Quando chegamos em casa naquele primeiro dia da chuva, Jean correu para mim e disse:
- Pete, os pássaros voltaram!
Nós, homens, não havíamos reparado que os pássaros tinham desaparecido, pois estávamos por demais aflitos. Mas quando olhei pela janela da sala, vi que a terra marrom estava cheia de pardais e melros e outras aves migradoras. Estavam muito ocupados, arrancando minhocas da terra e gritando ao crepúsculo úmido e saltitando por ali numa espécie de atividade febril. Não sei por que, só ao vê-los eu me animei e meu terror particular diminuiu.
Os olhos-d'água tinham reaparecido, mas não podíamos deixar o gado ir beber neles. Como se impostas por alguma força malévola as pragas continuavam a crescer, exibindo flores estranhas, vermelhas e amarelas, e imensos espinhos. Abundavam nos olhos-d'água, envenenando-os. Naquela noite, levamos o gado até ao riacho turbulento e deixamos que bebessem até se fartarem, vigiando-o com cajados pesados, com medo de que quisessem comer as ervas. Mas não foi preciso afastá-los. Eles olhavam para as ervas com o mesmo medo que nós, e se amontoavam para evitar pisar nelas.
As chuvas continuaram. Quando cessavam, por uma ou mais horas, sentia-se um cheiro estranho na terra. Pairava no ar como uma neblina mortal. Saímos para procurar a origem. Eram as ervas que o desprendiam, e quando nos aproximamos mais - elas agora estavam invadindo os nossos gramados, além dos campos - o cheiro nos sufocava, obrigando-nos a tapar o nariz. Era a própria essência da corrupção. Víamos o colorido daquelas flores monstruosas e de suas folhas espinhentas e de um verde escuro até onde a vista alcançava. Quando, depois de uma semana mais ou menos, as gavinhas compridas e esfiapadas alcançaram as nossas janelas, balançando-se como tentáculos, Jean soltou um grito de horror e ela e minha mãe e Lucy juntaram as crianças em volta de si, protegendo-as com seus corpos.
Dez de nossas melhores vacas morreram em uma só noite, quando as ervas alcançaram as paredes de nossa casa e os nossos estábulos. A metade de nossas galinhas morreu, sem motivo aparente. Depois cavalos adoeceram, e morreram antes do amanhecer. Os porcos olhavam para seus cochos e davam as costas. Podia-se ver as costelas em seus corpos esqueléticos.
Os jornais mencionaram, de passagem, que houvera uma infestação de pragas "naquela região".
Não sabíamos então que essas ervas daninhas tinham aparecido em todos os países, no mundo inteiro. "No entanto", disse um porta-voz, "os arados e um cultivo vigoroso as destruirão. Os botânicos estão intrigados. Amostras estão sendo enviadas às pressas para Washington. Mas isso aconteceu apenas nesta região".
Continua...
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