Série Operação Cavalo de Tróia - Final

Claro que tudo isso que falei é um resumo bem impróprio de tudo o que se passa em todos aqueles quilos de páginas. Só mesmo lendo para entender o que na verdade é a Operação Cavalo de Tróia.

Apesar de contradizer muita coisa que está na Bíblia, Benítez acrescenta muito mais. Digamos que, de todos os acontecimentos narrados, apenas 5% estejam de acordo com a Bíblia; uns 35% são contradições e todo o resto são fatos novos inexistentes na Bíblia, como, por exemplo, a infância e adolescência de Jesus.

Todos estes acréscimos têm sua base no que diz o evangelho de João, em seu último versículo: "Jesus fez ainda muitas outras coisas: se as escrevessem uma a uma, o mundo inteiro não poderia, penso eu, conter os livros que se escreveriam". Este versículo, aliás, é a primeira coisa que se lê no primeiro volume da série.

Só pra repetir algo que eu já tinha dito quando li o primeiro livro: os livros são interessantíssimos, pois nos mostram um Jesus humano, sábio e amável. Mesmo sabendo que o livro é ficção, dá pra sentir que muita coisa dita sobre Ele pode, sim, ser verdade, e ajuda a formar melhor a sua imagem em nossas mentes.

Como já falei antes, o sétimo volume acabou de ser lançado na Espanha. Imagino que este último volume narre todo o período de pregação de Jesus e o retorno de Jasão e Eliseu ao presente. Talvez até mesmo venha por aí um oitavo volume, chuto eu, para mostrar o desenrolar das coisas depois do retorno, fechando, imagine só, com Jasão entrando em contato com o Benítez, o que fecharia um ciclo nos livros. Seria a maior sacanagem do século: todos os livros da série te fazem querer ler o próximo, e o último remete ao primeiro. Seria uma história cíclica.

De qualquer maneira, se no sétimo volume os aventureiros não voltarem ao presente, podem ter certeza de que o oitavo vai sair alguns anos depois. Benítez é, com certeza, um grande contador de histórias.

Série Operação Cavalo de Tróia - Parte IV

Volume 4 - Nazaré

Publicada em 1989, é uma continuação da segunda parte do diário de Jasão. É basicamente uma longuíssima sucessão de conversas entre ele e família de Jesus, intercaladas com o desenrolar dos eventos que ocorreram em Nazaré no período que vai da aparição no Monte das Bem-Aventuranças à ascensão de Jesus. São mais de 350 páginas onde conhecemos em detalhes a infância e adolescência de Jesus.

Este volume traz, na minha opinião, o trecho mais belo de toda a narrativa de toda a coleção: o momento em que Jasão explica a Maria quem ele é e de onde ele veio. Ficção ou realidade, é uma das mais bonitas alusões à mensagem de Jesus.

A diagramação segue o esquema dos outros livros, mas a revisão é péssima. O número de erros que encontrei chega a lembrar os jornalecos da minha cidade, que têm a média de 5 erros por página. Realmente triste ver tantos. As notas explicativas continuam sendo notas de rodapé.


Volume 5 - Cesaréia

O quinto volume da série só saiu em 1996, depois de anos que silêncio. No próprio livro, em sua introdução, Benítez diz que demorou tanto assim porque tinha medo, porque cada vez que iria retomar a obra, alguma coisa o afastava. Mas, oras, se o diário já estava pronto, qual seria o esforço de Benítez? Traduzir, no máximo. Daí tira-se mais uma prova de que tudo não passa de ficção, ao contrário do que tanto ele tenta provar.

Neste volume, Jasão viaja até a Cesaréia de Pilatos e traça um perfil completo do governante. E fica praticamente nisso. Como "extras", apenas alguma ação ainda em Nazaré, no início do livro, uma espécie de adendo aos acontecimentos do quarto volume; e também alguns lances no final, com a preparação para uma terceira e ilegal viagem no tempo. Explico: quebrando os planos da Operação, Jasão e Eliseu decidem retroceder ainda mais no tempo, de volta à época de pregação de Jesus, para tentar acompanhá-lo durante todos os três anos de sua vida pública.

Sobre a diagramação, a fonte muda bastante em relação aos outros, ficando mais clara, e a revisão continua péssima, deixando o livro com um excesso de erros de digitação. Nova mudança nas notas explicativas: nem no rodapé nem no final do livro: elas ficam no fim dos capítulos, o que as deixa ainda mais chatas de serem lidas, porque é preciso ficar procurando onde é o fim do capítulo para descobrir onde estão.


Volume 6 - Hermon

O último volume da caixa chegou às livrarias em 1999. Desde o início eu já sabia que o livro não iria terminar como eu esperava no início da leitura do primeiro volume. É aquilo que eu já disse: Jasão faz muitas referências ao período de pregação de Jesus, o qual ele e Eliseu teriam acompanhado. Se no início do livro eles ainda não tinham viajado para este período, com certeza, suas 453 páginas nunca iriam conter estes três anos de histórias.

O livro se divide então em três etapas. A primeira, que ocupa cerca de 1/4 do livro, descreve todos os preparativos de Jasão e Eliseu para terceira viagem no tempo. Feita a viagem, a segunda parte do livro narra a busca deles dois por Jesus, que estaria isolado no monte Hermon. Finalmente, a terceira parte, com míseras 100 páginas, conta tudo o que aconteceu no Hermon, onde os aventureiros conviveram com Jesus durante quatro semanas.

Digo míseras porque, para um cara que tem uma imaginação tão grande, a ponto de escrever mais de duas mil páginas só pra contar UMA história, bem que ele poderia ter estendido todos os diálogos que Jasão e Eliseu travaram com Jesus.

A qualidade editorial deste livro é bem melhor que os dois anteriores. A fonte aumenta e se torna mais legível, os erros somem e as notas voltam para os rodapés das páginas, de onde nunca deveriam ter saído.

A seguir: considerações finais

Série Operação Cavalo de Tróia - Parte III

Volume 1 - Jerusalém

É maior da série, com 520 páginas, publicado em 1984. Começa com o autor contando como Jasão entrou em contato com ele e como fez para conseguir o diário, numa narrativa, como eu já disse, bem ao estilo de Dan Brown. Com o diário nas mãos, Benítez começa a reproduzí-lo. A primeira parte do diário começa dias antes da prisão de Jesus, passa por sua condenação e morte. Termina com a ressurreição.

Quanto à diagramação, fonte levemente pequena e linhas pouco espaçadas. Todas as notas estão reunidas no final do livro, ocupando mais de quarenta páginas.


Volume 2 - Massada

Publicado em 1986, é do início ao fim uma pura reprodução do diário. Jasão e seu companheiro Eliseu retornam ao presente e iniciam as preparações para a segunda viagem. Mais de 200 páginas para descrever o que aconteceu no "presente", antes da segunda viagem, incluindo aí uma transcrição de tudo o que aconteceu na última ceia de Jesus com os discípulos.

Jasão e Eliseu retornam para o passado, momentos após a ressurreição de Jesus Jasão busca informações sobre o ressuscitado e chega a vê-lo algumas vezes. Em uma conversa com Maria (a mãe), descobre como de fato ocorreu o nascimento de Jesus. Termina quando Jesus manda seus discípulos irem para a Galiléia.

Na verdade, não termina aí. Depois do fim do diário, tem uma nota do Benítez onde ele explica que o diário acaba assim, abruptamente, apenas com um outro enigma, no mesmo estilo daquele outro que ele relata no volume 1. E pede ajuda a seus leitores para que o ajudem a decifrá-lo.

Sobre a diagramação, a fonte é a mesma mas as linhas são mais espaçadas. Já as notas não estão mais no final do livro: viram notas de rodapé, que às vezes ocupam quase toda a folha.


Volume 3 - Saidan

Publicado em 1987, um ano depois do pedido de ajuda. Benítez gasta as primeiras 150 páginas para contar como decifrou o enigma. Em alguns momentos é interessante, mas tem horas que é pura encheção de lingüiça. Por fim, ele consegue ter em suas mãos uma outra parte do diário de Jasão, desta vez um calhamaço de mais de duas mil páginas.

Passa então a reproduzir o diário. Neste volume acompanhamos Jasão viajar junto com os discípulos à Galiléia, e lá presenciar mais aparições de Jesus. Jasão conta também como era a vida em torno do lago Tiberíades, a aparição de Jesus para os seus discípulos no Monte das Bem-Aventuranças e uma impressionante aparição de Jesus para ele e Eliseu.

Por fim, Benítez reproduz um trecho da primeira parte do diário, que tinha deixado de ser publicada, por "motivos técnicos", seja lá o que isso signifique. Este trecho é uma continuação da conversa de Jasão com Maria (a mãe), onde ele fica sabendo mais coisas sobre a infância e adolescência de Jesus. Esse vai e vem na narrativa confunde um pouco.

Quanto à diagramação, ela é igual à do segundo volume, com as notas nos rodapés das páginas, fonte igual e linhas espaçadas.

A seguir: sobre os volumes 4, 5 e 6.

Série Operação Cavalo de Tróia - Parte II

Quando comecei a ler, achava que os livros, apesar de contarem a mesma história, tinham princípio, meio e fim. Mas o final do primeiro volume e, principalmente, o início do segundo, me fizeram ver que os seis volumes são na verdade pedaços de um grande mastodonte literário que tem que ser lido por completo para ser perfeitamente digerido.

Dá até pra pegar um deles, ler, e fingir que nenhum dos outros existem, mas você sempre vai começar um livro com uma sensação de que começou do nada. E sempre vai terminar com uma deixa para uma continuação. Em pouquíssimos momentos Benítez se preocupa em explicar as coisas que estão em um volume anterior; e quando o faz, abre mão de notas explicativas às vezes curtas demais.

Um dos poucos pontos contra a coleção não diz respeito à obra, mas sim às edições. Os seis livros que vêm na caixa são edições de anos diferentes, o que deixa o esquema visual da obra inconsistente. A editora não teve a preocupação de padronizar a formatação do texto; parece que simplesmente inventou uma caixa e jogou os volumes lá dentro. Tanto é que apenas o volume 1 traz uma indicação que é uma edição revisada pelo autor. Vou falar destas diferenças e seus problemas mais à frente.

Em todo o desenrolar da trama, sobressai o estilo detalhista do autor. Fatos, pessoas e coisas são descritos em suas mais específicas minúcias. Se estão numa sala, cada objeto é cuidadosamente destrinchado em seus detalhes, como cores, tamanhos e até origens. Se estão em um ambiente natural, cada planta e animal é nomeado e classificado biologicamente. Se estão voando, cada direção, força do vento, pressão do motor e combustível é catalogado. Se Jesus está apanhando, cada gota de sangue é analisada.

Nos primeiros livros as minúcias são um pouco chatas de se acompanhar, no terceiro, então, é um porre, dá vontade de pular páginas. Por graça divina, os últimos volumes, apesar de detalhistas, não são muito enfadonhos.

Exatamente por causa deste exagero nos detalhes, quando eu estava no meio do quarto livro comecei a ter suspeitas de que seis livros não seriam suficientes para escrever tudo a que o autor se propunha.

Eu me explico.

No volume 1, ele gastou cerca de 200 páginas para descrever os fatos de um único dia.

Ponto.

Só isso já mostra como o cara é mestre em detalhar as coisas. Daí que no quarto livro ele começa a citar um período de três anos, que seria o tempo de pregação pública de Jesus, até a sua morte. Diz Jasão que ele acompanhou Jesus durante todos estes três anos e que, numa hora oportuna, iria contar o que aconteceu.

Aí a gente faz a matemática. Se o dia da morte de Jesus mereceu 200 páginas, o que dizer de três anos de pregação? Seria preciso, no mínimo, um livro só pra isso. Mas você nunca vê esse momento chegar. No quarto ele fica comentando, no quinto ele fica comentando, e no sexto, só lá no finalzinho, Jasão chega perto do início destes três anos. Só pra matar a surpresa (que no fundo, pra quem lê, não é surpresa) o sexto livro acaba EXATAMENTE quando Jesus decide começar a sua vida de pregação pública.

Não tem nem mesmo uma explicação do autor, um até breve. O livro simplesmente acaba dizendo que a aventura acabava de começar.

Foi aí que eu descobri que neste mês de setembro de 2005 ele lançou lá na Espanha o volume 7. Ainda não li sobre o livro, mas aposto que ele deve tratar única e exclusivamente disso: a vida pública de Jesus, e só. (Se bem que a palavra "só", neste caso, não cai muito bem).

Já mandei um email para a editora Mercuryo, que edita os livros do Benítez no Brasil, perguntando quando é que vai sair a edição brasileira do livro. Sem previsão, dizem eles.

