Férias

O blog volta à atividade em fevereiro. Bom 2013 pra todas!

Quatro Erros ao Estudar Música

No início do ano eu entrei para uma escola de música para estudar piano e tenho me dedicado tenazmente à tarefa. Numa busca por técnicas para melhorar meu rendimento acabei criando uma pequena lista de quatro itens, quatro lembretes, que sempre repasso antes de iniciar uma sessão de estudos. Eles se referem a quatro erros comuns de quem estuda um instrumento.

Primeiro: você está tocando rápido demais.

O excesso de velocidade faz com que você não toque uniformemente, indo mais rápido nas partes que já domina e tropeçando nas partes mais difíceis. O negócio aqui é encontrar a velocidade ideal para as partes mais difíceis e tocar a peça toda neste mesmo ritmo. Com o tempo você pega a manha do trecho complicado e pode ir aumentando a velocidade gradativamente.

Segundo: você está tocando coisa demais.

Se há um trecho da música que te faz tropeçar, concentre-se nele, ao invés de tocar a música toda direito e engasgar ali. Se for uma frase de alguns compassos, se forem dois compassos, se for meio compasso, se for a transição entre um trecho e outro, não importa, repita só a parte difícil muitas e muitas vezes, prestando atenção em cada detalhe da execução: o movimento dos dedos, a dinâmica do trecho, tudo. E lembre-se do primeiro item: vá devagar.

Terceiro: você está tocando o que já sabe tocar.

Tocar o mais fácil é muito mais legal, não é? Tocar um trecho que você já domina, uma música que já aprendeu, dá aquela satisfação de que já é bom no instrumento. Mas não te ensina nada. Sim, é bom tocar uma música do início ao fim, mas quando você vai estudar não é isso que você tem que fazer. Quando preparo minhas sessões de estudo, coloco logo no início as coisas mais difíceis, que mais me dão dor de cabeça, que mais me espremem o cérebro. E seguindo o segundo item: os trechos complicados, aquele compasso safado que faz as mãos tocarem em ritmos diferentes, aquela transição que me faz ter que olhar para o piano e depois voltar para a partitura. Só assim a coisa evolui.

Quarto: você está tocando sem metrônomo.

Seja num ritmo lento o suficiente para pensar com antecipação qual é a próxima nota ou rápido o bastante para levar você um pouco mais além do que já conseguia fazer e sair de um allegro para chegar ao vivace, é preciso sempre estar com o metrônomo tiquetaqueando ao fundo. Tocar sem ele deixa sua prática toda desencontrada. Ao contrário, com o metrônomo funcionando, a música sai toda em um mesmo ritmo. E ainda tem um plus a mais: é a maneira mais fácil de descobrir os trechos em que você não está bem. São estes pontos onde você perde o compasso é que devem receber a devida atenção, conforme falam os itens dois e três.

Conto: Pedalando

Cidadezinha do interior, eu e um amigo dividimos uma garrafa de Coca na pracinha, à sombra do coreto. Dividimos porque nenhum dos dois tinha um puto, e o dono do bar só topou vender uma garrafa fiado. Viado. Eram apenas dez da manhã e não tínhamos nada o que fazer.

Era um tempo em que não havia internet, TV a cabo ou um ar condicionado para aliviar aquele calor escorchante de fevereiro. Se bem que se a história fosse hoje daria no mesmo. Lá é tão longe que nada disso chegou lá ainda. Veja você que a iluminação pública só melhorou quando, ano passado, o prefeito apresentou para o governador sua filha mais velha.

Mas, enfim, estávamos lá e meu amigo sugeriu, do nada: Vamos até Jororó de bicicleta, pela estrada velha?. Jororó é uma cidade vizinha. De carro, pela estrada nova, você chega lá em uns 40 minutos. Pela estrada velha não devia ser muito mais longe.

- Então vamos.

Pegamos nossas bicicletas e partimos. Meia hora de areia e sol-sem-sombra depois, encontramos um sinhozinho e seu jegue saindo calmamente de uma estradinha que levava a um casebre no pé de um morro distante.

- Jororó? Ah, tá meio longe. Cês deve de tê uns seis quilômetros pela frente ainda.

Seguimos. Depois do que devem ter sido mais uns oito quilômetros, lá vinha um casal numa carroça, puxados por um cavalo que parecia mais cansado que nós dois juntos.

- Jororó tá pertinho, fio. Nóis cabô de saí de lá. Mais uns três quilômetro só, né, bem?

Mais três quilômetros parecia uma eternidade pra quem já estava há umas duas horas pedalando sob o sol quente. Mas não podia ser tão mais longe assim. Fomos em frente. Uma meia hora depois, uma solitária árvore à beira da estrada nos deu a primeira sombra de todo o passeio. Ficamos descansando por uns dez minutos, mas o vento soprava tão quente que achamos que não valia a pena ficar por ali.

Sedentos e esfomeados, chegamos finalmente a Jororó. Para nós, o bebedouro público com água fresca que ficava na praça foi uma visão do paraíso. Nos refrescamos e pensamos em como matar a fome. Estávamos sem dinheiro, lembra?

Como toda cidade do interior, Jororó tinha muitas casas com árvores frutíferas nos quintais, algumas bem perto das calçadas. E nós, aqui e ali, fugindo de moradores gritando ou de cachorros latindo, conseguimos comer uma fruta ou outra. Foi quando meu amigo se lembrou.

- Vamos voltar?

Comentários Bíblicos II

O perdão a uma parte do grupo faz todo o grupo ser perdoado?

O Senhor disse: "Se eu encontrar em Sodoma cinquenta justos dentro da cidade, por causa deles perdoarei toda a cidade". Ele [Abraão] retrucou: "Que meu Senhor não se irrite se eu falar uma última vez: talvez lá se encontrem dez!" - "Eu não a destruirei por causa desses dez".
Gênesis 18:26 e 32.

Dez até fazem, mas só quatro não!

Ao despontar a aurora, os anjos insistiram junto a Ló dizendo: "De pé! Toma tua mulher e tuas duas filhas que aqui se encontram, para que não pereças por culpa desta cidade". Ele destruiu essas cidades, todo o Distrito, todos os habitantes das cidades e a vegetação do solo.
Gênesis 19:16 e 25.

E mesmo assim, um desses quatro pode se lascar feio se der mole.

A mulher de Ló olhou pra trás e se tornou uma estátua de sal.
Gênesis 19:26

Leia os comentários anteriores.

Disco: Head Down, do Rival Sons

Conheci a banda Rival Sons há pouco mais de um ano e gostei do som dos caras logo de primeira. Seu primeiro disco, Before the Fire, é excelente, e o segundo, Pressure and Time, foi um dos melhores lançados em 2011. A expectativa em relação ao novo disco, aqui por estas bandas, não podia ser maior.

A primeira audição só confirmou: os caras são muito bons. Head Down tem tudo aquilo que já me agradava, só que vai além, triscando ora em uma sonoridade dançante, ora em composições quase progressivas.

Eu poderia aqui elogiar cada uma das músicas individualmente, mas isso seria perda de tempo e é melhor que a leitora vá ouvir o disco por conta própria. Ainda assim, não posso deixar de citar a trinca que fecha o disco.

Manifest Destiny partes I e II são dois belos exemplos de rock foda, sendo a primeira parte uma das melhores músicas do ano. Já em True, o vocalista Jay Buchanan nos brinda com uma performance de cair o queixo, fechando o disco com chave de ouro.

Não perca tempo, então. Vá já ouvir este disco de primeira qualidade.


Livro: Harry Potter e o Cálice de Fogo

Há pouco tempo acabei de ler o quarto livro da série Harry Potter. E lá vai o aviso: se você nunca leu e não quer ter as surpresas estragadas, saiba que o livro é muito bom e saia já daqui.

No geral, achei o livro mais fraco que o anterior, que com suas viagens no tempo me agradou demais. Ainda assim é um bom livro, e na parte final fica ótimo. Seus últimos capítulos jogam a história como um todo para um outro patamar. Saem as cenas infantis e engraçadinhas e entram cenas pesadas, com sangue nos olhos e ranger de dentes.

Toda a cena do renascimento de Voldemort é tudo o que eu não esperava ver tão cedo na série. A morte de Cedrico, a ferida cruel em Harry e a auto-mutilação de Rabicho foram uma das coisas mais pesadas que li ultimamente, no nível da cena de estupro coletivo de Ensaio Sobre a Cegueira. E tudo de surpresa, sem aviso.

Achei interessante também o fato de todas as pontas soltas deixadas para trás nos capítulos iniciais, durante a copa mundial de quadribol, foram devidamente amarradas no final, sem soluções mirabolantes.

Tudo isso trabalha para que você não veja a hora de começar a ler o próximo. Muito bom mesmo.

Depois de ler fui ver o filme, que também é bacana. Assim como os outros, deixa muita coisa de fora e muda outras aqui e ali, mas como são duas linguagens diferentes não dá pra cobrar que seja tudo igual. O mais surpreendente nele é como os atores cresceram desde o terceiro.

Conto: Os Dois Filhos de Deus

Certa vez, há muito, muito tempo atrás, Deus estava no céu, sentado em seu trono, e então chamou o seu filho mais velho para uma conversa séria.

- Sente-se aí, meu filho.

- Diga, meu pai.

- Você sabe que lá embaixo a coisa já não está andando muito bem, não é?

- Sim, senhor.

- E que já está quase na hora de as profecias se realizarem.

- Claro, pai.

- Então eu resolvi que você, como meu filho mais velho, deveria descer até lá para representar o papel de salvador da humanidade. Sabe como é, meu rapaz, desde que Eva e Adão beliscaram a maçã, o pecado tem crescido bastante por aquelas bandas, tudo obra do Lúcifer.

- E o que eu tenho que fazer como o salvador daquele povo?

