Ensino Religioso

Um assunto que dá muito o que falar na esfera da educação fundamental no Brasil é a questão do ensino religioso nas escolas: ele deve ou não ser confessional? Ou seja, uma aula de ensino religioso deve ter como foco uma única religião?

É uma questão delicada. Lembro que quando eu ainda estava no primeiro grau, por dois ou três anos eu tive aulas de religião. Não eram aulas obrigatórias, e por isso mesmo muito pouco freqüentadas. Éramos menos de dez alunos vindos de uma turma de mais de trinta.

Nossa turma era a católica, e havia a dos protestantes, com dois a cinco alunos. Óbvio, isso foi antes da explosão do neopentecostalismo evangélico dos últimos anos. Mas, enfim, haviam duas turmas, que somadas não contavam a metade da turma normal.

De lá pra cá, a religião se tornou muito mais presente na vida das pessoas, e vem à cena a discussão de como deve funcionar o ensino religioso em nossas escolas.

A primeira discussão possível - a de que as escolas deveriam ter ensino religioso ou não - é praticamente assunto resolvido: a presença desta cadeira nos currículos escolares é de suma importância, dado que o papel da escola é, também, de formadora de gente que pensa.

Daí, havendo acordo sobre isso, a dúvida que realmente carece de resposta é sobre seus métodos. No seu papel de formadora de cidadãos, a escola deveria ter aulas de religião não-confessionais. Sendo obrigatórias ou não, estas aulas deveriam ter como objetivo apresentar aos alunos o universo religioso em que eles vivem, mostrando como são as grandes religiões.

Ensinar tudo sobre todas seria um esforço inútil; o ideal seria dar aos pequenos o conhecimento sobre os credos mais difundidos, com ênfase - sempre - na tolerância e no respeito que deve haver entre eles, com o diálogo sendo incentivado a todo momento.

Budismo, umbandismo, espiritismo, judaísmo, islamismo, cristianismo, e até mesmo o ateísmo deveriam ser abordados com respeito, seriedade e igualdade, para ensinar que a fé (ou a falta dela) transcende os "ismos". Outros pontos interessantes a serem abordados poderiam ser as influências que as religiões tiveram e têm no nosso mundo.

Claro que para isso dar certo, os professores deveriam ter competência e ética suficientes para não direcionar suas aulas com a intenção de converter os alunos, evitando o que se chama de proselitismo. Um aluno deveria ter uma nota baixa por ser intolerante, e não por que deixou de aceitar Jesus como seu salvador. Não haveria problema se o professor fosse ateu, islâmico ou rastafari, o que importaria seria a sua seriedade.

As aulas confessionais poderiam ter espaço, talvez, em escolas particulares, mas estas deveriam ser um ponto a mais no currículo, e não uma alternativa às aulas não-confessionais. Ou seja, a escola deveria ter o ensino religioso não-confessional e poderia, se quisesse, possibilitar algo a mais para seus alunos, assim como já fazem com aulas de idiomas, informática, esportes e afins.

O maior perigo da aula confessional seria a falta de uma conscientização de que o diálogo é importante, levando à criação de radicais mirins. Na verdade, creio que o lugar certo do ensino religioso confessional deva ser na própria instituição religiosa. Não são poucas as igrejas que têm escola dominical, grupos de estudo, encontros de jovens, células, palestras e coisas afins para inserir os fiéis em seu próprio mundo.

O grande ponto contra este tipo de ensino nas escolas é a grande quantidade de credos. Poderíamos convencionar o cristianismo como a religião das aulas, por ser a religião com mais seguidores no país, mas como lidar com todas as vertentes deste? Não dá para botar no mesmo balaio evangélicos, católicos, testemunhas de Jeová e mórmons. E não é tudo! Como ficariam as crianças de outros credos? Uma criança budista poderia se sentir excluída ou desprezada por não ter uma aula específica para ela.

Portanto, o ensino religioso não pode ser confessional, senão estaremos criando nossas crianças para serem intolerantes.

Fortaleza Digital - Daniel Brown

Primeiro livro do autor, Fortaleza Digital já traz todos os ingredientes que fizeram de Dan Brown o escritor queridinho das livrarias, com três livros lançados, todos na lista dos dez mais vendidos atualmente.