Como já falei, você pode pegar qualquer um dos livros e ler sem se importar com os outros. Muita coisa pode, e vai, ficar sem explicação, mas a maior parte da história sendo contada dá pra entender, porque cada edição é focada em um momento diferente.

Pra satisfazer a sua curiosidade descrevê-las-ei individualmente a seguir, falando, inclusive dos problemas da diferença das diagramações e formatações entre os volumes.

A seguir: sobre os volumes 1, 2 e 3

Série Operação Cavalo de Tróia - Parte I

No início do ano eu andei falando por aqui sobre o primeiro livro da série Operação Cavalo de Tróia, do escritor J. J. Benítez. Na época, comentei o que tinha achado, opinava, dava pitacos, etc e tal. Tudo aquilo que sempre faço quando acabo de ler um livro.

Não sei se alguém notou, mas há um bom tempo eu não escrevo nada sobre minhas leituras. A última coisa foi em junho ou julho, quando escrevi sobre Os Bruzundangas, de Lima Barreto. O motivo de todo esse silêncio literário é que em maio eu comprei a caixa com os seis livros da Operação Cavalo de Tróia e então, no decorrer dos últimos quatro meses, andei lendo os outros cinco volumes que restavam.

Resumidamente, a Operação Cavalo de Tróia é o seguinte: diz o autor, J. J. Benítez, que em um dia qualquer dos anos 80, um certo major, chamado Jasão, reformado do exército americano, entrou em contato com ele. Depois de uma série de jogos de detetive, à la Dan Brown, Benítez acaba tendo em suas mãos um suposto diário do major.

E neste diário Jasão teria descrito, em minuciosos detalhes, uma operação militar americana, chamada Operação Cavalo de Tróia. Nesta operação, Jasão e um companheiro - Eliseu - teriam viajado duas vezes ao passado, à época de Jesus. Os livros seriam, então, em sua grande parte, uma mera reprodução do tal diário.

Ah, tá bom.

Muita coisa que está no diário contradiz o que está na Bíblia. Ou então apresenta muitas coisas que teriam sido negligenciadas pelos evangelistas. Diversas vezes Jasão ataca diretamente os evangelistas, acusando-os de terem modificado a verdade dos fatos ocorridos e a mensagem de Jesus. Claro que isso é mais do que suficiente para muitos cristãos deixarem de ler os livros, mas pra quem gosta de ficção, é um prato cheio.

A seguir, um pouco mais sobre a série

O Espectro Assassino - Cenas Deletadas Recém-Escritas

Enquanto procurava por Alice, o Espectro Assassino viu um jovem cantando no corredor de um colégio. Irritado com o barulho, esqueceu por uns minutos a busca pela moça e dedicou-se a matar o jovem.

Capturou-o e levou-o para a sua Cripta da Morte. A primeira coisa que ele fez depois de pregar o cara em uma parede de espinhos foi pegar um alicate em brasa e arrancar cada uma de suas unhas. Em seguida, vendo que o rapaz sentia dores terríveis em seus dedos, sentiu pena e cortou os dedos fora.

Com a intenção de deixar o cara com um penteado mais condizente com o seu estado, passou em sua cabeça uma máquina -6, deixando seu crânio à mostra.

Na tentativa de anestesiar as dores do garoto, que quanto mais sofria mais cantava, deu a ele uns três litros de álcool puro. Até que funcionou no início, mas depois o tiro saiu pela culatra, porque ele ficou doidão e começou a cantar igual mulher.

O Espectro Assassino estava ficando cada vez mais com mais raiva, e já estava pensando em obrigar Alice a casar com o cara ao invés de simplesmente matá-la.

Mas sabendo que nem mesmo ela merecia isso, jogou mais álcool no garoto e ateou fogo nele. Só que quando ele gritou por socorro o fogo entrou pela sua boca e fez explodir o álcool que já tinha bebido, desintegrando praticamente todo o seu corpo. Só sobrou a cabeça que ficou pendurada na parede.

O Espectro Assassino, então, pegou arrancou os olhos do garoto e jogou a cabeça em uma poça de lava. Tentou jogar um pouco de bolas de gude com os olhos dele para relaxar, mas só conseguiu ficar com mais raiva, porque as bolas nunca rolavam na direção certa, sabe-se lá por que...

Desistiu então da brincadeira, jogou as suas novas bolas de gude fora e foi procurar Alice...

Agradecimentos ao Tiago pela ins-piração

O Espectro Assassino - Comentários

Como eu havia prometido, aqui estão algumas considerações sobre a saga do Espectro Assassino. A história, como eu já havia dito, foi escrita pelos idos de 1994 para as aulas de redação da professora Kátia. Várias passagens dos textos são reflexos de minha vida na época:

A cidade do interior bem que poderia ser Cachoeiras. Ou até mesmo alguma menor ainda. Mas representava o meu mundo, o lugar onde vivia (vivo). Naquela época, o resto do mundo ainda meio que não existia pra mim.

As bolas de gude são uma tentativa (vã, diga-se de passagem) de fazer humor. Sempre tentei ser engraçadinho.

Brincar de caça-fantasmas era uma mania entre um grupo de colegas. Escolhíamos casas abandonadas da cidade e entrávamos nelas, cheios de medo, procurando evidências. Buuu.

A cena da chacina das crianças foi escrita imaginando em como seria tudo aquilo num filme. Tentei passar toda a tensão do momento.

Passear no mato era (e é) uma das atividades mais prazerosas de se fazer aqui em Cachoeiras. Muitas cachoeiras e poços bons para tomar banho estão bem longe da cidade e temos que tomar trilhas para chegar até lá. Na época, eu fazia isso um par de vezes por mês.

Já o ataque no Espectro Assassino na floresta foi totalmente inspirado pelo filme O Predador.

Os pais e mães-de-santo e, principalmente, as rezadeiras são fruto da influência das crenças de minha mãe, que quando eu era bem pequeno, com três, quatro anos, me levava a uma coroa para me rezar.

De resto, todas as cenas macabras são fruto de um vontade danada de aparecer, porque na época todos estávamos com mania de escrever textos violentos, com morte, sangue... aí eu quis fazer O texto. Será que consegui?

O Espectro Assassino 2 - A Paixão do Terror - Final

Começou a destruir as casas, as pessoas se apavoraram, era a volta dos "dias de horror". Na primeira casa ele agarrou um morador e perguntou:

- Onde está Alice?
- Na igreja, por que?
- Eu a quero!!!

Ele saiu em busca de Alice. Destruiu a porta da igreja e achou-a escondida no confessionário, destruiu-o, abraçou-a e beijou-a. E depois levou-a para sua Cripta da Morte. Lá deitou-a numa cama e violentou-a sexualmente.

Depois ele a levou de volta à cidade, ela conseguiu escapar. O Espectro Assassino ficou irado e começou a destruir o que achava pela frente. Ele viu um cara parado perto do chafariz. Chegou quieto, cortou-lhe a cabeça com sua foice e quebrou todos os seus ossos. Matou várias pessoas violentamente. Destruiu casas com raios que soltava dos olhos e enfim achou Alice. Ele agarrou-a e perguntou se ela queria ficar com ele, ela disse que sim e foram para sua Cripta da Morte. Depois de um tempo ele a levou de volta à cidade e voltou para sua Cripta da Morte. Porém ele não sabia que ela ia se encontrar com o seu namorado Marcos. Quando ele descobriu, resolveu se vingar de Alice.

No outro dia, o Espectro Assassino transformou-se em Alice, encontrou-se com Marcos. Quando eles se beijaram, o Espectro Assassino puxou tudo o que havia dentro do corpo de Marcos, deixando só a pele e os ossos. Depois ele se transformou em Marcos e foi encontrar com Alice. Ela pensou que fosse Marcos e beijou-o. Então o Espectro Assassino se destransformou, Alice ficou apavorada, ele cortou a cabeça dela, tomou o seu sangue e arrancou os seus olhos. Foi para a Cripta da Morte e ficou jogando bola de gude.

A seguir... considerações

O Espectro Assassino 2 - A Paixão do Terror - Parte VI

Já haviam se passado dez anos da última aparição do Espectro Assassino. Os "dias de horror" não tinham sido esquecidos pelos moradores daquela cidade. Ela tinha crescido um pouco, já não estava tão calma, mas continuava bonita. A caverna foi tapada com cimento e pedras e árvores foram plantadas, para evitar a volta do Espectro Assassino. Mas ninguém lembrou que essa caverna tinha uma pequena saída do outro lado do morro. A selva não estava mais marcada pela morte.

Um grupo de jovens estava fazendo um passeio pela selva, e viram a outra entrada da caverna. Não sabiam que ela era a caverna amaldiçoada. Resolveram entrar, acenderam uma tocha lá dentro, e viram umas inscrições e leram, estava escrito: "quando alguém entrar nesta caverna, o Espectro Assassino destruirá toda a população desta cidade, e será o fim". Eles perceberam que aquela era a caverna amaldiçoada e saíram correndo. Porém, o Espectro Assassino estava à espera deles. Não conseguiram correr, pois o Espectro Assassino havia feito um campo de força, ele começou a matar um a um. Porém, quando foi matar a última pessoa, uma garota chamada Alice, ele parou e fez um gesto com sua boca, como se sorrisse, abriu o campo de força. Quando foi abraçá-la ela saiu correndo, e ele foi atrás. Na cidade ela se escondeu, e o Espectro Assassino ficou à sua procura.

Continua (e termina) em um par de dias...

O Espectro Assassino - Parte V

Na época que escrevi este texto, a professora tinha pedido pra gente escrever uma história que tivesse dois finais diferentes: um feliz e um ruim. Aqui estão, então, os dois possíveis finais para a saga.

1º Fim - Feliz

O garoto foi amarrado numa cadeira, o padre rezou, jogou água benta no garoto, encostou-lhe a cruz e outras coisas, e conseguiu. O garoto deu um urro alto, e o Espectro Assassino saiu do seu corpo e disse:

- Eu voltarei, eu voltarei, eu voltareeei!!!

E desapareceu.

A cidade, depois de alguns anos estava reconstruída, e voltou a ser como antes: calma e bonita. Porém, aqueles "dias de horror" jamais serão esquecidos pelo povo daquela cidade.


2º Fim - Trágico

O garoto foi amarrado numa cadeira, o padre rezou, jogou água benta no garoto, encostou-lhe a cruz e outras coisas, mas não conseguiu. O garoto tomou a forma do Espectro Assassino e matou as pessoas que estavam ali. Depois chamou as almas que vagavam na Cripta da Morte, e junto com elas, matou toda a população que restava na cidade e depois a destruiu com raios que saíam de seus olhos.

Depois que tudo foi destruído ele voltou para sua Cripta da Morte, junto com as almas. E ficou jogando bola de gude.

E pra quem pensou que tinha realmente acabado, aguardem que tem mais. Na semana seguinte em que escrevi O Espectro Assassino a professora pediu outra redação, e para sofrimento dela, eu escrevi O Espectro Assassino 2, que em um par de dias também vai sair publicado aqui. Aguardem...

O Espectro Assassino - Parte IV

A cidade entrou em pânico, pessoas se mudavam; outras se enchiam de objetos, cordões e outras coisas. Chegavam rezadeiras, pais e mães de santo e outros para afastar os "maus espíritos"; chegavam repórteres do mundo inteiro para fazer reportagens sobre as chacinas; e outros.

No quarto dia após a sua primeira aparição, ele apareceu mais uma vez, e trouxe consigo almas - vindas da Cripta da Morte - para ajudá-lo nos assassinatos que iria fazer naquele dia. Junto com elas, matou os repórteres, rezadeiras e pais e mães de santo que estavam na cidade.

No outro dia, era uma tradição na cidade de todas as crianças que ali [viviam] deviam ficar fantasiadas, uma tradição que começou no início do século. Algumas crianças se fantasiaram de Batman, Super-Homem, Fadas, etc. Mas teve um garoto que ficou marcado: estava fantasiado de Diabo.

O Espectro Assassino achou que o menino devia ser "um dos seus" e resolveu encarnar nele. O garoto estava sozinho, o Espectro Assassino chegou e encarnou no garoto, mas ele não saiu destruindo tudo, e sim, falava coisas estranhas, chutava as paredes, tornou-se violento, etc., até que acharam que devia ser exorcizado. Foi chamado um padre muito conhecido para fazer o exorcismo do garoto.

Continua...

O Espectro Assassino - Parte III

Após essa chacina, vários grupos policiais da cidade e até de cidades vizinhas foram chamados para proteger a cidade dos ataques que ninguém sabia explicar como aconteciam.

