Eu sabia que meu pai iria morrer. Não falo daquele "saber" que, ora, todos sabemos que vamos morrer um dia, mas sim daquele saber de uma doença que já chegou pra ficar, afinal de contas, a família toda tem problemas de coração, e quando o cardiologista te dá um prazo, não há o que fazer.
Claro que, mesmo sabendo, mesmo preparado (oh, a inocência!) a notícia veio furiosa, passando por cima de qualquer preparação, atropelando todo o raciocínio e arrasando, por fim, o fio de esperança no qual o milagre se dependurava sobre o vazio.
Em dezessete de março de dois mil e cinco perdi meu pai. Fico triste por saber que ele não pôde ver a minha formatura, por que ele não viveu o bastante para ver as coisas que ainda vêm por aí: a casa nova, meu casamento, o nascimento da Sara.
E a dor, ah, esta não diminui. Ela segue lá, do mesmo tamanho, pronta para arrebatar o pensamento quando uma foto aparece dentro de uma gaveta; pronta para abrir as comportas das lágrimas quando um bilhete qualquer, escrito por ele, é encontrado dentro de um livro. Basta dar mole que ela créu, chega atropelando sem piedade. Piedade, aliás, é uma palavra que não consta no dicionário da senhora dor.
Mas a cada dia aprendo um pouco mais de algo que vou levar pra vida toda: sabe essa história de que com o tempo a dor diminui? É mentira. Na verdade, nós é que crescemos, daí a impressão de sua pequenez. Nós é que nos tornamos mais fortes que ela. Fortes o suficientes para fazê-la calar a boca quando uma morte faz o seu segundo aniversário.
3 comentários:
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Como essa dor difícil! Chorar faz com desabefemos nossos sentimentos. No início da perda as lágrimas rolam com facilidade. Com o tempo gostariamos de que rolassem grossas lágrima por nossa face para aliviar a saudade de nosso ente querido e nossos olhos ficam secos ou no máximo umedecem. Entendo sua dor.
:~
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