- Bom, você vai passar por uns maus bocados, sabe? Primeiro de tudo, você vai nascer em uma família pobre, e pior ainda, será filho de mãe solteira. Tudo bem que vai ter um rapaz que vai assumir a paternidade, mas isso vai ser um assunto que vai gerar discussão durante pelo menos uns três mil anos.

- Ah, tudo bem, Adão e Eva aprontaram das suas há muito mais tempo e ainda estão na boca do povo.

- Mas não é só isso. Quando atingir uma certa idade, você terá que ensinar ao povo a minha verdadeira mensagem. Você levará para todos eles uma palavra de fé, esperança e redenção.

- E isso não é bom?

- A princípio parece que sim, porque as pessoas vão gostar de ouvir o que você terá para dizer, e vão gostar ainda mais das curas milagrosas que você será capaz de realizar. Mas, claro, alguns não vão ver com bons olhos os seus feitos.

- Quem são essas pessoas?

- Infelizmente serão pessoas poderosas, que vão te perseguir. Aliás, perseguir-te-ão desde o nascimento! Você vai escapar por pouco. E esta perseguição vai te trazer muito sofrimento.

- Eu não vou ter como fugir deles?

- Não, filho, não terá como fugir deles. Primeiro porque a sua grande missão não será ensinar, mas sim morrer pelos que pecam, para que eles alcancem a vida eterna. Você até tentará driblar os que desejarão te matar, mas um de seus maiores amigos irá te trair, entregando-te aos inimigos.

- Puxa, um grande amigo fará isso? Mas que Judas, hein?

- Pois é, filho. E depois que este amigo te entregar, seu sofrimento será incomparável. Você será açoitado, socado, chutado, arrastado e, por fim, crucificado.

- Que barra, hein? Tá com jeito de que eu vou sofrer mais do que o tal de Jó.

- Sim, doerá. E muito! Ou você acha que o peso dos pecados de todos os homens é leve de ser carregado? Mas não se preocupe muito com isso. Três dias depois de morrer crucificado você voltará à vida.

- Você tá dizendo que eu vou reencarnar?!

- Psss, filho, não fale essa palavra! Você não faz idéia de como ela pode gerar controvérsias entre eles lá de baixo! Basta dizer que você voltará à vida. E é aí que reside a sua verdadeira missão: só com o seu retorno à vida é que as pessoas crerão que você é meu filho, e que através de você podem chegar à salvação e à vida eterna.

- Ah, então tá bom pai. Se é pra sofrer um pouco mas para ajudar a todos eles...

- Todos eles não!! Todos eles não!!

- Como todos eles não?

- Muitos não crerão! Rios de tinta serão derramados sobre os papiros para contar a sua história, para contar a sua missão, e muitos darão testemunho de terem visto tudo o que você fizer e disser, mas ainda assim muitos deles não vão acreditar. Poderão passar dois mil anos, mas nem assim todos vão seguir as suas palavras. Muitos zombarão dos que crerem em você, e, horror dos horrores, zombarão de você! Eles vão esquecer de você e passarão a inventar outros deuses, e se curvarão diante deles!

- O senhor tá dizendo que apesar de eu me estropiar todo pra ajudá-los eles vão cagar e andar pra mim?

- Mal-falando, é isso aí.

- Ah, pai, peraí, sofrer eu até sofro, mas não agüento gente mal-agradecida.

- Mas, filho...

- Mas nada pai! Gente mal-agradecida não, eu tô fora. Pode riscar meu nome do papel de cordeiro de Deus. Vazei, ralei peito, fui.

Virou as costas e saiu. Só não bateu a porta que não havia nenhuma. Deus, sem muita opção, chamou o caçula.

- Jesus! Venha cá, meu filho...

Livro: Love is the Cure, por Elton John

Recentemente, acabei de ler Love is the Cure, primeiro livro escrito por Elton John, no qual ele narra sua trajetória na luta em defesa das pessoas com AIDS. É um excelente livro, disponível por enquanto apenas em inglês, sem previsão de chegar às prateleiras tupiniquins. Ele, para quem não sabe, trabalha na luta contra a AIDS há muitos anos, e volta e meia participa como palestrante em eventos sobre o assunto.

Desde que comecei a me interessar mais por sua música, lá pelos idos de 1999, eu sempre lia alguma coisa sobre a EJAF, a Fundação criada por ele para angariar e distribuir fundos, mas nunca tinha ido mais fundo na sua história. E o livro vai fundo, mostrando que o buraco é bem mais embaixo do que a gente pensa.

Além de contar a história da EJAF, o livro traz dezenas de relatos sobre como o preconceito e o estigma só jogam contra a erradicação da doença. Porque enquanto estas pessoas forem vistas como culpadas, e não como vítimas, a cura será inalcançável.

Elton John critica duramente várias lideranças governamentais, como um presidente africano que afirmou que a AIDS não era causada por um vírus e, portanto, não havia a necessidade de se usar remédios; e a igreja católica, que recomenda aos seus fieis que não usem camisinha.

Mas não é apenas de histórias tristes que é feito o livro. Love is the Cure tem também muitos exemplos de ações e empreendimentos que mudaram e estão mudando a vida de pessoas em todo o mundo, desde casas que acolhem travestis e usuários de drogas na África do Sul até a emocionante época em que o próprio Elton, antes de criar a EJAF, saía com amigos pelas ruas de Atlanta distribuindo quentinhas para aidéticos que não tinham forças ou coragem de sair de suas casas, largados à própria sorte.

Se de um lado Elton John escancara o quanto há de mal, de preconceito e de ignorância no mundo, do outro ele nos brinca com tocantes exemplos de bem, de compaixão e de amor ao próximo.

E a mensagem que permeia todo o livro, como o próprio título entrega, é que a cura para a AIDS é a compaixão. Elton deixa claro que não está sugerindo que os tratamentos sejam abandonados e que a AIDS vá sumir do mapa com base apenas em boas ações, mas sim que, enquanto as pessoas aidéticas forem estigmatizadas - principalmente suas vítimas que sofrem mais preconceito, os homens gays, os usuários de drogas injetáveis e os profissionais do sexo - de nada adiantarão todas as políticas de combate à AIDS.

Ele mostra que, embora não haja uma cura definitiva para a AIDS, é possível erradica-la do nosso meio simplesmente acolhendo e educando todos aqueles portadores dela ou aqueles mais vulneráveis a ela. Com uma forte dose de educação, as pessoas deixarão de transmitir o vírus da AIDS na velocidade com que é transmitido hoje; os portadores atuais vão, mais cedo ou mais tarde, morrer, como todos morremos, e o vírus deixará de se espalhar.

Mas enquanto houverem países onde a homossexualidade for crime, enquanto houverem líderes religiosos que condenam o uso da camisinha, enquanto houverem corporações que só visam o lucro máximo, mesmo que às custas da dor alheia, a cura da AIDS estará distante.

Conto: Frescura

- Que tal aquele poste ali?

- Hm... acho que não. Muito escondido.

- E aquele lá, então?

- Aquele na beira da calçada?

- Isso, ele mesmo.

- De jeito nenhum! Logo logo um carro acerta ele.

- Vamos tentar naquele muro ali, pronto.

- Nada disso, todo mundo encosta ali e fica tudo com marca de pé.

- Então nem pensar naquela grade, né?

- Deus me livre! Olha o que aquelas crianças estão aprontando ali.

- Tá bom, tá bom, vamos ver outra coisa. O que você acha daquele carro do outro lado da rua?

- Menos ainda. Aquele carro só anda em estrada de chão. Já imaginou a sujeirada?

- Eita, cacete! Numa bicicleta, então?

- Genial, vamos lá! Mas só se for uma de marcha.



Só quando ela concordou pôde começar a pintar. Enquanto pintava, só fazia reclamar dela.



- Hnf... tinta fresca.

Disco: Big Moon Ritual, do Chris Robinson Brotherhood

A primeira audição não revelou nada de espetacular, mas é bacana de se ouvir e merece algumas outras audições para poder prestar atenção em mais detalhes.  Com o tempo você vai gostando cada vez mais e quando vê está ouvindo o disco todo dia.

Pelo brotherhood no nome da banda, você já vê que é uma coisa mais de camaradas, de gente que curte tocar junto.

O som da banda é um blues mais leve e solto, não tão triste, bem descontraído. Parece contraditório, mas dá pra dizer que é um blues alegre. As músicas têm belos solos de guitarra e a banda soa muito bem.

É o tipo de disco ótimo para colocar pra tocar enquanto você está sentado na varanda, no fim de tarde, conversando com um velho amigo.

Apesar de ter apenas sete faixas, o disco é longo: a menor delas em 7:07 de duração. A casa recomenda.

Ouça Reflections on a Broken Mirror.


Diálogos Inusitados

Fui fazer um curso e a secretária me atende na portaria.

- Seu nome?
- Mário.
- Mário?
- Isso.
[Confere a lista]
- Mairo?
- Não.
- Então como é?
- Mário.
- Não é Mairo Cavalcante?
- Não.
- É Mário?
- Isso.
- Iiih. Seu nome não tá na lista não.

Da Obrigação de Saber

Você conhece quem pensa assim. Talvez você pense assim: você fala que vai visitar Estocolmo nas férias e sua amiga diz que sempre teve vontade de visitar a França também. Você automaticamente pensa que é um absurdo ela não saber que Estocolmo é na Suécia, porque ela tinha que saber isso.

E isso em várias outras situações. É impossível que seu marido não saiba quem foi John Coltrane. É motivo de piada seu amigo de trabalho não saber quem é Bill Gates. Não é possível que sua irmã não saiba a capital do Pará. Só mesmo sendo analfabeta pra sua sócia não saber usar crase. Onde sua filha vive que não sabe qual é a moeda do Japão?

Até um tempo atrás eu pensava assim, mas estou começando a aprender: ninguém tem obrigação de saber nada.