No outro dia, o Espectro Assassino apareceu novamente, ele veio da selva - que rodeava a cidade -, por ali, haviam três policiais, ele surgiu e agarrou um deles, arrancou-lhe a cabeça e tomou o seu sangue. Os outros dois policiais ficaram na frente e atrás do Espectro Assassino, e atiraram. Porém, as balas atravessaram o seu corpo, matando o policial que estava do outro lado, depois ele arrancou os corações dos dois policiais e comeu-os. Então ele foi passando pelas ruas da cidade, matando os policiais com sua foice, degolando-os. Matou todos os policiais que ali estavam e foi para sua Cripta da Morte, para esperar outro dia jogando bolas de gude com os olhos de pessoas que ele havia matado em outras cidades do mundo.

Apesar de saberem que na sua última chacina o Espectro Assassino veio da selva, um grupo de cinco rapazes foi fazer um passeio até a Cachoeira Azul, que ficava no meio da mata fechada. Eles saíram em fila indiana, mas mal sabiam que o Espectro Assassino estava à sua espera. Já tinham andado uns dez minutos, quando ouviram um gemido do meio da mata fechada. Pararam. Sentiram vontade de voltar, mas resolveram continuar, pois não ouviram mais nada. Já andavam um pouco afastados uns dos outros, quando de repente, o Espectro Assassino puxou o último da fila para o meio da mata, arrancou-lhe o coração e jogou-o de volta para a trilha. Os outros quatro não perceberam e continuaram andando; uns dez minutos depois, o Espectro Assassino puxou o último da fila para dentro da mata, tirou-lhe a pele como que se descascasse uma banana e jogou-o de volta à trilha. Fez isso com o terceiro e com o segundo da fila, e o primeiro não estava nem aí, pios estavam andando em silêncio. De repente ele ouviu um urro muito alto, vindo de trás de si. Parou. Virou-se devagar e deu de cara com o Espectro Assassino, que cortou sua cabeça, tomou o seu sangue, despedaçou o seu corpo e levou seus olhos para sua Cripta da Morte.

Continua...

O Espectro Assassino - Parte II

Na cidade havia uma casa grande e velha. As crianças diziam que era mal assombrada. Nesse dia, havia um grupo de crianças na tal casa, brincando de caça-fantasmas, e nem imaginavam que seriam mortas por um deles.

As janelas estavam abertas, a casa estava iluminada, mas de repente, as janelas se fecharam e tudo ficou escuro, as crianças ficaram apavoradas e se abraçaram umas às outras, enquanto outros saíram correndo. De repente, as crianças que estavam abraçadas ouviram passos descendo as escadas e viram uma luz, então o Espectro Assassino apareceu perto delas, e todos correram para lados diferentes, e o Espectro Assassino foi atrás de uma delas. Então ela tropeçou numa tábua, caiu no chão e foi atacada pelo Espectro Assassino. Primeiro ele devorou [seu] cérebro, depois arrancou seus olhos, jogou-os fora e disse:

- Pena que não tenho bolsos para guardar minhas bolas de gude.

Depois saiu em busca das outras crianças. Achou uma delas agachada num canto escuro, e daí, cortou-lhe a cabeça com sua foice de fogo. E saiu em busca das outras. Matou todas violentamente e levou a última para sua Cripta da Morte, onde comeu o seu cérebro e arrancou os seus olhos (para quê, você já sabe) e então jogou-a no poço de lava. Depois a casa voltou a ficar com as janelas abertas e iluminada, mas suja de sangue para todos os lados. Era a marca da chacina das crianças.

O Espectro Assassino é um texto que escrevi em agosto de 1994, para as aulas de redação da minha professora da oitava série. Cláro que não é nada de esplendoroso, mas mostra que desde aquela época eu já tinha uma imaginação bem fértil. Continua...

O Espectro Assassino - Parte I

O texto que começo a publicar hoje, e que deve se seguir em umas sete ou oito partes foi escrito em agosto de 1994, para as aulas de redação da minha professora da oitava série. Claro que não é nada de esplendoroso, mas mostra que desde aquela época eu já tinha uma imaginação bem fértil.

Em alguns poucos trechos, vocês vão encontrar palavras [entre colchetes]. Elas estão assim porque são palavras que eu incluí no texto recentemente, quando fui digitar. Elas não alteram a história, apenas corrigem erros de escrita.

Antes de avaliar os méritos do texto, lembrem que ele foi escrito por um nerd de 14 anos.

Divirtam-se:

Esta é uma história de uma cidade do interior. Uma cidade calma e bonita, mas isso podia ser quebrado. Na entrada da cidade havia uma caverna muito grande na beira da estrada. Dizia uma lenda que quem caísse ali, seu corpo seria tomado pelo Espectro Assassino.

Um dia, um homem estava voltando de moto à cidade, porém, quando estava passando perto da caverna, um cachorro atravessou na sua frente, então ele teve que se desviar, perdeu o controle da moto e entrou na caverna. Saiu dali apavorado, mas não falou nada a ninguém. Dois meses se passaram e ele não sentia nada, porém, um dia começou [a sentir] dores no peito, e foi ao hospital para fazer exames. Os médicos lhe disseram que estava com um problema no coração, e teria que fazer uma operação.

Duas ou três semanas depois, ele estava na mesa de cirurgia. Porém, quando os médicos abriram seu peito, o Espectro Assassino saiu do seu corpo e começou a matar os médicos, um a um. Alguns tentaram fugir pela porta, mas estava trancada. Só deixou um médico vivo. Então ele o levou para sua Cripta da Morte - um lugar onde vagavam as almas das pessoas que ele tinha matado - colou-o numa parede de espinhos, arrancou-lhe o cérebro e os olhos. O cérebro ele comeu e os olhos colocou numa caixa de bolas de gude. Depois jogou o corpo numa poça de lava.

Enquanto isso, no hospital, todos saíram apavorados.

(Continua...)

O Domingo que Não Volta Mais

No dia 22/06/2004 publiquei o texto abaixo aqui no Sarcófago. Nem parece que foi há mais de um ano, pois pra mim ainda é bem atual e forte. Desde aquela vez só encontrei com a sobrinha do seu Domingos uma ou duas vezes, mas foi passando pela rua, sem chances de conversar. Essa semana ela apareceu no cartório e aproveitei para perguntar dele.

De acordo com ela, seu Domingos morreu cerca de três meses depois de ter passado a procuração, e ela nem conseguiu resolver nada para ele. Foi enrolada pela máquina nojenta da burocracia até o fim, até a morte do tio.

Sempre tive vontade de mostrar o texto a ela, mas acho que agora não há mais porquê. Fiquem então com o texto. É meu tributo a um coroa gente boa que já não está mais entre nós.

***

Seu Domingos é um senhor já na terceira idade. Não sei quando é que veio morar aqui na nossa cidade, mas sei que até poucas semanas atrás ele morava em algum lugar de São Gonçalo.

Também não sei dizer em que condições ele vivia, mas tenho certeza de que não era numa casa bem acabada. Só consigo enxergar o seu Domingos numa casa ainda com os tijolos à mostra, num quintal sem cuidados, perto de um valão, algo assim. Talvez nada muito mais luxuoso que isto.

Mas pior do que suas condições de moradia, estava seu estado de saúde: aidético. Com 65 anos e aidético. Duro de se ver. Se alguém acha que não poderia ser pior, pode sim: sua única filha não tem o menor interesse em cuidar dele. Em suas próprias palavras, estava largado às moscas em casa, até que sua sobrinha apareceu.

Quando ela foi visitá-lo, seu Domingos chorou como criança, dando graças a Deus pela chegada de sua possível salvação. E, sim, sua sobrinha foi sua salvação. Como a filha de seu Domingos não se preocupava com ele, a sobrinha o trouxe para nossa cidade, onde ele finalmente foi internado em um hospital para receber o mínimo de tratamento possível, já que o nosso hospital não é nenhum exemplo de qualidade. De qualquer maneira, estar no hospital de Cachoeiras é melhor que estar largado às moscas em um barraco de São Gonçalo.

A sobrinha dele, então, cujo nome nem me lembro mais, foi até o cartório para poder fazer uma procuração, de modo que pudesse agir as coisas para ele. Ela me passou a documentação e alguns dias depois fui com ela até o hospital para pegar a assinatura dele.

Magro, fraco, velho, doente. Bem doente. Mas ainda assim um exemplo de pessoa. A maioria das pessoas que estivesse numa situação parecida com a dele com certeza entraria em depressão, mas não é o que acontece com ele. Não sei se seu Domingos é religioso, se crê em Deus, se reza todas as noites, mas ainda assim, ele é um exemplo de perseverança que vou me lembrar pra sempre.

Seu Domingos é um grande brincalhão, que faz piada com o próprio estado. E também tem força para seguir em frente. "Eu vou chegar aos setenta, vocês vão ver". Muitas piadas depois, com o documento já assinado, voltamos ao cartório, eu e sua sobrinha. Foi aí que conheci a história dele, de onde ele tinha vindo, como tinha chegado até ali.

Seu Domingos pode até não ter chances de viver muito, mas com certeza foi salvo pela sobrinha de sofrimentos maiores se ficasse com a filha. Abençoada sobrinha que abre mão da própria vida para salvar o tio. Abençoado Domingos que não desiste de lutar.

Isto não é um conto, é uma história verídica, e dói pensar que existem muitas pessoas como ele que não são salvas. Que não têm uma sobrinha para socorrer, que têm filhos que não estendem a mão. Mas seu Domingos, com sua energia, tem um bom exemplo para mostrar. Que Deus lhe dê muitos anos de vida. Que Deus o abençoe.

Pastores Podem Casar

Com dois meses de vida eu fui batizada. Em meados de 1964 a pequena Michele, euzinha, passou a ser filha de Deus, deixando de ser criatura. Passei minha infância dentro da igreja. Minha mãe, que Deus a tenha, era muito religiosa, e me levava todos os domingos à missa da manhã. Ela também ia à igreja durante a semana, algumas vezes, mas não me levava junto.

Lá com os meus dez ou onze anos comecei a ter aulas de catecismo para fazer a primeira comunhão, mas achei tudo tão chato e enfadonho que pedi para sair. Brincar era muito mais divertido do que decorar orações longuíssimas. Minha mãe ficou muito triste mas não me forçou a nada. "Um dia você é que vai correr atrás de Deus", foi o que ela disse.

O tempo passou e eu cresci. Quando já estava na casa dos vinte anos, minha mãe morreu e eu voltei à igreja, buscando algum conforto. Santa profecia, Moisés!

Neste meu retorno, freqüentei a igreja durante um ano até que tive vontade de voltar a fazer o catecismo para, finalmente, fazer a primeira comunhão. Foi aí que chegou à nossa paróquia o padre Chkristóhphens, vulgo Cristóvão. Vinha de algum canto da Europa e era um padre maravilhoso.

Com maravilhoso eu me refiro aos seus cabelos loiros e sedosos, aos seus olhos azuis da cor de um céu de primavera, aos seus dentes alinhados, branquíssimos como uma nuvem. Maravilhoso era seu um metro e noventa de altura, e aqueles braços fortes, longos, lânguidos. Aquele andar de quem parece não pisar no chão. E aquela voz... ah, aquela voz!

Quando ele vinha falar com a gente do amor de Deus, da mensagem de Jesus, do Sagrado Coração de Maria, tudo o que eu ouvia era o meu amor, a mensagem que eu queria lhe dar e o meu coração palpitando cada vez mais rápido. Certa vez eu quase fiz a besteira de beijá-lo. Sei lá o que me impediu.

Com muito custo, fui dissimulando essa minha paixão juvenil e terminei a catequese. No dia da primeira comunhão, tive que confessar pela primeira vez. E logo com ele! Eu me sentia a pior das pecadoras, mas não podia ajoelhar no confessionário, pedir a bênção e contar ao padre que eu estava apaixonada justo por ele. Ah, isso não, ou eu seria condenada à lapidação em praça pública.

Então lá fui eu, ajoelhei, pedi a bênção e confessei que comia demais, que só pensava em dinheiro, que adorava sexo, que desejava os namorados das minhas amigas. Só não confessei que estava louca para beijá-lo ali mesmo, na sacristia.

Cumprido o ritual, tomei a minha primeira comunhão. Amargurada, chorei baldes. Todo mundo achou lindo, pensando que eu estava emocionada, mas a verdade é que eu estava arrependida de estar ali. Sabendo que não poderia continuar assim, e com a absoluta certeza de que jamais teria minha paixão saciada, resolvi me afastar daquela igreja.

Saía da minha cidade todo domingo e ia à missa em outro município! Mas cometi a heresia de me apaixonar pelo padre de lá também. Meu caso era irremediável. Então saí de vez da igreja católica.

