(capítulo um, parte quatro)Logo depois, notamos a ausência de jornais e revistas na casa. Meu pai havia cancelado todas as assinaturas. Por fim, ele nem queria ouvir o rádio. Ficava sentado sozinho na sala, com a Bíblia nas mãos, e embora nenhum filho ou neto tivesse jamais temido interrompê-lo em qualquer momento, agora não tinham coragem de fazê-lo. Era como se ele se tivesse afastado de todos nós para viver em contemplação. Até mamãe, a quem ele era tão apegado, deixava-o sozinho junto à lareira. O rosto dela perdera toda a sua alegria.
Mas meu pai era lavrador, afinal de contas. Possuíamos uma fazenda de tamanho razoável, de cerca de 280 hectares, gado e um caminhão. Meu irmão Edward e eu não gostávamos da cidade nem da vida de cidade, e desde meninos considerávamos como certo que, mesmo casados, continuaríamos na fazenda. Edward e eu havíamos prestado serviço militar - eu na Coréia, ele na Europa. Nós nos alistáramos. Meu pai aceitara as guerras com o fatalismo do homem do campo. Afinal, haveria sempre as estações e o Sol - e Deus. Eram essas as verdades eternas que homem algum jamais poderia destruir.
Tínhamos, na fazenda, dois colonos e suas famílias e meu pai e eu dirigíamos as coisas com muito sucesso. Meu irmão Edward não podia ajudar-nos muito. Ficara cego na Europa, em 1945.
Edward nunca fora abençoado - ou amaldiçoado - com uma excessiva imaginação. Era calmo e prático como a nossa mãe. Depois de um período de treinamento, como sempre tivera jeito para a mecânica, aprendeu a consertar as máquinas da fazenda. Assim, embora pouca coisa pudesse fazer na terra, mantinha-se ocupado e era bastante feliz. Ele sua esposa Lucy e os dois filhos ocupavam dois dos grandes quartos de dormir nos fundos da enorme casa de madeira, enquanto Jena, eu e nosso último filho ocupávamos os dois quartos da frente. Meu pai aceitou filosoficamente a cegueira de Edward, assim nos pareceu até a minha volta da Coréia. Então, eu o surpreendia olhando para Edward, e seu rosto bondoso, largo e forte se contraia e ele se virava sem dizer uma palavra. Um dia, pouco depois de minha volta, enquanto eu narrava minhas experiências no acampamento de prisioneiros, ele me disse:
- Sim, somos todos estranhos uns para os outros, e é por isso que nos detestamos tanto e queremos nos matar. Pete, não comente comigo sobre a guerra nunca mais.
No Natal compramos um aparelho de televisão, mas logo descobrimos que não devíamos contar as notícias a papai. Ele deixou bem claro que não queria informações. No entanto, ele às vezes dizia numa voz em que havia uma nova aspereza:
- Bem, e quantas bombas de hidrogênio, nós, ou eles, explodimos recentemente? Vejamos, Pete, seu filho deverá estar preparado daqui a uns 17 anos, não é? E os seus, Ed, em menos do que isso, hein? É melhor terem mais filhos depressa; vamos precisar deles.
No entanto, ele não abandonou o trabalho e conversava bastante bem sobre colheitas e gado. Assim, achamos que aquela amargura não passava de uma fase má e iria passar.
***Continua...O início