Sobre Ofender Quem Faz Melhor Que Nós

Modéstia à parte, eu digito muito bem. Bem pra caralho, pra ser claro. Quando me formei na datilografia (sim, crianças, eu fiz curso de datilografia), eu cheguei a bater 290 toques por minuto. No computador do cartório, acho que devo ter chegado a uns 450, 500 toques. (Né, Thiago?).

Até eu acabo me assustando com minha velocidade, mas pra mim é algo extremamente natural. Eu não preciso de olhar para o teclado para digitar nada. Sabe o Elton John tocando piano? Sabe o Eric Clapton tocando guitarra? É nesse nível.

Tanto que se eu estiver digitando alguma coisa e uma pessoa vier falar comigo, eu viro a cabeça, converso naturalmente com a pessoa e continuo digitando normalmente. Sim, eu sei que é esquisito, mas é assim que acontece.

Como isso não é uma coisa comum, todo mundo se assusta.

- Caramba, quê isso?! Você não está digitando certo!

E vêm olhar a tela do meu computador, só para comprovar que eu realmente estava digitando e que estava digitando tudo certo.

Se a opinião deles acabasse aí, tudo bem. Se eu me surpreendo, nada mais justo que as outras pessoas também se surpreendam. Mas muitas vezes a coisa não acaba aí. Já ouvi, acreditem, frases assim quando eu continuo digitando:

- Seu corno filho da puta, pare de digitar enquanto fala comigo!

Aqui entramos na parte filosófica da questão toda: é justo reclamar de alguém - e pior, ofender alguém - porque ela faz algo que você não é capaz de fazer? Eu pergunto isso às pessoas, porque eu sinceramente quero entendê-las, saber o que elas pensam, mas ninguém tem uma resposta. Geralmente é só ah, deixa de ser ridículo.

Elas simplesmente não têm uma explicação decente para isso. Seu raciocínio é simples e claro: Mário faz algo bem; eu não sei fazer igual; Mário está fazendo na minha frente; então Mário é ridículo/corno/filho-da-puta. Algumas chegam até a se ofender quando eu lhes faço a pergunta.

Mas, digam-me, é justo isso? Imagine que você está em um ginásio assistindo a uma competição de ginástica artística, a Daiane dos Santos sobe lá no tablado e faz aquelas coisas sensacionais que ela sabe fazer. Um maluco, então, corre à beira do tablado e grita pra ela:

- Ei, sua anã preta filha duma puta! Vamos parar com essa porra de duplo twist carpado? Eu não consigo fazer isso, então pare de se exibir, sua piranha!

Claro que não é justo! A pessoa que faz algo bem se preparou para conseguir aquilo, então que faça. Eu fico imaginando estas pessoas na academia, brigando com alguém do lado só porque a pessoa está levantando cinquenta quilos, enquanto ela própria só consegue levantar cinco.

Vai ter leitora alegando que a Daiane está numa competição, então tem que fazer o seu melhor, e que eu conversar com alguém enquanto digito (ou digitar enquanto converso com alguém, sei lá) é pura exibição, mas, peralá!

Eu não sei cozinhar quase nada, sou uma negação pilotando um fogão, mas isso é motivo de eu reclamar da minha esposa quando ela conversa comigo enquanto está cozinhando aquele estrogonoffe delicioso que só ela sabe fazer? (Ei, pára de mexer nesse frango enquanto fala comigo, sua maluca!) Claro que não.

Sorte minha que eu não me incomodo com a reclamação dos outros. Se estou digitando e alguém vem falar comigo, eu continuo digitando normalmente. Que xinguem à vontade.

7 comentários:

Unknown disse...

- Seu corno filho da puta!!!

Aposto que digitou esse post em quanto conversava com alguém! seu fid'umaégua!!! Safado!

=P

e é verdade... 450/500 toques... o teclado do cartório que o diga!

abraços!

Mário Marinato disse...

Verde, eu não digitei conversando com alguém, não, mas digitei assistindo a um DVD com legendas.

Anônimo disse...

Olá Mário:

Acho que as pessoas pensam que você não está prestando atenção ao que estão dizendo.

Quando a Daiane dos Santos faz o que faz ela está concentrada em fazer aquilo que faz.

Pense se isso - digitar em quanto alguém quer lhe falar, mostrar, etc – não pode ser interpretado como desrespeito ou pouco caso.

Um abraço,

Marcio.

Mário Marinato disse...

Faz até sentido isso, Márcio, sobre o desrespeito ou o pouco caso. Para quem não me conhece, parece mesmo. Você tem razão.

Mas há dois pontos em relação a isso:

Um: as pessoas que convivem comigo e agem agressivamente já deveriam estar acostumadas.

Dois: Continua sendo uma baita falta de educação ofender quem parece estar fazendo pouco caso do que a gente fala. Não seria mais educado perguntar "ei, cê tá me ouvindo?".

Sony Santos disse...

Ia dizer exatamente o que o Marcio disse. Ou melhor, vou falar por mim.

Eu tenho uma baita dificuldade de concentração em duas coisas diferentes. Estudos dizem que as mulheres têm uma capacidade para isso bem maior que a dos homens, e podem fazer várias coisas ao mesmo tempo.

Um exemplo corriqueiro: eu não consigo prestar atenção em alguém enquanto estou atento à TV, e vice-versa. Eu mal consigo tomar conta de mais de uma panela no fogão ao mesmo tempo...

Já ocorreu comigo de digitar enquanto converso com alguém, mas apenas para terminar uma frase que já estava pronta na minha cabeça. No momento em que começo a conversar com outra pessoa, já não consigo me concentrar para iniciar a próxima frase.

As pessoas normalmente tendem a assumir que as outras "funcionam" de forma semelhante a si mesmas. No meu caso, eu poderia pensar que os demais são tão "monothreaded" como eu, mas sei que isso é algo que varia de pessoa para pessoa. Tenho um amigo que consegue participar de duas rodas de conversa ao mesmo tempo...

E isso pode acontecer com outras pessoas: acharem que você só pode se concentrar em uma das coisas e que não lhes estaria dando a atenção necessária. Ou talvez pensem que, com essa atitude, você quer dizer: "Ei, não tá vendo que eu tenho que trabalhar; pare de me interromper; você não é bem-vindo, ou o que você diz não me interessa." Isso pode irritar as pessoas.

Mas sinceramente não acredito que elas te xinguem meramente pelo fato de você fazer algo que elas não fazem. Isso é algo genial, legal e interessante! Eu ficaria feliz e brincaria de te desafiar, hehe. Na verdade, acho que elas se sentem ofendidas por acharem que você está faltando em consideração para com elas.

Mas concordo com você que as pessoas deveriam te aceitar como você é (se já te conhecem sabem como você é), e deveriam ser educadas ao te pedirem a atenção. Poderiam apenas pedir pra você parar de digitar, sem a parte do xingamento.

Mário Marinato disse...

Sony, você tocou num ponto interessante. Realmente, na maioria das vezes em que isso acontece comigo, eu continuo digitando apenas para terminar uma frase que já estava pronta na minha cabeça. O que acontece é que a minha frase normalmente leva uns vinte segundos para ser digitada. Isso parece torrar a paciência de quem vem conversar comigo.

Mas há outra coisa, que acabei não citando no texto, que é o caso de gente que começa a me xingar simplesmente porque ME OUVE digitando depressa:

- Alá o filho da puta tirando onda. Vamos parar com isso aí seu imbecil babaca escroto do caralho?

Isso é o que mais acontece no meu trampo.

Sony Santos disse...

Realmente, isso é bem desagradável.