Hoje sou evangélica. Não fui para a Assembléia de Deus porque deixei de amar Nossa Senhora ou por deixar de ser devota de São Leopoldo mas, sabe como é, pastores podem casar.

Mais Poesias Fuleiras

Um dia uma garota disse para mim
Eu vi a sua foto no jornal O Clarim
E você tava vestindo uma camisa bem chinfrim
E então eu respondi "compra outra pra mim"

Salmos para Dormir

Ontem, antes de deitar, li em Salmos 4,9 o seguinte: "assim cumulado, deito-me e adormeço, pois só tu, Senhor, me fazes permanecer em segurança".

Como eu tenho o costume de ler umas linhas da Bíblia antes de dormir, cedo ou tarde isso acabaria acontecendo, então chamar de coincidência seria um exagero, mas foi interessante ver que a última frase do dia fazia parte da minha 'oração-de-dormir'.

Da Série Poesias Fuleiras

Durante um passeio encontrei uma menina
Seu cabelo era longo, parecia uma cortina
E foi tanta beleza que embaçou minha retina
Perguntei pelo seu nome, ela disse "eu sou Cristina"

O Primeiro Dia-dos-Pais Sem Pai

Na minha família, do lado do meu pai, todos têm problemas de coração. Três tios meus operaram e quatro deles morreram de enfarto. Desde o início de 2002 sabíamos que meu pai já estava apresentando problemas com o seu, e ele já estava se tratando.

Em meados de 2004 as coisas começaram a piorar, a ponto de um dia de manhã eu ter que ligar para um colega de trabalho para que ele nos levasse às pressas para o hospital. Por sorte, foi apenas um susto.

Dias depois fui ao médico que tratava do meu pai para poder entender o que tinha acontecido. Dr. Raul me explicou que o caso dele era muito sério, e que ele precisava, urgentemente, operar. Com uma maquete de coração na mão, me mostrou que três das veias principais do meu pai estavam completamente entupidas. Para fechar o quadro crítico, encerrou dizendo que, das pessoas que estavam na mesma situação, 50% não duravam 6 meses.

Óbvio ululante, saí de lá tremendo e chorando. Conversei com a família, conversei com Sueli, e sentamos com seu Jorge para tentar convencê-lo a operar. Mas não adiantou. Ele bateu pé e disse que só operaria numa emergência, tal qual aquela de alguns dias antes. Ele tinha o medo, compreensível, de morrer na mesa de operação.

Restava-nos então escolher entre duas opções, ambas cruéis: convencê-lo a operar e correr o risco de perdê-lo na mesa, mas confiando no sucesso da operação; ou deixá-lo agir como queria e correr o risco de perdê-lo a qualquer momento, mas confiando no lado bom da porcentagem de chance de "sobrevida" dele.

E seguimos vivendo.

Numa quinta feira, 17 de março de 2005, cheguei em casa vindo da faculdade, jantei e fui para o computador navegar na internet. Era cerca de meia noite e meia quando nossa vizinha bateu na nossa porta dizendo que a polícia tinha passado em frente ao beco onde moramos para avisar que alguma coisa tinha acontecido com meu pai.

Sem saber ao certo o que estava acontecendo, ligamos para pessoas que tinham carro e iniciamos uma busca frenética em busca de notícias concretas, para dar fim às nossas dúvidas e receios. Só meia hora mais tarde, bem depois de uma da manhã, Nelcemir chegou com a notícia que não queríamos ouvir.

O início da madrugada foi feito então de avisar a família e começar desde logo os preparativos para o funeral. O dia seguinte foi, claro, o mais triste dos últimos tempos na minha vida. Foi uma tristeza que se arrastou pelos meses seguintes, me prejudicando em muitos pontos da minha já tão atribulada vida.

Na época, eu não quis que meus colegas da faculdade soubessem pois nem de longe eu queria passar por coitadinho. Me estrepei de verde e amarelo para estudar, inclusive para continuar a pôs as matérias no meu site, mas segui adiante mantendo o meu "segredo".

De início, apenas quatro colegas souberam, mas foi inevitável esconder a dor por muito tempo. Devo muito à Suelen e ao Douglas por terem me ouvido e oferecido o ombro para que eu pudesse chorar. Outro que soube e bateu um papo muito bom foi o Aprígio.

Nem mesmo no meu site eu mencionei o assunto. Apenas publiquei uma citação bíblica e escrevi um ou outro texto mais melancólico, mas não toquei diretamente no assunto.

Levei cerca de quatro meses para superar a dor. Não foram poucas as vezes em que ao chegar em casa eu me preocupava ao acender a luz para não acordá-lo. Tampouco foram poucas as vezes em que qualquer barulho na calçada me fazia pensar que era ele chegando. Ou então, ao ouvir uma música, não tivesse o impulso de chamá-lo para ouvir. E muito menos foi fácil deixar de sentir dor quando lembro daquele homem fechando o túmulo de meu pai e, ao terminar, dizer que "agora é só saudade".

Desse período, só tenho a agradecer aos amigos, à família e à Sueli pelo apoio. Como não agradecer a Cida pelo ombro na missa do dia das mães? Como não agradecer a minha tia Nice pelas gargalhadas em casa? Se não fossem eles, talvez eu não teria superado isso tão rápido.

Nesse tempo obscuro, a igreja foi outro bálsamo para acalmar minha alma abalada. Busquei muito e pedi muito para que Deus me desse a calma e a paz que eu sei que mereço. Mas também não foi fácil. No auge da dor, cheguei até mesmo a me afastar, negar o poder de Deus e perder a fé. Mas graças a Ele próprio minha fé se fortaleceu.

E por que escrever sobre isto agora? Por que pôr pra fora estes sentimentos e pensamentos só depois de tanto tempo? Pois só agora a dor passou. Só agora consigo escrever sobre meu pai sem chorar. Porque eu precisava botar tudo pra fora. Por que eu precisava. Por isso.

Estudos Bíblicos - Caminhando Sobre as Águas

De coisa de um ano e meio pra cá passei a buscar mais o meu encontro com Deus. E como caminho escolhi o cristianismo. Neste meio tempo, passei por fazer de extrema dúvida e até cheguei à negação completa, mas recentemente a fé foi restaurada e estou caminhando melhor.

Muita gente estranha porque eu vou em igrejas evangélicas e na igreja católica. E gosto de ambas. As igrejas evangélicas pentecostais, apesar do barulho, conseguem impor uma emoção ímpar nas orações, beirando o êxtase, o que é muito bom. As evangélicas tradicionais, como a Batista das antigas, com o seu jeitão silencioso e respeitoso, abrem espaço para reflexões profundas durante o próprio culto. Mas ambas usam os textos bíblicos para bater em cima de uma determinada tecla e mostrar o quanto Deus é poderoso. Não é sempre, mas a tendência é esta.

Já a igreja católica, com todo o seu ritualismo, me leva a uma conexão diferente com o divino. Assim como todo ser humano, também preciso de vez em quando de um ponto para fixar a atenção para atingir um estado meditativo que me permita estar em contato com Deus, logo, os rituais católicos são mais que bem vindos. E então, no momento em que saímos do ritual e o padre toma a palavra para falar sobre o evangelho do dia é que ele mostra o seu caráter educativo e informativo. Muitas vezes parece mais uma aula de catequese do que uma missa. O padre não me parece falar com a intenção de convencer ou provar nada, mas apenas de mostrar o significado nas coisas que estão na bíblia, dando às vezes uma nova luz sobre o que já conhecíamos.

E foi isso que aconteceu na missa de domingo. Todo mundo com o mínimo de conhecimento bíblico conhece a passagem em que Jesus caminha sobre as águas revoltas até perto do barco dos discípulos e manda Pedro a fazê-lo também. Pedro começa a caminhar mas, com medo dos ventos, começa a afundar. Jesus então o repreende, dizendo que Pedro tinha pouca fé.

O padre, tendo lido esta passagem fez dois comentários interessantes: primeiro, que tendo fé absoluta em Jesus podemos superar obstáculos aparentemente intransponíveis, mesmo que sejam obstáculos abstratos; segundo, que Ele tem o poder de nos dar poderes divinos, tais como caminhar sobre as águas.

Basta crer.

O trecho acima está descrito em detalhes em Mateus 14:22-33.

Para Ana Carolina

Oi, Ana. Uma das coisas que mais gosto aqui no Sarcófago é o meu contador de acessos. Através dele, posso saber quantas páginas foram vistas no dia (uma média de 90) e a média diária de pessoas que visitaram o site e que já estiveram aqui antes (uma média de 2), entre outras coisas.

Mas o mais interessante não são os números. O melhor mesmo é a facilidade de ver como é que os leitores chegaram até aqui. Na maioria dos casos, é do Google ou outra ferramenta de busca, procurando pela banda Sarcófago, por um jogo do Mário, por um papel de parede, por partituras do Elton John, ou alguma outra coisa sobre a qual eu tenha escrito.

E de vez em quando aparece alguma coisa diferente que chama a atenção. Estes dias alguém chegou aqui clicando neste link. Como era uma origem desconhecida, cliquei pra ver.

Descobri que é o teu site. Sei que você não é a cantora, mas sim uma menina lá de Teresópolis. Não lembro de nunca ter conversado com você. Não lembro de nenhum comentário seu no Sarcófago. Mas lá está o meu site, entre os seus sites indicados. Legal.

Ana, como é que você chegou ao Sarcófago? Eu tenho uma colega na faculdade que mora em Terê, será que foi assim?

Eu tentei comentar no teu site, mas precisa ser cadastrado e eu não estava com paciência.

Então, por favor, dê o ar da graça, moça, e diga quem és tu!

Tolerância Zero

Lá estou eu levando centenas de tijolos para o meu quintal quando o curioso enxerido de plantão pergunta:
- Vai fazer obra?
- Não, eu vou abrir uma loja de material de construção.

Foi irresistível. E vou fazer assim com todos os outros que perguntarem.

Se Natália Dissesse Sim

Era uma noite de sábado de carnaval como outra qualquer, e eu estava caminhando pela rua no meio da multidão que estava cada dia mais excitada com a animação dos blocos que passavam. Foi então que a vi. Ela estava parada na beira da rua com uma amiga e com certeza não percebeu que eu tinha parado no outro lado da rua, olhando fixamente para ela.

Tudo bem que o que me atraiu nela não foi exatamente ela, mas sim o fato de que ela era exageradamente parecida com uma outra por quem eu caía de amores. Isabela era a outra. Eu a tinha conhecido alguns anos antes, mas como ela tinha se mudado para outra cidade, muito longe, no interior de Minas, nunca mais pude vê-la, mas ainda assim estava apaixonado e não conseguia pensar em outra garota que não fosse ela.

Daí a atração por aquela garota no meio da multidão. Aquela pele morena, quase negra, os olhos amendoados, o cabelo negro como a noite sem luar caindo pelos ombros nus, tudo me fazia ver na minha frente apenas Isabela, e isso me deixou em êxtase. Eu tinha que falar com aquela garota. Oxalá sua voz fosse igual à de minha amada.

Parei, pensei, respirei, tomei coragem e cruzei a rua, em direção a ela. A coragem caiu pelo meio do caminho e passei ao seu lado, tentando apenas sentir o seu cheiro, que, infelizmente, não lembrava o de Isabela.

Parei atrás dela e admirei seu belo esbelto corpo, um corpo cujas curvas pela quais eu já me acreditava apto a serpentear. Mas a coragem que tinha caído no meio do caminho foi pisoteada pela multidão e seguiu junto com o bloco que passou. Dali rumei para casa. Mesmo sendo cedo, era fim de noite pra mim.

Na noite seguinte, apesar de ter saído para me divertir, não haviam mais blocos, não mais confetes e serpentinas, apenas aquele rosto, apenas aquele fantasma vivo cuja lembrança, sabia eu, iria me atormentar o resto dos meus dias se eu não criasse a coragem e pelo menos ouvisse a sua voz.

Caminhei pelas calçadas lotadas à procura daquelas mãos lânguidas, que poderiam, cria eu, me levar pelas águas caudalosas do rio de uma nova paixão. E lá estava ela. Sentada na arquibancada, junto com uma amiga. Sentei perto delas, a coisa de uns dois metros de distância, juntando toda a coragem que eu tinha. Assim que ela levantou, para comprar sei lá o quê, me levantei e fui atrás.

Antes que ela pudesse chegar ao seu destino, me acheguei e me apresentei. Foi um diálogo curto e fulminante. Com a mesma voz que eu tanto idolatrava - até isso era igual - ela negou o convite para uma conversa com a mesma certeza com que eu nego quando me oferecem uma carreira de cocaína. E sem dó de mim, sem ter noção de como me fez mal, virou as costas e me deixou ali, completamente só no meio da multidão.

