Coleção Chico Buarque

Vinte volumes e quase seis meses depois, eis que chegava ao fim a Coleção Chico Buarque, da Editora Abril. Se eu já gostava do Chico antes, gosto ainda mais agora depois de conhecer mais amplamente sua obra.

A coleção é excelente em vários sentidos. Primeiro, é claro, pela música, pois cobre toda a carreira de Chico, não apenas uma parte dela. Tem desde o primeiro até seu mais recente disco. Obviamente, há alguns discos dos quais não gostei muito, mas a quantidade excessiva de música boa faz com que estes pequenos tropeços não consigam manchar a coleção.

Das músicas que já conhecia do Chico e que gosto muito, apenas umas poucas não apareceram nos discos da coleção. Que eu me lembre agora, são elas A História de Lilly Braun, Rosa dos Ventos, Agora Falando Sério e Geni. De resto, está tudo lá: de A Banda a Ode aos Ratos. De Quem Te Viu Quem Te Vê a Injuriado. De Roda-Viva a Futuros Amantes.

Outro motivo para a coleção ser classificada como excelente são as histórias e fotos que acompanham cada um dos discos. Se fosse citar todas as que gostei, teria que dividir este artigo em várias partes para não ficar longo demais. Mas compartilho uma com minhas leitoras só para dar um gostinho da coisa.

Ao escrever Retrato em Branco e Preto (dos versos “vou colecionar mais um soneto, outro retrato em branco e preto a maltratar meu coração”), Chico ouviu de Tom uma crítica sobre o verso. Disse Tom que ninguém fala “retrato em branco e preto”, só “retrato em preto e branco”, e tentou convencer Chico a reescrever o verso. Chico retrucou: “então vai ficar assim: ‘vou colecionar mais um tamanco, outro retrato em preto e branco’, tá bom pra você?”. A gravação está aí pra provar que Chico ganhou a disputa.

Dezenas de histórias como esta contam muitos pontos a favor da coleção. E não são só histórias engraçadas que recheiam os livros que acompanham os discos. Através deles é possível aprender um pouco sobre a história recente do Brasil, principalmente da época da ditadura, na qual Chico foi duramente perseguido.

Claro que a edição dos livros não é perfeita. Aqui e ali há pequenos erros, como dizer que uma música de 76 é a mais antiga do disco e em seguida falar que há duas músicas de 69, ou então não citar que uma música é um dueto. Mas isso não tira, de forma alguma o brilho da coleção.

Estou, por fim, extremamente satisfeito em completá-la. Se a leitora se interessou, é possível comprá-la pelo site da Abril Coleções. A Coleção Chico nos brinda com um panorama perfeito da obra daquele que considero o maior poeta brasileiro.

Os Discos da Coleção, em Ordem Cronológica

Os volumes da coleção não correspondem à ordem de lançamento original dos discos. A lista aí de baixo são os discos em sua ordem cronológica original.

Chico Buarque de Hollanda, de 1966, traz os clássicos A Banda, A Rita e Olê Olá. É um bom disco, marcado por leves sambas e mostrava que Chico vinha para causar sensação.

Chico Buarque de Hollanda Volume 2, de 1967, traz Noite dos Mascarados, Com Açúcar Com Afeto e Quem Te Viu Quem Te Vê. Segue a linha do primeiro disco, com bons sambas bem agradáveis de se ouvir.

Chico Buarque de Hollanda Volume 3, de 1968, traz Ela Desatinou, Retrato em Branco e Preto, Carolina e Roda-Viva. Novamente, um disco sólido, repleto de boas canções.

Per un Pugno di Samba, de 1970, é inclassificável. Chico canta canções de seus primeiros quatro discos em italiano, com arranjos de Ennio Morricone. Interessante de se ouvir, mas as versões originais são melhores.

