A Mulher de Trinta Anos - Honoré de Balzac (Parte II)

Acabei copiando alguns ótimos trechos do livro, que são pérolas no meio de todas aquelas palavras. Vejam por si mesmas:

"Dizia-lhe seu instinto que é muito mais belo obedecer a um homem de talento do que guiar um tolo, e que uma esposa jovem, obrigada a pensar e a proceder como um homem, não é mulher nem homem, abdica todas as graças do seu sexo, sem perder os seus desgostos nem adquirir nenhum dos privilégios que as leis deram aos mais fortes."

É quase que o feminismo às avessas. Ao passo que querem independência em suas vidas, poder trabalhar, ter liberdade de falar e agir, as mulheres ainda querem alguém mais forte do lado delas, que tome a frente nas situações que exijam força bruta, decisão firme, enfim, coisa de macho. Não há erro nisso. Como o próprio texto fala, quando a mulher tem que ser o homem da casa, abre mão de seu lado frágil mas ainda assim não tem o devido respeito.

"Ordenar-lho é dar-lhe direitos que são sagrados."

Apesar de fugir do contexto do livro, é poderosa esta frase. No trabalho, uma ordem do chefe te dá o direito de passar por cima de qualquer obrigação para que seu pedido seja cumprido. Sei que de vez em quando a obrigação real é cumprir a ordem E cumprir com todas as suas obrigações, mas é inegável que a ordem superior é a desculpa para abster-se de fazer qualquer outra coisa. Deixa-se de visitar a tia velha porque o juiz mandou você trabalhar na eleição. Eu tenho o direito de fazer os meus exercícios de casa ao invés de lavar a louça porque meu professor me obrigou a entregar o trabalho amanhã de manhã.

"Com efeito, não será um erro crer que os sentimentos se reproduzem? Uma vez despertos, não existem sempre no fundo do coração? Aí adormecem ou despertam ao sabor dos acidentes da vida, mas aí permanecem, e esta permanência modifica necessariamente a alma."

Grande verdade. Antes de se amar a primeira vez, não se sabe o que é o amor. Mas depois que se ama, o amor fica latente bem fundo. Não o amor por alguém, mas a força motriz deste, que permanece revirando bem fundo, até mesmo procurando outro alguém para despejar sua força. Antes de se perder alguém para a morte, não se sabe o que é sofrer, não se sente dor. Mas após a primeira morte, a saudade pode até passar, mas a dor permanece viva, pulsando, pronta para martelar o coração de acordo com os dissabores da vida. O sentimento não muda, o que muda é a sua força e a sua direção. Se esta existência velada e latente não modifica a alma, para melhor ou pior, o que modificaria, então?

Na madrugada de sexta para sábado... mais comentários e considerações finais

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