E ali o carnaval acabou. As caixas de som deixaram de fazer qualquer barulho e os chocalhos pararam de tremelicar. Viviane e o amor, columbina e pierrô, passaram por mim com suas cores reluzentes mas não conseguiram pincelar tons pastéis em minha existência que então estava cinza.

Natália matou o amor que eu tinha por Isabela, então fui pra casa chorar as mágoas e a saudade no travesseiro para de manhã mudar de vida. Então, numa segunda-feira de carnaval, ainda com ressaca das minhas próprias lágrimas, decidi abraçar o sacerdócio. Estudei muito até minha ordenação, quando então fui pregar o evangelho de Jesus em outro país. Aprendi a falar dialetos africanos e fui para o calor do deserto evangelizar nômades. O Brasil tornava-se cada dia mais uma memória distante.

Cinqüenta anos depois já nem sei mais falar minha língua mãe. Já não sei mais se as pessoas pulam o carnaval do mesmo jeito. Esqueci o significado de palavras como marchinha e conheço apenas as veredas da fé e os caminhos de Deus.

Não me arrependo da minha decisão nem de tudo o que já passei em nome de Deus, mas, volta e meia, sentado em meu quarto nos fundos da capela onde celebro a santa missa, pergunto ao Pai o que teria acontecido se Natália dissesse sim.

Salmo 25

Definitivamente, nada traduz melhor tudo o que se passa aqui dentro.

Os Bruzundangas - Lima Barreto

Quando comprei este livro, achei que era um romance, mas me enganei. No início do século passado, na década de 10, Lima Barreto estava muito descontente com os rumos que o Brasil estava tomando, tanto no jeito de ser das pessoas quanto na corrupção dos políticos, e começou a escrever textos sobre um país fictício - a Bruzundanga.

Escreveu várias sátiras sobre o país, que eram publicadas em jornais de grande circulação na época. Em uma sátira ele falava da religião do lugar, em outra falava das escolas, depois do lazer, e então dos políticos e por aí ia. O livro Os Bruzundangas é a compilação destes textos, aparentemente em ordem cronológica de sua publicação.

É incrível perceber como as coisas simplesmente não mudam. Não mudam mesmo. Tudo o que Lima Barreto criticava em suas sátiras acontece ainda hoje do mesmo jeito, seja no campo da cultura, com seus artistas fracos que são nomeados para a Academia Bruzundanguense de Letras sem terem publicado um livro sequer; seja na política, com seus políticos corruptos que só fazem jogo de interesses; ou então na economia, onde regiões do país são mais privilegiadas do que outras. Ele trata até mesmo da influência de pessoas ricas nas tramóias políticas.

Um dos melhores exemplos de como as coisas não mudam é o seguinte trecho: "a política não é aí uma grande cogitação de guiar os nossos destinos; porém uma vulgar especulação de cargos e propinas". Gente, isso foi há quase cem anos, e nada, absolutamente nada mudou.

Lima Barreto sacaneia de tudo quanto é jeito que pode. Quando fala dos escritores da Bruzundanga, ele os pinta como pessoas que seguem uma regra exata para a produção de textos, ou seja, não existe a liberdade de criação, mas sim um conjunto de fórmulas que devem ser seguidas para a escrita de textos e poesias. O resultado é que toda a produção literária é praticamente igual, e ai de quem inventar de fazer diferente. As duas melhores demonstrações deste pensamento são duas das "leis" que regem a criação de poesias:

"1 - Sendo a poesia o meio de transportar nosso espírito do real para o irreal, deve ela ter como principal função provocar o sono, estado sempre profícuo ao sonho.
(...)
3 - A beleza de um trabalho poético não deve ressaltar desse próprio trabalho (...); ela [a beleza] deve ser encontrada com as explicações ou comentários fornecidos pelo autor ou por seus íntimos."

Uma das poucas coisas que não mais se aplicam ao Brasil é quando ele fala de produção musical. Para a Bruzundanga, Lima Barreto não dispensou mais do que duas linhas, apenas para dizer que nenhuma música é produzida. Isso mudou bastante, todo mundo sabe.

A única coisa que às vezes atrapalha a leitura é o estilo de escrita. Apesar de as palavras terem aparentemente sido "traduzidas" para o português atual (na questão da grafia das palavras), o modo de escrever segue o estilo de antigamente, que é meio esquisito para quem não está acostumado. Mas, fora isso e algumas palavras que a gente não conhece, dá pra ler tudo com tranqüilidade.

Enfim, é um livro divertido, mas que nos faz ver como não dá pra ter muita esperança de que as coisas vão melhorar. É arriscado que daqui a cem anos alguém junte as crônicas do Arnaldo Jabor e publique um livro, só para meus netos lerem e falarem que nada mudou desde o tempo do vovô Mário. E o livro vai falar as mesmas coisas que estão em Os Bruzundangas.

Livre Arbítrio - Final

E se, mesmo sem o livre arbítrio, o homem soubesse que Deus existe? Teríamos nos voltado contra o nosso "Criador"?

Vamos seguir a linha de pensamento da Ana: Deus cria o mundo, cria os animais e as plantas e povoa a terra com o homem, um ser capaz de compreender o mundo à sua volta, que sabe que foi criado por um Ser superior a ele e consciente de que deve obediência cega e irrestrita a esse Ser.

Ainda assim o homem não se voltaria contra Deus, pois sem o livre arbítrio não teríamos também a noção de que haveria outra opção: o não fazer. Teríamos em nossa mente apenas a idéia, rodando em moto contínuo, de que devíamos ficar babando os ovos de Deus, cantando hosanas nas alturas. Seríamos felizes, mesmo sem termos noção disso.


A relação atual entre Deus e o homem


Chegando à conclusão de que o homem não se revoltaria contra Deus por causa da falta do livre arbítrio, resta dar uma analisada em como o homem se relaciona com Deus tendo o livre arbítrio. E vê-se que já estamos em luta contra o Criador desde muito tempo.

Começa-se pelo seguinte: no princípio dos tempos, Deus botou Eva e Adão no paraíso e falou: "façam tudo o que quiserem mas não comam o fruto proibido". Mas o casalzinho, não satisfeito em poder fornicar o tempo todo sem pecar, resolveu ir contra as ordens do Grande Pai, pensando com certeza: "que nada, malandro, vamos é comer a tal fruta pra ver no que é que dá, esse Cara não sabe de nada". Esta foi a primeira revolução que o homem fez contra a palavra de Deus.

A partir daí, a partir do crescei-vos e multiplicai-vos, o homem foi criando mais homem, e todos eles sabiam como é que Deus queria que eles agissem, mas que nada, "a gente é que sabe das coisa, vamos fazer do nosso jeito".

Deste então o homem estabeleceu o senso comum de que Deus estava errado e começou a inventar um monte de jeito diferente de dizer como Ele é e o que Ele queria da gente, a seu bel prazer. É aí que estão as raízes das guerras na Irlanda e no Oriente Médio, e também do holocausto da Segunda Guerra, além de toda a intolerância que reina nos dias de hoje. E ninguém mais sabe quem está certo. Isso sem falar em pessoas que, face grandes perdas e tragédias, praguejam contra Deus, que, coitado, é posto como réu e condenado sem direito a defesa. E também tem o grupo que simplesmente não acredita e nega a existência Dele.

Isto sim é revolta contra o Criador.

Livre Arbítrio - Parte III

Dar o livre arbítrio para o homem foi uma decisão desastrosa? Teríamos nos voltado contra o nosso "Criador" sem ela?

Quando criou o homem dando-lhe o livre arbítrio, Deus pôs nas mãos humanas a facilidade de escolher o que quisesse, o que bem lhe conviesse. Acho que a linha de pensamento da Ana é a seguinte: se não tivéssemos escolha, iríamos acabar nos revoltando por ter que seguir sempre as ordens e desejos de Deus, seríamos seus escravos, sempre presos a um trabalho provavelmente repetitivo, desmotivador e sem ganhar nenhuma recompensa por isso.

Mas eu penso diferente. Se não tivéssemos esta faculdade, seríamos nada mais nada menos do que mais um animal no meio da bicharada. Não pensaríamos (ou pensaríamos como os animais, sei lá se bicho pensa).

Não seríamos diferentes em nada dos outros animais, pois existem bichos que não têm pelos, existem bichos que andam sobre apenas duas pernas, etc e tals. Desprovidos do raciocínio lógico que nos diferencia dos animais, seguiríamos nossos instintos, como a própria Ana disse: procuraríamos comida, defenderíamos-nos de nossos predadores e arranjaríamos abrigo para nos proteger das intempéries da natureza. Não teríamos, simplesmente, a menor noção da existência um Ser criador responsável pela nossa existência e, portanto, estaríamos cagando e andando para Ele. Logo, nada de revolta contra Deus.

A seguir: o homem sem livre arbítrio, mas com consciência disso.

Livre Arbítrio - Parte II

O ser humano tende a ser mau?

Não sei se é correta essa coisa de falar que, dada uma escolha, nove entre dez pessoas vão fazer a errada. Isso vai depender muito da criação das pessoas, independentemente de onde estamos.

Vá na China e fale para um caixa de banco dar o troco errado para dez pessoas. Quantas vão devolver o dinheiro? Faça isso no Brasil. Faça isso na Argentina, nos Estados Unidos, na África do Sul. Será que os resultados serão os mesmos? Eu, sinceramente, não sei. Mas não creio que os números sejam tão radicais quando 9x1.

O mundo atualmente passa por um momento muito complicado, em que estamos cercados pela intolerância e a violência, mas o número de pessoas que é intolerante e violenta é bem menor do que o número de pessoas que quer ficar em paz. A maioria das pessoas realmente quer um mundo de paz, quer viver em cidades onde se possa sair para passear na praça à noite sem correr o risco de algum assaltante vir a levar sua bolsa e sua vida. A falta de paz de muitas pessoas está nas mãos das poucas que querem a violência.

O grande problema é que as boas ações não repercutem tanto quanto as más. Ninguém publica uma foto de alguém dando o braço para uma velhinha atravessar a rua, mas todo mundo quer ver a foto do vovô assassinado na praça do subúrbio. E então, essa falta de informação de que existe muita gente boa no mundo gera o pensamento de que o ser humano é mau por natureza. Portanto, não. Não acredito que nós sejamos maus por natureza.

A seguir: o homem sem livre arbítrio, mas sem consciência disso.

Livre Arbítrio

Em 17/03/2005, a leitora Ana deixou um comentário que dizia o seguinte: "Aproveitando o "gancho" da oração, da fé, da religião, etc... gostaria de levantar a seguinte questão (que talvez sirva pra você "filosofar" sobre): quando Deus decidiu criar o homem, uma característica básica que o diferenciaria dos outros animais seria a substituição do instinto pelo grandioso conceito de livre arbítrio. Você concorda que seria uma noção desastrosa, já que se oferecermos uma escolha, nove entre dez pessoas vão fazer a errada? Se não tivéssemos essa maravilhosa característica, teríamos nos voltado contra o nosso "Criador"? Me responde essa com seu ponto de vista.".

Bom, para responder às perguntas dela, antes de mais nada tenho que ter em mente que devo levar em consideração apenas a interpretação bíblica da criação. Não estou dizendo que acredito ou não, digo só que vou tentar seguir a linha de pensamento da Ana.

Aí vocês têm que levar em consideração que eu não sei muito sobre a criação sob o ponto de vista bíblico. Na verdade, eu não sei muito sobre a criação do mundo sob nenhum ponto de vista, e vamos em frente. Portanto, não venham me xingar se eu falar alguma coisa que soe herética ou que esteja errada. Falo aqui na posição de leigo, com o chutômetro ligado no máximo.

Deus acha que o livre arbítrio foi um erro?

Pois bem, estava lá Deus, em seu estado de ser incriado, existente desde não se sabe quando, desde o infinito negativo do tempo, e, cansado de estar tão só com a sua onipresença, resolveu criar um planetinha, botar uns bichos nele e se divertir um pouco com a sua criação.

Depois de alguns dias, viu que não tinha muita graça só ficar vendo os animais correndo pra lá e pra cá, comendo uns aos outros, mantendo a cadeia alimentar funcionando, e resolveu criar um bicho novo, o bicho homem. Mas esse bicho seria diferente: pra começar, ele seria capaz de bater uns papos cabeça com Deus. Mas, além disso, ele poderia escolher o que fazer da vida, poderia tomar decisões, não apenas seguir seus instintos animais. O resto da história a gente sabe, pagamos por isso até hoje, diz a Bíblia.

