Sem Conteúdo

Recebi um spam na ante-véspera do natal. Meu celular fez o favor de explicar o que era. Ele sabe das coisas.


Sobre Cachoeiras de Macacu

Estou morando fora de Cachoeiras de Macacu há pouco mais de três anos. Visito com certa frequência minha cidade natal mas coisa rara é eu passar mais do que três dias por lá, e mais raro ainda se forem dias úteis, ao invés de um feriadão esticado. Neste último mês de novembro tirei férias e pude passar vários dias na terrinha e o que vi, infelizmente, me desagradou.

Os problemas que encontrei pela cidade não têm um culpado só: são resultado da má administração governamental, ineficiência do comércio e falta de educação do seu povo. Não quero apontar dedos na cara de ninguém e tampouco citar nomes, mas há fatos que impedem que Cachoeiras de Macacu seja um lugar agradável de se viver e transitar que são impossíveis de não serem listados.

Começando pela rua onde moro, a Manoel Delfim Sarmento, não dá pra entender porque ela ainda não recebeu novas tubulações para esgoto e escoamento de águas e asfaltamento. Neste período em que estive em Cachoeiras, um pequeno trecho do calçamento foi recolocado porque os paralelepípedos estavam soltos e a obra foi coberta por terra.

Porra, gente, TERRA!

Pra uma cidade que tem jornal que diz que a cidade está virando uma metrópole, ter uma rua de terra batida no centro da cidade é no mínimo vergonhoso. E no dia seguinte veio a chuva e tínhamos então lama. Como se já não bastasse os pedestres terem que se proteger da água arremessada pelos carros ao passarem nas imensas poças que se formam, foi preciso se proteger também do lamaçal que se formou.

Além deste problema, quem anda pela Manoel Delfim Sarmento enfrenta plantas grandes demais que não são podadas, mecânicas que colocam suas latas de lixo no meio da calçada e motoristas que estacionam em local proibido.

Andando pelo comércio do Centro, tem-se uma profusão tão grande de atitudes de lojistas que fica difícil citar tudo. Tem loja que espalha seus produtos pelas calçadas, como se estas fossem vitrines; tem mercado que quer subverter as leis da física e colocar dois corpos em um só lugar, pois só isso explica a insistência em colocar oito caixas em um lugar onde só deveriam haver três; tem prestadora de serviço que passa a oferecer um plano mais barato com mais vantagens sem te avisar, e você continua pagando o plano pior e mais caro; tem papelaria que não tem envelope pra vender (veja bem, não é um papel especial caro e raro, é um estropício de um envelope); tem bar que tem bolinho de bacalhau no cardápio e que acha que eu confundo o gosto de batata salgada com o gosto de peixe; tem empresa de ônibus que cancela um horário porque o ônibus quebra, ao invés de colocar outro no lugar. Ao lado de tudo isso, tem o povo que acha que os canteiros de plantas são lixeira.

Há um bom tempo eu escrevi uma crônica ironizando o excesso de carros de som que rodam no Centro: temos carros de funerária, de lojas, de festas, de igrejas, e agora temos como contribuintes da poluição sonora caixas de som espalhadas pelos postes e os adolescentes que ouvem funk em seus carros compartilhando seu gosto musical com todos os que estão à volta. Pra botar a cereja no bolo, vi um cara vendendo CD na rua, ambulando por aí com uma caixa de som enorme! E tudo isso, claro, em volumes muito acima do aceitável. Na época em que eu morava em Cachoeiras, cheguei a perguntar ao pessoal da Prefeitura se não havia como fiscalizar isso e fui informado de que eles não tinham o equipamento para medir o volume do som dos carros.

Continuando: enquanto a praça de cima recebeu uma bela maquiagem e ficou agradável de se visitar, a praça de baixo fica à mercê dos mendigos que a transformaram em casa. E ainda tem o lamentável estado do chafariz feito de cano de PVC!

Na parte de serviços públicos, o Detran continua uma beleza, conforme já contei por aqui antes. Estive lá para resolver uma pendenga e conversei com três funcionárias: cada uma me informou um procedimento diferente.

Pra fechar, ainda não vejo em Cachoeiras uma política que aproveite o potencial de turismo que nosso município tem. A região do Parque dos Três Picos está um pouco melhor, mas ainda está mundo longe de tudo o que o município tem a oferecer. Falta, por exemplo, fiscalização contra crimes ambientais: a estrada no Valério que leva ao antigo hotel escondido lá nas montanhas está cheia de garrafões d'água jogados pelos morros abaixo.

A Boa Vista, como outro exemplo, só se degrada. Quando eu era criança, o normal era ir no terceiro poço, cansativo era ir no Três Pedras e aventura radical era ir no Samambaia e no Tenebroso. Hoje, para conseguir tomar um banho em águas tranquilas e limpas, é preciso começar no Três Pedras. O ambiente bucólico perdeu a vez para bares que colocam cadeiras dentro do rio. E falando em Boa Vista, a excelente ideia do encontro de esportes radicais que chegou a ter duas ou três edições e acontecia aos pés da Pedra do Colégio foi deixada de lado. Parece que ideias de governos anteriores, mesmo as ótimas, devem ser sempre descartadas.

Mas nem tudo são trevas: há coisas boas acontecendo. E aqui eu cito nomes, que são merecidos: tem o meu camarada Wellington Jesus e sua trupe lutando para levar cultura para o povo; tem o meu chapa Ramon Fraga e muitos outros levando a arte da fotografia para a cidade; tem o progresso do asfalto que finalmente chegou ao Guapiaçu; a cidade concorre para hospedar delegações nas Olimpíadas de 2016; o esgoto que é lançado no Rio Macacu começa a dar esperanças de ser tratado; o mercado Veneza mostra que respeita os clientes e dá espaço para os clientes circularem; a Rota 116 colocou pontes para pedestres ao lado das pontes que não têm acostamento; a estrada que leva a Parada Modelo foi finalmente recapeada.

Depois de três anos, enfim, me parece que minha querida cidade regrediu. Fico na torcida de que as eleições do ano que vem tragam novos ares e esperanças, fazendo Cachoeiras voltar a merecer o título de paraíso das águas cristalinas.

Os Melhores Discos de 2011 - Parte 1

Nunca na minha vida ouvi tanta música quanto em 2011, e isto se deve, principalmente, à influência dos excelentes blogs Collector's Room e Blog do Maia, que me apresentaram uma penca de bandas novas. Foram tantas recomendações e tantos downloads que nem eu mesmo consegui acompanhar o ritmo, e uma das minhas resoluções de ano novo, que adiantei para primeiro de dezembro, foi limitar a quantidade de música que eu baixo, para poder curtir melhor o que eu conseguir.

Dos discos lançados este ano, eu ouvi pouco mais de trinta, e aqui fica a seleção dos 10 melhores. De todos, apenas dois são de artistas que eu já conhecia, sinal claro do grande número de descobertas que fiz. Sinistro é que agora no final do ano pulularam as listas de melhores discos por todos os cantos, e a quantidade de discos citadas em várias que eu não conhecia é absurda. 2012 vai começar com novas descobertas.

Logo logo vem a parte dois. (Veja também a parte 3).

E para vocês, quais foram os melhores discos do ano?


Forevermore - Whitesnake

Já tinha ouvido falar do Whitesnake várias vezes mas nunca tinha escutado nada da banda. Depois de tanto ouvir falar que era bom, fui experimentar. Este disco é recheado do início ao fim de bons rockões. Pura pauleira no ouvido. Dica do Collector's Room. Uma boa faixa é Whipping Boy Blues.


Heritage - Opeth

Já tinha ouvido algumas poucas coisas do Opeth, por conta de um camarada do trabalho, e nunca gostei, porque tinha vocais guturais, mesmo que o instrumental fosse bom. Quando soube que o novo trabalho deles não tinha os vocais guturais, tendendo pro progressivo, quis experimentar e gostei muito do que ouvi. Uma boa faixa é Haxprocess.


The King is Dead - The Decemberists

Taí uma banda da qual eu nunca tinha ouvido falar, mas como ouvi falar muito bem do disco, fui atrás pra ver como era. Com um rock indie e lembrando um pouco o folk, a banda garantiu o lugar na lista. Excelente som. Mais uma dica do Collector's Room. A dica aqui é Down By the Water.


Live at Benaroya Hall - Brandi Carlile

O primeiro nome conhecido da lista é o da Brandi, que soltou este ano um cd ao vivo dos bons, junto com uma orquestra sinfônica. Recheado com suas melhores músicas e algumas surpresas pelo caminho, o disco me ganhou na primeira audição. Um dos melhores momentos é Dreams.