Para as que levantaram a mão, prontas para dizer que não é bem assim, que uma aeromoça tem obrigação de saber a capital do Pará, não é disso que estou falando aqui! Claro que todo mundo tem obrigação de saber coisas, seja por imposição profissional ou por uma ou outra responsabilidade, mas o papo é outro, agora. Estou falando das coisas do dia a dia, de conhecimentos gerais (ou nem tão gerais assim).

Sim, é estranho que as pessoas não saibam de coisa que nós julgamos como claras ou da categoria até surdo já ouviu, mas isso não é motivo para julgá-las e taxá-las como burras, analfabetas ou alienadas. Claro que é esquisito alguém não saber qual é a capital da Itália, porque a gente sempre vê isso nos jornais, nos livros, nas músicas, nos filmes, mas ninguém é obrigado a saber disso.

Isso não quer dizer que a pessoa não estudou ou que ela seja alienada. Isso quer dizer apenas que saber que Roma é a capital da Itália não é tão importante pra ela quanto é pra você. E aí vem o pulo do gato para o raciocínio de que ninguém tem obrigação de saber nada: não é porque saber uma coisa é tão importante pra você que deve ser importante para outras pessoas.

Então relaxa, ok?

Conto: O Ruim de Ficar Velha

Ah, filha, posso te dizer uma coisa com toda a certeza: o pior de ficar velha, o pior de chegar aos 90 anos, não são os cabelos brancos.

Antes fosse.

As pessoas acham que o pior de ficar velha é que os ossos são mais frágeis, ou que o marido ficou broxa, ou que a visão não vai mais longe, ou que a surdez não te deixa mais ouvir um concerto de Chopin, ou que você não consegue mais andar de bicicleta no parque.

Isso é ruim, claro, mas não é o pior.

O pior, é lembrar que seus pais já morreram. Que três dos seus irmãos já morreram. Que seu marido já morreu. Que quase todos os que estudaram com você já morreram. Que todos os seus ídolos já morreram. Que a Sandra da padaria morreu. Que a Elizete costureira morreu. Que sua professora de violino já morreu.

É claro que pessoas novas e boas vêm, você é um exemplo disso, mas é diferente. É como diz a música de um cantor que já morreu faz tempo: a vida é difícil quando um dos seus amigos é um cemitério.

Comentários Bíblicos I

Deus manda fazer um despacho?

Ele lhe disse: "Traze-me uma novilha de três anos, uma rola e um pombinho". Abrão arranjou-lhe todos esses animais, repartiu-os ao meio e pôs cada parte uma à frente da outra: não repartiu os pássaros. Aves de rapina atiraram-se sobre os cadáveres, mas Abrão as enxotou.
Gênesis 15:9-11


Deus fala de escravos normalmente. É uma demonstração de conivência?

"Serão circuncidados com oito dias todos os vossos varões de cada geração, assim como os escravos nascidos na casa ou adquiridos a preço de dinheiro de origem estrangeira, qualquer que seja, que não forem da tua descendência."
Gênesis 17:12



Eram os deuses astronautas?

Quando Deus terminou de falar com Abraão, elevou-se para longe dele.
Gênesis 17:22

Conto: O Melhor Primeiro Beijo

Pra mim, não existe apenas um primeiro beijo. Cada parceira que já tive me deu o prazer de um primeiro beijo, que veio depois de algum tempo de paquera ou então num roubo inesperado. Lembro com detalhes de cada um dos meus primeiros beijos: onde foram, em que circunstâncias, o que foi dito antes, o que foi dito depois. Mas, por incrível que pareça, o meu melhor primeiro beijo foi com um homem.

Sim, eu sei que esta é uma declaração chocante para uma lésbica fazer, mas admitir que beijei um homem é mais fácil do que foi admitir publicamente minha opção sexual.

A gente se conheceu em um trabalho voluntário, ajudando famílias que tinham perdido suas casas com as chuvas de verão. Isto foi há muito tempo e lembro que no almoço a gente conversou bastante. Claro que eu não estava procurando um possível namorado, longe disso. Pra mim ali estava apenas uma pessoa legal para conversar. Passamos um bom tempo conversando sobre música, sobre livros, sobre televisão, até o dia terminar. Ficamos assim durante várias semanas, o tempo em que durou a ajuda às famílias.

No início eu desconfiava que ele estava querendo alguma coisa comigo, mas não queria admitir, ou não dava importância. Mas com o tempo foi inevitável saber, mesmo que nenhum dos dois o dissesse. Sempre que tinha folga ele passava no meu serviço e ficava por lá, conversando comigo, às vezes durante horas. Eu sabia que ele estava lá tentando me conquistar, tentando me fazer ceder, mas não tocava diretamente no assunto. Eu não dava um fora porque, puts, o cara tem um papo maravilhoso.

Mas o tempo passou, as distâncias entre nós foram surgindo e às vezes ficávamos meses sem nos ver, mesmo morando em uma cidade relativamente pequena. Apenas um dia ou outro, sempre na pressa, é que nos víamos. Ele em direção ao seu trabalho de arquiteto, eu rumo ao balcão da gráfica. De vez em quando até parávamos para conversar um pouco, mas a vida atabalhoada de ambos não nos deixava botar os papos em dia. A única coisa que não mudava era o desejo em seu olhar.

Se ele sabia que eu era lésbica? Sim, sabia. Ele soube logo depois que a gente começou a trabalhar juntos, porque a minha namorada da época apareceu por lá. Mas não se importava.

Um dia calhou de viajarmos juntos para Petrópolis. Não só nós dois, mas uma excursão, uma quinze pessoas. A turma alugou uma casa e ficamos por lá quinze dias, todos de férias, curtindo a vida. E foi lá, depois de muitos anos de gato e rato, de finge-não-finge, que tivemos A Grande Conversa em um banco isolado de uma praça isolada.

Sentados ali, com o vento frio da serra maltratando nossos casacos, ele contou tudo o que eu já sabia mas que nunca tinha ouvido de sua boca, apenas lido em seus olhos. Disse que desde o primeiro dia em que estivemos juntos ele teve vontade de estar comigo. Disse que mordia-se de ciúmes ao me ver com alguma namorada.

Aí, meu filho, haja tato para falar pro cara que, amigo, você é gente boa, mas o que eu gosto mesmo é de mulher. Sei que não deve ter sido muito agradável para ele me ouvir dizer que eu sentia tanto asco de beijar homens quanto ele, mas foi preciso. Para o bem de ambos eu não podia deixá-lo seguir com seus desejos impossíveis.

Conversa terminada voltamos para a casa, e a partir daí eu nunca o vi tão mudo, assim ficando até o fim da excursão. Sorte que ninguém nos viu juntos aquele dia, senão iam desconfiar, o que não seria nada bom.

Passada a etapa ruim, a coisa entre nós mudou um pouco, mas não tanto quanto eu queria. Ainda nos encontrávamos nas calçadas, e às vezes eu ainda notava um olhar de desejo nele quando estávamos juntos, mas este olhar não trazia mais a sua carga habitual de esperança, mas sim uma sombra de tristeza, que por várias vezes me deixou arrependida de ter sido tão franca. Deixamos, por fim, de conversar como antes.

Mas, como dizia o poeta, o tempo não pára, e por necessidade do acaso, anos mais tarde tive que passar na firma em que ele trabalhava, e ele, tendo acabado de ganhar dois convites para o show do Quarteto em Cy, me convidou para acompanhá-lo, pois sabia que as adoro. Aceitei, mais pela euforia do show do que para agradá-lo. Mais tarde vi que talvez isso tenha sido uma chance que Deus me deu para me redimir.

Nos encontramos na frente da casa de shows, entramos, bebericamos alguns refrigerantes e nos deliciamos com aquelas quatro vozes maravilhosas. Ao final, depois de uma breve tietagem, ele se ofereceu para me acompanhar até minha casa, pois já era tarde. Lá fomos nós, caminhando lentamente durante uma arrastada meia hora, colocando toda a conversa em dia.

A conversa no portão durou então, sei lá, umas duas horas. Parecíamos aqueles dois amigos que se conheceram no trabalho voluntário, falando sobre tudo o que tinha acontecido nos últimos seis anos, desde aquela excursão. Vendo o adiantado da hora ele falou que ia embora, e então aconteceu.

Depois dos tradicionais dois beijinhos, veio um longo beijo na boca. Não foi um beijo roubado, forçado. Foi natural, como o beijo de um casal que não se encontra há tempos e tem o seu momento de privacidade. Eu me deixei beijar, ele se deixou beijar, eu quis beijá-lo e ele a mim. Nos enroscamos em um abraço confortável, quase um ninho. Parece que, desde o início de tudo, inconscientemente eu tinha alimentado o desejo de fazer aquilo também, e finalmente, a sós, completamente a sós, pudemos extravasar e expressar, em um beijo quase-eterno, todo o carinho que tínhamos um pelo outro.

Quando nossas bocas se separaram e nossos olhares se encontraram, houve um longo e solene silêncio. Não eram necessárias palavras para sabermos o que se passava no coração um do outro. Trocamos apenas um adeus leve, quase aliviado, que selou nossa história.

Continuamos nos encontrando pelas calçadas e voltamos a ser bons amigos, mas sem nenhum resquício daquele romance. Ele seguiu sua vida e hoje está casado, com filhos. Eu segui a minha, estou casada e lutando ao lado de minha companheira para obter a adoção de um bebê.

Antes de chegar onde cheguei hoje, beijei muitas outras bocas, mas nenhum dos outros primeiros beijos, nem antes nem depois, chegou aos pés daquele.

Facebook

O Sarcófago, agora também no Facebook.

