Será que eu consigo terminar de falar do livro? Não disse que o livro era bom? É bom encontrar livros como esse, que fazem você avaliar um pouco o seu jeito de ser. Não precisa ser um livro que mude o seu modo de agir. Basta apenas que ele te permita avaliar o seu modo. Nem que seja pra no final das contas você falar para si mesmo que realmente estava com a razão desde o princípio e que o livro tá querendo ensinar uma grande besteira, e coitado de quem aprender com ele ao invés de aprender com você como é que se vive, porque é você quem sabe das coisas.
Mas, enfim, Maria vence o medo, põe a cara e a coragem na mala e parte pra Suíça, pra quebrar a cara e se foder de vez. Literalmente.
Não sei se a decisão da Maria é a parte real da história, mas parece. A gente sabe que tem muita puta que é o que é porque não tem outra opção de vida, porque já se ferrou muito e tem que arranjar um dinheiro para poder se virar e voltar para casa.
(Isso me lembra a piada da menina do interior que depois de morar alguns anos na cidade grande entrou no ônibus de volta para Mambarés do Sertão, sentou do lado de um rapaz e falou, "enfim juntos". O rapaz se espantou e disse que nem a conhecia. Aí ela explicou que estava falando de seus joelhos...)
Nunca entrei num puteiro nem nunca conversei com uma prostituta, mas tomar uma decisão destas deve ser algo humilhante. É fácil falar que não, que é mole, que elas são é safadas mesmo, mas isso é quando a gente não tem alguém conhecido ou alguma parenta fazendo isso. Não estou dizendo que eu tenha alguma conhecida, já disse que não conheço nenhuma puta, mas não consigo deixar de pensar em como iria reagir se um dia minha prima Vanessa entrasse aqui em casa e dissesse pra gente que ia ser profissional do sexo. É complicado.
Diz Maria que pra ela isso foi humilhante só no começo, que depois ela acaba se desligando e o trabalho vira rotina, onde ela desempenha papéis para homens que às vezes nem querem sexo, querem apenas um ombro para chorar ou um ouvido para ouvir as suas mazelas e esquecer tudo depois. Será que funciona assim mesmo? Será que não se sente humilhada uma garota que sonhava em ter uma boa família, em ter seus filhos, e vê seus sonhos se desmoronarem quando ela é obrigada a dar por dinheiro? Acho que não. Claro que devem haver algumas muitas que estão lá porque gostam mesmo, porque são loucas, sei lá, mas também devem haver muitas que cada dia seja mais uma humilhação.
Pena não poder ir mais adiante, porque senão eu estragaria o final do livro, então termino aqui recomendando veementemente a leitura, nem que seja pelo menos para que vocês entendam o que significam os onze minutos.
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