Era início da década de noventa, e lá estavam os Titãs fazendo um exercício de futurologia. Nesta letra, da música Disneylandia, eles dão a melhor explicação do que é a globalização, palavra que, acredito eu, nem existia na época. E engraçado, quando a gente para e analisa a letra, vê que é tudo bem plausível e possível de acontecer, se é que já não acontece. A música não é lá essas coisas, (afinal, quem é que consegue botar uma melodia legal numa letra tresloucada assim?), mas ela merece um lugar na história por seu conteúdo pre-historicamente atual. Confiram:
Filho de imigrantes russos casado na Argentina com uma pintora judia, casou-se pela Segunda vez com uma princesa africana no México. Música hindu contrabandeada por ciganos poloneses faz sucesso no interior da Bolívia. Zebras africanas e cangurus australianos no zoológico de Londres. Múmias egípcias e artefatos incas no museu de Nova York. Lanternas japonesas e chicletes americanos nos bazares coreanos de São Paulo. Imagens de um vulcão nas Filipinas passam na rede de televisão em Moçambique. Armênios naturalizados no Chile procuram familiares na Etiópia. Casas pré-fabricadas canadenses feitas com madeira colombiana. Multinacionais japonesas instalam empresas em Hong-Kong e produzem com matéria prima brasileira para competir no mercado americano. Literatura grega adaptada para crianças chinesas da comunidade européia. Relógios suíços falsificados no Paraguai vendidos por camelôs no bairro mexicano de Los Angeles. Turista francesa fotografada semi-nua com o namorado árabe na baixada fluminense. Filmes italianos dublados em inglês com legendas em espanhol nos cinemas da Turquia. Pilhas americanas alimentam eletrodomésticos ingleses na Nova Guiné. Gasolina árabe alimenta automóveis americanos na África do Sul. Pizza italiana alimenta italianos na Itália. Crianças iraquianas fugidas da guerra não obtém visto no consulado americano do Egito para entrarem na Disneylândia.
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