Overlook - Maria Taylor

Difícil não gostar da voz e das levadas das músicas de Maria Taylor. Uma coisa meio folk meio rock que agrada muito aos ouvidos. Dica do Blog do Maia. Uma boa faixa é Bad Idea.


Play the Blues - Wynton Marsalls e Eric Clapton

O outro nome da lista lançou um disco que mostra mais uma faceta de seu talento inesgotável. Belas canções em arranjos de blues não têm como dar errado, e o disco é uma delícia de se ouvir. A versão deles para Layla é simplesmente sensacional.


Unconditional - Ana Popovic

Uma guitarrista sérvia que toca blues rock? Pela descrição achei estranho, mas o som que a moça tira da guitarra joga por terra qualquer dúvida sobre a qualidade de seu disco. Uma voz potente e riffs matadores fazem deste um disco que agrada fácil. Outra dica do Blog do Maia. Não deixe de ouvir Business as Usual.


Superheavy

Supergrupo formado, entre outros, por Mick Jagger e Joss Stone. Tem rock, soul, pop e reggae, tudo junto e misturado, num caldeirão que gostei muito. Se é pra ouvir alguma coisa, ouça Common Ground.


2 - Black Country Communion

É difícil um supergrupo formado por Jason Bonham, filho do baterista do Led Zeppelin, Joe Bonamassa, bluesman discípulo de B. B. King e Glenn Hughes, vocalista do Deep Purple, fazer alguma coisa ruim, e o segundo disco deles não deixa nada a desejar. Animal. Mais uma dica do Collector's Room. Man in the Middle é uma porrada daquelas.


Don't Explain - Beth Hart e Joe Bonamassa

O melhor do ano é, de longe, Don't Explain. Beth e Joe se juntaram para regravar grandes pérolas do blues e fizeram um disco sensacional. Beth tem um vozeirão do cacete e Joe Bonamassa toca guitarra fácil demais. A melhor faixa é I'll Take Care of You.

Micro-conto: Homem Voador

Por três anos enfrentou a fila das barcas no Rio de Janeiro. Todos os dias ficou quarenta minutos esperando para pegar a condução que o levaria ao outro lado da Baía da Guanabara. Todos os dias ficou preso no meio da profusão de gente nas filas. Um dia se cansou e levantou voo. Só pousou quando chegou em sua rua, em Icaraí.

Oh, no!



A palmeira mais expressiva que já encontrei fica em Mundaú, no Ceará.

O 3000-ésimo show do Elton John

Há cerca de dois meses, Elton John fez seu show de número 3000. Seu site oficial publicou um artigo sobre isso, escrito por John Higgins. Trago aqui uma tradução livre.


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Quando subiu ao palco do The Colosseum no Caesars Palace, em Las Vegas, no último 8 de outubro, Elton John alcançou uma marca que outros grandes nomes da música, como Paul McCartney, U2, The Rolling Stones, Bruce Springsteen, Madonna e até mesmo o viajante Grateful Dead nunca alcançaram: fazer sua apresentação pública de número 3000. Entre seus contemporâneos, só Bob Dylan fez mais shows.

A produção de Elton John compilou uma lista de shows que começa em 25 de março de 1970, no Revolution Club em Londres. Cobrindo 41 anos de shows em pequenos clubes, em estádios lotados, em turnês recordistas e em tempos de crise, a conta inclui não apenas os shows exclusivos dele, mas também dezenas de concertos beneficentes e eventos nos quais ele se apresentou (Live Aid, por exemplo). Basicamente, se uma pessoa comum pudesse comprar um ingresso sabendo que iria ver Elton John, o show entrou na conta.

A marca daquele sábado, apelidada de EJ3K, fala por si só de toda a energia e sucesso de um artista em uma indústria que não é bem conhecida por valorizar estes atributos. Enquanto muitos outros que começaram dos anos 70 pra trás já há muito tempo penduraram as chuteiras, Elton John continuou cruzando o planeta com a velocidade de uma bola de pingue pongue em uma mesa no final do campeonato. O motivo? Bem, com certeza não é por conta da comida dos aviões.

"A coisa mais importante para mim é poder tocar minha música ao vivo. É a melhor coisa pra mim, é o que mais me diverte", Elton John disse. E dá pra ver que é verdade. Seus shows levaram sua música e presença de palco para 74 países, alguns dos quais mudaram de nome (e até de organização política) entre suas visitas. Ele esteve também em todos os continentes, exceto a Antártida. No fim dos anos 70 e início dos anos 80, as turnês de Elton John alcançaram o bloco comunista e outras áreas raramente visitadas por artistas ocidentais. Nos últimos anos, ele partiu para visitar algumas pequenas cidades da América do Norte e da Europa, dando aos fãs a oportunidade de vê-lo sem ter que viajar centenas de quilômetros e competir por um lugar com o público das grandes cidades: em julho de 2008 ele alcançou a marca de tocar em todos os estados americanos quando se apresentou em Vermont.

"Do fim do mundo para sua cidade" não é apenas um verso de uma música. É a definição de EJ3K.

E talvez este seja o melhor exemplo de sua dedicação aos milhões de fãs esperando para vê-lo: desde meados dos anos 90, Elton John tem feitos múltiplas turnês. Nenhum outro artista que faça isto vem à mente com facilidade. Uma olhada rápida na coluna "tipo de turnê" no banco de dados mostra turnês simultâneas de solo, em dupla com o percussionista Ray Cooper, com a banda, do Face to Face (com Billy Joel), com Leon Russel (seu colaborador no último disco, The Union) e do espetáculo The Red Piano. E por ter muitas músicas à disposição, seus shows normalmente passam de duas horas. Muitas vezes, têm mais de três.

A marca de 3000 shows, o que dá um show por dia durante oito anos, é ainda mais impressionante se você considerar que Elton John parou de fazer shows três vezes durante sua carreira. Primeiro ele anunciou sua aposentadoria dos shows em novembro de 1977 - e retornou 18 meses depois para fazer mais shows do já tinha feito antes em um período de apenas 11 meses. Em seguida, depois de uma extenuante turnê mundial nos anos 80, teve que fazer uma cirurgia nas cordas vocais, e por isso não fez turnês entre dezembro de 1986 e setembro de 1988 - mas ainda assim se apresentou em alguns concertos beneficentes neste período. Por fim, por motivos de saúde, ficou um ano e meio longe dos palcos no início dos anos 90.

Mas fora estes quatro anos e meio longe dos palcos, Elton John tocou e tocou e tocou. Do Coliseu de Roma ao Colosseum em Las Vegas. Da The Electric Factory na Filadélfia à Cidade do Rock no Rio de Janeiro. Do Roundhouse em Londres ao Madison Square Garden em Nova Iorque. Ele tocou sozinho, com bandas com mais de uma dúzia de músicos e com orquestras e coros. Ele tocou junto com Fotheringay (um grupo inglês de folk rock dos anos 70) e Carlos Santana. Ele teve seus shows abertos por James Blunt, Kiki Dee e Quarterflash. Ele abriu e encerrou o Concert for Diana em 2007. Ele tocou em pianos armário, de cauda e elétricos. Ele tocou em pianos pretos, brancos e vermelhos. Ele nem chegou a tocar piano, e só cantou em shows como o Concerto pela Floresta Amazônica (com Sting, Tom Jobim, Caetano Veloso e Gilberto Gil).

Ele compartilhou o palco com John Lennon, Jim Carrey, Stevie Wonder, Axl Rose, Jon Bon Jovi, Debbie Gibson, Tina Turner, Tom Jones, Lionel Richie, Eric Clapton, Shirley Bassey, George Michael e muitos outros. Ele regravou músicas de outros artistas, como Imagine de John Lennon, Sand and Water de Beth Nielsen Chapman, A Song for You de Leon Russel e The Show Must Go On do Queen. Ele já chegou a tocar à tarde e à noite, no mesmo dia, e já começou shows depois da meia noite. Ele já cantou Your Song no início dos shows em algumas turnês e no final do show em outras. Ele já tocou 13 noites consecutivas no mesmo lugar (no Hammersmith Odeon de Londres em 1982) e fez shows com 48 horas entre eles em cidades que ficam mais 7000 km distantes uma da outra (Londes e Stillwater, em Oklahoma, em 1972). Ele tocou músicas que ainda não tinham sido lançadas, fez turnê quando não tinha disco para promover, e em 2005 tocou o disco Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboy inteiro ao comemorar seus 30 anos de lançamento.
Sim, dá pra dizer que ele tocou bastante.