Era uma vez a NSA - National Security Agency. Uma agência super-ultra-mega-secreta dos Estados Unidos que tem um super-computador (o Transltr) capaz de quebrar qualquer código em questão de minutos. Interceptava e-mails, ligações telefônicas, e tudo o mais que fosse considerado perigoso para a segurança nacional. Com o uso da máquina, já tinha impedido muitos ataques terroristas.

Ensei Tankado, então um de seus funcionários, discordava das práticas intrusivas da agência e foi demitido por isso. Buscando vingança, criou um código inquebrável, o tal Fortaleza Digital, que fez o computador da NSA trabalhar por horas sem resultado. Como se não bastasse, enviou um ultimato à sua antiga empregadora: ou eles revelavam a existência do Transltr para o mundo ou ele leiloaria o código pela internet.

Havendo um código inquebrável, o computador da NSA tornava-se incapaz de decifrar todas as mensagens criptografadas, já que algumas estariam sob o Fortaleza Digital. Para proteger a própria vida, Ensei avisa mais: se, por qualquer motivo ele morresse, um cúmplice iria disponibilizar para todo o mundo o Fortaleza Digital, de modo que todas as mensagens criptografadas circulando no mundo seriam incompreensíveis para o Transltr, o que o aposentaria.

O problema é que Ensei está morto deste o primeiro minuto.

O chefe da agência, Strathmore, chama então sua funcionária mais tarimbada, Susan Fletcher para ajudá-lo na empreitada de descobrir como quebrar o código. Além disso, ele manda para a Espanha, em busca dos pertences de Ensei Tankado, David Becker, o namorado de Susan, que é um civil que não tem nada a ver com a agência.

O livro passa então a se desenrolar em três cenários diferentes: Strathmore e Susan na agência, tentando decifrar o código e descobrir quem é o cúmplice de Ensei; David Becker na Espanha tentando encontrar as coisas do japa; e o tal cúmplice negociando com uma empresa japonesa a venda do Fortaleza Digital.

Daí em diante é só adrenalina. Strathmore e Susan, trabalhando ocultos e desesperadamente para desfazer o problema sem que ele se torne público, ao mesmo tempo em que funcionários da agência começam a desconfiar de que algo errado está acontecendo. David sendo perseguido na Espanha por um assassino desconhecido. A negociação da venda do código caminhando a passos rápidos. É emocionante, não dá pra largar.

Não é o tipo de livro que dê para viajar com ele, no sentido de se colocar na pele dos personagens e entender suas ações, por que já está tudo explicado e esquadrinhado; não é um livro que a gente tire uma lição de moral ou outra; basta apenas seguir as linhas da história, mas vale muito como diversão. É daqueles livros que fazem as horas passagem sem que a gente perceba, e quando se dá conta o sol já se pôs.

Assim como aconteceu com o Código da Vinci, já começaram a pipocar títulos para discutir a veracidade dos fatos tratados no livro. E é aí que entra a única coisa que nos faz pensar. Já imaginou se existe de verdade uma agência, com um super-computador realmente capaz de decifrar todo e qualquer código? Por um lado isso é bom porque impede que planos malignos sejam levados adiante, mas como fica a vida do cidadão comum? Não seria isso invasão de privacidade?

E o que dizer de um funcionário mau intencionado que, num dia qualquer, resolvesse acessar contas bancárias? Ou então acessasse bancos de dados de operadoras de cartão de crédito, roubasse uns números, e fizesse umas compras? Maligna a coisa! Sendo a tal agência tão secreta assim, será que o governo iria confessar que foi de dentro dela que saíram os ataques aos bancos de dados das empresas e bancos? É arriscado que arranjasse um bode expiatório, de fora do governo, ou então que desse um bom calaboca para o povo e nada se resolvesse.

Devaneios, paranóias, preocupações e elucubrações à parte, Fortaleza Digital é uma ótima aventura e diversão garantida, com surpresas nos esperando a cada virada de página.

Mulher de Um Homem Só - Alex Castro

Alex Castro é um escritor que nunca foi publicado, mas que gosto bastante. Ele tem um site que é atualizado, geralmente, várias vezes por dia. Nem sempre concordo com o que escreve, mas é sempre tudo muito bem escrito. E, enquanto não encontra uma editora para publicar seu livro, ele disponibiliza gratuitamente o dito cujo para download.

