Em meados da década de 90, o jornal O Globo trazia um caderno aos domingos que era voltado para os adolescentes e jovens. Este caderno, edição sim edição não, trazia uma coluna que falava sobre lançamentos de jogos de video game. Era a época de ouro do Super Nintendo.
Foi nele que tive meu primeiro contato com o jogo Chrono Trigger. Lembro de ter achado interessante aquela história de um personagem que tinha como amigos um sapo e um robô. Ainda mais por se tratar de um RPG, o tipo de jogo que eu estava começando a me interessar, graças às longas horas que tinha passado jogando Phantasy Star no meu velho Master System.
Meses mais tarde, quando fui ver os jogos que o dono da locadora Martinez tinha trazido dos Estados Unidos, aquele moleque de cabelos vermelhos espetados logo chamou a minha atenção: era o jogo sobre o qual eu tinha lido tempos antes. Claro que aluguei sem pestanejar.
Passei o final de semana todo jogando o dito cujo, que foi devolvido na segunda feira já sob o título de Melhor Jogo do Mundo.
Lembrem-se, crianças, que isso foi antes de termos internet à vontade: nós sequer tínhamos computadores! E a única fonte de informação sobre jogos eram as revistas, que traziam dicas e, às vezes, os detalhados detonados.
Comprei uma que tinha umas dicas e aluguei o jogo durante uma semana inteira. Eu não fazia outra coisa além de jogar, e depois de quase esfolar o dedo e gastar uma boa grana, entreguei a fita sabendo que não tinha chegado nem na metade daquela história fascinante sobre viagens no tempo.
Tudo no jogo era sensacional: a história, os efeitos, os personagens, a música. Cismei que tinha que comprar a fita. Na época um jogo novo custava R$ 120,00, o que era mais do que o salário mínimo, motivo pelo qual minha família me proibiu de comprá-lo. Ainda assim, eu alugava-o de vez em quando e aporrinhava o pessoal da locadora, implorando para que eles me vendessem a fita. Meu principal argumento era o de que eu era o único que a alugava.
Sim, eu era o único, pois como o jogo é em inglês e é preciso ler muita coisa para chegar ao final e desvendar os seus segredos, ninguém mais o alugava. Depois de vários meses, venci a batalha e comprei a fita, com caixa, manual e tudo o que tinha direito. E o melhor: a um preço mais camarada.
E aí foi a festa, horas e horas com os olhos grudados na TV, para tentar fazer aquele garoto e seus amigos salvarem o mundo viajando no tempo.
Chrono Trigger tem um enredo fascinante, personagens carismáticos, várias aventuras paralelas, e uma característica inovadora muito maneira que faz você nunca querer parar de jogar: depois que você termina o jogo a primeira vez, você pode reiniciar o jogo e os personagens estarão com os mesmos poderes e itens do jogo terminado, abrindo as portas para um jogo aparente mais fácil, mas que permite terminá-lo de mais de dez maneiras diferentes.
Joguei tanto, mas tanto, que até meu pai já sabia assobiar uma das músicas do jogo. E outro detalhe, eu sei de um item secreto que, ao que parece, não é de conhecimento da comunidade de fãs do jogo. Eu já procurei sobre esse item em dezenas de sites e nunca vi nenhuma referência a ele.
Chrono Trigger já teve uma versão para Playstation I, com vários recursos extras, do qual já tive uma cópia mas infelizmente perdi, e foi relançado recentemente para o Nintendo DS, também com algumas novidades.
Considerado por muitos como o melhor RPG já feito para o Super Nintendo e um dos melhores RPGs de qualquer plataforma, já inspirou uma produção musical independente (a belíssima Chrono Symphonic), um livro não publicado, uma tentativa de remake em 3D embarreirada pela SquareSoft, produtora do jogo original, um pedido de casamento e sua trilha sonora foi lançada oficialmente, em disco triplo, além de ter um disco de remixes oficial, com algumas das melhores músicas refeitas ao estilo jazz e até mesmo bossa nova.
Se você curte jogos de RPG e não conhece esta jóia, não perca mais tempo, baixe logo um emulador e sua ROM e divirta-se (ou, se preferir, compre uma fita no Mercado Livre que tem aos montes). Por causa deste jogo é que eu não me desfaço do meu Super Nintendo: o cartucho e o console já se aglutinaram em uma coisa só há anos e sempre que posso eu passo alguns minutos me divertindo com ele.
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