Aqui estão alguns números interessantes do banco de dados:

Total de shows: 3000 (entre 25 de março de 1970 e 08 de outubro de 2011)

Países com mais shows:
Estados Unidos – 1608
Inglaterra – 497
Austrália – 138
Alemanha – 133
Canadá – 102

Cidades com mais shows:
Las Vegas – 272
Londres – 159
Nova Iorque – 145
Los Angeles – 135
Sydney, Australia – 51

Casas com mais shows:
The Colosseum do Caesars Palace, em Las Vegas – 251
Madison Square Garden, em Nova Iorque – 62
Sydney Entertainment Centre, na Austrália – 33
Wembley Arena, em Londres – 30
Hammersmith Odeon, em Londres – 27

Shows por década:
1970s – 616
1980s – 537
1990s – 590
2000s – 1064
2010s – 193 (e contando)

Deve-se chamar atenção para o fato de que Elton John, que está com 64 anos de idade, não dá sinais de que esteja cansando. Na verdade, é o contrário que acontece. Entre os anos 2000 e 2009, ele tocou quase o dobro do que nas décadas anteriores. Seu ritmo continua bem alto: nos últimos dez anos, sua média é de um show a cada três dias e meio. Olhando para frente, como ele sempre faz, Elton John acabou de iniciar sua turnê The Million Dollar Piano (que vai ficar três anos em Las Vegas), vai fazer uma turnê na Austrália no fim do ano e já começou a anunciar shows de verão para 2012 na Inglaterra.

Nesse ritmo, talvez seja hora de começar a fazer planos para comemorar o EJ4K em 2021.


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Outros artigos sobre o Elton John aqui no Sarcófago:
A música que Elton John fez para a princesa Diana
Crítica do disco The Union
Tradução de entrevista para um site sobre o Elton John
Os Discos de Elton John

Cumieira



Outro ângulo do telhado do restaurante onde almoçamos em Mundaú/CE.

Lustre



Este é o teto do restaurante onde almoçamos em Mundaú, no Ceará.

Sobre a Arca de Noé

Direto de Gênesis 6:12-16:

A chuva derramou-se sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites.

Naquele mesmo dia, Noé entrou na arca com seus filhos, Shem, Ham e Iéfet, e com eles, a mulher de Noé e as três mulheres de seus filhos, assim como todas as espécies de animais selvagens, todas as espécies de animais grandes, todas as espécies de animais pequenos que rastejam sobre a terra, todas as espécies de pássaros, todo animal que voa, todo animal alado. Vieram a Noé, na arca casal por casal, de toda criatura animada de vida. Entraram um macho e uma fêmea de toda carne. Entraram como Deus o prescrevera a Noé.

O Senhor fechou a porta atrás dele.

Taí: sempre me falaram que Noé colocou na arca um casal de cada bicho, e por isso eu sempre quis saber como é que Noé conseguiu capturar tantos animais, mas eles foram andando sozinhos!

Depois tem gente que vem falar que bicho não tem um sentido de urgência que avisa que vai dar merda.

Cinema: Amanhecer, Parte 1

Na boa, Amanhecer é um filme chato pra cacete! Fui acompanhar a patroa e já não aguentava mais ficar no cinema. Atuações fracas, roteiro fraco, diálogos rasos, música que tenta te ensinar o que sentir, tudo muito ruim.

Pra não dizer que foi de todo ruim, as locações são muito bonitas de se ver e a sequência final, do parto, é bem bacana. A maquiagem de doente que fizeram na menina ficou sensacional. Arrisco a dizer que vai concorrer a algum prêmio por aí.

Mas fora isso, completamente descartável.

Curtindo a Brisa



Pássaros na beira no rio em Mundaú/CE.

O Bolero de Ravel

Uma das obras clássicas que mais gosto de ouvir é o Bolero, composta em 1928 pelo francês Joseph-Maurice Ravel. Apesar de não ser tão grandiosa e exemplar como outras obras de compositores mais famosos, o Bolero é uma obra singular e belíssima.

Começando com um simples e discreto solo de flauta, sua melodia repetitiva vai sofrendo modificações de orquestração e dinâmica, seguindo em um crescendo ininterrupto, passando pelos diversos instrumentos da orquestra - flautas, saxofones, fagotes, trombones, cordas - até sua magnífica apoteose.

A gravação a seguir é a melhor que já encontrei: é uma apresentação da Orquestra Filarmônica de Viena, regida pelo venezuelano Gustavo Dudamel, com uma edição de imagens primorosa e qualidade de áudio de primeira linha. Não sei pra vocês, mas pra mim são 17 minutos de profunda hipnose.

Se quiserem, assistam acompanhando este guia de audição que existe na Wikipedia em espanhol. O guia vai detalhando cada um dos instrumentos usados em cada trecho da música.


Nota sobre racismo

Um conhecido reagiu a um assalto e foi espancado por seis bandidos. Disse ele sobre o episódio:

- Eram quatro brancos e dois pretos. Devia ser o contrário! Mais preto que branco.

Comecei a achar que apanhou pouco.

A Aranha Pavão


A natureza tem mais coisas curiosas do que jamais conseguiremos ver. Você sabia que na Austrália existe uma aranha do tamanho de um grão de arroz cujo macho levanta o abdômen do mesmo jeito que um pavão e então fica fazendo uma dancinha do acasalamento para tentar conquistar uma parceira? Achei fantástico. Vejam o vídeo.



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Encontrei este vídeo no blog Rainha Vermelha (que, aliás, é um excelente blog, que vocês deveriam ler)

Coisas que Ando Ouvindo

Ultimamente tenho descoberto um bando de artistas e bandas que estão cantando por aí mas que eu nunca tinha ouvido falar ou dado a devida atenção. Tô experimentando de tudo e compartilho com minhas leitoras o que tenho achado:

Ana Cañas. Por recomendação do last.fm, baixei os seus dois discos e gostei. Não é genial mas também não é ruim. É MPB agradável de se ouvir, graças à sua voz bacana. Tomara que ela produza mais coisa.

Renascer Praise. Outra recomendação do last.fm. Baixei e não aguentei passar da quarta música. Achei chato demais.

Vanessa da Mata. Nunca tinha parado para ouvir com atenção nada que ela tinha feito. Baixei seu disco mais recente, Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias e gostei bastante. Quero mais.

O disco Fé na Festa, do Gilberto Gil eu achei chato demais. É forrozinho do início ao fim, legal de se ouvir numa festa ou na Feira dos Paraíbas, lá em São Cristóvão, mas não é coisa que eu ponha pra tocar voluntariamente.

O disco Fool’s Paradise, do banda de rockabilly The Head Cat, que é encabeçada pelo vocalista do Motorhead, Lemmy, também não é muito legal. Acho que não sou muito chegado neste estilo mesmo.

O disco Poeta da Cidade, de Martinho da Vila, é um trabalho mediano. Neste disco ele gravou músicas do Noel Rosa e canta, aparentemente, com suas filhas. Não é aquela coisa de “oh, que disco fantástico”, mas também não é de se jogar fora.

Rita Ribeiro. Tinha ouvido apenas uma música cantada por ela e achava legal, então baixei um de seus discos mais recentes, chamado Tecnomacumba. Ele tem momentos excelentes, como Oração ao Tempo, Deusa dos Orixás e É d’Oxum, mas no geral não é legal. Eu não tenho preconceito com o candomblé, e não esquento com músicas que falem de suas entidades, mas o disco é cheio de pontos que parecem saídos direto de uma celebração religiosa, e isso não me agradou.

Randy Travis. Eu tenho no meu computador um MP3 do Randy Travis há mais de uma década, quando baixei a música por engano achando que era uma outra. A música dele que tenho é muito boa, numa versão acústica, e só agora resolvi conhecer um pouco mais do cara. Baixei uma coletânea e é o bom e velho country americano. Muito bacana. Mas ainda sigo achando que country é quase tudo igual.

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Logo logo tem mais uma penca de artistas. E vocês, o que tem ouvido?

Rock in Rio: Eu Fui

Como amante de música e grandes eventos, eu sabia que iria ao Rock in Rio 2011 em algum de seus dias, mas já estava com tudo decidido quando anunciaram que Elton John iria participar. Este post é um resumo de tudo o que vi e vivi naquele 23 de setembro.

Desconfiado com o alto preço do RioCard feito especialmente para o evento, eu decidi ir de ônibus comum mesmo. Saí do serviço às 11 da manhã e peguei um ônibus no Centro do Rio de Janeiro com destino à Cidade do Rock. Cheguei lá bem rápido e por volta de meio dia e meio eu já estava torrando embaixo do sol, na fila.

