A melhor coisa que li ano passado foi o livro Universo Desconstruído, escrito por várias autoras brasileiras, organizado por Aline Valek e Lady Sybylla. Confesso não conhecer a Lady Sybylla, mas já acompanho o site da Aline há cerca de um ano e é outra recomendação de leitura que deixo aqui, além da obra em si.
O livro reúne 10 contos de ficção científica onde o feminismo serve de pano de fundo.
São histórias para todos os gostos: robôs que fazem o papel de cônjuges. Planetas distantes em guerra contra invasores. Imortalidade através da transferência de lembranças. Descoberta de vida alienígena. Cenários distópicos onde pragas dizimaram a raça humana. Compartilhamento de corpos. Misturados com tudo isso estão temas como o aborto, a influência da religião na vida das cidadãs, os direitos da mulher, a violência do machismo e a força cruel do preconceito e da misoginia.
Antes que você rejeite a ideia, achando que o livro pode querer ser didático ou caga-regras, não é nada disso. A intenção das autoras foi apenas, como disse a própria Lady Sybylla, fazer ficção científica invertendo papéis, transgredindo estereótipos, evitando a sexualização das mulheres, mostrando-as como indivíduos ativos e líderes. E só isso já é suficiente para eu perceber como o machismo já está entranhado na minha maneira de ver o mundo, porque quando várias das personagens ativas e líderes aparecem nas histórias, a imagem mental formada é quase sempre de um homem, e rolava um susto quando eu descobria que na verdade eram mulheres. Outra coisa é o estranhamento constante de ver mais personagens mulheres do que homens.
E, como meus textos no feminino sempre causam estranheza e geram comentários, sei que isso não acontece só comigo.
Pra fechar com chave de ouro, a edição digital é gratuita, com versões para kobo e kindle, mais a versão em pdf. Para baixar você só precisa publicar alguma coisa no twitter ou no facebook falando que está baixando o livro. Mas se você gostar de verdade, pode comprar a edição impressa, que também está disponível.
Meus dois contos favoritos são Eu, Incubadora (de Aline Valek), que narra a luta de Diana pelo seu direito de ter uma carreira que não seja a de mãe; e Projeto Áquila (de Gabriela Ventura), o diário de Isabel Andrade, que está internada em um manicômio por conta da loucura de outra pessoa.
Difícil parar de ler. E é tão bom que vou querer ler de novo em breve. Vai lá, vai.
Um comentário:
Muito obrigada pelo post e pela leitura. =D
Ficamos sempre muito felizes por ver o trabalho sendo bem recebido, compartilhado e, acima de tudo, ajudando a mudar imagens há tanto tempo cristalizadas na mente das pessoas.
Grande abraço!
momentumsaga.com
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