A pequena Aninha sempre gostou das palavras, desde que começou a falar. Aprendia uma palavra nova e, se gostasse dela, repetia sem parar.
A primeira delas foi samba, que meu marido adora e sempre botava para ela ouvir. Ela aprendeu e, pro orgulho do pai, repetia samba a todo momento. Depois cismou com fogão, e depois com camisola.
Quando entendeu o que eram as profissões é que veio o problema. Matava a gente de vergonha quando falava que quando crescesse queria ser vagabunda.
- Ela é bem redondinha, dá a volta no mundo - defendia a palavra da vez - Quero ser vagabunda.
Tentamos outras. Arquiteta não servia porque estava quase partindo ao meio. Cozinheira não porque embolava e dava nó. Estilista não porque dançava muito na boca.
Apelamos para profissões menos comuns, como artesã (rápida demais, não dá tempo pra parar e cai), enxadrista (feia que nem um camundongo velho), presbítera (sobe muito e Ana tem medo de altura) e vereadora (sem graça que nem o bolo de domingo da vovó).
Só deu descanso quando descobriu uma palavra "do tamanho do céu, com um monte de desafios e escorregadia que nem sabão".
Queria ser otorrinolaringologista.
Um comentário:
É o tipo de conto que gosto de ler e escrever! :)
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