Coisa rara de acontecer, os portões foram abertos na hora marcada, e às duas e dez eu já estava lá dentro. Aproveitando a fila pequena, dei uma volta na roda gigante e apreciei uma belíssima visão do Palco Mundo e de tudo o que havia em volta. Dei uma volta pela Rock Street, muito bonita de se ver, com mágicos, banda ambulante e palco com músicos de jazz. Se não quisesse ir para a turma do gargarejo tão cedo, teria ficado por ali um bom tempo curtindo o ambiente.

A Cidade do Rock ficou realmente espetacular. É muito maior do que parece na TV e nas fotos. Outro ponto a favor da Cidade do Rock foram os banheiros: enormes e limpos. Nada daqueles tenebrosos banheiros químicos. Depois de algumas voltas, lá fui eu para a turma do gargarejo esperar os shows, ouvindo os bons rocks que saíam dos alto-falantes - teve de Beatles a Dire Straits.

O Show de Abertura

Novamente o horário foi seguido à risca e a abertura oficial do festival começou exatamente às sete. Engrosso o coro do pessoal que diz que Milton Nascimento não mandou bem com Love of My Life. Ele é um cantor espetacular e a música é fantástica, mas a combinação não ficou legal.

Já o trio Titãs - Paralamas - OSB tirou onda com uma sequência arretada de rocks pauleira. Todos estão de parabéns, em especial os músicos da OSB que demonstravam estar muito empolgados por estarem ali (antes da apresentação começar, vários vieram à beira do palco saudar o público, que respondia com animação).

Este show me lembrou um pouco do show dos Paralamas quando eles abriram o show do The Police no Maracanã: estavam ali para um show de rock e foi isso que entregaram. Quase sem baladas, com a adrenalina lá em cima. Destaque para Polícia e Lorinha Bombril.

Claudia Leitte

Sinceramente, eu não sabia o que esperar da Claudia Leitte, e saí do show relativamente satisfeito. Não foi um show espetacular mas teve seus bons momentos. Azar da Claudia Leitte que os melhores momentos foram quando ela cantou música de outros artistas: Taj Mahal do Jorge Ben Jor, Satisfaction dos Stones, Telegrama do Zeca Baleiro e Dancing Days do Lulu Santos.

E foi no show dela o pior momento da noite, com a terrível Corda do Caranguejo. Eu nunca tinha ouvido essa música e quando entendi, graças às imagens no telão, o que iria acontecer, senti que aquilo não cheirava bem. Trocentas mil pessoas pulando freneticamente de um lado para o outro não fez bem ao pé de ninguém.

Kate Perry

Quando ficou decidido que eu iria no primeiro dia do Rock in Rio, baixei um dos discos da Kate para saber o que me esperava e não achei lá grandes coisas. Conhecia duas músicas mas nada chamou muito atenção. Com isso, cheguei no show achando que não gostaria muito.

E sabe que foi bacana? Como espetáculo, o show dela foi o melhor da noite. Muita interação com a plateia, raios laser, trocas mágicas de roupas ali no palco mesmo, na frente de todo mundo e, claro, fogos de artifício para combinar com o grand finale que foi a música Fireworks. Até mesmo antes do show começar a coisa foi divertida, com um casal de dançarinos que subiu ao palco e ficou jogando o que pareciam ser bichos de pelúcia para a plateia.

Elton John

O momento mais esperado da noite foi, claro, o melhor pra mim. Por estarmos no Rock in Rio, eu esperava que fossem tocados mais rocks do que baladas, mas alguns petardos acabaram ficando de fora (Pinball Wizard e Monkey Suit eram duas que fariam bonito no show).

De qualquer maneira, um show do Elton John sempre é bom pra mim. Começou com rock - com Saturday Night's Alright for Fighting - e terminou com rock - Crocodile Rock. E ainda teve Hey Ahab no meio, que é a minha música favorita do seu último disco, The Union.

Mas se o show foi bom, assisti-lo foi um suplício. Primeiro porque eu já estava há mais de seis horas em pé no mesmo lugar, cansado demais, segundo porque muitos que estavam esperando a Rihanna estavam hostilizando o cara. Teve gente que sentou no meio do show, na frente do palco, e uma menina do meu lado não parava de xingar e mandar o Elton John ir embora a cada fim de música. Ela não foi a única.

Deu pra ver claramente que o Elton John percebeu isso e cortou duas músicas do setlist. Uma foi Take Me to the Pilot - mais um rock! - e a outra foi Your Song. Justo ela, a música mais famosa dele, que ele afirma ter tocado em mais de 90% dos seus shows, ficou de fora, no bis que não aconteceu.

Pessoal do contra à parte, foi um show excelente. Hits do início ao fim, Skyline Pigeon de presente para a plateia brasileira, rocks para divertir e baladas para emocionar. Como é um festival, teve de ser mais curto, claro, e durou só uma hora e meia, ao invés das duas horas e quarenta minutos habituais, mas foi inesquecível. De lambuja ainda consegui fotos excelentes.

Terminado seu show, eu nem esperei pela Rihanna. Encontrei com amigos fãs, fomos fazer um lanche, passamos pela loja de produtos oficiais (tudo caro demais, não comprei nada) e partimos rumo às nossas casas e hoteis.

O retorno da Cidade do Rock também foi bem tranquilo. Uma rápida caminhada até o autódromo, distante apenas alguns minutos, pegamos um ônibus normal para o Terminal Alvorada e de lá um ônibus para a Central do Brasil, onde peguei uma van para Niterói. Fui deitar com o dia já claro, satisfeito com a excelente jornada.

Agora é esperar por 2013.

A Roça do Ceará



Pegamos esta estrada poeirenta na volta de Jericoacoara, no Ceará.

Paisagens

Aumente o som, ponha o vídeo em tela cheia e com HD ligado. É uma continuação deste aqui. Se você não achar este vídeo fantástico, não sei o que pode te surpreender.

Landscapes: Volume Two from Dustin Farrell on Vimeo.

Sobre Não Ter Filhos

Eu e minha esposa tomamos uma decisão muito importante para nossa vida quando nos casamos: não queremos ter filhos. E não é uma questão de não querermos ter filhos nos primeiros cinco anos do casamento, é não ter filhos nunca.

Pra nós, é uma decisão perfeitamente sensata, como escolher qual casa comprar, onde passar as próximas férias ou se vale a pena largar um emprego que paga bem porque o ambiente é ruim, mas para a maioria das pessoas isso não tem que ser decidido, já que casais DEVEM ter filhos. E lá vem a polêmica.

Não queremos ter filhos por causa de todas as implicações que isso traz: uma vida atrelada a um terceiro ser, que nos faria deixar de curtir muita coisa para receber nossa atenção; altos gastos com saúde, educação e moradia; preocupação eterna e uma carga de responsabilidade enorme.

Muitos nos acusam de sermos egoístas. Pois bem, egoísmo é dedicar-se unicamente a seus próprios interesses. É quase uma agressão ao terceiro, que fica excluído. Mas como agredir alguém que ainda não existe? É tentador falar de egoísmo nessa situação, mas este é um conceito que não se aplica neste caso.

Outros nos dizem que temos que deixar uma herança, um legado, uma semente. Pura desculpa de quem acha que é eterno. Ter filho dificilmente nos fará ser lembrados por mais tempo que o normal depois da nossa morte. Nossos bisnetos provavelmente vão falar muito pouco sobre nós, assim como nós mal falamos sobre nossos bisavós. O que dizer então de trisnetos: eu não sei o nome de nenhum dos meus trisavós, e duvido que alguma de minhas leitoras saiba isso de cabeça.

Há aqueles que dizem que é preciso abrir mãos de algumas coisas boas na vida para poder curtir outras coisas boas. No caso, elas se referem a abrir mão de uma vida de idas a shows de rock que duram até de madrugada, sexo na sala e noites de sono tranquilas para poder curtir o sorriso de uma criança quando você chega em casa no fim do dia, o aprendizado que é ser pai/mãe e acompanhar o milagre de uma nova vida e personalidade se formando com a sua ajuda.

Mas não veem que estamos fazendo a mesma coisa: abrindo mão de algumas coisas boas para poder curtir outras coisas, só que numa ordem diferente do parágrafo acima.

Tem também aqueles radicais que mandam um “o que vai ser do mundo se todo mundo pensar igual a vocês?!”. Oras, que argumento mais besta é esse! É mais fácil um cometa bater na Terra e matar todo mundo do que todo mundo passar a pensar igual a nós, a começar pela própria pessoa que usa esse argumento. Se ela própria é contra, já fica impossível o mundo todo pensar igual a gente, não?