Curioso, baixei o arquivo, imprimi e devorei as vinte e seis páginas em pouco tempo. No livro, Carla conta seus dramas pessoais no casamento com Murilo e as mais que freqüentes intromissões de Júlia, a melhor amiga de seu marido.

Por várias vezes vi momentos da minha vida refletidos em parte em suas páginas. Afinal, já colecionei algumas amigas nesta vida, e por várias vezes algumas namoradas reclamaram da presença delas. Fiquei imaginando se elas, as namoradas, não tinham os mesmos medos da Carla.

Carla, pensando que Júlia conhecia seu marido muito melhor que ela mesma, tinha medo de ofendê-la, imaginando que Murilo poderia ser influenciado pela amiga. Não estava tão errada assim: imagina se ela dá um chega-pra-lá na Júlia e a sacana vai lá encher o ouvido do cara. Por ser amiga de infância, Júlia poderia muito bem cutucar o Murilo de um jeito que ferisse os brios do cara, e aí coitada da Carla.

E, pra falar a verdade, acho que eu também teria um pouco daqueles medos se alguma namorada tivesse algum grande amigo de infância. Imagina, minha namorada com algum problema em casa, com alguma preocupação sobre o trabalho e, ao invés de conversar comigo, ir correndo para os braços de um amigo, chorar as mágoas? Ah, isso não daria certo, não.

Nada contra ter amigos, eles sempre são bem vindos, mas uma namorada tem que ser amiga também. A melhor amiga. Eu, por exemplo, tenho uma grande amiga, quase uma irmã pra mim, e sei que sou quase um irmão para ela. Quando a gente não tá namorando, sempre sai de noite, anda por aí, beberica umas cervejas, bate altos papos. É amizade pura mesmo, não rola tesão, não rola paixão. Mas sempre que um dos dois começa a namorar, o outro dá uma afastada naturalmente.

Mas voltando ao livro, apesar de concordar com as inseguranças de Carla, nada me tira da cabeça que ela agiu como uma babaca. Se não gostava da Júlia, por que não cortou logo de início aquele estorvo? Por que não chegou junto do Murilo e falou 'ó, essa mulher junto com a gente não vai dar certo, pó pará'? Porque era uma babaca. Você, minha querida leitora, deixaria uma moça ficar alugando seu marido a toda hora para chorar as dores? E ela ainda vem falar de carma. Carma, se é que isso existe, é coisa que a gente não tem como controlar, e a Carla tinha como dar um jeito na Júlia, nem que fosse metendo uma bala na jugular dela.

E o tal do Murilo, também, é outra besta que não soube lidar com a coisa. Será que o cara não tem o mínimo de semancol para notar que a coisa não ia dar certo? Pô, qualquer um percebe que um triângulo desses não tem futuro. Queria ver se fosse o contrário, com ele tendo que aturar um amigo da Carla. Com certeza o cara não iria gostar de ser rejeitado de noite, sob alegação de dor de cabeça, para minutos depois assistir uma hora e meia de telefonema com o grande amigo do peito. Então, concluímos, Murilo é o segundo grande imbecil da história.

Já a Júlia não me parece tão alienada quanto a Carla pintou. Poderia até ser um pouquinho desligada do que acontecia à sua volta, mas com certeza tinha plena noção de que o Murilo dava espaço pra ela, e que a Carla não tinha peito para bater de frente. Então se pendurava no pescoço do amigo sempre que precisava. Talvez quisesse dar pra ele, talvez já teria dado alguma vez, coisa que a Carla não conta, talvez por vergonha ou então por não saber mesmo, mas o que a Júlia poderia dar por certo é que o Murilo estava na palma da mão dela. E a Carla estava na outra. Poderia deixá-los juntos o tempo que quisesse, mas tinha o poder para separá-los a qualquer momento. Sonsa, sim, talvez, mas, com certeza, manipuladora ao extremo para conseguir o que quisesse, sempre.

É o tipo de gente com quem a gente sempre deve ter cuidado ao lidar. Vai pedindo um dedo todo dia, e sempre come mais meio-meio milímetro. A gente nem nota, e quando percebe já tá por inteiro na barriga do predador.