Teria sido o livre arbítrio uma má idéia de Deus? A primeira resposta é não, pois afinal Deus é perfeito e alguém perfeito não pode criar algo errado. Mas não é isso que Ana quer saber de mim.

Pois bem, já por uma vez Deus não gostou dos rumos que as coisas tinham tomado, resolveu então salvar só alguns e mandar tudo por água abaixo, literalmente. Lá veio o dilúvio e começou tudo de novo, com a correção de alguns erros. Mas o livre arbítrio foi mantido. Logo, pode-se concluir que o próprio Deus não achou que a criação desta faculdade humana tinha sido um erro. Ele estava gostando disso e quis manter a brincadeira.

A seguir: considerações sobre a maldade humana.

Matando Pedreiros

Desde pequeno, Fernando sempre teve vontade de reformar a casa de seu pai. Sempre ouvira ele dizendo que, mais cedo ou mais tarde, iria fazer a tão esperada reforma e colocar laje na casa onde moravam. O tempo passou e Fernando cresceu, arranjou um emprego e estava ganhando um bom dinheiro, quando resolveu então tomar a frente dos planos e tocar a obra.

Já estavam começando a fazer plantas e juntar idéias, quando as engrenagens da vida se mexeram e ele perdeu o seu pai, vendo-se obrigado a ter que resolver tudo sozinho. As semanas passaram e ele finalmente conseguiu um pedreiro para trabalhar pra ele. Marcaram então um dia para que o homem fosse à sua casa para dar-lhe as primeiras orientações.

Mas ele não apareceu. Fernando ficou desapontado e no dia seguinte ligou para o obreiro. Tristemente ficou sabendo que ele tinha sofrido um acidente na obra em que estava trabalhando: caíra do terceiro andar, partira o pescoço e escafedera-se para o outro lado da vida.

Partiu então à procura de outro pedreiro, e depois de um par de semanas finalmente teve a indicação de alguém que seria um bom sujeito para realizar seus planos. Entrou em contato com o cara e marcaram uma visita à sua casa para darem uma olhada e fazerem os primeiros planos para a obra.

Mas, tramóias do destino ou coincidência, o homem não compareceu, deixando Fernando ainda mais insatisfeito. Praguejou a noite toda até conseguir ir dormir. No dia seguinte, logo pela manhã, deu um jeito de descobrir o endereço do pedreiro e foi até a casa dele. Foi até lá e deu de cara com um velório: o cara tinha sofrido um acidente e morrera na noite anterior.

Um pouco assustado com a trágica coincidência, foi embora e começou a pensar em como conseguir mais um pedreiro para fazer a tão sonhada obra.

Entrou em contato com alguns amigos e conseguiu um novo candidato a trabalhador braçal. Ligou, conversou, marcou uma visita e esperou. Como o pedreiro não apareceu, já ligou com medo e suas idéias tornaram-se realidade. Um atropelamento ceifara a vida de mais um.

E assim foi com o quarto e quinto pedreiros com quem ele marcou: agendavam uma visita e o homem morria, sempre em condições trágicas. Foi tanta coincidência que a coisa caiu na boca do povo, e mais ninguém queria pegar o serviço da casa de Fernando. Todos conheciam-no como o assassino de pedreiros. Ninguém nem mesmo queria ouvir a história dele, simplesmente diziam que estavam ocupados com outras obras e não podiam pegar a dele para fazer.

Desgostoso e assustado, desistiu da reforma. Arranjou um comprador, vendeu, e com o dinheiro que conseguiu, mais as economias que tinha para fazer a obra, comprou uma casa nova em outra cidade, para evitar quaisquer problemas.

Mas não estava a salvo. A casa nova, logo depois de alguns meses, mostrou-se uma furada, pois estava cheia de problemas. Mesmo com medo do que poderia acontecer, conversou com um pedreiro para fazer os consertos, e nem marcou dia para irem à sua casa: foram na hora mesmo. Pegou o carro, enfiou o pedreiro dentro e foram para sua casa. Passando perto de uma favela, uma bala perdida atingiu o carona, que morreu ali mesmo, dentro do carro de Fernando.

Convencido de que carregava consigo alguma maldição que o impediria de contratar o serviço de qualquer pedreiro, resolveu aprender a fazer obras. Nos finais de semana servia de servente de pedreiro em várias obras espalhadas pela cidade. Aprendeu como virar massa, a colocar um tijolo, que materiais comprar, descobriu os segredos de uma boa laje e depois de alguns meses se julgou apto a consertar a sua casa.

Fez alguns planos, projetos, calculou custos, comprou material e ferramentas e então, quando foi dar a primeira marretada para quebrar uma parede, a escada escorregou, ele caiu no chão, tendo tempo apenas de ver a marreta caindo em direção seu rosto.

O feitiço virara contra o feiticeiro.

Esta crônica foi baseada em fatos reais. Ando às voltas com preparações para início das obras de minha casa e, apesar de nenhum pedreiro ter morrido, o primeiro teve problemas de saúde e o segundo sofreu um acidente de trabalho. Felizmente, o ferimento deste sarou em pouco tempo e já estamos começando os primeiros cuidados para a obra finalmente começar. Só espero que eu não sofra um acidente quando a coisa começar.

Onze Minutos - Paulo Coelho - Parte Final

Será que eu consigo terminar de falar do livro? Não disse que o livro era bom? É bom encontrar livros como esse, que fazem você avaliar um pouco o seu jeito de ser. Não precisa ser um livro que mude o seu modo de agir. Basta apenas que ele te permita avaliar o seu modo. Nem que seja pra no final das contas você falar para si mesmo que realmente estava com a razão desde o princípio e que o livro tá querendo ensinar uma grande besteira, e coitado de quem aprender com ele ao invés de aprender com você como é que se vive, porque é você quem sabe das coisas.

Mas, enfim, Maria vence o medo, põe a cara e a coragem na mala e parte pra Suíça, pra quebrar a cara e se foder de vez. Literalmente.

Não sei se a decisão da Maria é a parte real da história, mas parece. A gente sabe que tem muita puta que é o que é porque não tem outra opção de vida, porque já se ferrou muito e tem que arranjar um dinheiro para poder se virar e voltar para casa.

(Isso me lembra a piada da menina do interior que depois de morar alguns anos na cidade grande entrou no ônibus de volta para Mambarés do Sertão, sentou do lado de um rapaz e falou, "enfim juntos". O rapaz se espantou e disse que nem a conhecia. Aí ela explicou que estava falando de seus joelhos...)

Nunca entrei num puteiro nem nunca conversei com uma prostituta, mas tomar uma decisão destas deve ser algo humilhante. É fácil falar que não, que é mole, que elas são é safadas mesmo, mas isso é quando a gente não tem alguém conhecido ou alguma parenta fazendo isso. Não estou dizendo que eu tenha alguma conhecida, já disse que não conheço nenhuma puta, mas não consigo deixar de pensar em como iria reagir se um dia minha prima Vanessa entrasse aqui em casa e dissesse pra gente que ia ser profissional do sexo. É complicado.

Diz Maria que pra ela isso foi humilhante só no começo, que depois ela acaba se desligando e o trabalho vira rotina, onde ela desempenha papéis para homens que às vezes nem querem sexo, querem apenas um ombro para chorar ou um ouvido para ouvir as suas mazelas e esquecer tudo depois. Será que funciona assim mesmo? Será que não se sente humilhada uma garota que sonhava em ter uma boa família, em ter seus filhos, e vê seus sonhos se desmoronarem quando ela é obrigada a dar por dinheiro? Acho que não. Claro que devem haver algumas muitas que estão lá porque gostam mesmo, porque são loucas, sei lá, mas também devem haver muitas que cada dia seja mais uma humilhação.

Pena não poder ir mais adiante, porque senão eu estragaria o final do livro, então termino aqui recomendando veementemente a leitura, nem que seja pelo menos para que vocês entendam o que significam os onze minutos.

Onze Minutos - Paulo Coelho

Maria. Tudo em Onze Minutos gira em torno de Maria. O livro é a história dela. Garota do interior, cidadezinha da roça mesmo, Maria resolve ver a cidade grande, ver a vida "lá fora" e vai pro Rio de Janeiro. Admirando a beleza do mar conhece um estrangeiro que promete a ela trabalho na Europa, como atriz. Decidida a aproveitar a vida ao máximo, ela aceita a proposta e embarca rumo à Suíça.

Um dia basta para ver que o sonho não era o que parecia ser, e ela se vê dançando em uma boate. Resolve sair de lá e, para poder ganhar dinheiro e voltar para o Brasil, acaba se rendendo à prostituição, vida em que promete a si mesma durar só um ano.

Depois do final livro, meio que como um making of, Paulo Coelho explica que o livro foi baseado em fatos reais, na história de uma verdadeira Maria, mas que enfiou na narrativa muitas outras histórias e detalhes que não fazem parte do original.

Verdade ou não, Onze Minutos é uma ótima viagem e um desafio ao que pensamos de nós mesmos.

Logo nas primeiras páginas somos postos defronte o inoxidável drama de sempre desejar passar por uma porta, e quando ela finalmente se abre, a gente se borra de medo, vira as costas, sai correndo, e passa o resto da vida lamentando a besteira. Quem nunca passou por isso? Lembro de quantas vezes eu morria de vontade de falar com alguma garota e então, quando finalmente tinha a oportunidade, a timidez vencia, eu enfiava o rabo entre as pernas e saía de fininho. Tanto é que até hoje tenho certeza de que se eu tivesse beijado Josiane naquela noite ela teria retribuído. Mas pelo menos eu aprendi, e da última vez rolou um interesse não perdi tempo e comecei a namorar a Sueli em pouco tempo.

Voltando ao livro, Maria nos leva a outro drama: enfrentar o mundo ou ficar em casa? Enfrentar ou se entregar? Aceitar ou questionar? Eu admito que tenho medo. Tenho dificuldades em me ver fora de Cachoeiras, longe da minha terra, das ruas que conheço tão bem. Não me vejo fazendo as malas e indo morar longe, em outra cidade, uma cidade grande, uma Niterói, um Rio de Janeiro. Pra alguns pode parecer simples, mas pra mim é um ato de coragem, uma coragem que não sei se tenho. Não vou ficar entregando demais o livro, mas não posso deixar de comentar que a Maria foi corajosa em dobro: primeiro quando saiu de casa e foi para o Rio de Janeiro, depois quando largou o Rio de Janeiro e foi para a Suíça.

Meu amigo Jonathan fez isso. Ele e a namorada arrumaram as trouxas e foram pros Estados Unidos há quatro anos. Já voltaram, ficaram por lá só um ano, mas é muita coragem. Vai dizer que não tem que ter coragem. Muita!

Bem, mas eu não sou muito sensato. Mesmo sem coragem, acho que faria algumas loucuras assim. Enquanto digito estas linhas, dizendo que tenho medo de arriscar, a pequena voz que me fala na cabeça sem parar está me lembrando que eu sou porra louca, e que teria sim o ânimo de viajar. Lembro então de Thiago, que falou que tinha vontade de ir morar fora, morar sozinho, morar em república, o diabo a quatro, pra aprender a viver. Tá certo ele.

Ah, quer saber, eu teria coragem, sim. Acho que o medo que tenho vem da vergonha de quebrar a cara, que eu sei que quebraria. Não digo quebrar no sentido de não realizar os sonhos e ter que voltar de mãos abanando, mas é que eu não tenho muito molejo pras coisas do dia a dia, isso de cuidar de casa, de dar um jeito nas coisas. Eu sou meio estabanado, sabiam? Pois é, aí que eu já fico com vergonha das merdas que vou aprontar mesmo antes de aprontá-las. Mas vamos botar um ponto final nisso: se me chamassem para partir numa viagem tresloucada eu iria sim. Pediria um tempo para me preparar, tomar um fôlego, mas mergulharia de cabeça, porque, meu povo, a vida é uma só, a vida é minha, e quero fazer dela o melhor que eu puder.

Amanhã... mais comentários sobre o livro: arrependimento e vida de puta

Pra Galera da Estácio

De acordo com as informações do contador de visitas, a média de page views do Sarcófago caiu de volta para a média de 80 por dia, o que significa que o pessoal da Estácio não está vindo mais pegar as matérias que estou colocando, o que significa que as provas finais já acabaram, o que significa que eu posso tirar os arquivos do servidor, o que significa que acabou a mamata.

E quando digo que acabou, é que acabou mesmo. No semestre que vem eu não vou mais colocar as matérias aqui no site. Talvez até ponha uma ou outra coisa que eu venha a escrever, mas não posso mais perder meu tempo com isso.