Claro que há pessoas que entendem, ou apenas aceitam, a nossa posição, sem tentar nos converter ou crucificar, mas são raras. A maioria, ao que parece, é da turma que confunde diferente com errado e tenta mudar nossas cabeças.

Conheçam Bruna Caram

Ultimamente tenho descoberto muita coisa boa na música, mas muita coisa mesmo. Do jazz ao metal, da música clássica ao folk, muitos nomes têm passado pelas minhas playlists. Um dos sons que mais me agradaram recentemente foi o de Bruna Caram.

Nascida em Avaré, no Estado de São Paulo, e respirando música desde a infância, Bruna Caram já lançou dois discos e merece ser ouvida com atenção.

Essa Menina e Feriado Pessoal, faixas-título de seus discos, estão entre as minhas músicas favoritas, e há de se destacar também a belíssima regravação de Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor, de Lô e Márcio Borges.

No site dela rola uma rádio que toca suas músicas e você ainda pode ouvir trechos de todas elas na seção discografia.

Logo aí embaixo está o clipe de Feriado Pessoal, bem bacana, feito em stop-motion.

Não percam!



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Os discos da moça estão à venda no Submarino

Conto: Assassinato no Caixa do Mercado


Sempre gostei de ir no mercado Rei Cruzeiro por conta da sua música ambiente.  Mesmo que ela seja um pouco mais longe que os outros que pontilham minha vizinhança, o prazer de andar por seus corredores ouvindo música boa servia de bom motivo para andar um pouco mais.

Ao invés daquelas músicas de elevador que dão sono, parece que a rádio do mercado é programada por quem gosta de música.  Principalmente de rock.  Já fiz compras ao som de Led Zeppelin, Black Sabbath e Santana.  Ou então ao som de Queen, Beatles e Nirvana.

E não vá pensando que a rádio só toca sucesso, não.  Sempre rola um som diferente, aquelas faixas que só quem ouve os discos das bandas conhece.  Já ouvi por lá Fear is the Key, do Iron Maiden e Elected do Alice Cooper.

Como se isso ainda não fosse suficiente, tem banda nova e desconhecida também.  Algumas eu até anotei na hora e baixei os discos em casa, quando achei o som bom e não conhecia a banda.  Coisa do nível de Night Horse e Vintage Trouble.  Ou então bandas antigas que ninguém mais lembra, tipo Elf e Captain Beyond, dinossauros dos anos 70.

E aí eu chego um dia no caixa, todo simpático, e pergunto à atendente se a rádio é programada ali mesmo no mercado.  Ela me explica que não, que é uma rádio de todas as lojas da rede.  Por fim, eu elogio a rádio e ela me vem com desaforo:

- Rádio boa?  Que nada, só toca música chata, é a mó porcaria.

Depois disso eu só lembro quando acordei no hospital, grogue de sedativos.  Mal acreditei quando me disseram que a gritaria começou quando acertei o vidro de azeite na cabeça da moça.

Lagoa Azul



Curta um Conto Curto: Caçador

Se julgava um grande caçador de invasores. Era capaz de vê-los chegando muito antes de qualquer outro alguém. Chegavam sempre pendurados de gigantescas naves e se moviam rápido, na tentativa de fugir de seus ataques. Mas sempre ganhava. Sempre os impedia. Mesmo quando conseguiam pousar e ficar um tempo em terra firme, conseguia impedi-los de desengatar o cordão de transporte: ou fugiam de volta aos céus ou padeciam indefesos aos seus ataques certeiros e fulminantes.

Viu a verdade quando um amigo bateu-lhe uma real: era só um gato brincando, sendo enganado pelo dono com uma bola de papel na ponta de um barbante.

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Outros contos já publicados aqui no Sarcófago:
Pastores Podem Casar
Jogo de Adivinhação
Analfabeto Musical
Exílio
Cinco de Fevereiro
Um Começo
O Namoro da Minha Melhor Amiga

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E no meu livro tem mais.

Jericoacoara



Papagaio



Um papagaio de Jericoacoara/CE.

Nuvens


Tomaí uma tradução de tirinha. Vi o original aqui.

Paul McCartney no Engenhão


Quando, em meados de 2010, anunciaram que Paul McCartney vivia ao Brasil para alguns shows, vislumbrei ali uma oportunidade única de ver um dos maiores ícones da história da música. Um Beatle, meu Deus, um Beatle.

A sensação de desamparo total veio quando anunciaram os shows em Porto Alegre e São Paulo. Só. Tão perto, e tão longe. Muito desapontado, me contentei em assistir ao DVD da mesma turnê, que eu tinha comprado pouco tempo antes.

Para minha surpresa, no início deste ano começaram a surgir boatos sobre um possível retorno, exclusivamente para o Rio de Janeiro. Imaginamos que seria o Rock in Rio, mas a verdade era de que ele estaria entre nós ainda em maio. E pra melhorar, seria no dia seguinte ao meu aniversário: difícil pedir presente melhor. Ingressos e bilhetes do trem comprados, só nos restava esperar pelo dia da apresentação.

No dia 22 de maio, lá estávamos nós - eu, Sueli, Kildary e Roberto Herói - na gigantesca fila para entrar no Engenhão. Se há algo a reclamar deste dia, é isso: a desorganização da Organização. Ficamos mais de hora na fila para poder entrar. Porque não abrir os portões mais cedo, sabendo que ia dar gente pra cacete? O show começou atrasado porque ainda tinha gente entrando na hora marcada.

Fora isso, tudo era satisfação: nós quatro em um Engenhão lotado, à espera de Sir Paul. E ele chegou e arrebentou. Quando ele e sua banda subiram ao palco, a explosão da plateia foi arrasadora. No primeiro sucesso dos Beatles, tivemos a certeza: não era um show qualquer. Foram quase três horas de momentos fantásticos, que fica difícil escolher o mais emocionante.

Teve Obladi Oblada, o Ilariê dos Beatles, que fez de todo mundo uma criança. Teve Mrs. Vanderbilt, momento que eu esperava ansioso, por ser minha música favorita do disco. Teve os fogos de Live and Let Die. Teve Sir Paul falando em português. Teve o oceano de placas com “NA” escrito, na hora do na na na de Hey Jude. Teve o baterista figuraça dançando como um louco. Teve o bis duplo que muita gente não esperava e teve que voltar correndo. Teve a emoção de ouvir Yesterday ao vivo. Teve a catarse coletiva de Helter Skelter. Teve até o sabor agridoce na boca quando eles começaram a tocar The End, que anunciava o fim do espetáculo.

Muita coisa eu já esperava ver, porque tem muita coisa ensaiada e eu já vi o DVD desta turnê algumas vezes. Algumas coisas que eles fizeram e falaram no palco foram exatamente iguais ao que está no DVD, sem tirar nem pôr. Mas foi um show único: não acho que Paul McCartney estivesse mentindo quando disse que as placas com os “NA” o deixaram emocionado.

No final, a alegria de ter posto no currículo um show de um Beatle. O terceiro grande show do ano. Que venha agora Elton John.

A Divisão do Pará

Assisti no site da Câmara dos Deputados um vídeo com um debate entre os deputados federais Giovanni Queiroz (PDT-PA) e Chico Alencar (PSOL-RJ) sobre a divisão do Estado do Pará em três, com a criação dos novos Estados Tapajós e Carajás. O primeiro é a favor e o segundo é contra.

Eu acho a ideia ruim porque isso é muito mais uma fonte de cargos públicos do que uma real necessidade. O argumento de que a criação de novos estados aumentaria a atenção dispensada a estas regiões é apenas uma maneira bonita de dizer que o governo atual não realiza adequadamente o seu trabalho.

Apesar de o mediador ser claramente contra a medida, já que por várias vezes ele complementa em tom de apoio o que o deputado Chico Alencar diz, o que considero errado de sua parte, acho o vídeo interessante porque nos leva a conhecer como os dois lados pensam. E me faz ter mais certeza de que votei no cara certo.

Cai bem assistir.

10 do Rock

Apesar de eu achar que dia de rock é todo dia, inventaram que ontem foi o dia do rock. Para não deixar a data quase passar em branco, segue a lista dos dez artistas e bandas que mais curto deste estilo tão arrebatador. E você, leitora, quais são suas bandas favoritas do rock?

Alice Cooper. Conheci Alice quando fiz o projeto das 50 Semanas de Rock. Foi um dos primeiros da lista e não consegui parar de ouvir até hoje. Apesar de não conhecer muita coisa, tudo o que conheço gosto muito. Duas músicas favoritas: Bed of Nails e My Stars.

