Como tudo começou? Ah, foi numa manhã de segunda feira, eu tava sentada bem aqui, mesmo, e Elisa chegou com um sorriso desse tamanho assim. Ela estava começando a curtir a vida de solteira, depois de uma separação traumática que se arrastou durante alguns meses. Tinha passado o feriadão em Jericoacoara, com suas amigas do curso de canto. Contou que conheceu um carinha por lá e pegou o celular pra me mostrar as fotos. Quase o deixou cair no chão quando encontrou uma foto dela mesma, dormindo em sua cama, na noite anterior.
Depois que o susto passou, chegamos à conclusão de que ela deveria ter chegado tão cansada e cheia de bagagem no domingo à noite que acabou esquecendo a porta aberta. Daí algum maluco do prédio entrou, tirou a foto e saiu. De manhã, talvez não tenha nem reparado que a porta ainda estava aberta. No fim do dia fui com ela até a delegacia para fazer um boletim de ocorrência, onde tivemos que aturar o risinho debochado do escrevente, que achou que ela tava de brincadeira.
Chegou no trabalho no dia seguinte com os olhos saltados. Garantiu que tinha trancado a porta e dormido à base de calmante, mas quando foi olhar o celular de manhã lá estava outra foto sua, tirada naquela madrugada. Mal conseguiu trabalhar, a coitada. Eu tentei convencê-la de todas as maneiras a ir dormir na minha casa, mas nada deu jeito. Insensível aos meus protestos, decidiu ir pra casa, dizendo que iria virar a noite à base de café e energéticos.
E assim fez. Saiu da oficina, passou no mercado, encheu o carrinho com as bebidas mais fortes que encontrou e foi pra casa. Foi a primeira a chegar no dia seguinte e tinha olheiras de dar dó. Mas dizia estar mais tranquila, porque viu o dia amanhecer tomando um energético atrás do outro e ninguém tinha entrado no apartamento. E pegou o celular para provar.
Seu grito assustou a todas. Lá estava uma nova foto, ela de costas, enquanto tomava banho naquela mesma manhã. Nossa diretora deu o dia de folga pra ela e finalmente consegui convencer Elisa a ir pra minha casa e dormir por lá. Ela falou que ia passar em seu apartamento para pegar umas roupas e depois iria pra minha casa.
Assim que ela saiu, liguei para minha esposa para avisar. Nós já tínhamos conversado sobre o que estava acontecendo e ela tinha apoiado a ideia de receber a Elisa por uns dias. Pedi para que me ligasse quando ela chegasse por lá, pra me deixar tranquila.
Quem acabou ligando fui eu, porque não tinha como a Elisa não ter chegado lá em casa ainda... já era mais de meio-dia! Paula me falou que, realmente, nem sinal dela. Liguei pra Elisa.
Com a voz trêmula, pediu desculpas por ter mentido pra mim e disse que tinha saído da cidade. Estava com medo de estar sendo perseguida por alguém e decidiu fugir por uns dias. Disse que foi de carro até a rodoviária, comprou uma passagem para não-me-disse-onde e já estava longe. Falou que ia se trancar em um hotel pra ver se as fotos paravam.
A polícia a encontrou seis dias depois. Tinha se enforcado dentro do quarto dum hotel de beira de estrada perto de Blumenau. A seus pés, encontraram seu celular.
Nele, a foto mais recente era de seu corpo pendurado no quarto do hotel.
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