Pérolas

As leitoras com boa memória que acompanham este blog vão lembrar que no início do ano eu contei aqui a absurda história do funcionário do Detran de Cachoeiras de Macacu que me sugeriu subornar um policial rodoviário.

Eu, ingenuamente, achei que este ano não chegaria a ouvir outra bobagem deste nível, mas eis que o inesperado aconteceu e no final de maio ouvi outra pérola tão boa quanto. E, pior, vejam só, novamente dita por um funcionário do Detran, desta vez do Rio de Janeiro.

Tudo começou há mais de dois anos, quando eu ainda trabalhava na Prefeitura de Nova Friburgo e fiz um concurso do Detran para o cargo de administrador de dados, empolgado por estar fazendo aquela minha pós de segunda categoria e por já estar querendo um emprego que pagasse mais. Concurso feito, resultado anunciado, fiquei em 11º lugar. Como eram apenas duas vagas, esqueci do assunto.

Daí que em maio recebo um telegrama dizendo que deveria me apresentar no Detran do Rio para assumir o cargo. Pelo que eu lembrava, o salário já não valia mais a pena, por ser menor do que o meu atual, o que me tirava todo o ânimo de tomar posse. Além do que, duvido que um emprego público vá me proporcionar tanto aprendizado, desafio e satisfação quanto o que tenho na SolutionTech.

De qualquer maneira, eu fiquei interessado em obter mais informações sobre o cargo porque, sei lá, vai que fosse para trabalhar lá em Cachoeiras, fazendo meio expediente, e que o salário tivesse sido modificado e pulado para uns dez contos por mês. Aí sim a coisa mudaria de figura e eu daria tchau para a SolutionTech. Com uma pontinha de dó, mas daria. Ainda assim, no fundo eu sabia que nada tinha mudado e que o emprego seria realmente uma bosta (afinal de contas, se eu era o 11º em para ser chamado para um par de vagas, é porque muita gente já tinha desistido). E mais: como eu já passei por três empregos públicos em minha vida profissional, sei muito bem que não é de se esperar que no Detran o trabalho seja gratificante.

Durante três dias tentei, em vão, encontrar as pessoas citadas no telegrama para obter as informações: fui em vários horários e nunca encontrei ninguém. Ou ainda não tinham chegado (às 9:30), ou estavam no almoço (entre 11:00 e 16:00), ou já tinham ido embora (às 17:00), ou estavam em reunião (em qualquer outro horário).

Só consegui falar com alguém no dia para o qual a posse estava marcada. Quando finalmente consegui falar com o tal do Jorge, fiz a ele todas as perguntas que queria: local de trabalho, vale alimentação (menor do que o meu atual), vale transporte (menor do que o meu atual), horário, outros benefícios e, finalmente, o salário. Como eu imaginei, este realmente era o mesmo valor de antes.

Quando eu falei que não estava interessado, Jorge ficou todo assustado e começou a tentar me convencer de que valia a pena ir trabalhar lá, dizendo que eu poderia trabalhar nas blitzes da Lei Seca para tirar um extra se o chefe do departamento onde eu fosse trabalhar me liberasse.

- É duzentos Reais se for fora do município do Rio!

Como lá na SolutionTech nós temos um aumento anual graças ao sindicato, perguntei ao Jorge se lá no Detran tinha alguma política de aumentos frequentes. (Sim, eu sei que não tem, porque é empresa pública, e lá não tem dessas coisas, mas prefiro perguntar as coisas do que assumir uma resposta como óbvia). Eis que Jorge manda a pérola:

- Ah, isso não tem não. Aumento é só quando o Governador libera e mesmo assim a gente tem que fazer uma grevezinha de vez em quando.

Decidido de vez a ir embora, ainda ouvi do Jorge antes do elevador fechar:

- Não desiste não, cara. Até as cinco você pode vir e tomar posse!

Então tá.

Um comentário:

Wellington Lyra disse...

Kkkkkkk!!!

Como diriam Os Mutantes: "ó meu Brasiiiiiiiiil...!!!"