O Pecado de Todos Nós - Capítulo Três - Parte Um

(capítulo dois, parte quatro)

Os jornais, até mesmo os semanários do interior, pareciam ignorar os fazendeiros. As revistas agrícolas, também, mantinham-se estranhamente silenciosas. Sabemos hoje que Washington as havia aconselhado a não publicarem nada sobre as coisas que estavam acontecendo. Receava-se o pânico, não tanto no campo quanto nas cidades. Talvez Washington estivesse com a razão. Nas cidades o pânico espalha-se com facilidade.

Washington calava-se. O Congresso se reunia e discutia a quantidade provável de bombas atômicas e de hidrogênio que a Rússia estaria produzindo. Falavam sobre os aliados e sobre os direitos humanos e investigavam o tráfico de entorpecentes e o futuro da Organização das Nações Unidas. Falavam sobre tudo menos sobre o que predominava em seus pensamentos.

E durante todo esse tempo a terra continuava estéril, exceto pelas árvores sem frutos, e o solo secava e voava em tempestades marrons sobre a terra. Não chegava uma só palavra das outras capitais do mundo, nem uma palavra viera, ainda, da Rússia. Havia apenas um indício significativo que milhões de leitores não percebiam, em seus jornais: a beligerância estava começando a desaparecer entre os delegados da Organização das Nações Unidas e as conversas tornavam-se abstratas e discretas. Nem mesmo a menção de novas bases terrestres e navais para os aliados do ocidentes provocou os habituais comentários irritados de parte dos russos. Aliás, ele não fizeram comentário algum.

Muito tempo depois viemos a saber que o "celeiro" da Rússia - a Ucrânia - não estava produzindo trigo algum, e que as intermináveis fazendas coletivas estavam tão ressecadas e estéreis quanto a nossa. Em todas as regiões do globo a terra recusava-se a frutificar. Mas por enquanto uma conspiração de silêncio pairava sobre o mundo.

E o Sol brilhava num céu sem nuvens e os rios baixavam e os mares se encolhiam e os riachos e regatos secavam e as montanhas se crestavam e os vales se amarelavam... em todo o mundo.

A terra nos odiava, a terra violada, a terra fiel, a terra explorada e gentil. A terra resolvera que tínhamos de morrer, e todas as coisas vivas e inocentes conosco. A terra nos amaldiçoara. Nossas guerras e nosso ódio haviam finalmente revoltado a terra sábia.

Não sabíamos, então, que éramos acusados como inimigos irreconciliáveis da vida...

***


Continua...
O início

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