Crônica: Da Evolução

O que mais me deixa bolado com o pessoal que diz que a evolução não existe e que é tudo mentira dos cientistas não é nem o fato deles dizerem que a evolução não existe e que é tudo mentira dos cientistas, mas sim o argumento-desafio então porque é que não tem macaco virando homem, hein, hein?.

Este argumento-desafio é tão, mas TÃO sem nexo, que só mostra que a pessoa está debatendo contra a evolução sem ter a mínima noção de como ela funciona.

É como querer provar que a gravidade não existe dizendo que se a gravidade existe, porque é que a bola de pingue pongue sobe quando bate no chão, hein, hein?.

Crônica: Das Férias

Tempos atrás, uma amiga estava ansiosa demais por suas férias. Era um frisson, dizia ela, e mal podia esperar.

Elas eram dali a quatro meses.

Ela me perguntou se acontecia a mesma coisa comigo e se surpreendeu quando eu disse que não. Veja bem, é claro que gosto de tirar férias. É um período bom pra fazer as coisas que não dá pra fazer durante o período de trabalho, seja viajar para algum lugar, seja para resolver problemas. Mas eu me recuso a viver minha vida precisando tirar férias. E é a mesma coisa com as sextas-feiras. Dá pena do pessoal que começa a semana rezando para que o próximo fim de semana fique mais perto.

Viver a vida no aguardo de momento futuro quando finalmente poderei ser feliz não é uma boa maneira de viver a vida. Primeiro por ser uma contradição muito grande, porque a gente passa os dias querendo ter mais tempo pra viver mas também fica torcendo para que o tempo passe rápido pra chegar logo a hora de ter tempo.

Depois, a necessidade de que um dia chegue para que eu seja feliz traz implicitamente a ideia de que eu levo uma vida miserável nos demais. É muito pessimismo pro meu gosto. Eu não preciso de férias ou de sextas-feiras para ser feliz, porque decidi que não quero ser o tipo de pessoa que tem hora marcada para estar satisfeito com a vida.

O que me ajudou a pensar assim foi uma epifania que tive tempos atrás. Conversando com outra amiga, ela veio com aquela história de que antigamente é que era bom, a gente era feliz e não sabia. Expliquei que eu não pensava assim. Acompanhem comigo o raciocínio.

A gente sempre acha que o que já passou é que era legal, o tempo de colégio é que era bom, o trabalho anterior é que tinha gente maneira, na faculdade é que a gente curtia mesmo a vida. Então repare que daqui a dez anos você vai olhar pros dias de hoje e pensar que, puxa, bom mesmo era nessa época. Isso vai acontecer, porque a gente é assim mesmo.

Logo, se daqui a 10 anos a gente vai achar que hoje é legal, é porque hoje já é legal, falta só você aprender a perceber isso. E aí, no instante em que você aprende a perceber o quanto o dia de hoje é foda, você deixa de se preocupar com a próxima sexta-feira ou com as férias.

Só que a coisa não acaba aí, e aqui vem a parte mais legal de tudo, porque é uma tremenda duma garantia de um futuro de lascar: se daqui a 10 anos você vai olhar pra hoje e achar o hoje legal, isso significa que daqui a 20 anos você vai olhar 10 anos pra trás (o que pra gente hoje também é um momento futuro, só que um futuro menos distante do que 20 anos) e vai pensar que puxa, bom mesmo era nessa época. Ou seja: o futuro também vai ser bom!

E se você já sabe que o futuro também vai ser bom, você pode se desprender das preocupações e viver ainda mais no presente. Efeito colateral: por saber que hoje é legal e que o amanhã também é, você para de se lamentar pelo ontem que já passou. Sobra tempo pra que? Aproveitar ainda mais o dia de hoje.

Sabe aquela coisa de carpe diem? É exatamente isso.

Conto: Trago a Pessoa Amada em 3 Dias

— Não, esse aí não dá.

— Como assim não dá? Você não garante o trabalho?

— Garanto, mas esse aí não dá.

— Claro que dá, até ele já conseguiu fazer coisa parecida antes.

— Mas ele tá...

— Eu quero ele do meu lado de novo!

— ...

— Então, vai fazer ou não?

— Faço, faço, mas vai sair caro!

— Não tem problema, consigo o dinheiro fácil.

— Tá bom. 500 pratas, mais o bode e a galinha preta. A farofa e a pipoca são por minha conta.


Três dias depois, Madalena viu rolar a pedra que fechava o sepulcro.