ele tocaria e o restante cantaria. Calhou de que nos ensaios eu aprendi a tocar a música também. Mal sabia eu que aquelas notas ficariam gravadas na minha mente para sempre.

A terceira e mais recente memória é de quando eu ia para a casa de uma outra prima porque ela tinha um teclado dos grandes. Eu sei que esta é a memória mais recente porque eu ia pra lá porque tinha gostado de tocar teclado antes (só não consigo lembrar se era por causa do tecladinho da primeira prima ou por causa da cantoria do colégio).

Mas sei que eu sentava lá em frente ao teclado e ficava apertando as teclas a esmo, trocando os tipos de sons, sem tocar nada realmente que prestasse. Havia apenas o prazer de apertar botões e produzir barulho. Ficava lá por cerca de uma hora, várias vezes por semana. Não lembro mais o motivo, se enjoei ou se não tive mais tempo, mas um dia deixei de ir lá e passei anos sem ver aquele teclado

Voltei a vê-lo quando resolvi aprender música, mas isso é história pra outro dia.



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* Nota: É assunto para uma tese o fato de um bando de moleques de 10 anos sugerir Asa Branca para um trabalho de colégio, algo praticamente impossível de acontecer hoje em dia, mas vamos deixar isso pra outra hora.



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