Republicação: Ensaio Sobre o Voto em Branco

Escrevi o texto a seguir em agosto de 2006, às vésperas da eleição presidencial, e publiquei no antigo Sarcófago. Republico aqui porque o acho um bom texto que não merecia ser apenas apagado de lá. Hoje já não compartilho tanto assim das minhas próprias opiniões, e vejo que vale sim, pelo menos um pouco, a pena de gastar seu tempo procurando informações sobre candidatos, pelo menos nas eleições municipais. Depois do texto, publico também o comentário que o Alexandre Inagaki (citado no texto) deixou no blog.

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Eu nunca fui muito chegado a papos de política. Primeiro porque essa raça me dá asco. Segundo porque para entender de política é preciso entender de estratégias, e nisso eu sou um fiasco. Nunca aprendi a jogar xadrez por esse motivo.

Então, há uns bons anos, lendo o blog do Alexandre Inagaki, dei com um texto em que ele falava de gente besta, que diz não gostar de política e chega a bater no peito com orgulho por causa disso. Apesar de não me achar besta, a coisa serviu muito bem pra mim. Não que eu saia por aí dando uma de King Kong batendo no peito, mas é que eu, realmente, não faço o mínimo esforço que seja para entender nada sobre o assunto.

De qualquer maneira, quando eu vejo uma pessoa safa como Inagaki falando alguma coisa que seja contrária às minhas opiniões, sempre paro para pensar no assunto e tento ver se eu estou errado ou se continuo pensando o que pensava. Na época, então, pensei e vi que devia continuar como estava.

Escrevo tudo isso simplesmente porque esta semana, com a aproximação das eleições, ele voltou ao assunto. Entre outras coisas, ele disse o seguinte: que acha errado as pessoas votarem nulo ou em branco, alegando que nenhum político presta; e que, ao invés disso, as pessoas deveriam investigar o passado dos candidatos e só então escolher os que considerarem mais aptos.

Realmente, esta seria a atitude mais correta. Quando um patrão vai contratar um funcionário para sua empresa ele não pede o currículo e faz entrevistas? Quando um estudante vai montar a sua equipe de projeto final ele não analisa o conceito e a experiência de seus colegas para montar um grupo capacitado? O mesmo deveria acontecer nas eleições.

Mas será que vale a pena?

Creio que não. De nada adianta eu passar algumas horas pesquisando o passado dos candidatos, para descobrir um deles que valha a pena votar, e que normalmente é um humilde, que está lá só para preencher os espaços que sobram nas chapas dos partidos, se no final das contas, mesmo se for eleito, ele não terá voz ativa, sendo logo esmagado sob a pressão exercida pelo lado mau da força, ficando incapaz de realizar qualquer ação de maior valor em benefício da população?

Além do que, num país onde a maioria das pessoas vota em massa em certos candidatos puramente por aparências ou por conta de discursos bonitinhos, votar em um candidato diferente e desconhecido é a mesma coisa que anular seu voto. Quanto a isso, alguns podem até argumentar que pelo menos estão com a consciência limpa de terem votado em alguém que presta, mas na minha isso não faz diferença.

Posso até, a muito custo, concordar com o Inagaki políticos honestos existam, mas é público e notório que os políticos corruptos abundam. E contra este imenso contingente de canalhas e manipuladores não há honestidade que agüente.

E por isso eu, ao invés de pesquisar o passado dos candidatos, passo o tempo ouvindo música clássica, que é muito melhor, e nas eleições voto em branco sem remorso.

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Comentário do Alexandre Inagaki: Mário, se você se esquiva de fazer a sua parte, está colaborando com o imenso contingente de canalhas e manipuladores que serão eleitos graças ao seu poderio econômico (leia-se: verbas para outdoors, camisetas, etc etc). Veja os políticos que são mais atuantes nas CPIs, os partidos aos quais pertencem os sanguessugas, visite sites como o Transparência Brasil, e você encontrará gente que, em vez de simplesmente se juntar à escumalha de céticos e cínicos que cruzam os braços permitindo que os notoriamente corruptos façam a festa, ainda crêem e lutam por seus ideais, em vez de mergulharem no individualismo estéril. Creio que, sim, vale a pena, ter um pouco mais de trabalho e não desperdiçar seu voto.

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