De resto, o livro é bom. Alex Castro empresta ótimas palavras para suas crias, como a idéia de mergulhar de apnéia em si mesmo. Genial. Fica aí a dica de uma leitura rápida e tranqüila. Um livro diferente de todos os que já li (não lembro de ter lido nenhum outro em primeira pessoa), e que, com certeza, vale a pena dar uma olhada.

A única coisa que não consegui entender até agora é como a Carla pôde escrever sua história se estava do jeito que estava quando a história acabou...

Com Bianca ao Telefone

Quando o telefone tocou, eu imaginei que fosse a Diana, querendo falar sobre as novidades que ela tinha visto na Bienal do Livro. Achei até que ela ia me falar que tinha encontrado o livro do Mário Marinato, mas não, não era. Apesar de ter ouvido aquela voz apenas algumas vezes, eu poderia reconhecê-la facilmente porque havia pouco tempo que tínhamos nos falado. Para meu desespero, era Bianca.

Apesar dos meus esforços para que ela não me descobrisse, dando telefone e nome errados, a maldita sapata conseguiu o meu telefone. Só poderia ser a maldita suíça recepcionista do hotel. Se eu soubesse, teria dado nome errado até mesmo na recepção. Mas, agora, com Bianca ao telefone, eu teria que arranjar outra desculpa para me livrar daquela fã de última hora.

Vou te falar, não trato homossexuais mal, mas não concordo que seja uma coisa certa ou aceitável ou concordável. Acho sim que isto é uma transgressão uma afronta às leis naturais, às leis de Deus. Você já viu uma galinha no rala e rola com outra? Ou uma ursa louca de paixão para dar para outra? Então, porque haveria de haver isto entre os humanos? Realmente, inaceitável.

Mas nada das minhas convicções adiantaria neste comento, com aquela carrapata na minha linha telefônica. Ângela - ela disse - Ângela, é você? Ela sabia que era eu. Sabia mesmo. Se eu tentasse argumentar, dizendo que ela tinha ligado para um outro número, e que ali não havia nenhuma Ângela, Bianca com certeza iria reconhecer a minha voz e dizer que eu estava de brincadeira com ela. Tive que me fazer de sonsa.

Enrolei um pouco até fazer que me lembrei que a tinha conhecido num hotel em Macaé, num dia do show do Makaloba, num dia em que fugi de casa para fingir que meus problemas não existiam. E acabei arranjando mais um. Quando Diana soubesse disso, com certeza iria me dar mais um dos seus sermões que pareciam de irmã mais velha: "se você não tivesse aquela atitude infantil de sumir do mapa se debandar para outra cidade e dormir quase que clandestina num hotel com alguém que você nem conhecia... nada disso teria acontecido, mas agora güenta.

E nisso ficamos conversando no telefone por mais de vinte minutos. Bianca querendo saber como eu estava, se poderia vir até a minha cidade - ela sabia onde eu morava -, se eu estava sozinha, se eu não tinha vontade de ir a outro show do Makaloba, coisa e tal.

Como a maldita recepcionista, pelo jeito, tinha repassado a mina ficha para a doidivana, eu não poderia simplesmente dar um passa fora nela, dando um coice daqueles, porque ela poderia resolver vir bater na minha porta. É certo que ela poderia bater na minha porta mesmo sem um coice, mas um pouco de diplomacia poderia me livrar daquele estorvo.

Tive que me fazer de chada. Ela disse que adorava Makaloba, e eu disse que odiei o show. Ela falou que viagens para lugares maravilhosos, até mesmo Ilha Grande, e eu me fiz de reclusa, que não gostava de passear. Quando finalmente tocou no assunto romance, lasquei todo o meu drama com o Marcelo, e inventei até mesmo um retorno lento do nosso relacionamento, já que nosso filho andava sofrendo muito. Filho que não tenho.

Até que ela desistiu. Sei que lá por onde ela vive ainda tem o meu telefone e o meu endereço, mas parece que vai esquecer de mim.

Tenho que trocar de telefone rápido.

Budapeste - Chico Buarque - Final

Bem, se não quiser ter a surpresa estragada, não leia este texto. Ao invés disso vá ler o livro, que é bom demais, e aí sim leia isto aqui. Quem já sabe o que acontece, por favor, compartilhe suas opiniões comigo, pois ainda estou tentando entender tudo.

