Maria. Tudo em Onze Minutos gira em torno de Maria. O livro é a história dela. Garota do interior, cidadezinha da roça mesmo, Maria resolve ver a cidade grande, ver a vida "lá fora" e vai pro Rio de Janeiro. Admirando a beleza do mar conhece um estrangeiro que promete a ela trabalho na Europa, como atriz. Decidida a aproveitar a vida ao máximo, ela aceita a proposta e embarca rumo à Suíça.
Um dia basta para ver que o sonho não era o que parecia ser, e ela se vê dançando em uma boate. Resolve sair de lá e, para poder ganhar dinheiro e voltar para o Brasil, acaba se rendendo à prostituição, vida em que promete a si mesma durar só um ano.
Depois do final livro, meio que como um making of, Paulo Coelho explica que o livro foi baseado em fatos reais, na história de uma verdadeira Maria, mas que enfiou na narrativa muitas outras histórias e detalhes que não fazem parte do original.
Verdade ou não, Onze Minutos é uma ótima viagem e um desafio ao que pensamos de nós mesmos.
Logo nas primeiras páginas somos postos defronte o inoxidável drama de sempre desejar passar por uma porta, e quando ela finalmente se abre, a gente se borra de medo, vira as costas, sai correndo, e passa o resto da vida lamentando a besteira. Quem nunca passou por isso? Lembro de quantas vezes eu morria de vontade de falar com alguma garota e então, quando finalmente tinha a oportunidade, a timidez vencia, eu enfiava o rabo entre as pernas e saía de fininho. Tanto é que até hoje tenho certeza de que se eu tivesse beijado Josiane naquela noite ela teria retribuído. Mas pelo menos eu aprendi, e da última vez rolou um interesse não perdi tempo e comecei a namorar a Sueli em pouco tempo.
Voltando ao livro, Maria nos leva a outro drama: enfrentar o mundo ou ficar em casa? Enfrentar ou se entregar? Aceitar ou questionar? Eu admito que tenho medo. Tenho dificuldades em me ver fora de Cachoeiras, longe da minha terra, das ruas que conheço tão bem. Não me vejo fazendo as malas e indo morar longe, em outra cidade, uma cidade grande, uma Niterói, um Rio de Janeiro. Pra alguns pode parecer simples, mas pra mim é um ato de coragem, uma coragem que não sei se tenho. Não vou ficar entregando demais o livro, mas não posso deixar de comentar que a Maria foi corajosa em dobro: primeiro quando saiu de casa e foi para o Rio de Janeiro, depois quando largou o Rio de Janeiro e foi para a Suíça.
Meu amigo Jonathan fez isso. Ele e a namorada arrumaram as trouxas e foram pros Estados Unidos há quatro anos. Já voltaram, ficaram por lá só um ano, mas é muita coragem. Vai dizer que não tem que ter coragem. Muita!
Bem, mas eu não sou muito sensato. Mesmo sem coragem, acho que faria algumas loucuras assim. Enquanto digito estas linhas, dizendo que tenho medo de arriscar, a pequena voz que me fala na cabeça sem parar está me lembrando que eu sou porra louca, e que teria sim o ânimo de viajar. Lembro então de Thiago, que falou que tinha vontade de ir morar fora, morar sozinho, morar em república, o diabo a quatro, pra aprender a viver. Tá certo ele.
Ah, quer saber, eu teria coragem, sim. Acho que o medo que tenho vem da vergonha de quebrar a cara, que eu sei que quebraria. Não digo quebrar no sentido de não realizar os sonhos e ter que voltar de mãos abanando, mas é que eu não tenho muito molejo pras coisas do dia a dia, isso de cuidar de casa, de dar um jeito nas coisas. Eu sou meio estabanado, sabiam? Pois é, aí que eu já fico com vergonha das merdas que vou aprontar mesmo antes de aprontá-las. Mas vamos botar um ponto final nisso: se me chamassem para partir numa viagem tresloucada eu iria sim. Pediria um tempo para me preparar, tomar um fôlego, mas mergulharia de cabeça, porque, meu povo, a vida é uma só, a vida é minha, e quero fazer dela o melhor que eu puder.
Amanhã... mais comentários sobre o livro: arrependimento e vida de puta
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