Mini-Conto: O Melhor Engenheiro

Sempre teve as melhores ideias para o terminal das barcas.
Suas ideias para organizar o fluxo de pessoas eram imbatíveis.
A alocação das barcas em horários de pico poderiam servir de exemplo em faculdades.
A gestão dos recursos financeiros deixaria economistas assombrados.
Os planos para reestruturação dos terminais eram o sonho de todos os usuários.
Só faltava ser empregado das barcas e deixar de falar sem parar na fila.

Sarcófago: Uma Década

Há exatos dez anos o Sarcófago entrava no ar.

Num endereço que ainda está disponível, mas que já era pra ter sido deletado há muito tempo e não foi porque eu perdi o login e a senha, surgia um blog que tinha a intenção de publicar as bobagens que eu tinha guardado no meu computador durante alguns anos. Só que acabei mudando o foco logo nos primeiros meses e passei a escrever coisas novas, minhas opiniões sobre música, filmes, livros, notícias do dia-a-dia. Com o tempo, comecei a escrever pequenos contos, que o pessoal foi gostando, e fui escrevendo, e que acabaram rendendo um livro, publicado em 2007.

Já passei por fases prolíficas, outras de baixa produção, quase parei várias vezes, mas aí segue ele, completando suas bodas de alumínio. Já não sei viver sem escrever para ele. Tive épocas de escrever muito sobre cartórios, sobre tecnologia, sobre religião, tentei reproduzir um livro que gosto muito, tentei ficar 50 semanas ouvindo rock.

Conheci muita gente legal por conta do blog. Gente que veio e foi, gente que inspirou contos, gente que veio e está aí até hoje. O blog já foi mais movimentado, e confesso que sinto falta da época em que as caixas de comentários eram mais movimentadas, mas isso não me impede de continuar escrevendo.

Recentemente, por ter começado a fazer aulas de piano, que consomem meu tempo livre com muito exercícios, e por ter passado a me dedicar mais a ter uma vida com princípios minimalistas, pensei em parar com o blog. Mas conversando com antigas leitoras vi que minha ficção dá pro gasto e vou voltar a escrevê-la. Vou continuar postando notas sobre música ou outros assuntos que achar relevantes, mas a ficção voltará a ser foco principal do blog. Os motivos que achei serem cabais para que eu parasse de escrever acabaram se mostrando pra mim motivação para continuar.

A todas as minhas leitoras, as que estão aí e às que já andam por outros lugares, meu muito obrigado.

Que venham mais 10 anos.

Algumas Perguntas

Na boa, espero respostas sinceras:  alguém ainda lê o que escrevo aqui no Sarcófago?  O que publico aqui ainda é relevante para alguém?

Pergunto isso porque ando reformulando algumas das minhas atitudes, filosofias e hábitos, e o Sarcófago está na berlinda, pronto para ser largado de lado, oficialmente.

Ensaio Sobre as Cotas

Muito se tem falado recentemente sobre as cotas para negros nas universidades. Rolam altas discussões sobre ser certo ou não, algumas até inflamadas. Até pouco tempo atrás, eu fazia parte do time que é contra as cotas, usando um dos argumentos mais comuns: o de que as cotas deveriam ser sociais, não raciais.

Sim, é preciso facilitar o acesso ao ensino superior àquelas que não tiveram condições de receber um ensino básico de qualidade, o que na verdade já acontece: minha esposa está estudando por conta disso. Só que estamos falando de problemas diferentes, e entender isso é que me fez passar a ser a favor das cotas.

As cotas raciais não são uma forma de compensar uma educação fundamental de baixa qualidade, mas sim uma forma de pagamento da dívida que o Estado tem com os negros, por conta do período em que era possível ter escravos - todos negros.

Imagine a leitora que estamos em 1888, quando a maioria dos negros é oficialmente escrava. Eles não têm direito de votar, opinar, comprar, ter ou estudar. E então vem o governo e abole a escravidão, deixando milhares de negros livres. Só que livres em termos, porque dizer que não podiam ser mais escravos é uma coisa, fazer as pessoas deixarem de vê-los assim é outra. Mesmo livres, os negros continuavam não podendo nada, continuavam sendo a escória.

Não seria justo, então, que o governo destinasse uma parte das vagas em escolas para os negros, como forma de garantir educação a eles?

Pois bem: a escravidão foi abolida há pouco mais de 100 anos. Para uma vida comum, isso é muito tempo, mas historicamente é pouco. 100 anos não é nada! Os descendentes dos negros libertos, estes que estão aí hoje, ainda sofrem as consequências do racismo que seus antepassados sofreram. Por muitos, eles ainda são vistos como a escória da humanidade. Se o governo na época não fez o suficiente para restaurar a cidadania dos negros, é hora de correr atrás do prejuízo e fazer agora. Na verdade, não é nem restaurar a cidadania, é dar cidadania, porque eles nunca tinham sido cidadãos de verdade. Cotas nas universidades podem não ser a melhor forma de retratação, mas é uma delas, e deve ser usada enquanto for necessária.

Muitos alegam que na verdade o problema não é o fato de negros não terem acesso à faculdade, mas sim que é preciso ter educação básica de qualidade. Só que estes são dois problemas diferentes! Quem defende as cotas não é contra a melhoria na educação básica. Ser a favor de uma coisa não significa ser contra a outra! Falar uma coisa dessas é como dizer "pra que discutir redução de imposto para carros enquanto as estradas estão uma porcaria?". De novo: são dois problemas diferentes. Os negros devem ter um acesso mais fácil garantido assim como a educação básica tem que ser melhorada. E que bom que o governo está fazendo pelo menos uma das coisas.

Tem gente que fala também que a medida é discriminatória, que ela classifica os negros como incapazes de entrarem na faculdade por seus próprios méritos. Só que, como já vimos acima, a questão não é essa. As cotas não são uma prova de que os negros são burros e incapazes de passar no vestibular, elas são, na verdade, uma forma de facilitar o acesso deles porque o sistema como um todo já é contra eles, por natureza.

E aí chegamos num outro ponto importante: tem aqueles que dizem que racismo não existe, e acho incrível as pessoas afirmarem isso. Sem apontar dedo pra ninguém: somos todos racistas, o nosso sistema é racista. Eu faço um esforço consciente para não ser, mas às vezes caio na armadilha e tomo uma atitude racista. Mas é uma questão do esquema em que vivemos, da nossa história, de como somos treinados desde crianças para pensarmos assim. E isso não é uma desculpa, é apenas uma explicação. Este texto aqui pode com certeza servir de exemplo: ele deve estar cheio de comentários violentamente racistas que me farão corar quando encontra-los. Como diz o Alex Castro, o baralho é de cartas marcadas e não basta que os privilegiados não reparem nas marcações: é preciso trocar de baralho. (Aliás, o Alex Castro já escreveu coisa pra cacete sobre racismo e aprendi muito com ele. Recomendo fortemente a leitura de seus artigos sobre o assunto. Comece por aqui e depois continue aqui)

Se racismo não existe, porque tão poucos médicos são negros? Porque tão poucos professores universitários são negros? Porque tão poucos grandes empresários são negros? E porque tantos negros são garis? Porque tantos negros são seguranças? Porque tantos negros são pedreiros? Isso quer dizer que negros preferem trabalhos mais pesados ou que exigem menos esforço intelectual ou que negros sejam burros demais? Ou, ao contrário, quer dizer que o racismo está tão entranhado que aos negros só resta aceitar empregos de menor prestígio e que requerem pouca formação, aqueles que os brancos bem-aventurados não querem? Veja bem, enquanto um negro de terno for visto como segurança, enquanto um negro dentro de um carro caro for visto como manobrista, enquanto um negro caminhando por uma rua deserta em nossa direção for visto como ladrão, enquanto o sucesso de um negro causar estranheza, haverá racismo no Brasil sim.

E o seu melhor amigo ser negro não prova o contrário!

A tirinha abaixo ilustra bem porque é preciso haver o sistema de cotas. Ela foi feita pelo site Leftycartoons. Clique para ver maior.


Um último ponto sobre a utilidade e importância das cotas é que, graças a elas, muitos idiotas são desentocados e se expõem, sem perceber que estão mostrando o quanto são idiotas, porque o que não falta por aí é comentário do tipo protejam suas bolsas (de estudo e de couro), porque os negros vêm aí.

Resumindo: por conta do racismo que ainda existe no Brasil, os negros sofrem as penas que refletem o que seus antepassados sofreram; como o governo na época não fez muito pelos negros, é bom que façam agora. Cotas não são a melhor coisa de todas, mas são uma delas.

Cirurgia de Miopia

Comecei a usar óculos aos cinco anos de idade, vítima de miopia, e continuei com eles pelos 25 anos seguintes, com o grau aumentando até meus 20 anos, mais ou menos. No início deste ano me livrei deles depois de passar por uma cirurgia. Escrevo para compartilhar com minhas leitoras que usam ou conheçam alguém que usa óculos mas tem medo de operar.

Minha primeira busca para a cirurgia ocorreu por volta de 2004, depois do problema já estabilizado. Vários exames depois, o cirurgião me deu a má notícia: minha córnea era muito fina e eu não poderia operar. Quer dizer, até poderia, mas não me livraria dos óculos. Felizmente, o problema não era definitivo: disse o doutor que a tecnologia estava avançando bem e que em poucos anos eu poderia operar.

O motivo disso tudo não é difícil de entender. Como o laser usado na cirurgia de correção não é aplicado diretamente na superfície do olho, é preciso levantar uma pequena tampa, fina como um fio de cabelo, para só então aplicá-lo para queimar a córnea. Aí entra o problema da minha córnea fina: na época, os recursos existentes para levantar a tal tampa realizavam um corte muito grosso, fazendo com que sobrasse pouca córnea para ser queimada, o que me deixaria ainda com alguns graus de deficiência.

