A Divina Comédia - Dante Alighieri

Aproximadamente dez anos antes da história do livro começar, a mulher do personagem principal do livro morreu. E então lá estava ela, Beatriz, no paraíso, cantando hosanas ao Senhor, quando viu que seu amado esposo estava perdido numa floresta, sendo perseguido por animais selvagens, às portas da morte, e se compadeceu dele.

Ela, então, bateu uns papos com seus superiores e conseguiu uma façanha até então inédita: conseguiu tirar alguém do inferno para salvar seu amado da morte, mostrá-lo como é "o outro lado da vida" e ajudá-lo a alcançar a salvação. É neste ponto que começamos a acompanhar as peripécias de Dante, o personagem principal do livro.

O motivo de ele ser uma "comédia" eu não sei, porque de engraçado ele não tem nada, mas o livro é bom. Dante, o personagem, é um escritor e o cara tirado do inferno para ajudá-lo em sua caminhada é Virgílio, um outro escritor que servia de inspiração para ele. No auge do seu desespero para fugir das feras, na escuridão da noite, Dante vê o espírito de Virgílio, que o explica o ocorrido no céu, e convida Dante a segui-lo.

E assim começa sua jornada. Dante, o autor, primeiro nos leva a acompanhar Virgílio levar Dante pelos nove círculos do inferno, encontrando por lá toda gente (inclusive alguns que Dante considerava santos, salvos) e também aprende sobre como esta gente é castigada por seus pecados. É uma parte duríssima de ler, dada a riqueza de detalhes que abundam aqui e ali sobre as infindas torturas que Seu Satã propicia aos caídos.

Findo o inferno e seu calor, os personagens vão então ao purgatório, onde as pessoas têm que sofrer algumas penas, mas com a certeza de que chegarão ao céu. No seu longo caminho, Dante encontra pessoas que conheceu ou que ouviu muito falar. Nas suas conversas com estas personalidades, muitos pedem notícias do mundo e pedem para que Dante, ao voltar ao mundo, espalhe a notícia sobre sua atual condição para que os parentes e amigos dos mortos rezem por eles, de modo a levá-los mais rápido ao céu.

Nestas duas partes, o livro às vezes é um pouco arrastado porque Dante pára pra conversar com todo mundo que encontra pelo caminho, pedindo informações sobre quem são, de onde vieram, como morreram, porque estão ali, coisa e tal. E também todo mundo aproveita para perguntar como é que Dante pôde ir ao inferno e ao purgatório ainda estando vivo. É tanto conversê e tanta prosa que dá sono.

Finalmente Dante chega ao paraíso. Na condição de condenado, Virgílio é obrigado a abandoná-lo, pois não pode entrar na morada dos salvos, o que não é grande problema, pois logo em seguida Beatriz vem ao encontro de seu amado para conduzi-lo pelo céu, até a presença do Altíssimo. No céu, Dante ouve mais do que fala. Enquanto caminha, encontra muita gente que ele chegou a conhecer e outros que todos já ouviram falar, como os reis Salomão e Davi, alguns apóstolos, e até mesmo Adão e Eva. No ambiente celestial, Dante aprende o verdadeiro significado de coisas como esperança e fé. Tudo culmina no seu encontro com o Pai, na forma da Santíssima Trindade.

Como sempre gosto de fazer, anotei um par de partes interessantes que gostei. A primeira delas, curta e grossa, é quando, no paraíso, Dante define esperança: "ela é o aguardar, sem nenhuma dúvida, a glória futura, por efeito da graça divina e de mérito precedente".

A outra é um Pai Nosso que as almas amarguradas entoam no purgatório. Interessantíssimo, traduz muito do que penso sobre esta oração de um jeito que eu jamais conseguiria fazer: "Ó Pai Nosso, que estais no Céu, porém não circunscrito, mas sim por dedicar maior amor às primeiras de Vossas criações - que todas as criaturas louvem Vosso nome e poder, nas Vossas três pessoas. Venha a nós a paz do Vosso reino - que aspiramos a alcançar, não por nossos méritos, mas por Vossa bondade; como a vontade própria dos anjos se humilha ante o querer Vosso, sob os doces cantos do hosana, assim se humilhem os homens. Dai-nos o pão cotidiano, sem o qual, neste áspero deserto, retrocede o que julga andar avante. E à medida que perdoamos a quantos nos fazem mal, perdoa, benigno, os nossos pecados, sem olhar a pequenez de nosso merecimento. Nossa virtude, que tão facilmente se deixa abater, não a sujeiteis à prova com a tentação do inimigo, mas fortalecei-a contra ele, que a procura vencer."

Se você não acredita nestas teorias de céu-purgatório-inferno, não é por isso que tem que deixar de ler este livro. Como sempre, basta encará-lo como o que ele realmente é - ficção - para embarcar numa viagem super interessante. Só prepare-se para uma linguagem rebuscada; afinal de contas, estamos falando de um clássico.

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