Beatles. Impossível falar de rock e não falar de Beatles. Demorei para conhecer a banda mais a fundo, mas quando aconteceu não foi possível mais largar. Duas músicas favoritas: While My Guitar Gently Weeps e Helter Skelter.

Black Sabbath. O rock que me faz lembrar da minha infância. Seus primeiros discos são simplesmente impecáveis: a mais pura aula de heavy metal que pode haver. Duas músicas favoritas: Paranoid e The Warning.

Dire Straits. Uma das primeiras bandas que descobri quando comecei a me interessar mais por música na minha adolescência. Mark Knopfler toca a guitarra com tanto sentimento que há momentos em que é difícil não se emocionar. Nunca canso de ouvir. Duas músicas favoritas: Sultans of Swing e Private Investigations.

Elton John. Apesar de toda a sua fama de baladeiro e de ser, muitas vezes, mais lembrado por ser viado do que por sua qualidade musical, o Elton John é um roqueiro de mão cheia. Mesmo que seus últimos discos não sejam puro rock’n’roll, seus shows continuam sendo pura dinamite. Duas músicas favoritas: Saturday Night’s Alright for Fighting e The Wasteland.

Iron Maiden. Outra banda que lembra minha infância, por conta da influência dos meus primos. Já falei por aqui várias vezes que ouvir os acordes de The Number of the Beast faz eu me sentir com oito anos de idade. Absurdamente fantásticos. Duas músicas favoritas: The Number fo the Beast e The Clairvoiant.

Legião Urbana. Pra mim, a melhor banda de rock nacional. Renato Russo é um dos grandes poetas da música brasileira, no nível de Chico Buarque e Cazuza. A banda já acabou há anos e algumas de suas músicas continuam atuais. Duas músicas favoritas: Que País É Esse e Há Tempos.

Queen. Outra das bandas que comecei a ouvir na adolescência e nunca mais parei, o Queen é referência de música boa para os meus ouvidos. Uma pena eu não ter a oportunidade de vê-los ao vivo na formação original. Duas músicas favoritas: The Show Must Go On e I Want it All.

Roberto Carlos. Só conhecia sua obra por alto e de ouvir falar, mas em 2007 resolvi mergulhar fundo em seus discos e ouvi tudo o que ele lançou até aos anos 80. Se por essa época ele começou a ficar romântico, o que ele fez nos anos 60 e início dos 70 é rock de excelente qualidade. Duas músicas favoritas: Nasci Para Chorar e Você Não Serve Pra Mim.

Rush. Comecei a ouvir Rush na adolescência, esqueci a banda por um tempo, voltei a ouvir quando vieram ao Brasil em 2002 e finalmente terminei por mergulhar em sua obra quando estavam para vir ao Brasil no ano passado. Virtuosismo e competência melódica se encontram na medida certa. Duas músicas favoritas: Leave That Thing Alone e One Little Victory.







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Compre rock no Submarino.

Coleção Chico Buarque

Vinte volumes e quase seis meses depois, eis que chegava ao fim a Coleção Chico Buarque, da Editora Abril. Se eu já gostava do Chico antes, gosto ainda mais agora depois de conhecer mais amplamente sua obra.

A coleção é excelente em vários sentidos. Primeiro, é claro, pela música, pois cobre toda a carreira de Chico, não apenas uma parte dela. Tem desde o primeiro até seu mais recente disco. Obviamente, há alguns discos dos quais não gostei muito, mas a quantidade excessiva de música boa faz com que estes pequenos tropeços não consigam manchar a coleção.

Das músicas que já conhecia do Chico e que gosto muito, apenas umas poucas não apareceram nos discos da coleção. Que eu me lembre agora, são elas A História de Lilly Braun, Rosa dos Ventos, Agora Falando Sério e Geni. De resto, está tudo lá: de A Banda a Ode aos Ratos. De Quem Te Viu Quem Te Vê a Injuriado. De Roda-Viva a Futuros Amantes.

Outro motivo para a coleção ser classificada como excelente são as histórias e fotos que acompanham cada um dos discos. Se fosse citar todas as que gostei, teria que dividir este artigo em várias partes para não ficar longo demais. Mas compartilho uma com minhas leitoras só para dar um gostinho da coisa.

Ao escrever Retrato em Branco e Preto (dos versos “vou colecionar mais um soneto, outro retrato em branco e preto a maltratar meu coração”), Chico ouviu de Tom uma crítica sobre o verso. Disse Tom que ninguém fala “retrato em branco e preto”, só “retrato em preto e branco”, e tentou convencer Chico a reescrever o verso. Chico retrucou: “então vai ficar assim: ‘vou colecionar mais um tamanco, outro retrato em preto e branco’, tá bom pra você?”. A gravação está aí pra provar que Chico ganhou a disputa.

Dezenas de histórias como esta contam muitos pontos a favor da coleção. E não são só histórias engraçadas que recheiam os livros que acompanham os discos. Através deles é possível aprender um pouco sobre a história recente do Brasil, principalmente da época da ditadura, na qual Chico foi duramente perseguido.

Claro que a edição dos livros não é perfeita. Aqui e ali há pequenos erros, como dizer que uma música de 76 é a mais antiga do disco e em seguida falar que há duas músicas de 69, ou então não citar que uma música é um dueto. Mas isso não tira, de forma alguma o brilho da coleção.

Estou, por fim, extremamente satisfeito em completá-la. Se a leitora se interessou, é possível comprá-la pelo site da Abril Coleções. A Coleção Chico nos brinda com um panorama perfeito da obra daquele que considero o maior poeta brasileiro.

Os Discos da Coleção, em Ordem Cronológica

Os volumes da coleção não correspondem à ordem de lançamento original dos discos. A lista aí de baixo são os discos em sua ordem cronológica original.

Chico Buarque de Hollanda, de 1966, traz os clássicos A Banda, A Rita e Olê Olá. É um bom disco, marcado por leves sambas e mostrava que Chico vinha para causar sensação.

Chico Buarque de Hollanda Volume 2, de 1967, traz Noite dos Mascarados, Com Açúcar Com Afeto e Quem Te Viu Quem Te Vê. Segue a linha do primeiro disco, com bons sambas bem agradáveis de se ouvir.

Chico Buarque de Hollanda Volume 3, de 1968, traz Ela Desatinou, Retrato em Branco e Preto, Carolina e Roda-Viva. Novamente, um disco sólido, repleto de boas canções.

Per un Pugno di Samba, de 1970, é inclassificável. Chico canta canções de seus primeiros quatro discos em italiano, com arranjos de Ennio Morricone. Interessante de se ouvir, mas as versões originais são melhores.

Construção, de 1971, é audição obrigatória. O melhor de todos. Apenas duas músicas não são tão fantásticas. De resto, tem Deus lhe Pague, Cotidiano, Construção, Samba de Orly, Valsinha, Minha História, entre outras.

Calabar, de 1973, é a trilha sonora de uma peça de teatro. É um disco mais fraco, ainda que conte com Tatuagem e Fado Tropical, uma de minhas favoritas do Chico.

Sinal Fechado, de 1974, traz Chico cantando canções de outros artistas. Tem alguns belos momentos, como O Filho que eu Quero Ter, Lígia e Sem Compromisso, mas não está entre os meus favoritos.

Meus Caros Amigos, de 1976, está lá no topo com Construção. É um dos melhores discos do Chico, graças a um conjunto fantástico de músicas: tem O Que Será (com Milton Nascimento), Mulheres de Atenas, Olhos nos Olhos, Passaredo, Basta Um Dia e Meu Caro Amigo.

Chico Buarque 1978, do mesmo ano, é outro que está entre os melhores. Tem Cálice, Trocando em Miúdos, O Meu Amor, Homenagem ao Malandro, Até o Fim, Pedaço de Mim (com a jovem Zizi Possi) e Apesar de Você.

Vida, de 1980, é outro dos melhores seus discos. Tem Deixe a Menina, Bastidores, Eu Te Amo, De Todas as Maneiras, Morena de Angola e Bye Bye Brasil.

Almanaque, de 1981, é um belo disco. Nele estão As Vitrines, Ela é Dançarina, A Voz do Dono e o Dono da Voz e Amor Barato.

Chico Buarque 1984, do mesmo ano, marca o início do discos mais fracos do Chico. Apesar dos bons momentos com Pelas Tabelas, Como se Fosse a Primavera e Vai Passar, não é tão bom quanto seus discos mais antigos.

