Culto ao Amador

O segundo livro que li este ano foi O Culto ao Amador, de Andrew Keen, cuja ideia principal é a de que a internet está acabando com o valor dos profissionais e nivelando por baixo a percepção do público sobre o que é bom, útil ou correto, em áreas como o jornalismo, a literatura, a música e a educação. A princípio, me parecia que Keen era apenas um chorão dono de alguma empresa que vinha perdendo espaço no mercado para as novas mídias, mas com o andar da carruagem fui vendo que ele está certo.

Realmente, ele tem razão quando diz que, hoje, é dada a uma informação de fonte amadora, várias vezes, muito mais importância do que a uma informação vinda de um profissional. E também quando diz que hoje nós damos muito mais atenção ao banal e superficial, sob a máscara da agilidade necessária aos tempos modernos, do que a assuntos importantes e abordagens profundas.

Como exemplo, ele cita os vídeos caseiros com versões simplórias e ridículas de canções de sucesso contra produções bem feitas e acabadas que requerem o trabalho de profissionais; os blogs onde anônimos publicam análises sobre a bolsa de valores contra sites de agências especializadas; os sites dedicados a ensinar alguma coisa contra os cursos profissionalizantes; a Wikipédia contra a Brittanica. Eu acrescento à lista a pirataria de filmes contra a experiência de assisti-los no cinema.

Um outro ponto citado por ele é o fato de que o excesso de informação e a facilidade de obtê-las está nos levando a buscar apenas aquelas que batem com a nossa opinião. Tenho certeza de que minhas leitoras mais espertas já viram o problema por trás disso: um anestesiamento do pensamento, que leva ao desconhecimento e ao descaso com outras facetas das situações, outras possibilidades e outras formas de pensar. O que conduz, enfim, à intolerância e à incapacidade de dialogar.

E diz mais: o excesso de informação gratuita leva à associação de que ela não tem dono, e cita o que chama de cleptomaníacos intelectuais: gente que pega conteúdo de outros e passa a divulgar como seu como se não houvessem implicações legais aí.

Por fim, ele nos passa uma ideia extremamente importante: a de que a informação grátis na verdade não é grátis. Não que ela seja paga com a publicidade que vemos nos sites, mas sim com o nosso bem mais valioso: nosso tempo. Pois, afinal de contas, passamos a maior parte dele filtrando o que realmente vale a pena.

É um livro que dá o que pensar, sem dúvida. De lá pra cá diminui muito a quantidade de bobagem que consumo na internet. Não que as piadas e vídeos sacanas do YouTube devam ser esquecidos, mas não podem tomar mais tempo que as notícias sobre o Brasil e o mundo ou um pouco mais de conhecimento sobre história.


***

Compre o livro no Submarino e ajude este blog a se manter.



Compre um dos meus livros e ajude este blog a se manter.

   

Nenhum comentário: