Deixa eu me explicar: desde que o Rio de Janeiro foi escolhido como a cidade sede das Olimpíadas de 2016, o prédio da Prefeitura está enfeitado com quatro grandes cartazes, três com crianças vestidas com uniformes de diferentes esportes e o último com os dizeres "Um outro futuro começa agora". Bonito de se ver, eu gostei desde a primeira vez que os vi. Além disso, as mesmas fotos das três crianças, e de mais um outro menino que não estava lá, estão espalhadas pela cidade, em pontos de ônibus, relógios e bancas de jornal. Três das crianças têm a pele clara e uma tem a pele morena (daquele moreno que na minha opinião falta muito para chegar ao negro). O garoto da pele morena é o que não estava na prefeitura.
Aí que ontem vi uma coisa no jornal do cara ao meu lado no ônibus e depois pude comprovar em pessoa quanto cheguei ao Rio de Janeiro: um dos cartazes da prefeitura foi trocado. Tiraram um deles para colocar o cartaz que traz a foto do menino moreno.
Minhas queridas leitoras vão perguntar: por quê?!
Simples: porque militantes de movimentos pela consciência negra reclamaram, dizendo que a Prefeitura e os publicitários agiram de forma racista, não colocando a foto do menino moreno lá. Disseram ainda que sua foto estava escondida nos pontos de ônibus. Como se ninguém usasse os pontos de ônibus do Rio.
Voltamos então à minha primeira pergunta, lá de cima: quando a luta contra o racismo deixa de ser legítima defesa e se torna pura mania de perseguição? Será que não chega um ponto em que estes militantes veem qualquer ato como racista, graças a este ou aquele detalhe? Imagine que houvesse uma quinta foto de uma criança de traços orientais: seria justo, ou correto, sei lá qual a palavra certa, que a colônia japonesa no Brasil reclamasse de a foto não estar lá em frente ao prédio da Prefeitura? Eu, pessoalmente, creio que não.
Mas temos também a segunda questão lá de cima: será que a primeira pergunta é válida de ser levantada? Vejam só, eu sou o que é considerado a "raça certa", que tem todos os privilégios de não ser da "raça errada": policiais não me param por qualquer coisa nas ruas, eu posso entrar em uma loja para pedir informações sem que fiquem achando que vou roubar alguma coisa, minhas namoradas podiam me apresentar aos seus pais sem que eu ficasse com medo de represálias, etc e tal.
Por conta disso, nunca sofri preconceito, não sei a dor disso na minha pele, e sou uma das pessoas mais incapazes que há para, em certos momentos, dizer que este ou aquele ato é preconceito ou não. Daí eu questionar se eu posso perguntar a diferença entre mania de perseguição e legítima defesa.
Ao mesmo tempo em que acho ridículo chamarem de preconceito o fato de uma foto de um garoto moreno ter ficado de fora da fachada da Prefeitura do Rio, também acho que posso estar sendo o pior dos racistas ao não reconhecer que esta é, sim, uma atitude preconceituosa do governo carioca e da agência de publicidade responsável.
Pra esta pergunta, infelizmente, eu não tenho a resposta. E vocês queridas leitoras, qual é a sua opinião?
No site do Ministério Público Federal há uma matéria sobre o assunto, onde é possível ver fotos da fachada da Prefeitura do Rio da Janeiro antes de depois da mudança.
No blog do Alex Castro há uma longa e interessantíssima discussão sobre racismo. Não percam.
Outra coisa que eu gostaria de saber é a opinião dos pais do menino moreno sobre o assunto.
Por fim, ainda bem que não tiraram a foto da menininha vestida de ginasta: ela é uma graça e adoro olhar pra ela quando passo por lá.
2 comentários:
É complicado. Os negros brasileiros sofreram muita perseguição, está na nossa história infelizmente, bem como faz parte da história de muitos países.
Mas o que mais me intriga, é o fato de o Brasil,sendo um país "multi étnico" ser um dos mais atrasados na questão racial. Não que nosso povo seja racista, creio que o racismo aqui no Brasil é mais social($) do que racial.Infelizmente uma grande parcela do povo negro brasileiro tem baixo poder aquisitivo, o que pode nos passar uma idéia de racismo "camuflada". Não estou dizendo que não existam pessoas racistas aqui no Brasil, existem idiotas em todo lugar, e podemos notar o racismo aqui somente em poucos Estados brasileiros, os estados "metidos" à colônias estrangeiras, pobres coitados !
Mas um exemplo que somos atrasados na questão racial, é que poucos brasileiros se referem aos negros como negros. Sempre quando vão citar algum negro, falam sempre do mesmo modo: "Aquele moreno bem escuro...","o mulatinho", "o escurinho".
Enquanto que em países tidos como racistas, temos mais negros ocupando cargos importantes,tendo muito mais oportunidades do que aqui e sendo muito mais respeitados do que aqui.
Esse tipo de coisa me preocupa, e acho que os "grupos defensores" dos negros já estão escaldados, e com muito motivo para estar. Ai qualquer questão vira motivo para alarde.
Bom, acho que é isso.
Abraços
O Anônimo já disse tudo.
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