Livro: Love is the Cure, por Elton John

Recentemente, acabei de ler Love is the Cure, primeiro livro escrito por Elton John, no qual ele narra sua trajetória na luta em defesa das pessoas com AIDS. É um excelente livro, disponível por enquanto apenas em inglês, sem previsão de chegar às prateleiras tupiniquins. Ele, para quem não sabe, trabalha na luta contra a AIDS há muitos anos, e volta e meia participa como palestrante em eventos sobre o assunto.

Desde que comecei a me interessar mais por sua música, lá pelos idos de 1999, eu sempre lia alguma coisa sobre a EJAF, a Fundação criada por ele para angariar e distribuir fundos, mas nunca tinha ido mais fundo na sua história. E o livro vai fundo, mostrando que o buraco é bem mais embaixo do que a gente pensa.

Além de contar a história da EJAF, o livro traz dezenas de relatos sobre como o preconceito e o estigma só jogam contra a erradicação da doença. Porque enquanto estas pessoas forem vistas como culpadas, e não como vítimas, a cura será inalcançável.

Elton John critica duramente várias lideranças governamentais, como um presidente africano que afirmou que a AIDS não era causada por um vírus e, portanto, não havia a necessidade de se usar remédios; e a igreja católica, que recomenda aos seus fieis que não usem camisinha.

Mas não é apenas de histórias tristes que é feito o livro. Love is the Cure tem também muitos exemplos de ações e empreendimentos que mudaram e estão mudando a vida de pessoas em todo o mundo, desde casas que acolhem travestis e usuários de drogas na África do Sul até a emocionante época em que o próprio Elton, antes de criar a EJAF, saía com amigos pelas ruas de Atlanta distribuindo quentinhas para aidéticos que não tinham forças ou coragem de sair de suas casas, largados à própria sorte.

Se de um lado Elton John escancara o quanto há de mal, de preconceito e de ignorância no mundo, do outro ele nos brinca com tocantes exemplos de bem, de compaixão e de amor ao próximo.

E a mensagem que permeia todo o livro, como o próprio título entrega, é que a cura para a AIDS é a compaixão. Elton deixa claro que não está sugerindo que os tratamentos sejam abandonados e que a AIDS vá sumir do mapa com base apenas em boas ações, mas sim que, enquanto as pessoas aidéticas forem estigmatizadas - principalmente suas vítimas que sofrem mais preconceito, os homens gays, os usuários de drogas injetáveis e os profissionais do sexo - de nada adiantarão todas as políticas de combate à AIDS.

Ele mostra que, embora não haja uma cura definitiva para a AIDS, é possível erradica-la do nosso meio simplesmente acolhendo e educando todos aqueles portadores dela ou aqueles mais vulneráveis a ela. Com uma forte dose de educação, as pessoas deixarão de transmitir o vírus da AIDS na velocidade com que é transmitido hoje; os portadores atuais vão, mais cedo ou mais tarde, morrer, como todos morremos, e o vírus deixará de se espalhar.

Mas enquanto houverem países onde a homossexualidade for crime, enquanto houverem líderes religiosos que condenam o uso da camisinha, enquanto houverem corporações que só visam o lucro máximo, mesmo que às custas da dor alheia, a cura da AIDS estará distante.

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