Francisco, de 1987, segue a linha do disco anterior. É bom, mas não é brilhante. Como destaque, tem uma das músicas mais inusitadas do Chico: Bancarrota Blues.

Chico Buarque 1989, do mesmo ano, é mais um disco médio. Não é ruim, é agradável de se ouvir, mas não tem momentos de arrepiar. Destaque aqui para Tanta Saudade, que traz uma sonoridade diferente à música de Chico.

Ao Vivo, Paris, Le Zenith, de 1990, faz um apanhado da carreira do Chico, com ênfase em suas músicas mais alegres e românticas, sem dar destaque para as músicas de protesto. É um bom disco.

Paratodos, de 1993, é melhor que os discos anteriores. Traz várias músicas de destaque: Paratodos, Sobre Todas as Coisas, Biscate (com Gal Costa), Futuros Amantes e Piano na Mangueira.

Uma Palavra, de 1995, traz apenas regravações de músicas do próprio Chico, refeitas com novos arranjos. É um bom disco, que traz um conjunto consistente de boas músicas, como Quem Te Viu Quem Te Vê, Eu Te Amo e Amor Barato.

Chico Buarque de Mangueira, de 1997, foi gravado para angariar fundos para o desfile da Mangueira de 1998, no qual Chico seria o homenageado. Temos nele um timaço de bambas do samba (Leci Brandão, Alcione, João Nogueira, Jamelão e outros) cantando uma lista interminável de sambas eternos (Alvorada, Folhas Secas, Resignação, Exaltação à Mangueira e Capital do Samba, entre outras). É outro dos melhores discos.

As Cidades, de 1998, é outro dos meus favoritos. Um excelente disco, de sonoridade fantástica, com uma penca de músicas de alta qualidade: tem Carioca, Xote de Navegação, Injuriado, Cecília e Chão de Esmeraldas.

Carioca, de 2006, é o disco mais recente de Chico. Como alguns dos discos que ele fez nas últimas décadas, é agradável de se ouvir mas também não é genial. De destaque, temos Dura na Queda, Ode aos Ratos e uma regravação de Imagina.


Ozzy Osbourne no Rio de Janeiro

Uma das bandas de heavy metal que marcaram a minha infância, época saudosa em que eu convivia mais com meus primos mais velhos, foi o Black Sabbath. A estante empoeirada dos discos deles na casa da minha tia ainda guarda uma cópia preciosa do Paranoid.

Quando, ainda no início do ano, foi confirmado que Ozzy Osbourne viria ao Brasil e, mais importante ainda, ao Rio de Janeiro, eu já sabia que seria um evento ao qual eu não poderia faltar. Afinal de contas, não é todo dia que você tem a oportunidade de ver uma lenda do rock ao vivo.

Alguns meses de espera depois, chegado o grande dia, na semana seguinte ao show do Iron Maiden, lá fui eu novamente para a Barra da Tijuca acompanhado dos meus camaradas Kildary e Roberto, desta vez contando com a presença do Zé Renato.

Quando conseguimos tomar nossos lugares na pista do Citibank Hall, a banda de abertura da noite - Hibria - já estava tocando sua última música. O pouco que vimos nos pareceu muito bom, mas não era para vê-los que estávamos ali.

Felizmente, o show começou na hora marcada e o que tivemos foi uma hora e meia de puro rock. Ozzy pode estar velho e às parece estar cambaleando no palco, mas consegue manter o ritmo lá no alto o tempo todo.

Ao total, quinze músicas, sendo dez da carreira solo e cinco do Black Sabbath. Coincidência ou não, as cinco músicas do Black Sabbath saíram do disco Paranoid. O único porém do setlist foi o fato de haver apenas uma música do disco mais novo do Ozzy. Acho que poderiam ser incluídas pelo menos mais duas (Life Won’t Wait e Crucify, talvez). Fora isso, simplesmente fantástico.

Louco como sempre, Ozzy jogou baldes d’água e até espirrou espuma na galera que estava lá na frente. Enrolou-se na bandeira brasileira no início do show e o tempo todo pediu a participação da galera, inclusive ensaiando um “lêêêêê lê-lê-ô” junto com a galera na volta pro bis.

Antes de lascarem Rat Salad, Ozzy saiu do palco e deixou os músicos de sua banda mostrarem o que sabiam. E como sabiam! O guitarrista Gus G deu um solo memorável e ficou com a plateia na mão quando enfiou Brasileirinho no meio do solo. Já o baterista Tommy Clufetos chegou a assustar com seus bumbos duplos poderosos e me lembrou Ray Cooper no show do Elton John no Brasil em 1995, ao botar a galera pra gritar no ritmo das suas batidas. Ambos simplesmente irretocáveis.

Quando Paranoid terminou, encerrando o show, eu estava alucinado e eufórico, como meus três camaradas podem confirmar. Uma noite pra ficar na memória.

Em menos de duas semanas tive oportunidade de ver duas lendas do heavy metal: Iron Maiden e Ozzy Osbourne. Por estar no meio da plateia desta vez e tê-lo curtido o quanto pude, achei o show do Ozzy ainda melhor que o do Iron. Inesquecível.

Tomara que eu possa vê-lo novamente.


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Comprar, Jogar Fora, Comprar

Seguindo a dica do Alex Castro, assisti recentemente ao documentário Comprar, Jogar Fora, Comprar, que trata da obsolescência programada. Nele se aprende que este mal já existe há muito mais tempo que se imagina, desde o começo do século passado, quando fábricas de lâmpadas pediram a seus engenheiros para criarem lâmpadas que durassem menos.

Mas não fica só aí. Ele fala da obsolescência programada em roupas, aparelhos eletrônicos, veículos. Cita também o grande descarte de materiais eletrônicos de várias partes do mundo em países da África, sob a falsa etiqueta de venda de produtos de segunda mão.

Com pouco menos de uma hora de duração, vale a pena e dá o que pensar.

Comprar, tirar, comprar from Dinero Libre on Vimeo.

Corrente do Preconceito

À guisa de piada, dessas que todo mundo fica repassando indiscriminadamente por email, enchendo a caixa postal de gente de bobagem, recebi uma mensagem sob o título de “Sinais do Apocalipse”. Diz a mensagem:

SINAIS DO APOCALIPSE
Lázaro Ramos... galã.
Sandy... devassa.
Faustão... magro.
Silvio Santos... pobre.
Dilma... fazendo omelete na Ana Maria Braga.
Tiririca... na Comissão de Educação
Maluf e Collor na Comissão da Reforma Política...
Genoíno na Assessoria de ética do Governo...
Lula dando palestras em Universidades...

Parte disso aí realmente tem ares de piada, mas será que sou só eu que vejo pouco humor em várias dessas afirmações, mas muito preconceito, racismo e discriminação? Deixe-me me explicar.

Lázaro Ramos... galã.

Por que Lázaro não pode ser galã? Só pode ser porque é negro, afinal de contas as revistas por aí já andam anunciando isso. “O primeiro galã negro”, dizem elas. Achar que isso é sinal do apocalipse é sinal de racismo, é sinal de que a opinião da pessoa é a de que só brancos de olhos azuis podem ser galã, mas negros não.

Sandy... devassa.

Por que Sandy não pode ser devassa? Só pode ser porque mulher deve ser certinha e recatada, uma imagem que acabou se formando em torno da Sandy. Achar que isso é sinal de do apocalipse é sinal de machismo, e ainda deixa uma ponta de ofensa com a Sandy, dando a entender que agora ela é safada e sem moral.

Faustão... magro.

Por que Faustão não pode ser magro? Afinal de contas, se todo mundo faz dieta, por que o Faustão não pode fazer? Difícil entender como isso pode ser engraçado em uma sociedade onde o bonito é o magro. É como diz a Lola: gordo não pode ter amor, sexo e amizade. Agora, nem mesmo emagrecer.

Tiririca... na Comissão de Educação

Tiririca tinha o direito de se candidatar e o brasileiro tem o direito de votar em quem quiser. Votar em alguém em sinal de protesto e ficar revoltado porque mais de um milhão de pessoas pensaram do mesmo jeito é sinal de burrice, de preguiça para pesquisar um candidato que preste. Além disso, que mal há em Tiririca fazer parte da Comissão? Com certeza, é por conta das acusações de analfabetismo, das quais foi absolvido. Em adição a isso, se ele realmente tem dificuldades com o Português, é um bom membro para a Comissão, porque pode mostrar onde o país errou em educá-lo. Se ele tiver problemas com a nossa língua, pode ser porque matava aula ou porque as escolas onde estudou não tinham condições de ensiná-lo adequadamente, fruto da precariedade do sistema educacional brasileiro, que paga mal a seus professores e abandona escolas à própria sorte ou as transforma em curral de votos.