Deixei passar um bom tempo e em 2011 comecei a procurar informações sobre o assunto e a fazer novos exames. Em janeiro de 2012 me submeti à cirurgia usando as tecnologias femtolaser e Lasik. Foi a primeira delas que permitiu que eu me livrasse dos óculos. O femtolaser é uma tecnologia nova que é usada para levantar a tampa no olho, e tem a capacidade de gerar uma tampa muito mais fina do que as tecnologias anteriores.

A cirurgia em si é bem simples, um procedimento que não leva mais do que vinte minutos.

O primeiro passo é pingar um colírio anestésico no olho a ser operado. Depois de quase uns dez minutos fui encaminhado à sala de cirurgia, onde estavam a cirurgiã com a qual eu vinha me consultando, o cirurgião responsável pelo femtolaser e duas enfermeiras.

Na sala, deitei em uma máquina onde o femtolaser é aplicado. Recebi mais alguns colírios lubrificantes, prenderam uma peça de silicone no meu olho para eu não piscar nem mexer a vista e uma máquina foi posicionada sobre meu rosto. Neste momento senti uma leve pressão sobre o olho, como se a máquina estivesse fazendo força, mas nada demais. Quando a aparelhagem estava toda posicionada, o cirurgião falou:

Tudo no lugar, tudo certo, vamos aplicar... perfeito, podem retirar.

Tudo muito rápido mesmo, quase instantâneo, e não dá pra sentir nada. Terminada essa etapa, eles retiraram tudo do meu olho e pediram para eu deitar em outra máquina, onde a correção seria feita. Novamente, colocaram uma peça para prender meu olho e prepararam a máquina sobre mim. Neste momento havia uma pequena luz verde logo à minha frente, que eu via levemente desfocada, conforme a minha miopia original.

Usando uma ferramenta, a cirurgiã levantou a tampa que foi cortada no meu olho e a luz verde que eu via se transformou em um borrão distante. Mais alguns procedimentos e ajustes da máquina e foi a hora de realizar a correção. Esta etapa foi um pouco menos rápida que a aplicação do femtolaser, levando coisa de dez segundos:

Tudo certo, vamos aplicar o Lasik... ótimo... 50%... mais um pouco... 90%... ótimo, perfeito, podem retirar.

Novamente, não senti nenhuma dor; apenas um leve cheiro de queimado, parecido com o cheiro de pelo sapecado. Segue-se mais um bocado de colírio lubrificante e então a cirurgiã usou algo parecido com um cotonete para colocar a tampa do olho de volta no lugar. Durante coisa de um minuto ela ficou alisando minha retina para retirar qualquer pequena bolha de ar que tivesse ficado. Quando terminou, a luz verde já aparecia nítida, quase como se eu estivesse usando óculos.

Importante lembrar: durante os dois procedimentos, o tempo todo nós ficamos conversando. Eles querendo saber o que eu estava sentindo e explicando tudo o que eu perguntava sem parar. Se você procurar no YouTube vai achar vários vídeos de cirurgias.

Estava terminada a cirurgia. Fui encaminhado para uma outra sala onde os cirurgiões examinaram minha vista para ver se estava tudo no lugar (estava!) e me despacharam com um tapa-olho transparente devidamente preso sobre o olho. Uma semana depois seria a vez do olho direito. Neste meio tempo, fiquei em casa quase o tempo todo, sempre de óculos escuros para evitar claridade e sujeira, e tendo que pingar dois colírios diferentes em intervalos bem curtos (um era um antibiótico, outro um lubrificante).

Na primeira cirurgia, fiquei na clínica por mais duas horas depois que saí da sala de operação, porque um primo foi me buscar depois de sair de seu curso. Assim que descemos eu já conseguia ler placas do outro lado da rua. Durante o trajeto até nossa casa, conseguia ler as placas dos carros que iam à frente. Em casa, depois de uns quatro dias eu arrisquei ver televisão e podia enxergar normalmente sem os óculos. No dia da segunda cirurgia, quando cheguei em casa, eu não precisava mais dos óculos. Novamente, uma semana com óculos escuros e muitos colírios. Na semana seguinte eu voltei ao trabalho.

Uma outra coisa que perdi, e que estranhei muito no início mas já me acostumei agora, é que, sem os óculos, eu enxergava muito bem e com uma nitidez impressionante coisas pequenas se as colocasse bem perto do olho, tipo letras miúdas ou ranhuras de folhas. Agora não tenho mais isso e há uma distância mínima que devo manter dos olhos para não desfocar os objetos.

Um mês depois fui fazer a primeira revisão, que mostrou que estava tudo ok com minha vista, apesar de um pequeno resíduo de miopia ter sobrado, mas nada que obrigasse a usar óculos. Dois meses depois da primeira revisão, fui para uma segunda, e vimos que o grau tinha aumentado um pouco, coisa que eu já tinha reparado. Ainda assim, não vi necessidade de usar óculos naquele momento.

Hoje eu sinto que minha visão deu uma nova caída desde a última revisão, e estou pensando em adiantar a próxima, que deveria ser em dezembro mas vou trazer para o mês que vem. Além disso, vou começar a anotar a distância máxima que devo estar das coisas que sou capaz de ler hoje (tipo placas, cartazes, legendas na tevê) para ver se um mês depois continuo sendo capaz de lê-las.

A situação hoje, seis meses depois da cirurgia é a seguinte: vivo sem óculos tranquilamente, leio, trabalho, vejo tevê, uso o computador, faço quase tudo sem sentir falta dos óculos (a princípio não sentia falta nenhuma, hoje há situações em que desejo um). Ainda tenho os hábitos de quem usa óculos: quando acordo de manhã ainda estendo a mão para pegá-los, quando vou deitar ainda levo a mão ao rosto para tirá-los, quando saio do banho ainda pego papel higiênico para secá-los e volta e meia tento alinhá-los na cara. Também, né, não dá pra largar de uma hora pra outra hábitos diários de 25 anos!

Entretanto, na vida prática sinto que minha visão piorou um pouco, porque antes, com os óculos, eu via tudo com bastante nitidez, inclusive coisas distantes, e hoje não tenho mais isso. À noite, e principalmente no lusco-fusco do anoitecer, a situação é bem ruim e tenho dificuldade de identificar os rostos das pessoas. No cinema eu consigo assistir filmes com tranquilidade, mas sinto uma leve distorção nas imagens, que depois de duas horas começa a cansar. A cirurgiã disse que, se minha córnea não fosse tão fina, eu poderia fazer uma segunda cirurgia para remover este resíduo, mas como a primeira já foi no limite, uma segunda não era possível.

Apesar de não precisar usar óculos para o dia-a-dia, decidi que vou fazê-los porque sem eles tive dificuldades incômodas com duas coisas específicas: primeiro, olhar o céu. Não consigo mais ver a lua e as estrelas com a clareza que via antes com os óculos. Segundo, ir às apresentações de orquestras. Na primeira apresentação que vi depois da cirurgia, não consegui ver direito os rostos dos músicos no palco, mesmo não estando tão longe. Além disso, como a visão vem piorando, mesmo que lentamente, os óculos vão, infelizmente, me ser úteis.

De resto, não me arrependo de nada e recomendo a cirurgia a todas as minhas leitoras míopes, mesmo que a minha não tenha sido um sucesso total. Não dói, é rápido e não tem sequelas.

Conheçam Mayra Andrade

De todas as artistas que conheci no último ano, uma das que mais me agradaram foi Mayra Andrade. Natural de Cuba, crescida na África e depois da Alemanha, hoje vivendo na França, ela faz uma empebê de excelente qualidade. Só que há um detalhe: é a primeira artista de empebê que eu conheço que não canta em português.

Em adição ao ritmo original da empebê brasileira, Mayra adiciona às suas canções os ritmos e a língua não-oficial de Cabo Verde, o crioulo cabo-verdiano, criando uma fusão de sons que não se encontra facilmente por aí. Dona de uma voz linda, que a princípio me lembrava um pouco a Maria Rita, e sempre acompanhada de músicos de primeira linha, Mayra já tem três discos na bagagem - Navega, Stória Stória e Studio 105 - todos excelentes.

O curioso do crioulo cabo-verdiano é que ele tem alguns elementos do português, e aí enquanto ouve as músicas parece que você está entendendo alguma coisa, mas logo cai em uma profusão de palavras estranhas, para novamente ouvir uma ou outra parecida com o que falamos, para então se perder de novo. Fica muito bom de se ouvir, principalmente se você já curte coisa tipo o Lebo M. ou o Ladysmith Black Mambazo.

Ouçam e curtam.



Bromélia



Coisas que as pessoas confundem 3: diferente e errado

Por mais que seja algo comum, sempre me surpreendo com a confusão que as pessoas fazem entre diferente e errado.

Se você vive em uma região/família/comunidade onde as coisas são feitas de um jeito, isso não significa que fazer de outro jeito seja errado. Costumes e tradições são só isso, costumes e tradições, e não leis de conduta. Uma coisa ser feita de um jeito na maioria das vezes não quer dizer que ela seja a única opção possível, nem que as outras opções que existem sejam erradas. Concordo que podem ser esquisitas, mas só são esquisitas porque são incomuns. Não há problema em pensar algo do tipo

Caraca, a Sandra é muito doida! Vendeu a televisão que tinha e não quer comprar outra. Falou que não vai ter mais nenhuma em casa. Ah, eu não aguentaria ficar sem ver minha novelinha.

O problema é achar que isso é errado e tentar corrigir.

Sandra, pelamordeDeus! Vai comprar a porra de uma televisão nova, vai! Onde já se viu não ter televisão em casa? Como é que você vai se informar sobre o mundo?

