Eu e a Religião - Parte V

Este artigo é a quinta parte de um longo ensaio sobre minha relação com a religião. No anterior eu conto como enxergo a fé. Aqui eu conto como a religião faz parte da minha vida.

Parte V - A Religião em Minha Vida


Pra quem acompanha as coisas que escrevo, é fácil perceber que religião é um assunto que me interessa muito. Acho as religiões interessantes pelos seus aspectos mitológicos, psicológicos e antropológicos. Gosto de aprender sobre elas e estou sempre lendo sobre o assunto. Um dos meus objetivos de vida é ler os livros sagrados das grandes religiões: o Alcorão, a Bíblia, a Torá, o Maabarata, os principais livros do Espiritismo, e por aí vai.

Só não acho que eles sejam algo além do que livros. Livros importantes, sim. Mas pra mim são livros na mesma medida que Harry Potter ou Ensaio Sobre a Cegueira. Não assumo que eles sejam portadores de verdades absolutas. Dá pra tirar boas lições deles, mas não é só neles que elas podem ser encontradas.

Além disso, busco sempre chamar a atenção para as formas de violência religiosa: seja na tentativa de impor uma religião na vida da sociedade, seja na forma de preconceito (em especial contra religiões com menor representatividade). Exatamente por isso, foi motivo de muita alegria pra mim o tema da redação do ENEM 2016. Quanto mais as pessoas pensarem sobre o assunto, melhor.

Acho estranho (mas carinhosamente entendo) o quanto as pessoas não conseguem falar sobre religiões diferentes sem tentar adequá-las às regras da religião que seguem. Como já escrevi em um artigo alegórico, é como se as pessoas alegassem que é um absurdo a Fórmula 1 não ter regras de escanteio.

Já passei por um breve período em que criticava as escolhas e crenças religiosas dos outros de forma debochada. Felizmente, descobri rápido o quanto este tipo de comportamento é feio e mal educado e o abandonei rápido. Continuo achando algumas crenças curiosas e até engraçadas, mas aprendi a não atingir ninguém por causa disso. Só continuo sem muita paciência para proselitismo.

A religião da qual eu estou mais próximo hoje em dia é o budismo. Como já falei, essa foi uma identificação que surgiu no começo dos meus vinte anos, mas que acabou sendo deixada de lado e agora tornou-se muito presente. Vi que o núcleo do que é o budismo bate muito com o que penso da vida, só que muitas vezes explicado de uma maneira que eu nunca tinha elaborado. Nada mais natural, afinal de contas esse pessoal teve alguns séculos para aprimorar as explicações.

Nos últimos anos tenho lido muitos artigos escritos por pessoas budistas. São artigos que falam de como enxergar a vida sob uma ótica que me atrai muito, sobre a necessidade da serenidade, sobre como somos nós os principais responsáveis pelas nossas vidas e, principalmente, sobre a importância de reconhecer que nada dura pra sempre. Ideias que batem com o que eu já pensava ou que me fizeram ver que eu estava pensando errado e focando nas coisas erradas, me levando então para caminhos e hábitos melhores.

Há também mais duas características do budismo que me atraem bastante. A primeira é que o budismo não tem divindades a serem seguidas e idolatradas nem dogmas a serem seguidos simplesmente porque estão escritos em um livro sagrado (não, Buda não é uma divindade com poderes especiais). Mudar meu pensamento por conta do que leio não é uma questão de aceitar novas práticas mesmo que contra minhas próprias conclusões, mas sim de adotá-las depois de refletir sobre elas.

O outro ponto é que a maioria dos textos budistas não têm o tom de autoajuda de outros discursos que vejo por aí, que falam para você que está no hospital, para você que está sofrendo, para você que está passando por uma situação difícil. São discursos voltados a quem quer ter uma visão de vida mais clara, não uma tentativa de seduzir e catequizar alguém.

Mas não me declaro budista, já que não frequento um templo nem faço parte de nenhum grupo religioso. No final das contas, não é que eu tenha me convertido. Eu na verdade aprendi que o budismo é uma filosofia que se aproxima do meu jeito de ser. Não sou eu que sou budista. É o budismo que é a mim.

***

A seguir, Filosofia

2 comentários:

Unknown disse...

Olá Mário! (bom dia, boa tarde ou boa noite)!

Cheguei até o seu blog, procurando por Elton John e sua música para a Lady Di. Lamento muitíssimo que pessoas com tanto a passar, fiquem incognitos na multidão. Suas palavras tem expressatividade, vida e muitas vezes, paixão. Lí alguns textos teus e, confesso, lerei mais. Sempre que achar pertinente deixarei minhas pegadas na sua página. Agradeço e renovo o meu bom dia!

Mário Marinato disse...

Puxa, Flavia, muito obrigado pelas palavras tão gentis. Seja bem vinda à casa.