Fico imaginando como a coisa realmente se desenrola. Seria Chico Buarque o tal Sr. Reticências que José Costa tanto cita na sua última estada em Budapeste? O desfecho dá a entender que alguém escreveu o Budapeste e o atribuiu a Zsoze Kósta, mas quem? O Chico, talvez?

As camadas do livro parecem recursivas. O José Costa, ao escrever o livro de Kaspar Krabbe, termina-o com a frase da "água suja", a mesma com que Chico fecha o livro, mas não foi Zsoze Kósta que o escreveu? Não, foi seu ghost-writer, o Chico. Mas como ele saberia dos últimos momentos do livro? É algo muito O Mundo de Sofia mesmo, porque você se confunde com a história, parecendo que você próprio é parte dela.

Outra coisa: se a história de José é fictícia, pelo menos até o ponto em que ele volta para Budapeste, o que ele estava fazendo no Brasil? Ainda mais sem dinheiro? Tudo indica que ele era realmente brasileiro, pois nas páginas finais vê-se que Kriska ensinou húngaro a José. Então, qual seria a verdadeira história dele? Será que nem Vanda nem Álvaro existiam?

Isso talvez explique a aparição dos Tercetos Secretos de Kocsis Ferenc (e a própria aparição dele) no início do livro, quando José e Vanda vão ao encontro onde Kocsis declama sua poesia, que seria escrita anos mais tarde por José, para ser então atribuída ao Kocsis. Ao que tudo leva a pensar, José realmente escreveu os Tercetos no seu anonimato, já na Hungria, dando os seus créditos ao escritor Húngaro.

Ainda vou passar um bom tempo tentando entender onde é que a vida real de José começa a aparecer no livro. Entende-se que o trabalho com Álvaro é ficção, o casamento com Vanda também, mas o encontro com Kriska na biblioteca pode ter sido real, e isso é bem no começo. No livro existe uma linha muito tênue entre a verdadeira história de José Costa e a ficção criada por seu ghost-writer, seja ele o Sr. Reticências ou Chico Buarque. E esta tênue linha Chico soube esconder muito bem.

Vai ver nem o Chico sabe onde ela está. Vai ver o Chico mandou um ghost-writer escrever Budapeste pra ele. Vai ver o ghost-writer se chame José Costa e viva em Budapeste. Ou então foi o Álvaro que armou tudo pra gente não descobrir que sua empresa realmente existe.

Vai ver eu pedi pra alguém escrever este texto pra mim.

Budapeste - Chico Buarque

Pela primeira vez fiz isso com um livro: li duas vezes seguidas, de uma tacada só, em menos de um mês. Mas foi preciso isso para sacar os detalhes que se escondem nas linhas de Budapeste. Pequeno, dá até pra ler num domingo de chuva. Legal mesmo.

Como se não bastasse criar uma história fácil de acompanhar, Chico ainda inventa de botar uma reviravolta nas últimas páginas que me deixaram atordoado da primeira vez. O que acontece é algo como O Sexto Sentido, onde nas cenas finais do filme todo o resto passa a fazer outro sentido.

José Costa é um ghost-writer, um escritor que escreve pros outros levarem a fama. Discursos políticos, trabalhos de faculdade, livros, matérias para jornais, tudo no anonimato. Um dia ele recebe um convite para ir a uma convenção mundial de ghost-writers e, na volta, é obrigado a passar uma noite em Budapeste.

De volta ao Brasil, aborrecimentos com a mulher e o sócio levam-no de volta a Budapeste. Lá, aborrecimentos levam-no de volta ao Brasil, onde aborrecimentos levam-no de volta a Budapeste, e ele fica nestas indas e vindas até que a reviravolta aconteça.

Na segunda lida vi que a reviravolta do livro lembra muito O Mundo de Sofia, que em sua metade exige um distanciamento da história para entender o que se passa, levando-nos ao ponto de duvidar de nós mesmos. Chega a ser Matrix.

Chico arrebentou nesse livro. Nele, há uma linha muito tênue entre ficção e realidade, a qual está muito bem escondida. Tanto pela leveza da escrita quanto pela capacidade de criar uma história tão cheia de camadas, seu Francisco está de parabéns. É o melhor livro do ano até aqui.

Em seguida... tentando entender Budapeste