Da Meditação

Aprendi muitas coisas este ano, e a melhor delas foi aprender a meditar.

O entendimento que eu tinha do que era meditar acho que é uma ideia comum a muitas pessoas: ficar sentado no chão com as pernas cruzadas, braços apoiados nos joelhos, o polegar e um outro dedo formando um círculo, e tentar esvaziar a mente enquanto cantarola ohmmm, por minutos sem fim. Tudo isso ligado a alguma forma de prática religiosa oriental ou cultura esotérica. Uma visão, claro, distante da realidade.

Com a ajuda deste vídeo e deste outro aqui, que assisti no início das minhas férias logo em janeiro, pude iniciar essa prática que está mudando aos poucos muitos aspectos da minha vida.

O principal erro dessa visão que descrevi aí em cima é o lance de querer esvaziar a mente, porque simplesmente não dá. Nossa mente é arteira e traiçoeira, e sempre dá um jeito de divagar enquanto estamos concentrados. Pode reparar: você está lendo este texto aqui mas ao mesmo tempo deve estar pensando no que vai fazer no próximo sábado à tarde. A intenção não é esvaziar a mente, mas tentar relaxá-la e focá-la em si próprio.

Outra coisa é que a prática da meditação não é, necessariamente, uma prática religiosa para entrar em transe ou se conectar com alguma divindade. Alguns até usam pra isso, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. A meditação é uma forma de exercitar a mente, assim como nós exercitamos o corpo, com o objetivo de aprender a pensar com consciência do que se está pensando.

A posição de lótus parece desconfortável mas não é. O único macete é achar a posição certa para que os ossos do pé não sejam pressionados contra o chão, o que dói pra burro, mas de resto não há problemas. Normalmente eu medito de cara pruma parede bem larga, para não ter nada no campo de visão. É um sentido a menos no caminho para a tranquilidade de pensamento. O primeiro objetivo é regularizar a respiração, percebendo como seu corpo reage a uma inspiração mais lenta, profunda e regular. Depois passar a reparar em pontos do corpo com tensão (crispados, como diz o monge do primeiro vídeo).

Sabe quando você deita pra dormir e percebe que em um momento os músculos do seu rosto parecem desligar e você sente um relaxamento? É isso que se consegue com a meditação, só que sem cair no sono depois. E depois desse ponto você começa a perceber outros músculos na mesma situação e consegue direcionar sua atenção diretamente para eles, até o momento em que eles também passam por esse desligamento súbito, com a sensação de relaxamento.

E assim, aos poucos, seu corpo e sua mente vão entrando em um estado cada vez mais tranquilo e sereno. Concentrado em relaxar o corpo, você relaxa também a mente. Se a mente vagar, não veja como uma falha, porque é natural e não há nada de errado com isso. Apenas repare que, "puxa, a mente voou pra longe, mas agora está de volta" e volte a se concentrar em seu próprio corpo.

Um dos principais benefícios da meditação pra mim foi aprender a usar esse relaxamento durante o dia, principalmente em momentos normalmente tensos, como na fila das Barcas ou em pé em um ônibus lotado. É muito útil ser capaz de perceber o estado do seu corpo e relaxar no meio de toda aquela tensão, apenas com um pouco de atenção à respiração. E quanto mais eu medito, mais rápido começo a perceber quando estou começando a tensionar os músculos, cortando o mal pela raiz antes mesmo da raiz começar a ficar muito funda, porque o nosso corpo começa a aprender a associar a respiração com o movimento de relaxamento.

Isso faz muita diferença também quando estou no piano, tentando aprender um trecho mais complicado. Quando reparo que estou começando a ficar com os braços tensionados e as costas curvadas, volto a respirar de forma controlada e o corpo reage em seguida, relaxando e permitindo que eu estude com mais tranquilidade.

Ainda não consigo meditar com a frequência que desejo, mas devagar estou chegando lá. Meu objetivo de longo prazo é tornar a meditação uma prática diária tão necessária e indispensável quanto escovar os dentes e tomar banho, e cada vez por períodos mais longos. Hoje medito por cerca de dez minutos, mas quero fazer mais.

Pra quem tem vontade de aprender mais sobre a meditação, recomendo assistir os dois vídeos acima e também ler a seção sobre meditação no site do templo budista Zu Lai.

Vale a pena tentar.

4 comentários:

Douglas disse...

Adorei o artigo, Mario! O primeiro vídeo precisei reassistir pra poder assimilar melhor! Valeu a força!

Douglas disse...

Muito bom o artigo, Mario! Espero que possa ajudar as leitoras tanto quanto me ajudou!

Mário Marinato disse...

Que bom que ajudei, Doug. Temos que marcar outro papo daqueles pra continuar trocando essas ideias.

Douglas disse...

Precisamos sim, meu amigo! Estarei por aqui; é só marcar...