A leitora quer outros exemplos? Há muitos. A sua sobrinha não gostar de usar brincos. Sua filha querer aprender a tocar oboé. Sua colega de trabalho ser vegetariana. Sua esposa só comer com colher. Sua mãe ler jornal do final para o início. Sua prima raspar a cabeça com máquina dois. Sua vizinha só comer salada no Spoleto. Sua professora de violão não querer ter um carro. Sua psicóloga gostar de trabalhar à noite e dormir de dia. Sua melhor amiga e o marido não quererem ter filhos. Sua irmã ter um ventilador de teto no banheiro. A lista tende ao infinito! Outro lugar onde já vi isso acontecer muito foi nos cursos de inglês. Tenho certeza de que minhas leitoras que já passaram por um cursinho já ouviram reclamações dizendo que o inglês é errado porque a ordem dos adjetivos é a contrário do português.

As pessoas veem estas atitudes incomuns e diferentes, rotulam como erradas e começam a tentar corrigir as outras. Como se fosse obrigatório mulher usar brinco, como se fosse obrigatório comer carne, como se fosse proibido cortar o cabelo do jeito que se quer. E, oras, se comer salada no Spoleto fosse proibido, porque haveria salada no cardápio?

Se a coisa parasse por aí, até que dava pra deixar passar, mesmo sendo chato ter gente regulando as escolhas dos outros. Só que o grande problema disso é que deste tipo de raciocínio é que surgem os preconceitos, sendo o melhor exemplo disso o modo com o que o homossexualismo é visto. Por muita gente, o homossexualismo é um desvio de conduta, uma doença, uma afronta aos bons costumes, o razão para o fim da humanidade como a conhecemos, quando, na verdade, não passa apenas de um jeito diferente de ser. Tudo bem se você não é homossexual e não goste de ver dois homens se beijando, eu também não gosto de ver. Pra mim, ver dois caras juntos dá o mesmo asco de ver minha esposa comendo bife de fígado, só que eu não vou querer proibir minha esposa de comer bife! Porque deveríamos taxar homossexualismo de doença ou perversão moral e proibir? Talvez seja mais "natural" ou mais comum ou mais "normal" que homem goste de mulher e vice-versa, mas o fato de existir gente que não é assim não os torna errados, os torna apenas diferentes.

E reparem bem nas aspas em natural e normal ali em cima, porque até o que é natural e normal é questionável. Muitas das coisas que você toma como naturais são na verdade construções sociais: coisa de homem, coisa de menina, regras de etiqueta, o norte ser pra cima nos mapas; muito disso surgiu porque uma pessoa fez de um jeito, o pessoal foi imitando e agora todo mundo faz igual. Ou também, talvez, você ache que as coisas são naturais e normais simplesmente porque só convive com aquele tipo de coisa, sem a mínima noção do que acontece no mundo. Como René Descartes escreveu no seu Discurso do Método,

É bom saber alguma coisa dos costumes de vários povos para julgarmos os nossos mais salutarmente, e para não pensarmos que tudo o que é contra nossos modos é ridículo e contra a razão, como costumam fazer os que nada viram.

Portanto, abra sua mente. Quando vir alguém fazendo uma escolha diferente da sua e pensar em corrigi-la, repare que, aos olhos dela, VOCÊ é diferente. Quem sabe você não descobre que vale a pena mudar?

***


Outras coisas que as pessoas confundem:
Conclusão da História e Moral de História
Entender e Concordar

Sobre o Problema de Deixar de Ser Preconceituoso

O problema de se desfazer de um preconceito é não querer mais parar.

Quando você se despe de um preconceito, começa a perceber que a linha de raciocínio que levava a ele é a mesma ou é muito semelhante às de todos os seus outros preconceitos, então começa a se perguntar porque é que eles ainda estão lá e vê que pode mudar mais um pouco e passa a sempre querer mais uma carreira de despreconceito.

Só que como pensar de outro jeito dói, porque te tira da zona de conforto na qual sempre viveu, você começa a tentar arranjar desculpas para continuar achando que lugar de mulher é na cozinha, para continuar achando imoral duas mulheres se beijarem em público, para continuar achando que negro não tem que ter cota, mas ao mesmo tempo sabe que está errado e que tem que mudar.

Neste conflito, só resta esperar que o vício saia ganhando.

Últimas audições II

Seguem aí algumas ideias sobre uns discos que andei ouvindo nas últimas duas semanas.

Brandi Carlile - Bear Creek
Três anos depois de seu último disco de estúdio, Brandi Carlile está de volta com mais um disco de inéditas, e há pelo menos duas grandes músicas ali dentro. Ela segue cantando muito bem, os gêmeos que a acompanham continuam fazendo um trabalho brilhante e, enfim, o disco é tão bom quanto tudo o que ela já fez. Se você quiser experimentar, no site NoiseTrade está disponível um EP gratuito com três músicas do novo disco, gravadas ao vivo.



Neil Young & Crazy Horse - Americana
Li duas ou três resenhas falando muito bem do disco e fui experimentar. Achei chato demais. Tem até bons momentos e a banda arregaça em algumas passagens, mas no geral não é o que eu goste de ouvir. Ouça por sua conta e risco.



Howlin Rain - The Russian Wilds
Um rock psicodélico muito bom. É o tipo de coisa que gosto de deixar rolando o dia inteiro. Tem uns solos muito legais, tem metais no meio e tem música instrumental. A última música é uma jam session caindo pro jazz que é o exemplo perfeito de tudo o que eu quero saber fazer num piano quando juntar com outros amigos músicos para tirar um som.



CTMDT - Tu És Tudo Pra Mim
A turma da escola de música do Diante do Trono disponibilizou de graça o seu novo disco e eu fui conferir. É esse pop rock gospel comum de hoje em dia, sem nada que se destaque. Pra quem gosta é bom.



The Decemberists - We All Raise Our Voices to the Air
Este disco ao vivo do The Decemberists gravado na turnê do ótimo The King is Dead é uma ótima pedida. O folk rock da banda soa muito bem ao vivo e suas músicas são todas muito bacanas. E melhor ainda que as melhores músicas do disco The King is Dead estão aqui, como Calamity Song, Down By the Water e Rox in the Box.



Mumford & Sons - Sigh no More
A melhor descoberta das últimas semanas pra mim foi esta banda, que gostei muito. Eles fazem um folk rock de primeiríssima qualidade, lançaram seu primeiro disco em 2009 e torço para que continuem fazendo música deste nível por um bom tempo. O vocalista tem o tipo de voz rouca que eu gosto de ouvir e eles fazem música para se prestar atenção, e não apenas para deixar rolando. Se vocês querem conferir só uma destas bandas aí, que seja esta. Little Lion Man e, principalmente, Thistle & Weeds são duas músicas altamente fodas.


***


Veja aqui o Últimas Audições anterior

Sobre Ser Fã de Elton John

Enquanto esperávamos o Rock in Rio começar oficialmente, lá na turma do gargarejo, eu e um camarada conversávamos sobre as piadas que ouvimos com frequência por sermos fãs do Elton John. Tempos atrás, me deram uma ideia sobre isso. Disse o bem intencionado:

Mário, o problema não é gostar de Elton John. Eu também gosto. As músicas dele são muito boas, eu tenho algumas no iPod, o cara toca pra caralho, de vez em quando eu ouço. O problema não é esse. O problema é ter camisa com o nome dele e dizer que é fã, entendeu?

Claro que não entendi. Todo mundo tem camisas de seus artistas favoritos. De Beatles a Diante do Trono. De Ozzy a Michael Jackson. De Sandy & Junior a Metallica. Eu disse que não tinha entendido e quis saber o motivo. A explicação foi curta e grossa:

Mário, Elton John é viadão. E se você diz que é fã dele, as pessoas vão pensar que você é viado também. Entendeu agora?

Então o problema não é ser fã de Elton John, é pensarem que você é viado igual a ele. Seguindo esta linha (torta) de raciocínio, não podemos gostar de ir a um restaurante com comida da boa quando o cozinheiro for gay (se você come a comida dele deve estar doido pra comer ele também!).

Voltando ao ponto, agora sim eu tinha visto um motivo sensato para não falar que sou fã do Elton John: para que não pensem que eu sou viado. Porque isso sim é importante pra mim: não quero que pensem que eu sou viado. (Mas vou continuar falando que sou fã assim mesmo)

Só que eu desconfiava dos motivos da boa alma conselheira. Eu tenho meus motivos para não querer que pensem que eu sou viado, mas será que os motivos dele seriam os mesmos? Perguntei o porque dele achar ruim ser confundido com viado e a explicação, novamente, foi certeira:

Porque viado dá cu. Viado não é normal. Viado é doente.

E aí tudo ficou claro: nossos motivos eram completamente diferentes. Enquanto os motivos dele eram baseados em puro preconceito, eu não quero que me confundam com um gay porque sei que gays são duramente discriminados, sofrendo psicológica e fisicamente pelo que são. Enquanto pensarem que eu ser gay não for tão banal e irrelevante quanto pensarem que sou um arquiteto, não quero essa confusão pro meu lado.

Das Coisas Que Não Preciso

Não preciso ser criança pra ser contra exploração infantil.
Não preciso ser planta para ser contra o desmatamento.
Não preciso ser mulher pra ser contra o machismo.
Não preciso ser negro pra ser contra o racismo.
Não preciso ser gay pra ser contra a homofobia.

Últimas audições

Na semana passada ouvi alguns discos que nunca tinha ouvido (alguns lançamentos e outros mais antigos). Uns bons e outros ruins:

O novo do Slash, Apocalyptic Love é muito bom. Rock de excelente qualidade. Vale muito a pena. Vai entrar fácil na lista dos 10 melhores discos do ano.

Sem Palavras, do Diante do Trono, é muito ruim. Parece mais um daqueles discos 'para bebês', com versões de músicas famosas. Chato demais.

Storm Corrosion, disco de estreia do projeto paralelo do vocalista do Opeth, lançado agora em 2012, é muito bom. Da primeira vez que ouvi achei chato, mas a segunda audição, prestando a devida atenção, revelou que ele merece ser ouvido muitas vezes.

