Sobre Cachoeiras de Macacu

Estou morando fora de Cachoeiras de Macacu há pouco mais de três anos. Visito com certa frequência minha cidade natal mas coisa rara é eu passar mais do que três dias por lá, e mais raro ainda se forem dias úteis, ao invés de um feriadão esticado. Neste último mês de novembro tirei férias e pude passar vários dias na terrinha e o que vi, infelizmente, me desagradou.

Os problemas que encontrei pela cidade não têm um culpado só: são resultado da má administração governamental, ineficiência do comércio e falta de educação do seu povo. Não quero apontar dedos na cara de ninguém e tampouco citar nomes, mas há fatos que impedem que Cachoeiras de Macacu seja um lugar agradável de se viver e transitar que são impossíveis de não serem listados.

Começando pela rua onde moro, a Manoel Delfim Sarmento, não dá pra entender porque ela ainda não recebeu novas tubulações para esgoto e escoamento de águas e asfaltamento. Neste período em que estive em Cachoeiras, um pequeno trecho do calçamento foi recolocado porque os paralelepípedos estavam soltos e a obra foi coberta por terra.

Porra, gente, TERRA!

Pra uma cidade que tem jornal que diz que a cidade está virando uma metrópole, ter uma rua de terra batida no centro da cidade é no mínimo vergonhoso. E no dia seguinte veio a chuva e tínhamos então lama. Como se já não bastasse os pedestres terem que se proteger da água arremessada pelos carros ao passarem nas imensas poças que se formam, foi preciso se proteger também do lamaçal que se formou.

Além deste problema, quem anda pela Manoel Delfim Sarmento enfrenta plantas grandes demais que não são podadas, mecânicas que colocam suas latas de lixo no meio da calçada e motoristas que estacionam em local proibido.

Andando pelo comércio do Centro, tem-se uma profusão tão grande de atitudes de lojistas que fica difícil citar tudo. Tem loja que espalha seus produtos pelas calçadas, como se estas fossem vitrines; tem mercado que quer subverter as leis da física e colocar dois corpos em um só lugar, pois só isso explica a insistência em colocar oito caixas em um lugar onde só deveriam haver três; tem prestadora de serviço que passa a oferecer um plano mais barato com mais vantagens sem te avisar, e você continua pagando o plano pior e mais caro; tem papelaria que não tem envelope pra vender (veja bem, não é um papel especial caro e raro, é um estropício de um envelope); tem bar que tem bolinho de bacalhau no cardápio e que acha que eu confundo o gosto de batata salgada com o gosto de peixe; tem empresa de ônibus que cancela um horário porque o ônibus quebra, ao invés de colocar outro no lugar. Ao lado de tudo isso, tem o povo que acha que os canteiros de plantas são lixeira.

Há um bom tempo eu escrevi uma crônica ironizando o excesso de carros de som que rodam no Centro: temos carros de funerária, de lojas, de festas, de igrejas, e agora temos como contribuintes da poluição sonora caixas de som espalhadas pelos postes e os adolescentes que ouvem funk em seus carros compartilhando seu gosto musical com todos os que estão à volta. Pra botar a cereja no bolo, vi um cara vendendo CD na rua, ambulando por aí com uma caixa de som enorme! E tudo isso, claro, em volumes muito acima do aceitável. Na época em que eu morava em Cachoeiras, cheguei a perguntar ao pessoal da Prefeitura se não havia como fiscalizar isso e fui informado de que eles não tinham o equipamento para medir o volume do som dos carros.

Continuando: enquanto a praça de cima recebeu uma bela maquiagem e ficou agradável de se visitar, a praça de baixo fica à mercê dos mendigos que a transformaram em casa. E ainda tem o lamentável estado do chafariz feito de cano de PVC!

Na parte de serviços públicos, o Detran continua uma beleza, conforme já contei por aqui antes. Estive lá para resolver uma pendenga e conversei com três funcionárias: cada uma me informou um procedimento diferente.

Pra fechar, ainda não vejo em Cachoeiras uma política que aproveite o potencial de turismo que nosso município tem. A região do Parque dos Três Picos está um pouco melhor, mas ainda está mundo longe de tudo o que o município tem a oferecer. Falta, por exemplo, fiscalização contra crimes ambientais: a estrada no Valério que leva ao antigo hotel escondido lá nas montanhas está cheia de garrafões d'água jogados pelos morros abaixo.

A Boa Vista, como outro exemplo, só se degrada. Quando eu era criança, o normal era ir no terceiro poço, cansativo era ir no Três Pedras e aventura radical era ir no Samambaia e no Tenebroso. Hoje, para conseguir tomar um banho em águas tranquilas e limpas, é preciso começar no Três Pedras. O ambiente bucólico perdeu a vez para bares que colocam cadeiras dentro do rio. E falando em Boa Vista, a excelente ideia do encontro de esportes radicais que chegou a ter duas ou três edições e acontecia aos pés da Pedra do Colégio foi deixada de lado. Parece que ideias de governos anteriores, mesmo as ótimas, devem ser sempre descartadas.

Mas nem tudo são trevas: há coisas boas acontecendo. E aqui eu cito nomes, que são merecidos: tem o meu camarada Wellington Jesus e sua trupe lutando para levar cultura para o povo; tem o meu chapa Ramon Fraga e muitos outros levando a arte da fotografia para a cidade; tem o progresso do asfalto que finalmente chegou ao Guapiaçu; a cidade concorre para hospedar delegações nas Olimpíadas de 2016; o esgoto que é lançado no Rio Macacu começa a dar esperanças de ser tratado; o mercado Veneza mostra que respeita os clientes e dá espaço para os clientes circularem; a Rota 116 colocou pontes para pedestres ao lado das pontes que não têm acostamento; a estrada que leva a Parada Modelo foi finalmente recapeada.

Depois de três anos, enfim, me parece que minha querida cidade regrediu. Fico na torcida de que as eleições do ano que vem tragam novos ares e esperanças, fazendo Cachoeiras voltar a merecer o título de paraíso das águas cristalinas.

3 comentários:

Marilia Amaral disse...

Não se pode esquecer das coisas básicas para quem continua vivendo na cidade. A saúde é uma delas, o hospital é uma vergonha! os postos de saúde tem filas que no meu entender não precisavam existir. Somos esquecidos.O comperj já está ai e o Cachoerense sem qualificação, ficará sendo o empregado do empregado. É uma pena que os governantes achem que está tudo maravilhoso!Fui criada em Cachoeiras e sempre convivi com "manda quem tem dinheiro" E infelizmente ainda é assim. E o povo sofre!Não quero saber se o Brasil etá em crise!! Quero saber que minha cidade pode muito mais!!

Ronaldo Rocha disse...

Que nada Cachoeiras tem um dos mais belos cartões postais que já vi. É só parar na ponte do BB e olhar os fundos do comércio beira-rio, é feio, tétrico e nauseabundo.
Acorda Cachoeiras,você já é quase quatrocentão.

Mário Marinato disse...

Realmente, Marília, o hospital está uma vergonha.

Tive que ir lá com minha esposa e os funcionário são visivelmente despreparados para atender o público. O comportamento de muitos deles é totalmente inadequado para qualquer ambiente de trabalho, ainda mais aquele.

E tem também o médico que foi uma toupeira ao atendê-la: grosso e ríspido, nem mesmo encostou no pé dela.

Triste.