A Matadora

Eu sempre soube que ele tinha uma queda por mim, você não vai entender, isso é coisa de mulher. A gente tem disso. Sexto sentido. Homem não tem. Mas bem, eu sabia, eu podia ver isso nos olhos dele. Ou você acha que eu nunca reparei em como ele olhava para minha boca com aquele jeito de quem está a ponto de roubar um beijo?

Mas mesmo sabendo eu não instigava ele, afinal o cara era casado, vivia falando na esposa e no filhinho. Vê lá se eu ia querer aprontar com o casamento de alguém?

Só que aí veio aquela viagem da empresa para um encontro em outra cidade, e nós sentamos juntos no ônibus. Ele sacou um diskman da bolsa e antes que pudesse pôr o fone no ouvido eu brinquei:

- Vê se não ronca, hein?
- Cê já dormiu comigo pra saber se eu ronco?
- Não, mas isso por acaso é um convite?

Sem querer, eu dei o primeiro golpe na fidelidade dele. Nossa, eu senti o homem balançar do meu lado. Ele tentou desconversar mas já era tarde demais. E ali mesmo eu resolvi que iria esquecer que ele era casado.

Era julho, fazia frio, chegamos ao hotel no fim da tarde. Fomos todos para nossos quartos e tínhamos então a noite de folga. Encontramo-nos no saguão e sem pensar duas vezes desferi o segundo - e fatal - golpe: convidei-o para tomar um vinho. Eu sabia que ele gostava de vinhos e nunca iria recusar. E não recusou.

Três taças depois eu já estava em seus braços.

Pois é, foi assim que eu matei um casamento.

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