Não tenho medo da morte. Por tudo o que já sabemos como o nosso cérebro funciona, não vejo porque acreditar que mantenhamos alguma forma de consciência depois que o corpo desliga. Meu acidente em 2014 serviu de bom exemplo para explicar como a vejo: enquanto eu estava no chão desmaiado, nada demais acontecia. Não havia dor, não havia susto. A merda começou mesmo quando acordei. Só aí que as dores doeram e a confusão começou.
Tenho medo é da forma de morrer. Torço para que, quando for pr'eu morrer, que seja de uma forma rápida e indolor. Dado o histórico familiar, espero que se for enfartar, que seja fulminante. Se sofrer um acidente, tomar um tiro, qualquer coisa que vá me matar, que seja logo pra arregaçar e acabar com minha vida de uma vez só. A possibilidade de ficar agonizando entre as ferragens de um ônibus acidentado é que me apavora. Espero não morrer afogado, queimado ou sofrendo alguns meses de alguma doença degenerativa incurável e dolorosa. (Mas se por acaso eu ficar assim, já sabe, né?)
Fora isso, a morte é uma motivadora da minha vida. Passar a pensar na morte, tomar consciência real dela, de que (com sorte) em algumas décadas eu vou morrer, me ajuda a avaliar minhas prioridades e desencanar de problemas.
Cada vez mais, percebo o quanto a vida é um bem que não vale a pena desperdiçar. Isso me ajuda a deixar de ver muitas coisas como problemas. Saber que vou morrer é, no final das contas, um alívio. Carregar rancor, brigar lutas eternas, não se desfazer de desilusões, arrastar um saco de frustrações... tudo isso são coisas que formam um lamaçal em torno dos nossos pés em nossa caminhada pela vida. Um lamaçal que impede que a gente caminhe com leveza. Ao invés de aproveitar o que está aí agora, ficamos remoendo o que passou ou esperando que um momento melhor chegue logo.
Não é uma questão de ser conivente com coisas erradas, ou de deixar de buscar o que é bom e o que é certo. Mas de saber que, se as coisas não saírem como o esperado, tudo bem. Uma hora tudo vai ficar pra trás, mesmo.
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