I Married a Strange Person

No primeiro semestre de 2021, fiz uma disciplina de animação no curso de cinema da UFF. Durante o curso, assistimos alguns filmes para discussão em aula, e tivemos que escrever textos sobre eles.

Este aqui é o que escrevi sobre o filme I Married a Strange Person, de Bill Plympton.

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Sobre I Married a Strange Person

Durante a disciplina Cinema e Estética, há alguns semestres, numa das aulas conversamos sobre o filme Zabriskie Point, de Michelangelo Antonioni. O que mais me marcou em relação ao filme foi sua cena final, quando a personagem observa a explosão de uma casa na colina. A cena começa de forma "tradicional", mostrando a casa explodindo a partir de vários ângulos. Mas em pouco tempo entra num frenesi de mostrar explosões de móveis individualmente, uma hora a televisão, uma hora a geladeira, depois a estante de livros, a tv de novo. Tudo acompanhado pela música do Pink Floyd.

A coisa toda dura cinco minutos, com explosões cada vez mais elaboradas, até que num corte seco, de áudio e vídeo, voltamos pro silêncio de onde a mulher estava. É como se o diretor tivesse entrado em uma onda de querer explorar as possibilidades cinematográficas das explosões, até que em algum momento alguém o tivesse despertado do transe. "Antonioni, o filme! Continua o filme!". E aí a história segue em frente.

Voltei a essa memória ao assistir I Married a Strange Person. Sua linha narrativa tão tênue e tão frágil me parece servir apenas de pretexto pra que Bill Plympton tenha a oportunidade de experimentar com sua arte do grotesco. As transformações e deformações se sucedem com tanta velocidade que fica claro que seu maior interesse é ver o quanto ele consegue manipular as formas e se afastar das leis da física, muito mais do que contar uma história coerente com início, meio e fim.

Ele se empolga, explode, distorce, desfigura, deforma, transforma, desorienta, corrompe, desordena, subverte, modifica, muda, desnatura, degenera, metamorfoseia, remodela, desarranja, até que alguém diga "Bill, o filme!", e ele volta pra história, sempre sem se agarrar muito a ela. Parece que ele volta pra história apenas para procurar um novo pretexto para reiniciar, recomeçar, renovar, retomar, refazer, repetir e insistir nas suas experiências de distorção, experimentando cada vez mais.

No final, a história parece não importar. Aqui, a forma parece prescindir do conteúdo.

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