Durante o pouco tempo em que freqüento igrejas evangélicas, reparei uma coisa que me deixa intrigado: porque evangélicos não dão a mínima atenção à importância de Maria, mãe de Jesus, mas não param de falar em outros personagens bíblicos muito mais inexpressivos?
É um tal de unção de Sara pra cá, bênção de Isaque pra lá (coisa que eu vejo mais como crendice do que outra coisa, mas isso é papo pra outra hora), e também muitas pregações sobre, por exemplo, os homens que carregaram um paralítico para que Jesus o curasse (Marcos 2,3), a visita da rainha de Shebá a Salomão (2 Crônicas 9) ou o medo dos marinheiros que estavam no mesmo navio que Jonas (Jonas 1,5).
Não quero dizer que estas pregações não sejam importantes. Elas são sim, principalmente na oratória de alguém que saiba o que está falando e que saiba falar com clareza e mostrar coisas que nós às vezes não vemos.
O que me intriga é a quase negação da existência de Maria. Tudo bem que eu não tenho um "currículo" muito grande de pregações vistas, mas mesmo assim acho muito difícil eu encontrar alguém falando dela.
Eu tampouco concordo com os católicos que atribuem a ela poderes de intercessão ou o poder de realizar milagres, isso sem contar os mais de setenta nomes diferentes que ela tem, mas daí a ignorar o seu valor e nem sequer tocar em seu nome é muito esquisito.
Maria, afinal de contas, foi quem cuidou do nosso senhor e salvador. Se ela foi a pessoa escolhida por Deus para cuidar de Jesus, educá-lo e salvaguardá-lo até sua maturidade para que ele, então, pudesse assumir o seu papel, então alguma coisa de especial ela tinha, oras. Com certeza ela foi escolhida por ser uma mulher preparada para ser mãe. E que mãe! Afinal de contas, mesmo sabendo que tudo terminaria bem, ter um filho sabendo que ele está destinado ao sofrimento, à dor e ao suplício, e agüentar esta barra com força e firmeza não é pra qualquer uma. Maria é, com certeza, um belo exemplo de mãe, que deveria ser comentado e falado.
O que me parece é que evangélicos evitam falar em Maria, dar-lhe o devido valor e reconhecer sua importância porque, ao fazê-lo, correm o risco de serem confundidos com "católicos idólatras", justamente aqueles contra os quais costumam levantar suas bandeiras de guerra.
Será que um bom nome para isso seria preconceito?
O Pecado de Todos Nós - Capítulo Três - Parte Dois
(capítulo três, parte um)
Estávamos em fins de fevereiro e na nossa região o tempo permanecia bom e ameno como estivera em maio. Acordávamos todos os dias sob um Sol calmo e implacável. As árvores se iluminavam diariamente de um verde mais espesso e até mesmo as árvores frutíferas, embora sem uma única flor, estavam cheias de folhas. Mas o milho não medrava; as campinas jaziam sob um calor acastanhado debaixo de um céu polido, só permitindo que nascessem ervas espinhosas, impróprias como alimentação de homens e de animais. Algumas pragas desaparecidas havia anos com o cultivo constante tinham voltado, inexplicavelmente, e eram, com efeito, venenosas, de modo que mantínhamos os nossos grandes rebanhos fora dos campos. Nem os deixávamos ir aos olhos-d'água, que tinham secado havia muito. Haviam sido tragados pela terra, como se engolidos subitamente por algum gigante subterrâneo.
Tínhamos bastante feno guardado em nossos celeiros, e ração nos silos; alimentamos o gado como o alimentávamos no inverno. Mas, por qualquer motivo, o gado não engordava. Ficava agitado ao Sol, e reclamava, e sua carne mirrava. Os poucos bezerros nascidos no inverno adoeceram e morreram. O leite das vacas diminuiu, até termos apenas o suficiente para nós, um líquido ralo e azulado que quase não dava manteiga alguma.
- Bom - disse meu pai, com aquele humor sarcástico que era agora quase que um traço permanente nele - o Governo vai ter de desencavar aqueles milhões de quilos de manteiga que andou comprando dos fazendeiros e pô-los no mercado. Já notei que os armazéns a estão vendendo a preços de liquidação. Para manter as cidades tranqüilas, imagino.
