Inflação e Gibis

No início dos anos 1990 a inflação comia solta no Brasil. Mesmo sendo criança, eu conseguia perceber os problemas que ela trazia pra nossas vidas. Tempos atrás estava na casa de um amigo e começamos a revirar uma pilha de velhos gibis que ele tem por lá. E é dessa pilha, misturado com alguns quilos de nostalgia, que saiu um ótimo exemplo de como a coisa era doida.

Juntei quatro gibis dos X-Men e tirei essa foto:



O primeiro gibi, edição 24, saiu em outubro de 1990, e custava oitenta cruzeiros.

O segundo, edição 29, que saiu cinco meses depois, em março de 1991, já custava cento e oitenta cruzeiros, um aumento de 125%.

O terceiro, edição 31, é de apenas dois meses depois, maio de 1991, e já tinha pulado pra duzentos e vinte cruzeiros, mais 22%.

O absurdo vem mesmo com o quarto, edição 47, menos um ano e meio mais tarde, setembro de 1992, ao preço de seis mil e quatrocentos cruzeiros: 2.800% de inflação.

As mudanças eram tantas que já a partir do mês seguinte os gibis não tinham mais o preço impresso na capa, mas sim um código. O preço correspondente ao código estava numa tabelinha que tinha os diversos códigos. Lembro de que chegou ao ponto em que essa tabela mudava duas vezes POR DIA. De manhã chegava uma tabela nova e no fim do dia já chegava outra.

Em julho de 1994, primeiro mês de circulação do Real, as revistas ainda seguiam o esquema de preços vinculados a códigos dessa tabela. Já no mês seguinte as revistas voltaram a ter o preço estampado na capa. No caso das revistas de super-heróis, elas custavam R$ 1,55. Em seguida, um fato inédito em muitos anos: no mês seguinte o preço baixou para R$ 1,45, permanecendo assim até o início de 1995, quando subiu para R$ 1,50.

A última edição dos anos 90 custou R$ 2,50.

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