Construção, de 1971, é audição obrigatória. O melhor de todos. Apenas duas músicas não são tão fantásticas. De resto, tem Deus lhe Pague, Cotidiano, Construção, Samba de Orly, Valsinha, Minha História, entre outras.

Calabar, de 1973, é a trilha sonora de uma peça de teatro. É um disco mais fraco, ainda que conte com Tatuagem e Fado Tropical, uma de minhas favoritas do Chico.

Sinal Fechado, de 1974, traz Chico cantando canções de outros artistas. Tem alguns belos momentos, como O Filho que eu Quero Ter, Lígia e Sem Compromisso, mas não está entre os meus favoritos.

Meus Caros Amigos, de 1976, está lá no topo com Construção. É um dos melhores discos do Chico, graças a um conjunto fantástico de músicas: tem O Que Será (com Milton Nascimento), Mulheres de Atenas, Olhos nos Olhos, Passaredo, Basta Um Dia e Meu Caro Amigo.

Chico Buarque 1978, do mesmo ano, é outro que está entre os melhores. Tem Cálice, Trocando em Miúdos, O Meu Amor, Homenagem ao Malandro, Até o Fim, Pedaço de Mim (com a jovem Zizi Possi) e Apesar de Você.

Vida, de 1980, é outro dos melhores seus discos. Tem Deixe a Menina, Bastidores, Eu Te Amo, De Todas as Maneiras, Morena de Angola e Bye Bye Brasil.

Almanaque, de 1981, é um belo disco. Nele estão As Vitrines, Ela é Dançarina, A Voz do Dono e o Dono da Voz e Amor Barato.

Chico Buarque 1984, do mesmo ano, marca o início do discos mais fracos do Chico. Apesar dos bons momentos com Pelas Tabelas, Como se Fosse a Primavera e Vai Passar, não é tão bom quanto seus discos mais antigos.

Francisco, de 1987, segue a linha do disco anterior. É bom, mas não é brilhante. Como destaque, tem uma das músicas mais inusitadas do Chico: Bancarrota Blues.

Chico Buarque 1989, do mesmo ano, é mais um disco médio. Não é ruim, é agradável de se ouvir, mas não tem momentos de arrepiar. Destaque aqui para Tanta Saudade, que traz uma sonoridade diferente à música de Chico.

Ao Vivo, Paris, Le Zenith, de 1990, faz um apanhado da carreira do Chico, com ênfase em suas músicas mais alegres e românticas, sem dar destaque para as músicas de protesto. É um bom disco.

Paratodos, de 1993, é melhor que os discos anteriores. Traz várias músicas de destaque: Paratodos, Sobre Todas as Coisas, Biscate (com Gal Costa), Futuros Amantes e Piano na Mangueira.

Uma Palavra, de 1995, traz apenas regravações de músicas do próprio Chico, refeitas com novos arranjos. É um bom disco, que traz um conjunto consistente de boas músicas, como Quem Te Viu Quem Te Vê, Eu Te Amo e Amor Barato.

Chico Buarque de Mangueira, de 1997, foi gravado para angariar fundos para o desfile da Mangueira de 1998, no qual Chico seria o homenageado. Temos nele um timaço de bambas do samba (Leci Brandão, Alcione, João Nogueira, Jamelão e outros) cantando uma lista interminável de sambas eternos (Alvorada, Folhas Secas, Resignação, Exaltação à Mangueira e Capital do Samba, entre outras). É outro dos melhores discos.

As Cidades, de 1998, é outro dos meus favoritos. Um excelente disco, de sonoridade fantástica, com uma penca de músicas de alta qualidade: tem Carioca, Xote de Navegação, Injuriado, Cecília e Chão de Esmeraldas.

Carioca, de 2006, é o disco mais recente de Chico. Como alguns dos discos que ele fez nas últimas décadas, é agradável de se ouvir mas também não é genial. De destaque, temos Dura na Queda, Ode aos Ratos e uma regravação de Imagina.