O Governo não só tinha liberado a manteiga, como também os depósitos repletos do trigo que comprara aos fazendeiros. Mas durante muito tempo não soubemos disso. Tampouco sabíamos que tinham sido suspensas todas as exportações de trigo. Nos jornais não vimos nada sobre os milhões que morriam de fome na Índia e no resto da Ásia.
Meu irmão Edward não dizia nada. Trabalhava nas máquinas da fazenda, embora soubesse que o seu trabalho era inútil. Suas mãos moviam-se mais devagar e em sua fisionomia havia uma estranha quietude. Talvez porque os nossos filhos, alimentados com aquele leite ralo, azulado, engordavam pouco e choravam quase constantemente. De noite eu me deitava ao lado de minha mulher, Jean, e os ouvia, desanimado. E Jean, que sempre fora animada e cheia de alegria, chorava baixinho, penando que eu estivesse dormindo. O luar fazia um poço negro de seus cabelos sobre o travesseiro, e eu tinha vontade de tocá-los. Mas se o fizesse ela saberia que eu estava assustado e seria pior para ela.
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Continua...
O início
Estávamos em fins de fevereiro e na nossa região o tempo permanecia bom e ameno como estivera em maio. Acordávamos todos os dias sob um Sol calmo e implacável. As árvores se iluminavam diariamente de um verde mais espesso e até mesmo as árvores frutíferas, embora sem uma única flor, estavam cheias de folhas. Mas o milho não medrava; as campinas jaziam sob um calor acastanhado debaixo de um céu polido, só permitindo que nascessem ervas espinhosas, impróprias como alimentação de homens e de animais. Algumas pragas desaparecidas havia anos com o cultivo constante tinham voltado, inexplicavelmente, e eram, com efeito, venenosas, de modo que mantínhamos os nossos grandes rebanhos fora dos campos. Nem os deixávamos ir aos olhos-d'água, que tinham secado havia muito. Haviam sido tragados pela terra, como se engolidos subitamente por algum gigante subterrâneo.
Tínhamos bastante feno guardado em nossos celeiros, e ração nos silos; alimentamos o gado como o alimentávamos no inverno. Mas, por qualquer motivo, o gado não engordava. Ficava agitado ao Sol, e reclamava, e sua carne mirrava. Os poucos bezerros nascidos no inverno adoeceram e morreram. O leite das vacas diminuiu, até termos apenas o suficiente para nós, um líquido ralo e azulado que quase não dava manteiga alguma.
- Bom - disse meu pai, com aquele humor sarcástico que era agora quase que um traço permanente nele - o Governo vai ter de desencavar aqueles milhões de quilos de manteiga que andou comprando dos fazendeiros e pô-los no mercado. Já notei que os armazéns a estão vendendo a preços de liquidação. Para manter as cidades tranqüilas, imagino.
O Governo não só tinha liberado a manteiga, como também os depósitos repletos do trigo que comprara aos fazendeiros. Mas durante muito tempo não soubemos disso. Tampouco sabíamos que tinham sido suspensas todas as exportações de trigo. Nos jornais não vimos nada sobre os milhões que morriam de fome na Índia e no resto da Ásia.
Meu irmão Edward não dizia nada. Trabalhava nas máquinas da fazenda, embora soubesse que o seu trabalho era inútil. Suas mãos moviam-se mais devagar e em sua fisionomia havia uma estranha quietude. Talvez porque os nossos filhos, alimentados com aquele leite ralo, azulado, engordavam pouco e choravam quase constantemente. De noite eu me deitava ao lado de minha mulher, Jean, e os ouvia, desanimado. E Jean, que sempre fora animada e cheia de alegria, chorava baixinho, penando que eu estivesse dormindo. O luar fazia um poço negro de seus cabelos sobre o travesseiro, e eu tinha vontade de tocá-los. Mas se o fizesse ela saberia que eu estava assustado e seria pior para ela.
Continua...
O início
50 Semanas de Rock - Metallica
Eu tenho andado completamente sem tempo para escrever seja lá o que for, mas que fique registrado que Metallica é fodão e pauleirão, e que eu adorei conhecer a banda e seus discos, principalmente o gravado com a orquestra.
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Veja a lista de bandas que fazem parte das 50 semanas.
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