Porque é difícil mudar de perspectiva?

Muitas coisas contribuem para que uma pessoa não consiga ou não queira mudar de perspectiva, mesmo que apenas para ver o mundo com os olhos de outra pessoa por um instante.

Vai ver a pessoa aprendeu que é bonito ser uma pessoa de opiniões fortes, que é importante ter personalidade, e acaba pondo sua opinião e seu modo de vida em um pedestal intocável, transformando-as em coisas que deve defender com unhas e dentes. Muitas vezes a pessoa simplesmente aprendeu que aquela é a única maneira certa de entender uma situação, como se houvesse uma fórmula mágica para a vida. Quando criança, a pessoa aprende que o jeito certo de responder a uma situação desagradável é reagindo com violência, e leva isso pra vida adulta.

Pode acontecer também da pessoa querer passar uma imagem para o mundo. Logo, agir de um jeito diferente vai significar uma falha de caráter. Muitas vezes, o simples fato de questionar uma opinião é visto como um atentado à sua integridade moral. Como se mudar fosse o fim do mundo. Como se admitir que o outro está certo implique em admitir que se está errado.

Outra causa é que isso mexe com suas crenças, sejam lá quais elas forem. Talvez ela ache que tem que ficar com raiva de alguém porque sua divindade favorita ensinou que o que aquela pessoa está fazendo é impuro. Ou talvez porque pense que homem que é homem tem que achar que isso ou aquilo é coisa de fracotes.

Isso pode ser também fruto do medo de ver que suas opiniões e posições estão equivocadas. Lá no fundo a pessoa sabe que pode estar errada, e sabe que se começar a elaborar o raciocínio, o castelo de areia vai cair. Aí ela, que construiu sua visão de mundo em cima de uma visão, vai ficar sem chão, sem referências. Daí ser mais fácil se manter firme numa visão que talvez esteja errada do que soltar a corda e ter que achar outra pra se agarrar.

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Esse texto era parte do texto que publiquei no Papo de Homem em 2015, mas foi cortado durante a edição. Achei que valia tirá-lo da gaveta porque ainda permanece atual.

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