Da Honestidade do Detran

Eu tinha um Fusca 67 que era do meu pai. Por conta de revezes que não cabem contar aqui, o Fusquinha ficou parado numa garagem por quase uma década, largado à degradação. Durante anos, desde a morte do meu pai, eu sempre tive vontade de consertá-lo para podermos, eu e a esposa, passear por aí, assim como meus pais faziam quando eu era criança. Nostalgia pura.

Acontece que depois que vim morar em Niterói, a cada dia eu me convencia um pouco mais de que não teria condições de estar consertá-lo. Não porque faltaria dinheiro, mas sim por falta de oportunidade de estar perto do mecânico enquanto ele fizesse os reparos.


Pior ainda, como eu não entendo xongas de carros, é certo que o safado iria tirar uma peça boa do Fusca, polir e me mostrar a dita cuja dizendo que precisou comprar outra daquelas. Minha ignorância e inocência, com certeza iriam garantir uns bons churrascos de fim de semana para o mecânico.

Decidi, então, vendê-lo. Foi uma decisão triste mas sensata. Além do que, quem o comprou foi um primo que se comprometeu a vendê-lo de volta para mim caso um dia ele não o queira mais.

Como o Fusca iria ser levado para outra cidade e sua documentação ainda estava toda atrasada, com o carro ainda em nome do meu pai e mais de uma dezena de IPVAs atrasados, fui eu correr atrás de uma orientação no Detran para saber o que fazer para que meu primo pudesse levá-lo sem problemas.

Depois de muitas idas e vindas à repartição, a cada uma recebendo uma informação diferente, fui conversar com um amigo para ver se ele poderia me ajudar a levar o carro ao Detran. Vendo o estado deplorável do carro, ele disse que se eu quisesse passá-lo na vistoria teria que consertá-lo primeiro. Expliquei a ele que o carro já estava vendido exatamente por eu não querer gastar meu tempo consertando-o.

Foi aí que ele, conhecendo um pouco mais da história e das minhas intenções, me disse que, se o carro iria ser levado para outra cidade em cima de um caminhão-reboque, não haveria a necessidade de fazê-lo passar por uma vistoria. Bastaria levar junto com o Fusca qualquer documento, mesmo antigo, que provasse que o carro era do meu pai.

Quase totalmente aliviado com a aparente solução para o imbróglio, fui mais uma vez ao Detran para perguntar se a informação dada por meu amigo estava correta. Chegando lá, expliquei toda a história ao cara, e perguntei se o carro realmente poderia ser levado para outra cidade sem estar com os documentos em dia. Nesta hora ouvi a frase mais escabrosa que ouvi nos últimos tempos e, acredito, demorarei a ouvir outra tão absurda. Conselho do funcionário:

- Olha, amigo, eu acho que você vai ter que arriscar a sorte e ir acertando com os policiais na estrada.

Não foi à toa que prenderam algumas cabeças no Detran de Cachoeiras há uns anos.

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