Matando Pedreiros

Desde pequeno, Fernando sempre teve vontade de reformar a casa de seu pai. Sempre ouvira ele dizendo que, mais cedo ou mais tarde, iria fazer a tão esperada reforma e colocar laje na casa onde moravam. O tempo passou e Fernando cresceu, arranjou um emprego e estava ganhando um bom dinheiro, quando resolveu então tomar a frente dos planos e tocar a obra.

Já estavam começando a fazer plantas e juntar idéias, quando as engrenagens da vida se mexeram e ele perdeu o seu pai, vendo-se obrigado a ter que resolver tudo sozinho. As semanas passaram e ele finalmente conseguiu um pedreiro para trabalhar pra ele. Marcaram então um dia para que o homem fosse à sua casa para dar-lhe as primeiras orientações.

Mas ele não apareceu. Fernando ficou desapontado e no dia seguinte ligou para o obreiro. Tristemente ficou sabendo que ele tinha sofrido um acidente na obra em que estava trabalhando: caíra do terceiro andar, partira o pescoço e escafedera-se para o outro lado da vida.

Partiu então à procura de outro pedreiro, e depois de um par de semanas finalmente teve a indicação de alguém que seria um bom sujeito para realizar seus planos. Entrou em contato com o cara e marcaram uma visita à sua casa para darem uma olhada e fazerem os primeiros planos para a obra.

Mas, tramóias do destino ou coincidência, o homem não compareceu, deixando Fernando ainda mais insatisfeito. Praguejou a noite toda até conseguir ir dormir. No dia seguinte, logo pela manhã, deu um jeito de descobrir o endereço do pedreiro e foi até a casa dele. Foi até lá e deu de cara com um velório: o cara tinha sofrido um acidente e morrera na noite anterior.

Um pouco assustado com a trágica coincidência, foi embora e começou a pensar em como conseguir mais um pedreiro para fazer a tão sonhada obra.

Entrou em contato com alguns amigos e conseguiu um novo candidato a trabalhador braçal. Ligou, conversou, marcou uma visita e esperou. Como o pedreiro não apareceu, já ligou com medo e suas idéias tornaram-se realidade. Um atropelamento ceifara a vida de mais um.

E assim foi com o quarto e quinto pedreiros com quem ele marcou: agendavam uma visita e o homem morria, sempre em condições trágicas. Foi tanta coincidência que a coisa caiu na boca do povo, e mais ninguém queria pegar o serviço da casa de Fernando. Todos conheciam-no como o assassino de pedreiros. Ninguém nem mesmo queria ouvir a história dele, simplesmente diziam que estavam ocupados com outras obras e não podiam pegar a dele para fazer.

Desgostoso e assustado, desistiu da reforma. Arranjou um comprador, vendeu, e com o dinheiro que conseguiu, mais as economias que tinha para fazer a obra, comprou uma casa nova em outra cidade, para evitar quaisquer problemas.

Mas não estava a salvo. A casa nova, logo depois de alguns meses, mostrou-se uma furada, pois estava cheia de problemas. Mesmo com medo do que poderia acontecer, conversou com um pedreiro para fazer os consertos, e nem marcou dia para irem à sua casa: foram na hora mesmo. Pegou o carro, enfiou o pedreiro dentro e foram para sua casa. Passando perto de uma favela, uma bala perdida atingiu o carona, que morreu ali mesmo, dentro do carro de Fernando.

Convencido de que carregava consigo alguma maldição que o impediria de contratar o serviço de qualquer pedreiro, resolveu aprender a fazer obras. Nos finais de semana servia de servente de pedreiro em várias obras espalhadas pela cidade. Aprendeu como virar massa, a colocar um tijolo, que materiais comprar, descobriu os segredos de uma boa laje e depois de alguns meses se julgou apto a consertar a sua casa.

Fez alguns planos, projetos, calculou custos, comprou material e ferramentas e então, quando foi dar a primeira marretada para quebrar uma parede, a escada escorregou, ele caiu no chão, tendo tempo apenas de ver a marreta caindo em direção seu rosto.

O feitiço virara contra o feiticeiro.

Esta crônica foi baseada em fatos reais. Ando às voltas com preparações para início das obras de minha casa e, apesar de nenhum pedreiro ter morrido, o primeiro teve problemas de saúde e o segundo sofreu um acidente de trabalho. Felizmente, o ferimento deste sarou em pouco tempo e já estamos começando os primeiros cuidados para a obra finalmente começar. Só espero que eu não sofra um acidente quando a coisa começar.

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