1982-2000, coletânea do Europe. Como eu só conhecia The Final Countdown, resolvi ver qual era a da banda, e achei chata demais. Nem tão cedo vou querer ouvi-la de novo.

Lista de Leitura

Estes são os livros que estão na minha estante esperando para serem lidos nos próximos meses. Os links nos nomes levam para o Submarino, onde você pode compra-los.

E a lista de vocês, qual é?

Alucinações Musicais, de Oliver Sacks. Já li outro livro do Oliver, Um Antropólogo em Marte, e gostei muito. Recentemente descobri que ele escreveu este livro sobre música e assim que consegui uma cópia dele ela foi para o primeiro lugar da fila.

Harry Potter e o Cálice de Fogo, de J. K. Rowling. Sigo minha saga na leitura da saga completa do bruxo.

A Emoção é Inimiga do Dinheiro, de Terry Burnham. Tem todo o jeito de ser mais um daqueles livros de auto ajuda que pretendem te ensinar a ganhar dinheiro na bolsa de valores, do tipo que eu passo longe, mas como eu ganhei vou ler assim mesmo.

A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera. Um escrito cuja opinião respeito muito volta e meia receita este livro. Chegou a sua vez.

A Caçada ao Outubro Vermelho, de Tom Clancy. Já li outro livro do Tom Clancy e achei sensacional.

Quem Matou Palomino Molero?, de Mario Vargas Llosa. Porque se ele ganhou um Nobel é porque deve escrever direitinho, então resolvi experimentar.

Comédias Para Se Ler na Escola, de Veríssimo. Todo mundo fala bem, mas não me lembro de ter lido alguma coisa dele. Peguei pra ver qual é.

Micro-conto: Gente Esnobe

Deus me livre de conviver com gente esnobe. Você não viu o Zé Ricardo, esses dias, tirando onda com o carro novo dele? E ele nem tem direção hidráulica de segunda geração, como o meu tem!

Conheçam o MegaElixir.com

escrevi de outra vez por aqui o quanto gosto do jogo Chrono Trigger, RPG clássico do Super Nintendo lançado em 1995. Lá se vão quase vinte anos e ainda hoje gosto de jogá-lo e me perder nas aventuras de Crono, Marle e Cia.

Volta e meia procuro na internet alguma coisa de interessante sobre o jogo. Seu universo é tão grande e cheio de possibilidades que volta e meia me aparece alguma novidade, e é a mais recente delas que venho compartilhar com vocês: o site MegaElixir.com.

Escrito por Vincent Ho, o MegaElixir busca recontar a história do jogo na forma de quadrinhos, tudo com muito bom humor e uma boa dose de malícia. Para quem conhece a história do jogo, os quadrinhos estão no ponto em que Crono vai encontrar Melchior, tentando consertar a Masamune.

O traço de Vinny é muito bacana e está sendo bem divertido revisitar a história de Chrono Trigger de uma nova maneira. Pra todo mundo que curte o jogo, é uma boa pedida.

Novas Notas de Real

A presidenta Dilma aprovou lei e a partir de julho as notas de Real vão sair com as inscrições "Deus Seja Louvado" (2 Reais), "Iemanjá Seja Louvada" (5 Reais), "Buda Seja Louvado" (10 Reais), "Alá Seja Louvado" (20 Reais), "Tupã Seja Louvado" (50 Reais) e "Chico Xavier Seja Louvado" (100 Reais).

"O valor das notas não deve ser associado à relevância, poder ou influência do louvado em questão", disse a presidenta.

As Melhores Descobertas Musicais de 2011

Em 2011 eu ouvi muita música. Acho que foi o ano em que mais ouvi música. E muita coisa nova. Tudo graças, não canso de citar, aos blogs Collector's Room e Blog do Maia, além das recomendações do last.fm e de companheiros de trabalho.

Seguem aí embaixo as 10 melhores descobertas musicais que fiz este ano. Todas estas artistas e bandas estão tocando incessantemente por aqui desde que as descobri. Recomendo com força a todas as minhas leitoras que dediquem um pouco do seu tempo para ouvir o som que elas fazem ou fizeram.

Hildegard Von Bingen

Mais antiga compositora clássica que se tem registro. Nasceu em 1098 (sim, no século 11), tornou-se freira e passou a compor musica religiosa, uma música maravilhosa que felizmente sobreviveu até os nossos dias. Funciona como um calmante e me hipnotiza. Ouça O Ecclesia.

Madame Saatan
Banda de heavy metal formada para uma peça de teatro que funcionou tão bem que seguiu em frente e lançou ano passado seu segundo disco. Ouça Até o Fim.

Elf
Uma das primeiras bandas do baixinho Dio, e fazia um rock and roll de resposta. Riffs de guitarra e piano a todo momento. Ouça Carolina County Ball

Ghost
Banda de heavy metal satanista. Como eu não esquento a cabeça com isso, nunca li as letras e sigo curtindo uma banda que faz um som muito bom. Ouça Ritual.

Vanessa da Mata
Nunca tinha dado atenção a ela até ouvir o seu disco mais recente, Bicicletas Bolos e Outras Alegrias, que traz uma das letras mais bem sacadas que vi recentemente: Bolsa de Grife. Gostei muito do jeito e da voz dela. Com certeza quero mais. Ouça Bolsa de Grife.

Ana Popovic
Conforme já falei antes por aqui: uma moça croata tocando blues rock. Pode ser bom? Sim, pode, e é bom demais. A mulher toca e canta muito bem. Suas músicas deixam qualquer blueseiro babando. Ouça Business as Usual.

Bruna Caram
Fruto da nova geração da MPB, Bruna é dona de uma voz linda e já lançou dois discos recheados de música bacana, incluindo uma regravação de Milton Nascimento. Ouça Feriado Pessoal.

Mayra Andrade
Primeira cantora de MPB estrangeira que eu conheço. Mayra é de Cabo Verde e mistura MPB com ritmos nativos de seu país, cantando em português, francês e línguas nativas. Muito bom. Ouça Dimokransa.

Joe Bonamassa
Discípulo de B B King, Joe Bonamassa toca um blues rock de altíssima qualidade. O disco que ele lançou no ano passado, Dust Bowl, é uma maravilha de se ouvir, e o que ele lançou em parceria com Beth Hart é só o melhor de 2011. Ouça The Last Matador of Bayonne.


Rival Sons
Eis aí minha banda preferida da atualidade. O som dos caras é um rock estilo anos 70 que grudou nos meus ouvidos e não quer mais sair. Espero muito que eles venham logo fazer um show no Brasil. Ouça White Noise.

O Que é MPB?

Recentemente meu sobrinho pegou meu telefone e perguntou se tinha alguma música do Red Hot nele. Eu disse que não, que só tinha MPB nele naquele momento e ele me perguntou o que era MPB. Foi nesse momento que vi que não tinha uma resposta exata para isso. Expliquei era era música brasileira tipo a que Maria Rita e Caetano Veloso fazem, mas achei que não foi a melhor explicação e pus-me a refletir sobre o assunto.

Tem sempre uns gênios que vêm dizer que Calypso, por exemplo, é MPB, porque é música, é popular e é brasileira, mas é claro que estão errados. Calypso não é MPB apesar das pretensas qualificações acima, porque MPB não é sinônimo de música feita no Brasil e que seja popular.

Pensei que uma boa descrição para a MPB é a de música normalmente de andamento mais lento, tocada usando instrumentos acústicos - violão, piano, percussão, e que dá muita ênfase à interpretação vocal.

Parei para conversar com alguns amigos músicos e concordamos que esta minha descrição era boa, e evoluímos um pouco mais no conceito de o que é MPB.

O termo MPB é o nome pelo qual ficou conhecido o gênero musical genuinamente brasileiro que surgiu nos anos 60, filho de nomes como Chico Buarque, Nara Leão, Gilberto Gil, Elis Regina e Caetano Veloso, entre outros. Este gênero tem as características que listei ali em cima, ganhou força com os festivais organizados pela TV Record e é filho da bossa nova, do jazz e do samba.

Uma outra coisa na qual concordamos é no fato de que este nome, MPB, não é um bom nome para o gênero, principalmente por gerar a confusão sobre o que é e o que não é MPB. Sugeri que fosse brasilianismo, mas como um camarada comentou, fica com ar de movimento, o que a MPB não é.

Outro sugeriu pensarmos em um nome que viesse do tupi guarani ou outra língua indígena brasileira, o que é uma ideia assaz interessante, embora nenhuma palavra boa me venha à cabeça.

Mais tarde me veio à mente empebê, que soa praticamente como o nome original, mas que tem uma escrita que o desvincula da ideia inicial de música popular brasileira. Pra mim, soa bem:

- O que vocês gostam de ouvir?
- Eu gosto de rock.
- Já eu gosto de jazz.
- Eu? Ah, eu gosto empebê!

E vocês, que nome dariam para nossa empebê? Enquanto pensam nisso, ouçam uma das melhores músicas do grande gênio Chico Buarque, Construção, um ícone do estilo:




Bebida da Boa

Tomei recentemente a Weltenburger Kloster Urtyp Hell, e é uma excelente pedida. Vale cada centavo. Quero tomar as irmãs dela também.

Pracas do Brasil


As Preocupações de Deus

Para muita gente, Deus é um ser ultra-mega-hiper-poderosíssimo demais à beça pra cacete, capaz de criar o universo e tudo o que há espalhado por ele em apenas seis dias, e que vive profundamente preocupado com o teor alcoólico da sua bebida e o comprimento do seu cabelo.

Elton John: 65 anos hoje

O vídeo abaixo resume bem porque acho esse o músico mais foda de todos os tempos do universo. Que o velho tenha mais uns 20 anos de vida, pelo menos!

Micro conto: Estatística

Depois que o pedágio para carros com um só passageiro ficou muito mais caro, subiram em 600% as vendas de bonecas infláveis.