Lula dando palestras em Universidades...

Aqui temos puro preconceito elitista contra quem não pôde estudar e veio de baixo. Lula pode não ter curso superior, mas chegou onde chegou legalmente, com o apoio do povo. Claro que ele errou, e muito, mas também acertou bastante e é respeitado no mundo todo por seu trabalho no Brasil. O ex-presidente é um exemplo de superação e conquista que deveria servir de exemplo e não de pretexto para piadas preconceituosas.

Enfim, achar que estas coisas são sinais de apocalipse é na verdade, um sinal de que ainda temos muito o que caminhar para que nossa sociedade fique, um dia, livre das mazelas do preconceito.

Iron Maiden no Rio de Janeiro

Ouço Iron Maiden desde criança. Ouvir suas músicas faz com que eu me sinta na década de 80, com menos de dez anos de idade. E apesar de ter me afastado de sua música durante um bom tempo, sempre gostei de ouvir seus acordes pesados. Uma das melhores notícias ano passado foi a do seu show no Rio de Janeiro, a acontecer em março de 2011. Ingresso comprado, era só questão de esperar.

Eis então que no dia 27 de março, o grande dia, eu e meus camaradas Kildary e Roberto nos aventuramos em direção à Barra da Tijuca para o show no HSBC Arena. Infelizmente, um dia de pura desorganização jogado fora.

Não por culpa nossa, mas da Arena. Primeiro, as filas quilométricas e lentas. Era fila que não acabava mais. Quando finalmente conseguimos entrar, o show de abertura já tinha acabado. (Bom, pelo menos é o que parece, porque até hoje eu não sei com certeza se o show aconteceu).

Enfim acomodados, era questão de esperar o show, que ainda demorou bastante para começar. E quando finalmente começou, explosão de adrenalina, emoção e... interrupção na primeira música. Logo no início do show a grade de proteção caiu e Bruce parou de cantar.

Insatisfeitos e confusos, esperamos uns 20 minutos até que Bruce voltou ao palco para dizer que o show tinha sido cancelado e transferido para o dia seguinte. Acho que xinguei em três minutos o que xingo em um mês. Tristes, putos e frustrados, voltamos para casa.

Na segunda feira, seguimos de volta para a Barra - no Bonde do Iron, como o próprio motorista do ônibus o chamou - com o medo de não chegarmos a tempo, dado o trânsito caótico e falta de ônibus no Rio de Janeiro. Felizmente, chegamos bem (não rápido, mas bem) e vimos que a Arena fez a lição de casa, e a entrada foi o que deveria ter sido no dia anterior.

E enfim, tivemos o show que merecíamos. Espetacular, recheado de músicas fodásticas, o show foi memorável. Como já falaram por aí, a banda continua com um gás invejável, sem dar o mínimo sinal de cansaço.

Apesar de apresentar algumas músicas que eu não conhecia, saídas de alguns de seus discos mais novos (mas ainda assim boas até o osso), o show em nenhum momento perdeu minha atenção. E como em qualquer show que se preze, sua sequência final, incluindo o bis, foi matadora.

Tudo começou com The Evil that Men Do, que contou com a participação do Eddie passeando pelo palco. Eu só fui descobrir que ele é um robô controlado à distância no dia seguinte. Em seguida foi a vez de Fear of the Dark, onde a banda ficou com a plateia na palma da mão e, finalmente, Iron Maiden, que trouxe a grande surpresa da noite: o Eddie gigante que surgiu por trás do palco. Impressionante, enfim. Seguiu-se o bis, pra terminar de incendiar de vez o lugar: The Number of the Beast, Hallowed Be Thy Name e Running Free. Uma sequência para fã nenhum botar defeito.

Fim de show, rumamos de volta para casa cansados e satisfeitos. Eu, em particular, passaria por tudo novamente. Melhor que isso só se eles voltassem ainda este ano para o Rock in Rio.

A partir de então, era questão de esperar por Ozzy.

Tristeza na OSB (com Atualização)

Há três anos tenho a alegria de assistir aos concertos da OSB no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e na Sala Cecília Meireles. A qualidade de seus músicos, convidados, repertório e surpresas sempre me fizeram sair dos concertos extremamente satisfeito.

Mas o que aconteceu no último dia 09 de abril me deixou extremamente triste. Nunca imaginei ver uma cena como a que vi no Theatro Municipal. Pouco me importa de quem é a culpa e quem tem a razão: é triste e desanimador.

Desde que recebemos o programa deste ano e compramos os ingressos para a série Topázio, estávamos ansiosos pelo primeiro concerto, que teria a participação da grande bailarina Ana Botafogo, a ser apresentado neste sábado.

Descobri que havia alguma coisa errada com a OSB na quarta feira da semana passada, quando, xeretando o jornal do cara ao meu lado na barca, li uma nota dizendo que “terra treme na OSB”, informando que a Ana Botafogo tinha cancelado sua participação.

Assim que cheguei ao trabalho fui procurar por mais notícias sobre o que poderia estar acontecendo, e só então me dei conta de que a coisa estava feia: ao que parecia, o maestro e diretor artístico Roberto Minczuk tinha obrigado os músicas a prestar novas provas de habilidade como forma de avaliação para continuarem como membros da Orquestra. Insatisfeitos, muitos músicos teriam se rebelado e então, depois de mais algumas discussões, demitidos.

Procurando um pouco mais, descobri que outros artistas convidados também tinham cancelado suas participações, não apenas a Ana Botafogo: Nelson Freire e Cristina Ortiz eram dois dos grandes nomes que deixariam de abrilhantar as apresentações. Preocupado com a situação (afinal, como uma orquestra pela metade pode se apresentar?), liguei para o Theatro Municipal e me confirmaram que o concerto ocorreria. Então, lá fomos nós.

Chegando à frente do Theatro, encontrei uma manifestação dos músicos demitidos. Distribuíam panfletos que contavam sua versão da história, dando o endereço de páginas para divulgação de notícias sobre o imbróglio. Conversando com um dos músicos, cujo nome infelizmente me esqueci, descobri que o problema se arrasta há mais de três meses. Com ele, descobri que a orquestra que iria tocar era formada pelos músicos remanescentes e por parte da OSB Jovem.

Deixando toda a confusão do lado de fora, entramos. A orquestra entrou aplaudida e tomou seus lugares. Só que quando o Roberto Minczuk entrou as vaias de muitos vieram com força, misturadas com aplausos de outros. Ele fez sinais de agradecimento aos aplausos e virou-se para a orquestra, sinalizando para prepararem-se para tocar.

E então veio o pior: a maior parte da orquestra levantou e saiu do palco, deixando o maestro com apenas um punhado de músicos. Estes chegaram-se mais perto dele, mas com as vaias cada vez mais eufóricas, este retirou-se do palco, para não mais voltar. (veja tudo aqui)

Foi então que os músicos voltaram e um deles começou a falar com a plateia, mas o som de seu microfone foi cortado. Ele ainda tentou falar alto o suficiente, mas o barulho do público não nos deixou ouvir o que ele dizia. Ao que nos parece, ele chegou a ler uma carta-manifesto, mas duvido que alguém além da primeira fila tenha conseguido escutar. (leia aqui a carta). Depois disso, os músicos deixaram definitivamente o palco e os funcionários da casa pediram ao público para se retirar. Lá fora, mais protestos e gritaria.

Sinceramente, não sei quem tem a razão, nem sei qual é a história real por trás disso tudo. Me parece correto que o Roberto Minczuk queira aumentar o nível de qualidade da Orquestra, mas não dá pra saber se sua atitude foi certa ou não. É difícil saber quem tem a razão quando os dois lados contam versões diferentes da mesma história. (leia aqui uma entrevista do Roberto para a Folha de São Paulo)

Futuros concertos já foram cancelados e tenho medo do rumo que a discussão pode tomar.

Só sei que foi triste, muito triste, decepcionante e frustrante. Uma cena impensável, lastimável. Perde o Roberto Minczuk, que tem sua carreira manchada por uma história como esta; perde a OSB, que pode perder apoio e patrocinadores; perdem os músicos, que podem ou ficar desempregados ou ficar em um emprego desestruturado e caótico; e perdemos nós espectadores, que deixamos de ouvir a maravilhosa música que a OSB tem nos proporcionado nos últimos anos.

Torço para que tudo acabe bem.

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ATUALIZAÇÃO: O blog Comissão de Músicos da OSB publicou a carta que foi lida à plateia no Theatro Municipal.