Sobre uma Presidência Evangélica

Não vejo problema em termos na presidência uma pessoa evangélica.

O que me mete medo é essa pessoa querer adotar regras bíblicas como leis para todo o povo, fazendo do Brasil um país teocrático, não democrático. A não-legalização do casamento homoafetivo e o ensino do criacionismo nas escolas seriam coisas certas. A perseguição de ateus e de seguidores de religiões afro correria o risco de ser institucionalizada. Ou partiríamos para a proibição do consumo de mariscos e de que as mulheres cartem o cabelo.

Dada a força e o fundamentalismo da bancada evangélica, fico com mais medo ainda.

O fato de a maioria da população brasileira ser cristã não serve de argumento a favor disso.

A maioria da população brasileira ser cristã significa apenas que a maioria da população brasileira é cristã.

Leis devem existir para garantir direitos e impedir excessos, não para impor crenças aos que não são da mesma religião.

Se você acha que estou errado, pense no seguinte: assume uma presidenta islâmica e ela quer sancionar uma lei que obriga os alunos a se ajoelharem em direção a meca e fazer orações antes do início das aulas.

Você vai gostar? Não? Pois é.

Crônica: Das Buzinas

Pra mim, as buzinas de carros e motos deveriam funcionar de um dos seguintes modos (quiçá dos dois aos mesmo tempo):

1. A buzina só teria um tempo de vida útil de, sei lá, 30 segundos. Parece pouco, mas prum bi-bi simples para chamar a atenção de um pedestre distraído, seria o suficiente pra muito tempo de uso. Acabando esse tempo, a buzina viraria peso para papel.

2. Após um uso, a buzina só poderia voltar a ser usada dali a um tempo, digamos, cinco minutos.

No momento em que os sinais de trânsito abrem, haveria mais paz.

Oferecimentos

Você já esteve em um dos lados de conversas semelhantes a esta:

Quer um? Não, obrigado. Pegaí! Não, tô sem fome. Pode pegar! Acabei de tomar café. Toma, toma! Não não não, valeu. Unzinho só!

Reconhece? E é chato, não é? Então vamos ver juntos a melhor maneira deste diálogo acontecer.

Se alguém está consumindo algo por perto, não cabe a você começar o diálogo e pedir. A não ser, é claro, que seja uma amiga íntima. Ou quando você está faminta, desesperada. Às vezes, nem isso. Mas se é você que está comendo quando alguém chega ou vai começar a comer na presença de outras pessoas, é questão de educação oferecer. A não ser que você queira ser chamada de egoísta.

Sabendo da regra acima, você pode assumir que quando alguém te oferecer algo, está fazendo por educação, e seu dever de cidadã educada é agradecer e recusar. A pessoa pode estar com fome, pode ser o último biscoito e, principalmente, você não sabe se ela realmente quer compartilhar ou se ela está sendo apenas educada.

Numa situação em que todas estão sendo apenas educadas, a conversa pode acabar por aqui, mas há mais etapas que podem surgir.

Se é você que está comendo, eis a sua chance de mostrar que realmente quer compartilhar. Um oferecimento duplo é uma outra forma de dizer olha, eu realmente não me importo de dividir minha garrafa contigo.

Logo, se é você que está recebendo a segunda oferta, eis o momento de poder provar daquele doce curioso e exótico que a Bruna comprou na confeitaria da esquina. Porque agora ficou claro que ela não está sendo apenas educada. E também, se você realmente não quer nada, uma segunda negativa é um sinal claro de que você, enfim, não quer nada mesmo.

Este é o segundo momento onde este tipo de conversa deveria terminar. Você que está curtindo sua bebida favorita já mostrou sua educação e boa vontade em dividir. E você que assiste também mostrou que é bem-educada e negou duas vezes ou então pôde saborear o novo quitute sem dor na consciência.

Se a conversa passa deste ponto, já descobrimos a mala da situação: a moça que não cansa de oferecer as balas. Caso ela conhecesse estas regras jamais faria isso. Mas não conhece. E insiste.

Pega, pode pegar, tem um monte, é bom, pega, experimenta, não fica com vergonha não, pega!

Não passa pela cabeça dela que a outra pessoa realmente não queria o que ela está oferecendo. Ela, em seu mundinho, só quer provar que é uma pessoa boa e desapegada.

Daí, ou você segue negando ou encara e pega um pouco só pra satisfazê-la. Nem precisa beber. Deixa ali num canto da mesa e finge que esqueceu.