Alex Castro é um escritor que nunca foi publicado, mas que gosto bastante. Ele tem um site que é atualizado, geralmente, várias vezes por dia. Nem sempre concordo com o que escreve, mas é sempre tudo muito bem escrito. E, enquanto não encontra uma editora para publicar seu livro, ele disponibiliza gratuitamente o dito cujo para download.
Curioso, baixei o arquivo, imprimi e devorei as vinte e seis páginas em pouco tempo. No livro, Carla conta seus dramas pessoais no casamento com Murilo e as mais que freqüentes intromissões de Júlia, a melhor amiga de seu marido.
Por várias vezes vi momentos da minha vida refletidos em parte em suas páginas. Afinal, já colecionei algumas amigas nesta vida, e por várias vezes algumas namoradas reclamaram da presença delas. Fiquei imaginando se elas, as namoradas, não tinham os mesmos medos da Carla.
Carla, pensando que Júlia conhecia seu marido muito melhor que ela mesma, tinha medo de ofendê-la, imaginando que Murilo poderia ser influenciado pela amiga. Não estava tão errada assim: imagina se ela dá um chega-pra-lá na Júlia e a sacana vai lá encher o ouvido do cara. Por ser amiga de infância, Júlia poderia muito bem cutucar o Murilo de um jeito que ferisse os brios do cara, e aí coitada da Carla.
E, pra falar a verdade, acho que eu também teria um pouco daqueles medos se alguma namorada tivesse algum grande amigo de infância. Imagina, minha namorada com algum problema em casa, com alguma preocupação sobre o trabalho e, ao invés de conversar comigo, ir correndo para os braços de um amigo, chorar as mágoas? Ah, isso não daria certo, não.
Nada contra ter amigos, eles sempre são bem vindos, mas uma namorada tem que ser amiga também. A melhor amiga. Eu, por exemplo, tenho uma grande amiga, quase uma irmã pra mim, e sei que sou quase um irmão para ela. Quando a gente não tá namorando, sempre sai de noite, anda por aí, beberica umas cervejas, bate altos papos. É amizade pura mesmo, não rola tesão, não rola paixão. Mas sempre que um dos dois começa a namorar, o outro dá uma afastada naturalmente.
Mas voltando ao livro, apesar de concordar com as inseguranças de Carla, nada me tira da cabeça que ela agiu como uma babaca. Se não gostava da Júlia, por que não cortou logo de início aquele estorvo? Por que não chegou junto do Murilo e falou 'ó, essa mulher junto com a gente não vai dar certo, pó pará'? Porque era uma babaca. Você, minha querida leitora, deixaria uma moça ficar alugando seu marido a toda hora para chorar as dores? E ela ainda vem falar de carma. Carma, se é que isso existe, é coisa que a gente não tem como controlar, e a Carla tinha como dar um jeito na Júlia, nem que fosse metendo uma bala na jugular dela.
E o tal do Murilo, também, é outra besta que não soube lidar com a coisa. Será que o cara não tem o mínimo de semancol para notar que a coisa não ia dar certo? Pô, qualquer um percebe que um triângulo desses não tem futuro. Queria ver se fosse o contrário, com ele tendo que aturar um amigo da Carla. Com certeza o cara não iria gostar de ser rejeitado de noite, sob alegação de dor de cabeça, para minutos depois assistir uma hora e meia de telefonema com o grande amigo do peito. Então, concluímos, Murilo é o segundo grande imbecil da história.
Já a Júlia não me parece tão alienada quanto a Carla pintou. Poderia até ser um pouquinho desligada do que acontecia à sua volta, mas com certeza tinha plena noção de que o Murilo dava espaço pra ela, e que a Carla não tinha peito para bater de frente. Então se pendurava no pescoço do amigo sempre que precisava. Talvez quisesse dar pra ele, talvez já teria dado alguma vez, coisa que a Carla não conta, talvez por vergonha ou então por não saber mesmo, mas o que a Júlia poderia dar por certo é que o Murilo estava na palma da mão dela. E a Carla estava na outra. Poderia deixá-los juntos o tempo que quisesse, mas tinha o poder para separá-los a qualquer momento. Sonsa, sim, talvez, mas, com certeza, manipuladora ao extremo para conseguir o que quisesse, sempre.
É o tipo de gente com quem a gente sempre deve ter cuidado ao lidar. Vai pedindo um dedo todo dia, e sempre come mais meio-meio milímetro. A gente nem nota, e quando percebe já tá por inteiro na barriga do predador.
De resto, o livro é bom. Alex Castro empresta ótimas palavras para suas crias, como a idéia de mergulhar de apnéia em si mesmo. Genial. Fica aí a dica de uma leitura rápida e tranqüila. Um livro diferente de todos os que já li (não lembro de ter lido nenhum outro em primeira pessoa), e que, com certeza, vale a pena dar uma olhada.
A única coisa que não consegui entender até agora é como a Carla pôde escrever sua história se estava do jeito que estava quando a história acabou...
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