Não quero que ninguém fique pensando que estou querendo fazer alguma sacanagem, mas sei que um ou outro vai aparecer para me cobrar. Vai ser a mesma coisa de quando um site da internet começa a cobrar pelos serviços. "Pô, que sacanagem, antes eles davam de graça agora querem cobrar pra fuder com a gente, viciaram pra depois explorar". Mas tem que ser assim, tenho que parar com isso.

Pois é, eu gostava de ajudar sim, mas minha vida mudou muito este ano. Logo no início do semestre, bem ali em março, aconteceram uns rolos que me fizeram rever muitas coisas, tanto que quase parei de colocar os arquivos naquela época mesmo. Mas como achei que seria muita sacanagem com a galera, resolvi fazer um esforço extra e continuar até o final do semestre.

Portanto, fiquem avisados, semestre que vem não tem mamata no Sarcófago. Nem mesmo pros professores que deixavam de copiar tabelas no quadro e deixavam eu fotografar os livros.

Assassinatos na Academia Brasileira de Letras - Jô Soares

Quando comecei a ler o novo livro do Jô achei que toparia com algo parecido com O Homem que Matou Getúlio Vargas, mas me enganei. Apesar de também misturar verdade com ficção de um jeito que você fica sem saber ao certo onde uma começa e a outra termina, Assassinatos não tem o humor do outro livro.

Mas não é ruim, deixemos isso claro desde já. É uma história bem muito bem contada, que é divertida, mas não engraçada, e cheia de mistérios e reviravoltas.

Ambientado na década de 20, o livro narra as aventuras e desventuras do detetive Machado Machado na investigação dos Crimes do Penacho, como ficam conhecidos os tais assassinatos na Academia. Tudo começa quando um certo marmanjo escreve um livro chamado Assassinatos na Academia Brasileira de Letras e, graças a ele, consegue uma posição entre os imortais.

Aclamado pelo público e pela crítica, no dia da posse, na hora do discurso, ele cai morto. Um par de dias depois, durante o seu enterro, outro imortal morre. Dias depois outro. Então, Machado Machado, que não acredita em coincidências, resolve investigar o caso, onde todos são suspeitos: uma marquesa que trai o marido, um marido traído, um político corrupto, um padre e até mesmo um alfaiate anão, entre muitos outros.

No desenrolar da história, com a ajuda de um amigo, Machado Machado acaba descobrindo que o que está matando os imortais é um tipo de veneno, que eles não sabem qual é e tampouco como é ministrado às vítimas. E daí até a solução do mistério, páginas correm deliciosamente.

Uma coisa que não gostei no livro é que Jô escreve frases em francês, inglês, espanhol, italiano, latim... e muitas vezes a gente fica boiando no sentido das coisas, porque ele não se dá o trabalho de traduzir tudo.

De qualquer maneira, é um livro assaz legal, que dá pra divertir bem com todas as suas tramóias.

Ensino Religioso

Um assunto que dá muito o que falar na esfera da educação fundamental no Brasil é a questão do ensino religioso nas escolas: ele deve ou não ser confessional? Ou seja, uma aula de ensino religioso deve ter como foco uma única religião?

É uma questão delicada. Lembro que quando eu ainda estava no primeiro grau, por dois ou três anos eu tive aulas de religião. Não eram aulas obrigatórias, e por isso mesmo muito pouco freqüentadas. Éramos menos de dez alunos vindos de uma turma de mais de trinta.

Nossa turma era a católica, e havia a dos protestantes, com dois a cinco alunos. Óbvio, isso foi antes da explosão do neopentecostalismo evangélico dos últimos anos. Mas, enfim, haviam duas turmas, que somadas não contavam a metade da turma normal.

De lá pra cá, a religião se tornou muito mais presente na vida das pessoas, e vem à cena a discussão de como deve funcionar o ensino religioso em nossas escolas.

A primeira discussão possível - a de que as escolas deveriam ter ensino religioso ou não - é praticamente assunto resolvido: a presença desta cadeira nos currículos escolares é de suma importância, dado que o papel da escola é, também, de formadora de gente que pensa.

Daí, havendo acordo sobre isso, a dúvida que realmente carece de resposta é sobre seus métodos. No seu papel de formadora de cidadãos, a escola deveria ter aulas de religião não-confessionais. Sendo obrigatórias ou não, estas aulas deveriam ter como objetivo apresentar aos alunos o universo religioso em que eles vivem, mostrando como são as grandes religiões.

Ensinar tudo sobre todas seria um esforço inútil; o ideal seria dar aos pequenos o conhecimento sobre os credos mais difundidos, com ênfase - sempre - na tolerância e no respeito que deve haver entre eles, com o diálogo sendo incentivado a todo momento.

Budismo, umbandismo, espiritismo, judaísmo, islamismo, cristianismo, e até mesmo o ateísmo deveriam ser abordados com respeito, seriedade e igualdade, para ensinar que a fé (ou a falta dela) transcende os "ismos". Outros pontos interessantes a serem abordados poderiam ser as influências que as religiões tiveram e têm no nosso mundo.

Claro que para isso dar certo, os professores deveriam ter competência e ética suficientes para não direcionar suas aulas com a intenção de converter os alunos, evitando o que se chama de proselitismo. Um aluno deveria ter uma nota baixa por ser intolerante, e não por que deixou de aceitar Jesus como seu salvador. Não haveria problema se o professor fosse ateu, islâmico ou rastafari, o que importaria seria a sua seriedade.

As aulas confessionais poderiam ter espaço, talvez, em escolas particulares, mas estas deveriam ser um ponto a mais no currículo, e não uma alternativa às aulas não-confessionais. Ou seja, a escola deveria ter o ensino religioso não-confessional e poderia, se quisesse, possibilitar algo a mais para seus alunos, assim como já fazem com aulas de idiomas, informática, esportes e afins.

O maior perigo da aula confessional seria a falta de uma conscientização de que o diálogo é importante, levando à criação de radicais mirins. Na verdade, creio que o lugar certo do ensino religioso confessional deva ser na própria instituição religiosa. Não são poucas as igrejas que têm escola dominical, grupos de estudo, encontros de jovens, células, palestras e coisas afins para inserir os fiéis em seu próprio mundo.

O grande ponto contra este tipo de ensino nas escolas é a grande quantidade de credos. Poderíamos convencionar o cristianismo como a religião das aulas, por ser a religião com mais seguidores no país, mas como lidar com todas as vertentes deste? Não dá para botar no mesmo balaio evangélicos, católicos, testemunhas de Jeová e mórmons. E não é tudo! Como ficariam as crianças de outros credos? Uma criança budista poderia se sentir excluída ou desprezada por não ter uma aula específica para ela.

Portanto, o ensino religioso não pode ser confessional, senão estaremos criando nossas crianças para serem intolerantes.

Fortaleza Digital - Daniel Brown

Primeiro livro do autor, Fortaleza Digital já traz todos os ingredientes que fizeram de Dan Brown o escritor queridinho das livrarias, com três livros lançados, todos na lista dos dez mais vendidos atualmente.

Era uma vez a NSA - National Security Agency. Uma agência super-ultra-mega-secreta dos Estados Unidos que tem um super-computador (o Transltr) capaz de quebrar qualquer código em questão de minutos. Interceptava e-mails, ligações telefônicas, e tudo o mais que fosse considerado perigoso para a segurança nacional. Com o uso da máquina, já tinha impedido muitos ataques terroristas.

Ensei Tankado, então um de seus funcionários, discordava das práticas intrusivas da agência e foi demitido por isso. Buscando vingança, criou um código inquebrável, o tal Fortaleza Digital, que fez o computador da NSA trabalhar por horas sem resultado. Como se não bastasse, enviou um ultimato à sua antiga empregadora: ou eles revelavam a existência do Transltr para o mundo ou ele leiloaria o código pela internet.

Havendo um código inquebrável, o computador da NSA tornava-se incapaz de decifrar todas as mensagens criptografadas, já que algumas estariam sob o Fortaleza Digital. Para proteger a própria vida, Ensei avisa mais: se, por qualquer motivo ele morresse, um cúmplice iria disponibilizar para todo o mundo o Fortaleza Digital, de modo que todas as mensagens criptografadas circulando no mundo seriam incompreensíveis para o Transltr, o que o aposentaria.

O problema é que Ensei está morto deste o primeiro minuto.

O chefe da agência, Strathmore, chama então sua funcionária mais tarimbada, Susan Fletcher para ajudá-lo na empreitada de descobrir como quebrar o código. Além disso, ele manda para a Espanha, em busca dos pertences de Ensei Tankado, David Becker, o namorado de Susan, que é um civil que não tem nada a ver com a agência.

O livro passa então a se desenrolar em três cenários diferentes: Strathmore e Susan na agência, tentando decifrar o código e descobrir quem é o cúmplice de Ensei; David Becker na Espanha tentando encontrar as coisas do japa; e o tal cúmplice negociando com uma empresa japonesa a venda do Fortaleza Digital.

Daí em diante é só adrenalina. Strathmore e Susan, trabalhando ocultos e desesperadamente para desfazer o problema sem que ele se torne público, ao mesmo tempo em que funcionários da agência começam a desconfiar de que algo errado está acontecendo. David sendo perseguido na Espanha por um assassino desconhecido. A negociação da venda do código caminhando a passos rápidos. É emocionante, não dá pra largar.

Não é o tipo de livro que dê para viajar com ele, no sentido de se colocar na pele dos personagens e entender suas ações, por que já está tudo explicado e esquadrinhado; não é um livro que a gente tire uma lição de moral ou outra; basta apenas seguir as linhas da história, mas vale muito como diversão. É daqueles livros que fazem as horas passagem sem que a gente perceba, e quando se dá conta o sol já se pôs.

Assim como aconteceu com o Código da Vinci, já começaram a pipocar títulos para discutir a veracidade dos fatos tratados no livro. E é aí que entra a única coisa que nos faz pensar. Já imaginou se existe de verdade uma agência, com um super-computador realmente capaz de decifrar todo e qualquer código? Por um lado isso é bom porque impede que planos malignos sejam levados adiante, mas como fica a vida do cidadão comum? Não seria isso invasão de privacidade?

E o que dizer de um funcionário mau intencionado que, num dia qualquer, resolvesse acessar contas bancárias? Ou então acessasse bancos de dados de operadoras de cartão de crédito, roubasse uns números, e fizesse umas compras? Maligna a coisa! Sendo a tal agência tão secreta assim, será que o governo iria confessar que foi de dentro dela que saíram os ataques aos bancos de dados das empresas e bancos? É arriscado que arranjasse um bode expiatório, de fora do governo, ou então que desse um bom calaboca para o povo e nada se resolvesse.

Devaneios, paranóias, preocupações e elucubrações à parte, Fortaleza Digital é uma ótima aventura e diversão garantida, com surpresas nos esperando a cada virada de página.

Mulher de Um Homem Só - Alex Castro

Alex Castro é um escritor que nunca foi publicado, mas que gosto bastante. Ele tem um site que é atualizado, geralmente, várias vezes por dia. Nem sempre concordo com o que escreve, mas é sempre tudo muito bem escrito. E, enquanto não encontra uma editora para publicar seu livro, ele disponibiliza gratuitamente o dito cujo para download.

Curioso, baixei o arquivo, imprimi e devorei as vinte e seis páginas em pouco tempo. No livro, Carla conta seus dramas pessoais no casamento com Murilo e as mais que freqüentes intromissões de Júlia, a melhor amiga de seu marido.

Por várias vezes vi momentos da minha vida refletidos em parte em suas páginas. Afinal, já colecionei algumas amigas nesta vida, e por várias vezes algumas namoradas reclamaram da presença delas. Fiquei imaginando se elas, as namoradas, não tinham os mesmos medos da Carla.

Carla, pensando que Júlia conhecia seu marido muito melhor que ela mesma, tinha medo de ofendê-la, imaginando que Murilo poderia ser influenciado pela amiga. Não estava tão errada assim: imagina se ela dá um chega-pra-lá na Júlia e a sacana vai lá encher o ouvido do cara. Por ser amiga de infância, Júlia poderia muito bem cutucar o Murilo de um jeito que ferisse os brios do cara, e aí coitada da Carla.

E, pra falar a verdade, acho que eu também teria um pouco daqueles medos se alguma namorada tivesse algum grande amigo de infância. Imagina, minha namorada com algum problema em casa, com alguma preocupação sobre o trabalho e, ao invés de conversar comigo, ir correndo para os braços de um amigo, chorar as mágoas? Ah, isso não daria certo, não.

Nada contra ter amigos, eles sempre são bem vindos, mas uma namorada tem que ser amiga também. A melhor amiga. Eu, por exemplo, tenho uma grande amiga, quase uma irmã pra mim, e sei que sou quase um irmão para ela. Quando a gente não tá namorando, sempre sai de noite, anda por aí, beberica umas cervejas, bate altos papos. É amizade pura mesmo, não rola tesão, não rola paixão. Mas sempre que um dos dois começa a namorar, o outro dá uma afastada naturalmente.

