Livro: Um Antropólogo em Marte

Um dos melhores livros que li ano passado foi Um Antropólogo em Marte, do neurologista Oliver Sacks. No livro, Oliver relata os casos de sete de seus pacientes: um pintor daltônico, um cirurgião com síndrome de Tourette, um cego que fez uma operação para voltar a enxergar, um homem com uma memória incrível mas fixa em apenas um tema, um menino desenhista, uma autista desprovida de sentimentos e que aprendeu a racionalizar emoções para poder viver em sociedade e um homem sem memória. Todos os casos são usados por Oliver como exemplos para mostrar como o nosso cérebro é capaz de seguir caminhos diferentes e inesperados para atingir seus objetivos.

Cada um dos casos tem detalhes interessantíssimos e incríveis, mas o que mais me chamou a atenção foi o do homem sem memória. Vou contar uma passagem da sua história intenção de dar a vocês um motivo de ler o resto do livro.

***


Este homem adquiriu seu problema de memória por conta de um problema no cérebro. Ele ainda tinha lembranças de tudo o que tinha acontecido até certo momento de sua vida, mas a partir dali sua memória tornava-se cada vez mais frágil, até o ponto em que nem mesmo se lembrava do que havia acontecido alguns minutos antes.

Fã da banda Grateful Dead, o paciente lembrava de todas as suas músicas que tinham sido lançadas até que sua memória começasse a falhar. Sabendo disso, Oliver certa vez levou o sujeito a um show da banda. Durante a apresentação, ele se empolgou freneticamente quando suas músicas favoritas tocavam, mas estranhou as músicas que tinham sido lançadas depois de sua perda de memória. Sobre uma delas, disse ele:

- Esta música não faz o estilo do Grateful Dead. Deve ser experimental. É isso: é a música do futuro!

Vejam que ele não estava tão errado assim: se sua memória ainda estava em um ponto anterior ao do lançamento daquelas músicas, então elas eram, sim, as músicas do futuro. Terminado o show, voltaram para o hospital ainda ouvindo Grateful Dead no carro, uma tentativa de Oliver para manter a memória do show ainda viva na mente de seu paciente.

Na manhã seguinte, Oliver encontrou-se com o paciente e perguntou-lhe sobre o Grateful Dead. Sua resposta não poderia ser mais decepcionante:

- Puxa, há muito tempo eu não os vejo ao vivo.

Em seguida, Oliver colocou para tocar no rádio uma das músicas novas da banda, uma daquelas que o paciente tinha estranhado durante o show. Ao ouvir a música, o paciente disse, para surpresa de Oliver, que já a tinha ouvido. Oliver quis saber onde.

- Eu... eu não lembro.

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