Conto: Passageira Inconveniente

A cada dia me surpreendo mais e mais com as coisas que as pessoas aprontam por aí, sem a mínima preocupação com o incômodo que causam a quem está por perto. Dia desses, estava eu em um ônibus atravessando a Rio-Niterói quando a sujeita começou a aprontar a dela.

A moça atrás de mim logo comentou. Essa gente não tem noção mesmo, né?. A Advogada em pé do meu lado julgou rápido. Dava pra enquadrar no 183 fácil fácil. E aos poucos, todos foram ficando indignados com ela.

Por estar com fones de ouvido, não escutava o cochicho generalizado de recriminação à sua volta. E, sempre que podia, batia os dedos nos ferros como se tocasse um piano imaginário.

Tava difícil de aguentar, era abuso demais pra mim. Me espremi por entre os passageiros e fui até ela. Alguém tinha que acabar com aquilo.

Ela olhou pra mim meio assustada quando cutuquei seu braço com cara de poucas amigas. Reclamei e pedi que parasse, antes que fosse arremessada ao mar. Onde já se viu? Num ônibus lotado, em pé, e sorrindo! Feliz, com cara de boba, sorrindo como se estivesse deitada em uma rede, à beira de uma lagoa, num amanhecer ensolarado.

Abrindo um sorriso ainda mais largo, ela tirou um dos fones e me ofereceu. Desconfiada, peguei e pus no ouvido. Então entendi.

E sorri também.

Um comentário:

Douglas disse...

Afinal, sorrir assim nessa situação, não é por lei permitido! :-)