Mas voltando ao livro, apesar de concordar com as inseguranças de Carla, nada me tira da cabeça que ela agiu como uma babaca. Se não gostava da Júlia, por que não cortou logo de início aquele estorvo? Por que não chegou junto do Murilo e falou 'ó, essa mulher junto com a gente não vai dar certo, pó pará'? Porque era uma babaca. Você, minha querida leitora, deixaria uma moça ficar alugando seu marido a toda hora para chorar as dores? E ela ainda vem falar de carma. Carma, se é que isso existe, é coisa que a gente não tem como controlar, e a Carla tinha como dar um jeito na Júlia, nem que fosse metendo uma bala na jugular dela.

E o tal do Murilo, também, é outra besta que não soube lidar com a coisa. Será que o cara não tem o mínimo de semancol para notar que a coisa não ia dar certo? Pô, qualquer um percebe que um triângulo desses não tem futuro. Queria ver se fosse o contrário, com ele tendo que aturar um amigo da Carla. Com certeza o cara não iria gostar de ser rejeitado de noite, sob alegação de dor de cabeça, para minutos depois assistir uma hora e meia de telefonema com o grande amigo do peito. Então, concluímos, Murilo é o segundo grande imbecil da história.

Já a Júlia não me parece tão alienada quanto a Carla pintou. Poderia até ser um pouquinho desligada do que acontecia à sua volta, mas com certeza tinha plena noção de que o Murilo dava espaço pra ela, e que a Carla não tinha peito para bater de frente. Então se pendurava no pescoço do amigo sempre que precisava. Talvez quisesse dar pra ele, talvez já teria dado alguma vez, coisa que a Carla não conta, talvez por vergonha ou então por não saber mesmo, mas o que a Júlia poderia dar por certo é que o Murilo estava na palma da mão dela. E a Carla estava na outra. Poderia deixá-los juntos o tempo que quisesse, mas tinha o poder para separá-los a qualquer momento. Sonsa, sim, talvez, mas, com certeza, manipuladora ao extremo para conseguir o que quisesse, sempre.

É o tipo de gente com quem a gente sempre deve ter cuidado ao lidar. Vai pedindo um dedo todo dia, e sempre come mais meio-meio milímetro. A gente nem nota, e quando percebe já tá por inteiro na barriga do predador.

De resto, o livro é bom. Alex Castro empresta ótimas palavras para suas crias, como a idéia de mergulhar de apnéia em si mesmo. Genial. Fica aí a dica de uma leitura rápida e tranqüila. Um livro diferente de todos os que já li (não lembro de ter lido nenhum outro em primeira pessoa), e que, com certeza, vale a pena dar uma olhada.

A única coisa que não consegui entender até agora é como a Carla pôde escrever sua história se estava do jeito que estava quando a história acabou...

Com Bianca ao Telefone

Quando o telefone tocou, eu imaginei que fosse a Diana, querendo falar sobre as novidades que ela tinha visto na Bienal do Livro. Achei até que ela ia me falar que tinha encontrado o livro do Mário Marinato, mas não, não era. Apesar de ter ouvido aquela voz apenas algumas vezes, eu poderia reconhecê-la facilmente porque havia pouco tempo que tínhamos nos falado. Para meu desespero, era Bianca.

Apesar dos meus esforços para que ela não me descobrisse, dando telefone e nome errados, a maldita sapata conseguiu o meu telefone. Só poderia ser a maldita suíça recepcionista do hotel. Se eu soubesse, teria dado nome errado até mesmo na recepção. Mas, agora, com Bianca ao telefone, eu teria que arranjar outra desculpa para me livrar daquela fã de última hora.

Vou te falar, não trato homossexuais mal, mas não concordo que seja uma coisa certa ou aceitável ou concordável. Acho sim que isto é uma transgressão uma afronta às leis naturais, às leis de Deus. Você já viu uma galinha no rala e rola com outra? Ou uma ursa louca de paixão para dar para outra? Então, porque haveria de haver isto entre os humanos? Realmente, inaceitável.

Mas nada das minhas convicções adiantaria neste comento, com aquela carrapata na minha linha telefônica. Ângela - ela disse - Ângela, é você? Ela sabia que era eu. Sabia mesmo. Se eu tentasse argumentar, dizendo que ela tinha ligado para um outro número, e que ali não havia nenhuma Ângela, Bianca com certeza iria reconhecer a minha voz e dizer que eu estava de brincadeira com ela. Tive que me fazer de sonsa.

Enrolei um pouco até fazer que me lembrei que a tinha conhecido num hotel em Macaé, num dia do show do Makaloba, num dia em que fugi de casa para fingir que meus problemas não existiam. E acabei arranjando mais um. Quando Diana soubesse disso, com certeza iria me dar mais um dos seus sermões que pareciam de irmã mais velha: "se você não tivesse aquela atitude infantil de sumir do mapa se debandar para outra cidade e dormir quase que clandestina num hotel com alguém que você nem conhecia... nada disso teria acontecido, mas agora güenta.

E nisso ficamos conversando no telefone por mais de vinte minutos. Bianca querendo saber como eu estava, se poderia vir até a minha cidade - ela sabia onde eu morava -, se eu estava sozinha, se eu não tinha vontade de ir a outro show do Makaloba, coisa e tal.

Como a maldita recepcionista, pelo jeito, tinha repassado a mina ficha para a doidivana, eu não poderia simplesmente dar um passa fora nela, dando um coice daqueles, porque ela poderia resolver vir bater na minha porta. É certo que ela poderia bater na minha porta mesmo sem um coice, mas um pouco de diplomacia poderia me livrar daquele estorvo.

Tive que me fazer de chada. Ela disse que adorava Makaloba, e eu disse que odiei o show. Ela falou que viagens para lugares maravilhosos, até mesmo Ilha Grande, e eu me fiz de reclusa, que não gostava de passear. Quando finalmente tocou no assunto romance, lasquei todo o meu drama com o Marcelo, e inventei até mesmo um retorno lento do nosso relacionamento, já que nosso filho andava sofrendo muito. Filho que não tenho.

Até que ela desistiu. Sei que lá por onde ela vive ainda tem o meu telefone e o meu endereço, mas parece que vai esquecer de mim.

Tenho que trocar de telefone rápido.

Budapeste - Chico Buarque - Final

Bem, se não quiser ter a surpresa estragada, não leia este texto. Ao invés disso vá ler o livro, que é bom demais, e aí sim leia isto aqui. Quem já sabe o que acontece, por favor, compartilhe suas opiniões comigo, pois ainda estou tentando entender tudo.

Fico imaginando como a coisa realmente se desenrola. Seria Chico Buarque o tal Sr. Reticências que José Costa tanto cita na sua última estada em Budapeste? O desfecho dá a entender que alguém escreveu o Budapeste e o atribuiu a Zsoze Kósta, mas quem? O Chico, talvez?

As camadas do livro parecem recursivas. O José Costa, ao escrever o livro de Kaspar Krabbe, termina-o com a frase da "água suja", a mesma com que Chico fecha o livro, mas não foi Zsoze Kósta que o escreveu? Não, foi seu ghost-writer, o Chico. Mas como ele saberia dos últimos momentos do livro? É algo muito O Mundo de Sofia mesmo, porque você se confunde com a história, parecendo que você próprio é parte dela.

Outra coisa: se a história de José é fictícia, pelo menos até o ponto em que ele volta para Budapeste, o que ele estava fazendo no Brasil? Ainda mais sem dinheiro? Tudo indica que ele era realmente brasileiro, pois nas páginas finais vê-se que Kriska ensinou húngaro a José. Então, qual seria a verdadeira história dele? Será que nem Vanda nem Álvaro existiam?

Isso talvez explique a aparição dos Tercetos Secretos de Kocsis Ferenc (e a própria aparição dele) no início do livro, quando José e Vanda vão ao encontro onde Kocsis declama sua poesia, que seria escrita anos mais tarde por José, para ser então atribuída ao Kocsis. Ao que tudo leva a pensar, José realmente escreveu os Tercetos no seu anonimato, já na Hungria, dando os seus créditos ao escritor Húngaro.

Ainda vou passar um bom tempo tentando entender onde é que a vida real de José começa a aparecer no livro. Entende-se que o trabalho com Álvaro é ficção, o casamento com Vanda também, mas o encontro com Kriska na biblioteca pode ter sido real, e isso é bem no começo. No livro existe uma linha muito tênue entre a verdadeira história de José Costa e a ficção criada por seu ghost-writer, seja ele o Sr. Reticências ou Chico Buarque. E esta tênue linha Chico soube esconder muito bem.

Vai ver nem o Chico sabe onde ela está. Vai ver o Chico mandou um ghost-writer escrever Budapeste pra ele. Vai ver o ghost-writer se chame José Costa e viva em Budapeste. Ou então foi o Álvaro que armou tudo pra gente não descobrir que sua empresa realmente existe.

Vai ver eu pedi pra alguém escrever este texto pra mim.

Budapeste - Chico Buarque

Pela primeira vez fiz isso com um livro: li duas vezes seguidas, de uma tacada só, em menos de um mês. Mas foi preciso isso para sacar os detalhes que se escondem nas linhas de Budapeste. Pequeno, dá até pra ler num domingo de chuva. Legal mesmo.

Como se não bastasse criar uma história fácil de acompanhar, Chico ainda inventa de botar uma reviravolta nas últimas páginas que me deixaram atordoado da primeira vez. O que acontece é algo como O Sexto Sentido, onde nas cenas finais do filme todo o resto passa a fazer outro sentido.

José Costa é um ghost-writer, um escritor que escreve pros outros levarem a fama. Discursos políticos, trabalhos de faculdade, livros, matérias para jornais, tudo no anonimato. Um dia ele recebe um convite para ir a uma convenção mundial de ghost-writers e, na volta, é obrigado a passar uma noite em Budapeste.

De volta ao Brasil, aborrecimentos com a mulher e o sócio levam-no de volta a Budapeste. Lá, aborrecimentos levam-no de volta ao Brasil, onde aborrecimentos levam-no de volta a Budapeste, e ele fica nestas indas e vindas até que a reviravolta aconteça.

Na segunda lida vi que a reviravolta do livro lembra muito O Mundo de Sofia, que em sua metade exige um distanciamento da história para entender o que se passa, levando-nos ao ponto de duvidar de nós mesmos. Chega a ser Matrix.

Chico arrebentou nesse livro. Nele, há uma linha muito tênue entre ficção e realidade, a qual está muito bem escondida. Tanto pela leveza da escrita quanto pela capacidade de criar uma história tão cheia de camadas, seu Francisco está de parabéns. É o melhor livro do ano até aqui.

Em seguida... tentando entender Budapeste

Aventura Solo - Penúltima Parte

Você decide investigar cada canto do mosteiro, desde os quartos dos padres à biblioteca, mas desta vez acompanhado por pelo menos dois monges. Você fica no monastério durante quase uma semana sem encontrar nada.

Por alguma razão, você nunca consegue perguntar ou afirmar nada sobre Malcolm. Durante as investigações duas pessoas foram encontradas mortas na vila, mas não havia nenhuma pista. No final de semana os Inquisidores capturaram um viajante que carregava objetos demoníacos, como cartas de Tarô e runas: o herege foi queimado vivo como feiticeiro.

Após mais alguns dias de busca infrutífera, você retorna à sua cidade.

Depois de alguns dias de viagem, você volta para sua igreja. Não há nenhum lugar melhor do que seu lar mas, após suas novas experiências, você entra em seus aposentos assustado. A igreja agora parece assustadora. Porque eles construíam os tetos tão altos? Nunca conseguimos ver o que está acontecendo sobre nossas cabeças.

Depois de sua chegada, é hora de prestar depoimento sobre suas investigações. Você entra em uma sala fechada, com uma cadeira e tochas. Seis Inquisidores estão sentados à sua frente, esperando por suas respostas.

- E então, Jonathan? Como foram as investigações?

Você faz uma pausa para pensar. Se contar tudo o que viu, eles poderiam te ajuda-lo a livrar-se da tatuagem demoníaca. Poderiam atacar o mosteiro e destruir o demônio Malcolm. Você seria um herói entre os Inquisidores. Ou seria torturado e morto, por associar-se com demônios!

E daí? Vocês contam toda a verdade, contam só os fatos sobrenaturais, menos sobre Malcolm, ou preferem inventar uma história inofensiva? Pensem bem, esta última decisão pode levar vocês à fogueira!