O Homem Duplicado

Tertuliano Máximo Afonso nunca chamou muita atenção nem nunca fez nada demais na sua vida simples e monótona de professor de História, até que um dia, aconselhado por um colega de trabalho, aluga uma fita de vídeo e dá de cara com algo - alguém, melhor dizendo - que vira sua vida de pernas pro ar, lançando-o em uma busca que o leva a resultados surpreendentes e ao mesmo tempo inevitáveis: ele descobre que um ator de segundo escalão é igual a ele. Mais do que gêmeo. Mais do que clone. Uma cópia. Um homem duplicado.

Por vezes muito difícil de ser acompanhado, graças à linguagem rebuscadíssima de José Saramago, ainda assim é um daqueles livros que não dá vontade de parar de ler.

Por várias vezes tive que ler e reler vários trechos, até mesmo páginas inteiras, para conseguir entender aonde ele queria chegar, já que Saramago merece ganhar o título de "O Maior Enchedor de Lingüiça" da história. Não foram poucos os trechos onde ele se distancia da narrativa principal, fala de coisas que nada têm a ver com a história, para então voltar a falar dela normalmente, dando como desculpa o fato de que a personagem principal estava tomando banho enquanto falávamos de outros assuntos. Isso sim é encher lingüiça, o resto é prova de história do ensino fundamental.

Uma das coisas que mais dificultam a leitura do livro é que Saramago pediu que fosse mantida a ortografia de Portugal. Temos então uma enxurrada de palavras e grafias desconhecidas ou estranhas. "Olvidartes-te de contar-mo suas ideias". São coisas assim que a gente lê.

Mesmo assim, apesar de todas essas dificuldades de leitura, O Homem Duplicado é muito bom, tanto que devorei suas últimas 80 páginas de uma tacada só. 80 páginas essas, aliás, que deixam um pouco de lado as lingüiças e vão direto ao ponto, tornando o livro uma montanha russa de eventos que quase se atravancam um atrás do outro, fazendo com que o leitor não tenha mínima vontade de desviar os olhos das suas páginas.

A seqüência final de acontecimentos é tão surpreendente e tão bem amarrada que me levou ao inevitável questionamento: como é que alguém consegue pensar histórias assim?. Ah, como eu queria ser José Saramago por apenas um dia...

Leiam. Vale a pena.

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