Ozzy Osbourne no Rio de Janeiro

Uma das bandas de heavy metal que marcaram a minha infância, época saudosa em que eu convivia mais com meus primos mais velhos, foi o Black Sabbath. A estante empoeirada dos discos deles na casa da minha tia ainda guarda uma cópia preciosa do Paranoid.

Quando, ainda no início do ano, foi confirmado que Ozzy Osbourne viria ao Brasil e, mais importante ainda, ao Rio de Janeiro, eu já sabia que seria um evento ao qual eu não poderia faltar. Afinal de contas, não é todo dia que você tem a oportunidade de ver uma lenda do rock ao vivo.

Alguns meses de espera depois, chegado o grande dia, na semana seguinte ao show do Iron Maiden, lá fui eu novamente para a Barra da Tijuca acompanhado dos meus camaradas Kildary e Roberto, desta vez contando com a presença do Zé Renato.

Quando conseguimos tomar nossos lugares na pista do Citibank Hall, a banda de abertura da noite - Hibria - já estava tocando sua última música. O pouco que vimos nos pareceu muito bom, mas não era para vê-los que estávamos ali.

Felizmente, o show começou na hora marcada e o que tivemos foi uma hora e meia de puro rock. Ozzy pode estar velho e às parece estar cambaleando no palco, mas consegue manter o ritmo lá no alto o tempo todo.

Ao total, quinze músicas, sendo dez da carreira solo e cinco do Black Sabbath. Coincidência ou não, as cinco músicas do Black Sabbath saíram do disco Paranoid. O único porém do setlist foi o fato de haver apenas uma música do disco mais novo do Ozzy. Acho que poderiam ser incluídas pelo menos mais duas (Life Won’t Wait e Crucify, talvez). Fora isso, simplesmente fantástico.

Louco como sempre, Ozzy jogou baldes d’água e até espirrou espuma na galera que estava lá na frente. Enrolou-se na bandeira brasileira no início do show e o tempo todo pediu a participação da galera, inclusive ensaiando um “lêêêêê lê-lê-ô” junto com a galera na volta pro bis.

Antes de lascarem Rat Salad, Ozzy saiu do palco e deixou os músicos de sua banda mostrarem o que sabiam. E como sabiam! O guitarrista Gus G deu um solo memorável e ficou com a plateia na mão quando enfiou Brasileirinho no meio do solo. Já o baterista Tommy Clufetos chegou a assustar com seus bumbos duplos poderosos e me lembrou Ray Cooper no show do Elton John no Brasil em 1995, ao botar a galera pra gritar no ritmo das suas batidas. Ambos simplesmente irretocáveis.

Quando Paranoid terminou, encerrando o show, eu estava alucinado e eufórico, como meus três camaradas podem confirmar. Uma noite pra ficar na memória.

Em menos de duas semanas tive oportunidade de ver duas lendas do heavy metal: Iron Maiden e Ozzy Osbourne. Por estar no meio da plateia desta vez e tê-lo curtido o quanto pude, achei o show do Ozzy ainda melhor que o do Iron. Inesquecível.

Tomara que eu possa vê-lo novamente.


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Comprar, Jogar Fora, Comprar

Seguindo a dica do Alex Castro, assisti recentemente ao documentário Comprar, Jogar Fora, Comprar, que trata da obsolescência programada. Nele se aprende que este mal já existe há muito mais tempo que se imagina, desde o começo do século passado, quando fábricas de lâmpadas pediram a seus engenheiros para criarem lâmpadas que durassem menos.

Mas não fica só aí. Ele fala da obsolescência programada em roupas, aparelhos eletrônicos, veículos. Cita também o grande descarte de materiais eletrônicos de várias partes do mundo em países da África, sob a falsa etiqueta de venda de produtos de segunda mão.

Com pouco menos de uma hora de duração, vale a pena e dá o que pensar.

Comprar, tirar, comprar from Dinero Libre on Vimeo.