Jesus e o Vinho

Sempre que vinha um chato me dizer que beber bebida alcoólica é pecado, errado, coisa do cramunhão, ou coisa que o valha, eu rebatia que, pombas, até Jesus bebia vinho. Além do que, se fosse errado ele não teria transformado água em vinho durante uma festa (João 2).

Aí o mesmo povo vinha com a história de que naquela época o vinho não tinha álcool. Eu pensava com os meus botões que porra, então aí é suco de uva, não é vinho!, mas não discutia, porque sabe como é, né, essa gente não dá o braço a torcer nunca!

Eis que durante minhas leituras habituais da Bíblia, descobri algo que mostra que vinho, muito antes de Jesus nascer, era vinho sim e não suco de uva. Está em Gênesis 9:20-21:

Noé foi o primeiro agricultor. Plantou uma vinha e tomou o vinho dela, embriagou-se e encontrou-se nu no interior da sua tenda.

Caso encerrado.

Olhos nos Olhos



Aposto que ela estava pensando "que diabéisso?"

Os Melhores Discos de 2011 - Parte 3

Continuando a série de artigos com uma retrospectiva musical de 2011, seguem aqui mais 10 bons discos lançados no ano que acabou de acabar. A primeira parte está aqui e a segunda parte está aqui.

Mônica Salmaso - Alma Lírica Brasileira

Este foi um disco que me ganhou aos poucos. Na primeira audição não achei lá essas coisas mas a cada vez que ouço sempre descubro um detalhe mais legal, que foi tornando o disco, aos poucos, numa excelente pedida. Uma seleção primorosa de belas canções. Destaque para A História de Lilly Braun, do Chico Buarque.


Noel Gallagher - High Flying Birds

Um dos cabeças do Oasis finalmente lançou seu disco solo, que soa como um bom e velho disco do Oasis, o que já é garantia de música boa. Não perca The Death of You and Me.


Maria Gadú - Mais Uma Página

O mais novo lançamento da mais nova queridinha da MPB é muito bom. Mostra que Maria Gadú tem futuro e traz algumas canções tão boas quanto os melhores momentos do seu disco de estreia. Linha Tênue grudou nos meus ouvidos instantaneamente.


Charles Bradley - No Time for Dreaming

Black music da mais alta qualidade por um senhor de mais de 60 anos, que só agora lança seu primeiro disco. Não há mais o que dizer, além de OUÇA! Conheci através das listas de melhores do ano publicadas pelo Collector's Room. A faixa título é excelente.


Tedeschi Trucks Band - Revelator

Não sei classificar essa banda muito além de "banda que eu gosto". Eles fazem um pouco de rock, misturado com folk, misturado com blues e com momentos gospel. A vocalista é sensacional e não dá pra parar de ouvir. Conheci esta banda também pelas listas de melhores do ano do Collector's Room. Não deixem de escutar Bound for Glory.


Gregg Allman - Low Country Blues

Um pouco de blues para aquietar o espírito sempre faz bem, e o disco do Gregg Allman cumpre a tarefa com maestria. Em alguns momentos me fez lembrar de The Union, disco de Elton John e Leon Russel, e acabei descobrindo que ambos foram produzidos pelo mesmo cara. Outro nome tirado das listas do Collector's Room. I Can't Be Satisfied é de deixar qualquer um satisfeito.


Joss Stone - LP1

Não conheço quase nada da Joss Stone e este disco foi um excelente cartão de visitas. Um disco muito bom de se ouvir e que traz uma das melhores músicas do ano: Karma.


Foo Fighters - Wasting Light

Um disco de rock pesado bom demais. Um punhado de excelentes músicas. Recomendação certa. O único mal momento do disco é While Limo, mas que é compensado com louvor por Arlandria.

Booker T. Jones - The Road from Memphis


Um belo disco de soul quase que completamente instrumental. Uma banda de alta qualidade e convidados especiais de primeira linha fazem deste disco uma pedida perfeita. Não deixem de ouvir Down in Memphis.

Machine Head - Unto the Locust

Este disco é, sem dúvida, um dos melhores do ano, e merecia estar entre os 10 primeiros não fosse um detalhe: o vocal gutural que eu não consigo suportar. Dá pra classificar como o melhor disco que eu não gostei. Fora isso, é um disco foda demais, com músicas espetaculares e um instrumental de cair o queixo. Não está mais na minha coleção mas recomendo pra qualquer um que goste de heavy metal. Darkness Withwin, sem os vocais guturais, é a melhor faixa do disco.

Pássaro no Fio



Comentário Bíblico: Gênesis 9:2

Rolou o dilúvio, acabou o dilúvio, e Deus diz a Noé, entre outras coisas:

Sereis causa de temor e de espanto para todos os animais da terra e para todos os pássaros do céu. Tudo o que rasteja sobre o solo e todos os peixes do mar estão entregues às vossas mãos.

"Causa de temor", né? Esqueceram de avisar isso para o cachorro que mordeu o Tiago Frossard. Aquele lá não teve medo de ninguém não.

Nuvens



Micro-conto

Só era educado na primeira tentativa. Se batesse na borda e caísse no chão, ali o lixo ficava.

Nuvens



Diálogo Machista

As seguintes três frases foram disparadas por três homens diferentes, em sequência, enquanto falavam de uma mulher que trabalha em uma empresa que é parceira da empresa na qual os ditos cujos trabalham.

- Uma mulher que tem bigode e não tem bunda... não sei porque é mulher.
- Deveria trabalhar no circo.
- Vai ver não avisaram que não era mulher.

Flor de Não-Sei-o-Quê



Se alguém souber de que planta é esta flor, eu agradeço.

Os Melhores Discos de 2011 - Parte 2

Em um artigo recente, listei os 10 discos que mais gostei dos que foram lançados em 2011. Neste aqui eu listo mais alguns discos que também fizeram sucesso aqui nas minhas caixas de som durante o ano que passou. E quais foram os seus favoritos? (Veja aqui a parte 3)


Dream Theater - A Dramatic Turn of Events

Graças à saída do baterista e fundador da banda, a expectativa era grande em relação ao novo disco do Dream Theater. No seu disco de estreia, Mike Mangini mostrou que mereceu ganhar o posto, mandou bem demais e o disco saiu redondinho. Uma excelente pedida. A balada Far From Heaven é um dos melhores momentos.


2Cellos - 2Cellos

Fazendo sucesso no início do ano passado por conta de um vídeo no YouTube; ancorados por Elton John, quando os convidou para participar de suas turnês europeias (e esteve no Brasil, no show dele no Rock in Rio), a dupla croata lançou seu excelente disco de estreia, com covers de Michael Jackson, U2 e Sting, entre outros. Difícil escolher a melhor, mas a versão de Smooth Criminal é altamente recomendada.


Chickenfoot - Chickenfoot III

Junte numa banda o vocalista e o baixista do Van Halen, o guitarrista Joe Satriani e o baterista Chad Smith, do Red Hot, e você tem uma banda foda, que só pode lançar um disco muito bom. E daí saiu Chickenfoot III, o segundo disco deles, que traz um hard rock de primeira qualidade. Não deixem de ouvir Dubai Blues.



Chico Buarque - Chico

Depois de cinco anos Chico Buarque voltou com um disco de inéditas e não fez feio. Como sempre, o disco é curto e passa rápido, mas é tão bom de se ouvir que às vezes ouço duas ou três vezes seguidas. Sinhá é minha favorita.


Joe Bonamassa - Dust Bowl

Um dos muitos artistas que conheci este ano, Joe Bonamassa está caminhando rápido para ser um dos meus favoritos. Dois discos dos quais ele participou estão entre os meus 10 mais (2, do Black Country Communion, e Don't Explain, com Beth Hart), e seu disco solo também é bom demais. The Last Matador of Bayonne é uma faixa que merece ser ouvida.


Madame Saatan - Peixe Homem

Esta banda eu descobri na última semana do ano, ao passear pelas listas dos melhores discos de 2011 feitas por outras pessoas e publicadas pelo Collector's Room. Como este disco foi citado algumas vezes fui ver como era e... gostei demais. Heavy metal paraense cantado em português de altíssima qualidade. Bom demais. O solo de Até o Fim merece uma audição. O disco está disponível para download gratuito.


Rival Sons - Pressure and Time

Outra das melhores descobertas que fiz este ano, Rival Sons lançou seu segundo disco. Não é tão bom quanto o primeiro, mas ainda assim é bom pra caramba. Um rock com ar de anos 70, tipo Led Zeppelin, que é de arrepiar. Gosto muito e torço para que a banda continue nesse ritmo. Gipsy Hart é a recomendação de faixa aqui.


Johnny Winter - Roots

Nunca tinha ouvido nada deste veterano do rock até o Blog do Maia o recomendar. Johnny Winter regravou algumas músicas das antigas e fez um álbum excelente, que dá gosto de ouvir. Não deixe de provar da instrumental Honky Tonk.


Diante do Trono - Sol da Justiça

O lançamento anual do Diante do Trono trouxe uma mudança no som da banda, deixando de lado os metais e tomando uma pegada mais pop-rock, e não fez feio. Aliás, o único feio que eles fizeram foi dividir o disco em dois e colocar uma metade junto com um DVD. Por que não lançar um disco duplo? De qualquer maneira, o disco simples é muito bom, no nível de seus dois últimos trabalhos. Grande é uma ótima faixa.


Alice Cooper - Welcome 2 My Nightmare

Um dos maiores nomes do trash metal lançou um disco bem eclético este ano, que apesar de algumas escorregadas é um álbum muito bom. Apesar de cair no disco-metal (?) e no teen-rock, Welcome 2 My Nightmare tem momentos excelentes, como nas faixas The Congregation e Last Man on Earth, esta última a recomendação da casa.