Eu, Tu, Eles. Nós.

Aqui em Cachoeiras não temos faculdade. Nenhuma. Antigamente, quem fazia faculdade tinha que se deslocar para Niterói, Rio de Janeiro ou alguma outra cidade ainda mais distante. Até que começaram a surgir faculdades em Nova Friburgo, bem mais perto daqui.

De uns anos pra cá, o número de alunos nas faculdades de lá só aumentou. De início, os alunos fretavam essas Sprinters para levá-los até lá, mas como agora é muita gente que estuda, a prefeitura disponibilizou uns ônibus para a galera.

Quando tudo está funcionando direito, são quatro ônibus rodando: um vai para São Gonçalo, um vai para Niterói, um para a Estácio de Nova Friburgo e o último para as outras faculdades de Nova Friburgo. Daí que volta e meia um dos ônibus que vão para Nova Friburgo quebra, e somos obrigados a irmos todos juntos em apenas um. São cerca de 90 alunos dentro de um - UM - ônibus, serra acima.

Mas não estou escrevendo isto pra reclamar. A questão é a seguinte: como geralmente é o ônibus mais velho que quebra, vamos todos no ônibus que iria só para a Estácio (onde eu estudo), ou, como costumamos dizer, vamos no ônibus da Estácio. Me vem então uma colega reclamando que os alunos das outras faculdades estavam indo sentados enquanto alguns de nós, alunos da Estácio, ficavam de pé.

- Eles têm que se tocar. O ônibus é nosso. - dizia ela, revoltada.

Abro um parêntese: já aconteceu de gente da Estácio pegar o ônibus das outras faculdades na hora de voltar para Cachoeiras, e essa gente ia sentada, muitas vezes tomando o lugar dos alunos daquelas faculdades, obrigando-os a ir em pé. Aí sim acho sacanagem, um desrespeito, pois se temos dois ônibus, que cada um vá no da sua faculdade. Todas as vezes que peguei o ônibus das outras faculdades dei o meu lugar quando via que alguém estava em pé. Era o meu conforto contra a minha consciência. Até hoje ela nunca pesou. Mas ao contrário de mim, muita gente da Estácio ia sentado e não levantava, então o pessoal do outro ônibus reclamava, e com razão. Fecho o parêntese.

Este foi então o argumento da minha colega. Se eles reclamavam quando o pessoal da Estácio ia no outro ônibus, por que nós iríamos ficar quietos enquanto eles iam sentados em nosso ônibus?

Nessa hora eu discuti com ela. Acho que no momento em que só vai um ônibus para levar os alunos para Nova Friburgo, ele deixa de ser o ônibus da Estácio, e passa a ser o ônibus das faculdades. Não é o grupo de lá e o grupo de cá. Somos um grupo de alunos que estão juntos no mesmo balaio, sem escolha. E aí, quem chegar primeiro vai sentado. Ponto final.

Não somos nós e eles. Somos um.

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