No final de 1994 duas coisas que aconteceram me levaram a gostar de ler gibis de super heróis, mais especificamente os do Super Homem: primeiro foi o lançamento da mini série O Retorno do Super Homem, lançada alguns meses após a sua morte. Me amarrei tanto que comecei a comprar os gibis para acompanhar. A outra coisa foi ter começado a trabalhar junto com um primo meu, que é fã de histórias em quadrinhos de super heróis, seja lá quais forem. O vício dele alimentou o meu.
A partir dali, sempre comprei muita revistinha em bancas. Às vezes eram quatro ou cinco por mês. Tenho dezenas delas. Só deixei de comprar no início de 2002, ou 2003, não lembro direito. Parei de comprar porque as histórias do Super estavam muito fantasiosas. Sim, eu sei que uma história do Super Homem já é fantasiosa por natureza, mas é que antes as histórias tinham um pouco de humanidade, os coadjuvantes tinham dramas pessoais que eram interessante de acompanhar.
Tinha a Mila que cuidava do orfanato, que ficava no Beco do Suicídio, o bairro pobre de Metrópolis, onde morava o Keith, que tinha uma mãe com AIDS, e quando ela morreu, o garoto foi adotado pelo Perry White, chefe do Clark Kent. A esposa do Perry já tinha vivido com Lex Luthor, com quem tinha tido um filho, que havia morrido por um erro do Perry. Daí a adoção do Keith pelo Perry, na tentativa de corrigir um erro. Tinha a Cat Grant, que trabalhava com a Lois e o Clark, uma repórter alcoólatra que não dava muita atenção ao filho, e que teve a sua vida modificada quando o moleque foi seqüestrado e assassinado. Na Liga da Justiça, então, era uma festa: várias pessoas com personalidades diferentes tendo que se entender para poder trabalhar em paz.
Eram histórias interessantes, não era só um super vilão sendo espancado pelo super herói. Havia um pano psicológico, dramático, por trás de tudo, que tornava as coisas muito mais interessantes. Mas aí o tempo passou, os personagens coadjuvantes sumiram e o Super passou a enfrentar apenas ameaças cósmicas. Ficou chato. Então eu parei de comprar. Daquela época boa, três revistas me trazem ótimas lembranças. Eram revistas onde era mostrado o lado humano dos heróis, e dá pra até tentar imaginar como seria viver num mundo com eles.
A primeira revista é uma edição especial chamada Super Homem: Paz na Terra. Magistralmente desenhada pelo Alex Ross, que tem um traço maravilhoso, esta revista traz uma história diferente das que estamos acostumados a ver do Super Homem. Nela, angustiado com o problema da fome no mundo, ele resolve juntar toda a produção excedente de alimentos no mundo e distribuir para países que têm problemas de fome. Na distribuição, ele visita vários países, inclusive o Brasil, que tem quatro páginas dedicadas exclusivamente a ele, inclusive um super poster do Super voando sobre o Rio de Janeiro, bem perto do Cristo Redentor, com o Pão de Açúcar à distância.
Em suas viagens, é mostrado o drama de países que sofrem muito mais que o nosso, como os africanos e outros em que os governantes não querem a ajuda de fora para poder continuar governando o povo com mão de ferro. No final, o Super não consegue fazer tudo o que queria, desistindo no meio do caminho. Parte-se então para o drama dele, pensando se fez de menos ou se tentou fazer de mais. É uma história lindíssima, com uma mensagem muito bonita no final.
Outra revista que me deixou boas lembranças é a mini série As Quatro Estações, também do Super Homem, que mostra como ele descobriu os seus poderes, como ele decidiu ajudar os outros, como foi partir para Metrópolis e como lidou com o seu primeiro fracasso. Cada uma das edições é narrada por um personagem diferente. Jonathan, o pai de Clark Kent, narra como foi impressionante descobrir o que seu filho conseguia fazer, como ficou com medo do futuro, como foi criar e moldar sua personalidade. Lois Lane conta como o Super acabou com todos os limites da imaginação das mulheres, sendo o melhor homem que já tina aparecido pela face da Terra. Lana Lang, amiga de infância, nos mostra como Clark lidou com a descoberta dos seus poderes e como ele enfrentou todos os dramas de ser quem era. E Lex Luthor narra como é a luta pelo poder. A luta entre o mal que quer dominar a cidade sob mão de ferro e o bem que quer cuidar dela. É uma história deliciosa que sempre releio.
Por fim, a terceira série é a Marvels, também desenhada pelo Alex Ross. Nesta série de quatro edições, a história é narrada por um repórter fotográfico, Phil Sheldon. A história se passa nos anos 40, perto da Segunda Guerra Mundial. Até ali, não haviam super heróis, e o repórter nos conta, sob seu ponto de vista, como foi passar a conviver com homens e mulheres com super poderes. O drama principal é que as pessoas normais mudaram seu ponto de vista sobre si mesmas. Até então, antes do aparecimento dos heróis, os homens eram os donos do planeta, os super poderosos, que tudo podiam e tudo sabiam. Controlavam o fogo, controlavam a natureza e superavam os obstáculos. E eis que surgem os super heróis, capazes de transpor prédios com um salto, de mudar o curso dos rios com as mãos, tomando o pedestal das pessoas comuns.
Como se passa no universo Marvel, lá estão o Homem Aranha, o Thor, o Quarteto Fantástico, Galacticus, Namor e os X-Man. O drama destes mutantes também não é deixado de lado na história, e a perseguição que se instaura contra eles é contada de maneira envolvente e emocionante. No final da história, Phil chega à conclusão de que os heróis chegaram para ficar, que nós teríamos de nos acostumar com eles, de nos adaptar a eles, e não eles a nós. Muito bom.
Ontem, depois de anos, comprei um gibi na banca. É mais uma mini série do Super Homem, chamada Identidade Secreta, e mostra como foi a adolescência de Clark Kent, a descoberta dos poderes e toda a aceitação da responsabilidade que veio junto com eles. Deve ser muito interessante. Vou, com certeza, falar mais sobre ela quando terminar de ler.
Enfim, são histórias que todo fã de gibi deveria ler e conhecer. São histórias que trazem os super heróis para perto de nós, e nos fazem enxergar melhor como seria tê-los entre nós. Mostram que gibi de super herói não é só pancadaria.
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